A MÚSICA, A LINGUAGEM E A INTERAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.

 

            Nos tempos atuais, principalmente nos cursos pré-escolares, os educadores recorrem à música quando querem dar maior alegria a uma narrativa e empregam ouvintes na aprendizagem de cada música. No caso da história musicada o objetivo é exercer ação educativa através da música e assim, pode muito bem acontecer que uma história musicada não apresente os elementos de uma história comum. Isso, porém, não tem a menor importância. O encanto, para a criança, no caso da história musicada, fica deslocado do conteúdo da história para a música que essa história apresenta.

            A música também faz parte do contador de história, as crianças também adoram cantar, elas se distraem, se divertem, esquecem tudo o que estavam fazendo e entram no ritmo da música.

            A história musicada é uma linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos. Compõe-se de quatro propriedades formadoras do som: Altura, duração, timbre e intensidade. É na articulação dessas propriedades que surge a música.

            Desta forma a história musicada permite à criança aprender a ouvir e compreender o que ouve para construir o seu próprio conhecimento. Esta possibilita ainda, uma fonte de prazer e alegria, além de que a linguagem usada é dividida e simples de fácil entendimento.

            A linguagem, por ser de natureza social, tem um caráter essencialmente dialógico, interacional. A linguagem contribui para a formação do sujeito na sua interação como outro e com o texto, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento, através das experiências relatadas e vivenciadas.

            O desenvolvimento infantil é dependente da interação com o adulto. Desse modo é importante que elas se interajam com outras crianças, pois com essa vivência elas começam a criar histórias e passam de ouvintes para criadores de histórias e posteriormente leitores, obedecendo aos estágios do desenvolvimento cognitivo de cada idade.

            Cada criança, como ser social que é, tem sua própria história, sua singularidade, por isso o quadro de estágios de desenvolvimento da linguagem é cheio de exceções, conforme várias pesquisas indicam. Esse processo, que não é linear, nem cumulativo, é possível a idas e vindas até que se consolide.

            O texto, a leitura proporciona a observação e a análise, consciente e gradativa, das características formais da linguagem, por meio deste, as crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses provisórias antes da compreensão em toda sua complexidade. A Construção do conhecimento se dá também pelo jogo do faz de conta. Sendo que é dever do professor ser o mediador, e a criança deve ter o contato com diferentes textos e histórias, em diferentes portadores de tipos textuais, poemas contos, parlendas, trava línguas, adivinhas, quadrinhas, cantigas, lendas, fábulas, receitas, cartas, bilhete, anúncios, reportagens, convites, notícias, entrevista, charges, avisos, tirinhas, etc. Essa interação é que irá enriquecer e possibilitar a criança aprender.

            A visão atual sobre a infância retira as crianças do lugar de seres passivos e apenas receptores de informações do seu meio cultural, como era a visão que tínhamos anteriormente. A capacidade e o interesse das crianças pequenas em aprender, descobrir, ampliar seus conhecimentos são incontestáveis, multidimensionais e construídos a partir das trocas que elas estabelecem com o meio, das interações com outras pessoas, adultas e crianças. Para elas, em seu cotidiano, tudo é fonte de curiosidade e exploração. Agem ativamente em seu entorno, selecionando informações, analisando-as, relacionando-as e lhes dando diferentes sentidos. É dessa forma que entendem e transformam a realidade; a respeito de si, pessoas e do mundo, dele se apropriam e o transformam; assim, crescem e constituem suas identidades pessoais.

            É interessante que o contador gere uma expectativa sobre a obra, desencadeando curiosidade, inquietação, desejo e encorajamento as crianças para arriscarem palpites sobre o que irá acontecer.

            A poesia aproxima a criança de uma linguagem efetiva e rítmica, desperta o lúdico, a fantasia, a imaginação e representa valores sociais, históricos e culturais.

            Ao contador cabe o papel de mediador e assim incentivar a exploração do ambiente a sua volta, ampliando as oportunidades, oferecer apoio na tarefa de leitor, comemorar a conquista mesmo que pareça pequena, buscar entender como a criança vê e percebem os acontecimentos narrados, propor algo além das capacidades do ouvinte para que este se enriqueça com novas experiências.

            Outro fator importantíssimo é o espaço, assim como o ambiente que nele se constitui, reflete o que pensamos e o que podemos fazer nele. Nele a vida acontece e se desenvolve. Em uma casa, a organização do espaço indica o modo de vida de quem a habita suas preferências, interesses e hábitos.

            Para David & Weinstein, a organização do movimento se relaciona ao desenvolvimento da identidade pessoal da criança, de sua sensação de segurança e confiança e de sua competência e autonomia. Além de se relacionar à oferta de oportunidades para aprendizagens sociais e para as necessidades, ora de convívio social ora de privacidade.

            O importante é a criação de um ambiente aconchegante, seguro e ao mesmo tempo estimulante, que permite a criança aventurar-se nele, descobrir-se e descobrir ao outro. Essa possibilidade é crucial para que ela vá se constituindo como agente de seu processo de construção, enquanto leitor.

            O interessante de se trabalhar com a leitura é que tudo são elementos que auxiliam no bom andamento da leitura, para que assim ela possa enriquecer o ouvinte e até o contador que terá uma nova experiência.

            Quem lê “Cinderela” não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o IX d. C e, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando todas as geografias, mostrando toda a força e a perenidade e do folclore dos povos.

            A leitura é um ato concreto que recorre a faculdades definidas do ser humano. Nenhuma leitura é possível sem um funcionamento do aparelho visual e das diversas funcionalidades que o cérebro possui.

            A compreensão de um texto é o processo de conhecimento que o leitor adquire durante toda sua visa. Esse conhecimento ocorre mediante a interação com vários níveis de conhecimento como o conhecimento linguístico, textual e conhecimento de mundo. Esse conhecimento abarca o conhecimento que vamos acumulando em nossa memória ao longo de nossa vida e que é explorado no entendimento dos textos lidos. Segundo Kleiman (2002), “o conjunto de noções e conceitos sobre o texto que chamaremos de conhecimento textual, faz parte do conhecimento prévio e desempenha um papel importante na compreensão do texto.”.

            O papel das emoções na leitura está ligado aos três níveis básicos de leitura como sensorial, emocional e racional. Cada um d dos três, corresponde a uma forma de aproximação do texto. Segundo Martins (1994), “esses níveis são inter-relacionados, senão simultâneos, mesmo um ou outro sendo privilegiados, segundo as suas experiências e expectativas assim como, seus interesses.”.

            A leitura sensorial começa cedo e acompanha toda a vida do leitor, não importando o tipo de leitura, se é minuciosa ou simultânea, a mesma está ligada a visão, ao tato, a audição, ao olfato, podem também estarem ligados aos aspectos lúdicos como: o jogo de cores, imagens sons, cheiros e dos gostos que incita o prazer, a busca ao que pode agradar ou trazer rejeição aos sentidos, mostrando ao leitor o que lhe é agradável ou não, mesmo sem as justificativas.

            Já o sentido emocional, lida com o subjetivismo e, o leitor passa a ser envolvido pelo inconsciente, nesta emerge a empatia, ou seja, se colocar do outro lado e não pensar mais no que se sente ao ler e sim o que o texto provoca no leitor.

            Quando uma criança lê um texto ela sente curiosidade, é essa curiosidade que a motiva a ler cada vez mais, o fato do desconhecido passar a ser conhecido e assim, passando para o lado da empatia até mesmo de modo exagerado,pois a criança consegue captar as emoções mais profundamente que um adulto.

            A maioria das vezes se tem a semiconsciência estar lendo algo insignificante, sem originalidade, ou até mesmo fora da realidade dos ouvintes. Esse pensamento define uma ligação mais forte com o inexplicável.

            Dessa forma a leitura racional relaciona-se com as leituras sensórias e emocionais fazendo-se estabelecer uma ligação entre o leitor e o texto, trazendo uma reflexão e reordenação do mundo objetivo, possibilitando a própria individualidade como o universo das relações sociais.

            A leitura racional é uma leitura intelectual, pois, permite o questionamento das informações na qual permite uma ampliação de conhecimentos, também tende a ter uma visão mais longe. A visão rcional transforma um novo conhecimento ou em novas possibilidades acerca do texto lido.

            Ler é reagir, não basta que se compreenda o sentido do trecho é necessário que o interprete, que o julgue que o avalie que o vivencie daí a importância da leitura na infância.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

            A arte de contar histórias caminha com a história da humanidade, com as mudanças provocadas pelas descobertas e com o deslocamento do homem durante toda sua existência neste planeta. Desde que o mundo é mundo, ou talvez, como começam os contos de fada desde o tempo do “era uma vez...”, o ser humano conta histórias. Apesar das diferenças regionais e da característica singular de cada sujeito e de cada época, certos sentimentos não são históricos e podem encontrar em diversas formas de manifestação cultural.

            E interessante ressaltar, que através de estudos mudou-se a concepção de infância, que antes não era levada tão a sério. Esta deixou de ser compreendida como uma pré-etapa adulta, e passou a ser identificada como um estado diferenciado. Assim, ao mesmo tempo em que se reconhece que a definição de infância é tributária do contexto histórico, social e cultural no qual se desenvolve, admite-se a especificidade que a constitui como uma das fases da vida humana, fazendo desta forma com que o contador de histórias estabeleça relação, com a criança de forma a ser agente transmissor da história contada.

            Contando histórias o contador, em interação com o outro, transforma-se em uma espécie de instrumento para a veiculação de mensagens e informações. Ao mesmo tempo, se há algo que podemos atribuir de forma universal a todos os contadores de histórias, independente de  seu contexto histórico-cultural, é a valorização da palavra dita em voz alta com entonação, volume e gestos.

            Cada contador tem um estilo e uma maneira singular em suas apresentações. Dar nova vida a personagens que ficam guardados nos livros e nas mentes é sem dúvida a principal função do narrador de histórias. Nesse sentido, estes se tornam co-autores dos textos, emprestando suas vozes, seus corpos e suas memórias para dar vida à personagens, à cenários, ao mágico e ao fantástico.

            Oliveira (1997) decifra que:

“Essa capacidade de lidar com representações que substituem o real é que possibilita ao homem libertar-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções (...)”. Essas possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de

seu pensamento.” (OLIVEIRA, 1997)

            Julgávamos que o mundo mágico infantil estava sendo ameaçado por causa do tecnicismo em que estão inseridos hoje dentro do contexto social. Ligia Cadermartori (1994) diz-nos que “é verdade que cada nova geração propicia uma profunda mudança na expressão artística, observando-se, de um século para outro uma profunda mudança no gosto” (p.71). São palavras que nos levaram a refletir sobre conceitos do tema em questão.

            A literatura foi incorporada à escola e, desta forma esperava-se que as crianças passariam a ler. Até poderia ser, se a leitura não fosse cobrada como dever, tarefa a ser desempenhada, obrigação, fazendo com que os leitores percam a vontade, a satisfação, o imaginário e o prazer.

            Os educadores cobram que as crianças cumpram prazos, pois o livro deve ser entregue na data marcada, dificultando o hábito da leitura como prazer, fantasia, e aumentando a busca por coisas mais acessíveis.

            Pesando desta forma, propomo-nos a mostrar ao leitor, a importância da leitura introduzida nos anos iniciai da vida, a necessidade de ser um contador de histórias, que seja capaz de retransmitir o fantasmático, o mágico e o maravilhoso das histórias, sejam elas contos já consagradas ou recentes, buscando de forma lúdica e consciente o incentivo à  leitura.

            Cool (1996) enfatiza que a ideia remota de que o homem era um ser fácil de ser modelado, é substituída pela ideia de que o ser humano seleciona, assimila, processa e confere significados aos estímulos que recebe e isso não é diferente com a criança, ela também tem a capacidade de seleção, cabendo daí ao professor o papel fundamental de mediador, de ligação, o elo entre o aluno e o prazer pela leitura.

            Assim cabe ao contador de histórias a grande tarefa de convencer a criança ouvinte de que vale muito a pena ler, pois a leitura o possibilitará um infinito de vivências, pela leitura ele pode tudo, ser o que quiser imaginar, fantasiar e consequentemente se deliciar de prazer.

            Desta forma, a história infantil pode atingir alguns objetivos como: educar, instruir, preparar a criança para certa atividade, desviá-la  de uma corrente má de pensamentos; confortar a criança, torná-la otimista para a vida, atender ao psiquismo infantil, atrair  a criança para um ambiente sadio, tornar uma ocupação agradável para as horas de lazer.

REFERÊNCIAS

BAJARD, Elie. Caminhos da escrita, espaços de aprendizagem. São Paulo: Cortez, 2001.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: 1ª a 4ª

Séries. 3ª Ed. Brasília: MEC – Secretaria de Ensino Fundamental, 2001.

CADERMATORI, L. O que é literatura infantil? 6ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

COLL, Cesar. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia e educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1996.

CUNHA, Leo. “Literatura Infantil e Juvenil”. In: Formas e expressões do conhecimento. Minas Gerais: Ed. UFMG, 1998.

DINORAH, Maria. O livro infantil e a formação do leitor. Petrópolis: Voz, 1995.

FREIRE, J. B. Educação o corpo inteiro: teoria e pratica da educação física. São Paulo: Scipione, 1989.

KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor. Aspectos Cognitivos da Leitura. Campinas: Pontes, 2002.