A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA PREVENÇÃO DA DROGADIÇÃO E DA GRAVIDEZ PRECOCE ENQUANTO FATORES DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA

Cláudia Santos Abrão
Psicopedagoga Institucional e Clínica pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo ? Campus Engenheiro Coelho.
Professora da Rede Municipal e Estadual de Artur Nogueira ? SP
[email protected]

Resumo: O presente artigo trata dos dois maiores problemas referentes aos adolescentes e da escola pública em nosso país. O primeiro deles se refere às drogas, às quais a totalidade dos jovens terão contato e acesso. Deste universo, cerca de vinte por cento se tornarão dependentes químicos segundo as últimas estatísticas. O segundo tema aborda a gravidez precoce de jovens carentes que, por falta de orientação e alternativas, estão engravidando a partir dos treze anos, interrompendo sua evolução escolar e profissional e aumentando os níveis de pobreza absoluta para esta camada da sociedade. Como docentes, percebemos que esses dois fatores são os maiores causadores da evasão escolar e do agravamento do relacionamento social e familiar desses adolescentes. Não obstante, a gravidade dos problemas, os órgãos públicos não investem e não os tratam como prioridade, pois não há projetos de apoio ou campanhas eficazes para a sua solução. O objetivo desse artigo é apresentar de forma franca essa realidade e propor algumas saídas para a crise que já está instalada. A escolha desses assuntos se deu porque, como educadora, percebi que as questões abordadas são o que mais aflige os jovens dos estratos sociais referidos. Buscaremos demonstrar de forma sintética a gravidade desses fatores na escola pública e das possíveis alternativas, de acordo com a nossa realidade, para a solução desses problemas.

Palavra-chave: adolescentes, problemas, drogas, gravidez precoce, escola pública jovens, soluções.

Abstract: This article disserts about two of the biggest problems referring to adolescents and of the public school in our country. The first is about drugs to which the totality of the youth will contact and access. In this universe, about twenty percent will become chemical dependents according to the statistics. The second theme is about precocious pregnancy of poor youngsters who, by lack of orientation and alternatives, are getting pregnant as of thirteen years old, interrupting their academic and professional evolution, and raising the levels of absolute poorness to these society strata. As teachers, we realize that these two factors are the major cause of school evasion and of the aggravation of familiar and social relationship of these adolescents. Notwithstanding the gravity of these problems, public offices do not invest or treat them as a priority, once there are no support projects or capable campaigns to their solution. This article aims to present, in a frank way, this reality, and to propose some solutions for the crisis, which is already ongoing. The chose of these issues was thus because, as a teacher, I realized that the issues on focus are those which most affect youngster from the mentioned social strata. We will try to demonstrate in a succinct way the gravity of these factors in public school and possible alternatives according to our reality to the solutions of those problems.

Key words: adolescents, problems, drugs, precocious pregnancy, public school solutions.

Introdução

A partir dos anos 1960, em pleno movimento "Hippie" nos Estados Unidos, o mundo começou a conhecer a popularização das drogas ilícitas. No início dos anos 1990, a droga popularizou-se nas escolas públicas dos grandes centros urbanos e hoje, infelizmente, os entorpecentes são oferecidos nos portões de nossas escolas.
Com o desemprego e a má estrutura familiar, principalmente da população pobre, os jovens, numa relação de valores educacionais totalmente invertidos e numa sociedade de consumo hedonista, estão num momento de crise de sua afirmação pessoal.
Assim, serem lançados para a dependência química é questão de tempo, uma vez que também sofrem pressões de seu meio, que incentiva viver o presente a qualquer custo, de forma irresponsável e egoísta, mas que não é vista ou sentida desta forma.
Vinte por cento desses jovens acabarão contraindo as doenças causadas pela dependência química, ou num futuro muito breve serão levados para criminalidade. Alguns poucos poderão ser encaminhados para tratamentos de saúde, contudo muitos inexoravelmente encontrarão a morte.
Outro problema que assola esses mesmos jovens é a gravidez precoce, que usualmente ocorre a partir dos treze anos. São meninas sem nenhum tipo de orientação, tendo apenas seu corpo como forma de se sentirem aceitas pelo grupo masculino.
São carentes de amor e afeto (posto que já veem de lares disfuncionais) e acabam por engravidar, o que causa a evasão escolar, sendo então lançadas no mercado de trabalho de maneira abrupta, sem nenhuma formação, tornando-se, nas melhores das hipóteses, empregadas domésticas ou faxineiras até o fim de suas vidas.
Somente com trabalho muito sério, com envolvimento dos três níveis de governo e de todas as instituições relacionadas à educação, por meio de pesados e permanentes investimentos essas questões poderão ser ao menos, amenizadas.

Conceito de adolescência

A adolescência é um período de vida que merece atenção, dada a importância dessa transição que se caracteriza por profundas transformações físicas e psicológicas.
Segundo Knobel (2002, p.26), as características essenciais do adolescente são: busca de si mesmo e de sua identidade, tendência grupal, necessidade de intelectualizar e fantasiar, crises de religiosidade, falta de conceito de tempo, evolução sexual, atividade social reivindicatória, contradições sucessivas em manifestação de conduta, separação progressiva dos pais, flutuações de humor e de estado de ânimo.
A adolescência se caracteriza ainda pela insatisfação, insegurança e agressividade. Nesta fase deve acontecer a formação de uma escala de valores próprios, a partir do questionamento daqueles que a sociedade e, sobretudo, a família incutiram no jovem.
É a busca da independência demonstrada através da contestação, que por outro lado os deixam inseguros, e os fazem desconfiar de tudo o que os adultos dizem ou lhes propõem.
De acordo com Vizzolto (1992, p. 32), esta crise, normal na adolescência, é até certo ponto perturbadora para os que convivem com o adolescente, mas é necessária, pois através dela é que se irá estabelecer a sua identidade adulta, objeto fundamental desse processo, mas no qual, segundo alguns autores, é difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico.
Nesta fase é importante a compreensão dos pais e educadores para compreender-lhes e aceitar as mudanças pelas quais o aluno ou filho está passando.
Desta forma, para que tudo transcorra de maneira positiva, é importante que o adolescente tenha um ambiente familiar e escolar que não ofereça resistência às suas propostas e impulsos ainda desordenados, e acenar também com a possibilidade de ser aceito, ser reconhecido como pessoa, ter sucesso nas suas atividades.
Sabe-se que é na adolescência que acontece a maior incidência do abuso de drogas e da gravidez precoce, dentre outras tragédias. Alguns pesquisadores do comportamento humano acreditam que a maior parte dos adolescentes que passam por esses problemas apresentam personalidade antissocial, isto é, tornam-se neuróticos ou psicóticos em razão de seus problemas afetivos.
Conforme Içami Tiba (1986, p. 17), nesta etapa o jovem se fecha contra os adultos (principalmente os pais) e valoriza bastante seus amigos, seus ídolos, de modo que incorpora também os comportamentos daqueles, arvorando-se a afirmar que é dono de sua vida, "faço o que quero, ninguém manda em mim". É um momento aberto a experiências novas, portanto vulnerável às experiências com drogas.
É de extrema importância que a família e escola compreendam esta fase vivida pelos adolescentes, dando orientações, conversando e também que forneça o afeto e o apoio necessários para que transformem em adultos livres e conscientes.

Drogas: conceitos e realidade

Segunda a Organização Mundial de Saúde (OMS), "droga é toda substância, natural ou sintética que, introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas funções."
De acordo com o dicionário Aurélio (1998) "droga é substância entorpecente, alucinógena e excitante."
A droga é tão antiga quanto à humanidade. Há 1.500 anos antes de Cristo, a história registra que os egípcios já conheciam o ópio. A partir de então, surgiu o uso das drogas por várias razões ligadas às culturas dos povos: rituais religiosos, comemorações e busca do prazer.
O consumo e abuso das drogas aumentaram consideravelmente após a Segunda Guerra Mundial e durante o movimento "Hippie".
As pesquisas feitas em nosso país para conhecer os hábitos da população jovem com relação às drogas indicam que número considerável de adolescentes e jovens tem tido contato com essas substâncias.
Os usuários nesta faixa etária consomem drogas ocasionalmente, associando-as a contextos lúdicos, em encontros nos fins de semana, em grupos e em lugares públicos.
A associação entre drogas e diversão, que progressivamente se afirma entre vários seguimentos juvenis, o que ocorre, em boa parte, devido à publicidade cujo bordão é enfatizar essa relação (principalmente o álcool), convertendo essas substâncias em referência obrigatória da cultura juvenil, num componente essencial de lazer.
O consumo de álcool e outras drogas configura-se, então, como uma atividade fundamental de lazer, particularmente nos fins de semana. Dessa forma, o consumo de drogas "recreativas" passou a ser um elemento chave da mesma forma que a música, a festa e a companhia de outros jovens.
Essa atividade, porém, vem se transformado em atividade cotidiana, tornando-se até mesmo aceito socialmente, e considerado como mais uma atividade de lazer.
Muito se tem dito e escrito sobre a fragmentação da família e que a escola, a polícia e a justiça nada podem fazer quando a própria família não consegue orientar e disciplinar seus filhos.
Contudo, em vista da atual situação, a idéia de que nada pode ser feito não tem fundamento. Na verdade muitas realizações podem se concretizar ao se buscar o compromisso, o empenho e a dedicação de todas as partes envolvidas.
É evidente que a realidade é crítica, uma vez que os jovens a cada dia mais mergulham nas drogas, num estado de coisas completamente caótico. Em muitos momentos o traficante é um dos alunos da própria escola que ingressou na instituição para corromper os demais. Diante desse panorama, a escola e seus gestores acabam por omitir-se com receio de se envolverem e sofrerem retaliações.


A identidade feminina e a prevenção de gravidez na adolescência

A gravidez na adolescência parece ter origem não tão claras, uma vez que as jovens, mesmo as que têm algum conhecimento de métodos anticoncepcionais não o utilizam.
As razões parecem ser as mesmas já descritas por Tiba (1986): "faço o que quero, ninguém manda em mim". Mesmo que o resultado deste comportamento seja catastrófico, a posição da jovem se mantém.
Por outro lado, também se incluem o uso inadequado dos métodos anticoncepcionais e/ou de métodos pouco eficazes e a falta de informação sobre anticoncepção como causas da ocorrência da gravidez na adolescência.
Vivendo uma vida sexual precoce e quase sempre sem o conhecimento dos pais, as dificuldades em se obter informação aumentam sobre métodos anticoncepcionais. Soma-se a isso o receio de a família descobrir o uso do método e o constrangimento de se submeter a exames ginecológicos.
Outras causas poderiam ser adicionadas, como a própria relação sexual intempestiva e não planejada, o que inviabilizaria uma análise pela adolescente sobre qual método utilizar.
A visão romântica de que o sexo acontece sem esperar acalenta a idéia de que seria falta de romantismo mostrar desejo de fazer sexo por prazer. Essa visão também causa alguns conflitos em caso de gravidez: a garota se sente menos culpada e os pais aceitam melhor a idéia de que ela "caiu em tentação".
A menina também não tem informações sobre seu próprio ciclo reprodutivo, o que, somado aos resquícios do pensamento mágico infantil, leva a adolescente a concluir pela pouca (ou nenhuma) possibilidade de gravidez.
Esse pensamento é uma das causas da demora da decisão sobre a continuidade ou não da gravidez. Enquanto o tempo passa o aborto vai se tornando inviável e a prevenção de problemas obstétricos, que podem ocorrer nesse tipo de gravidez, mais difícil.
É como se a adolescente tivesse a certeza de que "se pensasse bem forte a gravidez iria embora". O receio, muitas vezes fundamentado, da reação dos pais e o não-atendimento de suas necessidades específicas pela saúde pública, decorrentes das grandes mudanças biológicas, psicológicas e sociais pelas quais está passando, seriam outros motivos que levariam a adolescente a "esconder" o maior tempo possível sua gravidez.
Além dessa contribuição, os gestores da saúde pública também tem sua parcela de responsabilidade na ocorrência desse tipo de gravidez, na medida em que raramente promovem ações educativas de prevenção e orientação voltadas para o público adolescente.
A falta de informação agrava-se nas adolescentes pobres, somando-se ao fato de que, para muitas dessas mulheres com poucas opções de vida, a chegada de um filho é considerada "natural".
Famílias chefiadas por adolescentes acabam alimentando o ciclo de pobreza: apenas 11% das grávidas de até 19 anos permanecem na escola. Este percentual é de 75% entre garotas que não engravidaram.
Quarenta por cento dos abortos realizados são em menores de 20 anos, sendo que, segundo dados do Ministério da Saúde (1996), o coeficiente de mortalidade decorrente do aborto é 2,5 vezes maior em menores de 20 anos e, em 1994, um terço das mortes decorrentes do aborto foram entre 15 e 19 anos.
Segundo Crespin (1998), nas clínicas privadas, 86,2% das adolescentes grávidas optaram por aborto provocado.
A mídia reforça, em vários aspectos, o pensamento mágico ainda presente na adolescente, ao mostrar casos de gravidez na adolescência que são resolvidos de forma quase "mágica" como quedas de escadas etc., além de raramente mostrar as conseqüências de ter um filho nessa fase da vida.
Outro aspecto da contribuição da mídia é o grande reforço que dá aos papéis de esposa e mãe da mulher e a glorificação de algumas mulheres que optaram pela gravidez como Madona, Cláudia Raia, Demi Moore, etc. A adolescente em busca de modelos tem na tela da TV a oportunidade de encontrá-lo.
Ainda sobre o "pensamento mágico", este não é privilégio de quem está transitando da infância para a vida adulta. Os pais também o apresentam ao se convencerem de que "com minha filha isso não vai acontecer".
Nestes casos, a família nada transmitirá a sua filha sobre educação sexual e, ainda menos, sobre prevenção da gravidez.
O contexto familiar pode influenciar na ocorrência da gravidez também de outras formas: a ausência de laços afetivos fortes na família e da atenção aos seus peculiares problemas e o sentimento de abandono podem levar a jovem a apoiar-se apenas no namorado.
Com receio do abandono também por parte deste, caso não lhe dê a tão requisitada "prova de amor", a adolescente, já carente de afetividade, vai aceitando o curso que o namoro vai tomando sem se aperceber dos riscos físicos e emocionais. Além disso, pode ver, na gravidez, a solução para agredir os pais, punindo-os pela falta de afeto e apoio.
Além da ameaça de abandono, o relacionamento com o namorado cerca-se de outras características bastante favoráveis à ocorrência da gravidez. A principal delas é a dos papéis masculinos e femininos.
Do homem espera-se muito sexo e da mulher, nada, e pouco se faz para prepará-la para a vida sexual. Conversas e instruções sobre o uso de anticoncepcionais também são descartadas, já que isso significaria que a menina teria poder sobre sua própria vida, suplantando a ditadura masculina.
A este cabe decidir quando e como vai ser a relação e se haverá providências para evitar a gravidez. Permeia o relacionamento uma dupla moral, em que do homem espera-se a insistência e a chantagem, e da mulher, a responsabilidade de "se defender".
Ao finalmente "ceder" ao sexo, a mulher entra numa armadilha, pois acabou de passar a fronteira para o lado das que fazem sexo. Para essas mulheres a sociedade preconiza um futuro em que sexo é incompatível com casamento, portanto, ao deixar de ser a menina com a qual o rapaz irá se casar, não é necessário que ele tome cuidado. Esta máxima vale tanto para esta garota específica como para todas as outras desse lado da fronteira.
Desde 1970, tem aumentado os casos de gravidez na adolescência e diminuído a idade das adolescentes grávidas. A gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação, sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre 10 e 14 anos.
As principais causas da gravidez são, como se viu, o desconhecimento de métodos anticoncepcionais, a educação dada à adolescente, que faz com que ela não queira assumir uma vida sexual ativa e por isso não usa métodos, ou usa outros de baixa eficiência (coito interrompido, tabelinha) porque esses não deixam "rastros".
O uso de drogas e bebidas alcoólicas compromete a contracepção, além das que engravidam para casar-se. A adolescente tem problemas emocionais devido à mudança rápida em seu corpo ou, como ela esconde a gravidez, o atendimento pré-natal não é adequado. Podem ocorrer problemas como aborto ou dificuldade na amamentação.
Outra explicação aponta para o fato de os jovens serem imediatistas. Ante a possibilidade de fazer sexo, sobretudo quando esperaram muito por isso, não pensam nas consequências: valem-se do desejo imediato, ignorando os resultados.
Nem toda gravidez precoce e não planejada é uma história sem final feliz. Mas, infelizmente, tudo acabar bem é uma exceção à regra. Há muitos casos em que a menina, para atrair sobre si a atenção ou o afeto da família e dos amigos, ou para segurar o namorado, engravida.
Ora, as carências afetivas devem ser consideradas seriamente, e com certeza uma gravidez prematura não é a melhor solução. Além disso, um filho não tem o poder de segurar namorado, nem de produzir casamentos felizes e duradouros. Se o relacionamento do casal estiver ruim, dificilmente um bebê facilitará as coisas, ocorrendo, talvez, o contrário.
Ainda existem outros tipos de explicação. Considera-se, por exemplo, que muitas vezes uma jovem desamparada, que não desfrute de uma condição de vida digna, pode pensar que ao tornar-se mãe se libertará da miséria e obterá o respeito das pessoas.
Esta idéia baseia-se na crença de que a sociedade tende a valorizar a figura da mãe e a ter maior consideração pelas gestantes. Mesmo que exista um pouco de verdade nisto, logo a jovem se verá em situação ainda pior: terá de trabalhar e cuidar do filho em condições adversas, e a maternidade, ao invés de premiá-la com os benefícios esperados, só lhe trará mais dificuldades e responsabilidades.
Este é um fator que impede as jovens de continuarem os estudos, seja por vergonha, discriminação pelos colegas ou até mesmo pelas dificuldades naturais da gravidez, como ânsias, cansaço, insônia e visitas periódicas ao ginecologista: tudo isso dificulta a permanência da adolescente na escola, o que termina na evasão escolar.
Diante deste fato fica a preocupação quanto à vida futura desta jovem e também da sua família: como irá trabalhar ou qual emprego terá sem ter terminado os estudos?
Finalmente, é preciso dizer que significativo número de adolescentes grávidas decorre do uso da violência, força ou constrangimento. Em geral, resulta de ou de incesto. Nas situações de violência, o trauma psicológico geralmente é intenso. Mais do que ninguém, elas precisam de amparo e proteção especiais.
Para essas situações de risco, amparadas explicitamente pela lei, é permitida a realização do aborto legal, com atendimento pela rede do Sistema Único de Saúde.
Os serviços de saúde têm condições de informar, orientar e prestar assistência à adolescente grávida, através de um pré-natal diferenciado, já que sua gravidez é considerada como de alto risco, sobretudo para as jovens com menos de 16 anos.


A prevenção é possível e desejável

Bernardi (1985) nos alerta para a direção que algumas propostas de educação sexual tem seguido, baseadas numa estratégia pedagógica de "socialização para a apatia", exercitada seja na família, seja na escola, seja nos programas políticos, seja na sociedade em geral. Para o autor (1985, p.09) "vivemos numa cultura sexofóbica e repressiva". Essa operação, à qual tem sido dado o nome de educação sexual, nada tem a ver com educação, pois não aceita a eventualidade de mudanças, já que parte do princípio de que as regras codificadas de nossa sociedade São boas como estão, e que devemos nos adaptar a elas.
Goldberg (1984) apresenta um caminho para a educação sexual neste país, que é pela transformação dos padrões de relacionamento sexual. Essa educação somente contribuirá para alguma transformação se, em primeiro lugar, for uma prática de autonomia entendida como desenvolvimento de atitudes e valores próprios e da consciência de que cada um pode e deve fazer escolhas pessoais e responder por elas.
Em segundo lugar, aponta-se o processo de cooperação e conflito que essa educação deve propiciar, em vez de ser um exercício de individualismo e cordialidade. Em terceiro lugar, propiciar a crítica do presente no sentido de produção de alternativas concretas, ou seja, de ação sobre a realidade.
Além desses aspectos, destaca-se o caráter permanente do processo educativo. Assim, o momento da educação sexual formal deve ser um momento de instrumentalização para a vida sexual e não apenas discorrer sobre itens de comportamentos preventivos.
Considerando-se esses aspectos, ou pressupostos, para uma educação sexual eficaz no quadro problemático já descrito, fica a questão: quem deverá realizá-la? Considerando-se a baixa taxa de escolaridade das mulheres no país, e enquanto esse fenômeno não for alterado, a escola não parece ser o espaço que deva ser privilegiado, em especial se tal privilégio for em detrimento de outros espaços a ela determinados.
Esses espaços podem ser encontrados na própria comunidade de risco, ou seja, onde se encontrem as mulheres adolescentes de nível socioeconômico e escolaridade baixa.
Essas mulheres podem, elas próprias, constituir o espaço educacional alternativo. Uma das formas mais efetivas de assegurar a participação da comunidade é o emprego de promotores ou agentes comunitários, oriundos da própria população-alvo, treinados para um objetivo específico e que atuem em benefício dessa comunidade em particular.
A participação desses promotores é definida pela OPS como um processo que gera um sentido de responsabilidade pelo próprio bem-estar das pessoas da comunidade, além da capacidade de atuar de forma consciente e construtiva em diversos programas, visando resolver problemas bem definidos.
Uma forma de garantir a continuidade e a autonomia de um programa de saúde consiste em fazer com que a população local participe de atividades de capacitação, que visem a formar promotores de saúde que possam manter e, inclusive, melhorar, as atividades do programa (MAGNUZ, 1986).
A literatura nos aponta grandes possibilidades dos programas preventivos realizados por agentes comunitários (MONTRONE, 1997; POSTER e ZIMMER, 1995; RIEDMILLER 1995; RODRIGUEZ, Mc FARLANE e FEHIR, 1994; SOUZA e LIMA, 1988).
Mulheres adolescentes de uma determinada comunidade podem se tornar promotoras de saúde em programas educativos voltados à modificação do quadro problemático da gravidez na adolescência nessa comunidade.
Os postos de saúde também podem contribuir com ações educativas voltadas aos adolescentes de ambos os sexos e adolescentes grávidas. Estas últimas representam entre 23% e 30% do total de gestantes atendidas pelos serviços de saúde (Brasil, s/d).
Seria necessário, entre outras providências, estabelecer dias e/ou horários específicos; manter agenda aberta, sem necessidade de marcar consulta; treinar e organizar o pessoal de tal modo que haja um atendimento adequado à especificidade da gravidez na adolescência e todo o tempo necessário a esses atendimentos (BRASIL, s/d).
Grande parte das ações preconizadas pelo Ministério de Saúde para o atendimento da adolescente grávida refere-se a processos educativos, como treinamento dos profissionais, esclarecimentos à família, fornecimento de informações sobre planejamento familiar, esclarecimentos sobre gravidez, parto, cuidados com o bebê e amamentação, entre outros, e à formação de uma "equipe multiprofissional, com disponibilidade, flexibilidade e sensibilidade para atender às necessidades dos adolescentes". (BRASIL, s/d, p.13)
Na escola, deve-se incluir a fala sobre o corpo no discurso oficial, não a deixando circunscrita apenas nos espaços de pátios, rua, televisão, discoteca, etc.
Rosemberg (1995), examinando pesquisas brasileiras sobre a educação e o corpo, concluiu que, além do negado e fragmentado, o corpo, nessas pesquisas, é prerrogativa do(a) estudante. Segundo o autor (1995, p. 272). "Se a pesquisa se interessa pelo (a) professor (a) é para saber qual sua opinião ou conhecimento sobre educação sexual, por exemplo. Se investiga (esporadicamente) a sexualidade ou a saúde em contexto escolar, o foco é o(a) aluno(a)."
Como espaço para produção do saber e, portanto, da razão, da racionalidade comportada pela nossa cultura, a escola reluta em abrir esse espaço para também abordar questões que fogem dessa razão e, portanto, escancaram aspectos culturais do problema, como dupla moral, estereótipos e outros já abordados. Negar essas abordagens é contribuir para a manutenção do status quo.
A educação, seja em que espaço for e que forma tomar, não pode nem deve restringir-se apenas a esta ou àquela parcela da população. Todos os envolvidos na problemática da gravidez na adolescência devem também ser envolvidos na sua solução.
É esta solução que se tornará uma possibilidade concreta se partir da busca da dignidade, "móvel principal da estruturação da identidade" (SILVA, 1995, p. 120) e propiciar uma tomada de consciência de si mesmo como ser humano digno e merecedor de prazer e felicidade.
Não nos referimos apenas à mulher, mas a um processo que abranja "a totalidade do ser humano e, com ela, o homem, parceiro e cúmplice, gerando uma relação de igualdade, que é o compromisso ético mais desejado da relação a dois." (SILVA, 1995, p.122).
A luta contra uma sociedade de marginais ? entre eles, a mulher ? não é uma luta apenas das ou para as mulheres. Para Romero (1995, p. 266). "Uma sociedade estruturada na base da divisão entre classes sociais e entre sexos será sempre uma sociedade injusta, porque está assentada na desigualdade de direitos, entre classe dominante e classe subalterna, entre sexo masculino e sexo feminino."
Uma agenda que combina justiça social e justiça de gênero é uma agenda para o ser humano, uma agenda, pois, da dignidade do ser humano. Necessário se faz dar lhe materialidade institucional e substância cultural: um projeto de transformação a longo prazo.
Diante do que foi exposto acima, como psicopedagoga acredito que muitas coisas podem ser feitas, como a elaboração de um projeto em que participe da sua elaboração a psicopedagoga da unidade, a equipe gestora, alunos, pais de alunos, a comunidade e os demais interessados.
Trabalhar com projeto de vida, estimulando os jovens a sonhar com o amanhã, e como a maternidade ou paternidade precoces podem, atrapalhar os planos futuros.
Deve-se também abordar algumas medidas socioeducativas, tais como: conscientizar os jovens a pensar no futuro, promover oficinas práticas sobre os meios contraceptivos e a maneira correta de usá-los, envolver os estudantes para que se tornem multiplicadores dos métodos de prevenção entre os colegas, desenvolver materiais informativos com os alunos, envolvendo-os em trabalhos e pesquisas, elaborar jogos práticos sobre o funcionamento do organismo.
Aproveitar também as situações que aparecem no dia-a-dia para falar sobre prevenção, como por exemplo, o depoimento de uma ex-aluna ou de alguém da comunidade que engravidou, estimulando os jovens a formular idéias sobre o tema.
Evitar levar para a sala idéias preconcebidas ou uma visão dramática da situação dentre outros assuntos. Com envolvimento de todos dentro do espaço escolar pode-se formar alunos mais conscientes e também docentes mais preparados para apresentar caminhos e planos melhores aos alunos.
O projeto não pode ser desenvolvido apenas em um só semestre, mas tem que estar inserido na matriz curricular da escola, para que seja trabalhado constantemente por todos.
Ademais, a equipe gestora pode formar agentes multiplicadores entre os jovens da escola para desenvolver o projeto, pois a apresentação do mesmo pelos colegas pode ter um resultado maior.

Prevenção das drogas

Uma das melhores maneiras de prevenir o uso de drogas é assegurar-se de que a população esteja bem informada sobre o assunto. Até agora são muitos os modelos de prevenção que tem colocado ênfase na informação e na mudança de atitudes, partindo de uma relação simplista e ingênua.
Tal relação supõe que o incremento da informação sobre as substâncias e seus efeitos negativos conduzirá ao fortalecimento das atitudes e, portando, das condutas positivas. Mas, como se sabe, a informação por si só não conduz à mudança de conduta. Às vezes não é suficiente.
Pensar que a conduta responde à racionalidade e que a pessoa simplesmente ao conhecer os riscos e seus custos mudará de atitude é como omitir outros aspectos chave que influenciam sobre o comportamento, tais como: nível emocional, história de aprendizagem, expectativas pessoais e sociais, etc.


Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados.

Considerações finais

Neste artigo muitos foram os fatos e as possibilidades apresentadas. Cremos que para os problemas das drogas e da gravidez precoce, ainda que essencial, não bastará o envolvimento e o compromisso dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), posto que, conforme a médica recentemente falecida Zilda Arns nos afirmou, o apoio governamental somente surge para suprir demandas já existentes e de forma tímida, assim, seriam ações inócuas, pois, quando algum apoio surge, este já é pequeno e insuficiente.
O que efetivamente traria mudanças profundas seria um engajamento massivo da sociedade como, por exemplo, na década de 1940, quando o número de drogados ou de adolescentes solteiras grávidas era ínfimo, quase que inexistente, porque o sistema de valores, a educação e a família eram outros; talvez a pobreza até fosse muito maior, mas os jovens tinham outro tipo de orientação.
Deve-se buscar o que se perdeu, e neste ponto a família, a sociedade, a escola e todas as instituições têm seu papel a cumprir.
Devemos sair da omissão confortável que hoje desfrutamos para combater de forma incessante esses males que assolam e estão acabando com nossos jovens e, se nossos filhos são agredidos, toda a sociedade corre perigo.
Sabemos que a escola é uma entidade que visa à formação de cidadãos conscientes, e assim seu espaço é ideal para abordar e apresentar temas como as drogas e a gravidez precoce, pois, assim, estaremos preparando os nossos jovens para se defender desses problemas.
Portanto, é importante que todos da escola e também os que estão ao seu redor absorvam e contribuam para termos jovens bem preparados.
Devemos buscar meios para solucionar esses problemas, o mais rápido possível, porque crescem rapidamente, e muitas famílias estão sofrendo pela perda do filho para as drogas.
Muitas não têm condições de pagar um tratamento de desintoxicação aos filhos, o que acaba deixando-os livres para continuar a se drogar, e que acabam por também traficar, sendo presos rapidamente.
A gravidez precoce é uma questão de paixão, mudança de vida, pois se sabe que hoje em dia as jovens têm acesso a diversos métodos anticoncepcionais mais muitas acabam engravidando, principalmente as pobres.
Fruto dessa tragédia são a evasão escolar, a vergonha e a discriminação dentre outros aspectos, o que acaba mudando os planos dessa adolescente.
Necessitamos ter consciência de que somente lutando de forma incessante conseguiremos mudar esta triste realidade.

Referências bibliográficas

GOLDEBERG, M. Amélia. Educação sexual: uma proposta, um desafio. 3ª edição. São Paulo: Cortez, 1984.

OMS ? Organização Mundial de Saúde. Saúde reprodutiva de adolescentes: uma estratégia para ação. Uma declaração conjunta OMS/FNVAP/UNICEF, Brasília: Ministério da Saúde, 1994.

SANT,ANNA, Maria José C. Gravidez na Adolescência: um enfoque atual. Revista Nova Escola. Educação Sexual, maio de 2008.

SANTOS, Rosa Maria S. Prevenção de Droga na Escola. Campinas, Ed. Papirus, 1997.

SARMENTO, R.C. Gravidez na Adolescência: amor, busca, desencontro. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Instituto de Psicologia e Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 1990.

TIBA, Içami. Puberdade e Adolescência. 6ª ed. São Paulo: Ágora, 1986.

VIZZOLTO, Maria Salete. A droga, a escola e a prevenção. Petrópolis: Ed. Vozes, 1992.