A INFLUÊNCIA DO BRINQUEDO NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA NA FAIXA ETÁRIA DE 4 A 5 ANOS.

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Ivany Lima de Almeida

 

RESUMO: Este artigo versa sobre “a influência do brinquedo na formação da criança na faixa etária de 4 a 5 anos” e tem como objetivo realizar um estudo sobre  a importância da utilização do brinquedo nas práticas pedagógicas. Aborda-se alguns conceitos sobre o brincar e o lúdico, propondo a inserção dessas atividades no planejamento pedagógico do educador infantil, de forma a contribuir para o prazeroso desempenho escolar da criança. Nesse sentido, o presente artigo divide-se em três capítulos, onde serão abordadas as seguintes temáticas: Capítulo I - Breve histórico do brincar infantil, capítulo II - A importância do brincar e do lúdico no desenvolvimento infantil e capítulo III - O planejamento do professor em relação ao brinquedo. No primeiro capítulo, faremos uma breve digressão ao passado histórico sobre o brincar, fazendo uma relação de como era concebido o brincar antigamente com o avanço atingido lentamente até os dias atuais. No segundo capítulo, relataremos sobre o importante papel que o brincar e o lúdico exerce sobre a criança, promovendo seu desenvolvimento, fazendo o levantamento de algumas perspectivas teóricas. No terceiro capítulo, aborda-se a fundamental importância de o educador infantil incluir em seu planejamento pedagógico o brincar, como forma lúdica que além de proporcionar lazer e prazer, espontaneamente promovem o desenvolvimento de vários aspectos, como a personalidade, a identidade, a autonomia, a inteligência, a linguagem, entre outros.

 

Palavras-chave: brinquedo. Criança. Lúdico. Educador. Desenvolvimento.

 

 

 1 - INTRODUÇÃO

O ser humano, em todas as fases de sua vida, está sempre descobrindo e aprendendo coisas novas pelo contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Jogos, brinquedos e brincadeiras fazem parte do mundo da criança. Segundo Didonet (1994), o brincar antecede a humanidade.

Portanto, procura-se resgatar o lúdico como processo educativo, demonstrando que ao se trabalhar ludicamente, não se está abandonando a seriedade e a importância dos conteúdos a serem apresentados a criança, pois as atividades lúdicas são indispensáveis para o seu desenvolvimento e para a compreensão dos conhecimentos, uma vez que possibilita o desenvolvimento da percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos. Por meio das atividades lúdicas, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência do outro, estabelece relações sociais, constrói conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente.

Nessa perspectiva, o presente artigo apresenta o brinquedo como um instrumento para o desenvolvimento infantil com funções lúdicas e educativas. Portanto, destacamos não apenas a importância do brinquedo, mas a função, a implicação no desenvolvimento infantil e sua contribuição com a prática do professor de educação infantil no processo de ensino/aprendizagem.

Para desenvolver este projeto, sob o tema: A influência do brinquedo na formação da criança na faixa etária de 4 a 5 anos,  busca-se conhecimentos que contribuirão com a prática lúdica e o desenvolvimento da criança na idade pré-escolar.

Dessa maneira procura-se ampliar os pressupostos teóricos sobre o brincar, de forma que se possa repensar as práticas pedagógicas como educadores, com vistas a dar mais prioridade ao brincar e ao lúdico nas salas de pré-escolas.

2 – BREVE HISTÓRICO DO BRINCAR INFANTIL

            A atividade lúdica infantil desde a antiguidade possui passagens importantes na história social da humanidade. Antigamente, segundo Wajskop (1995), crianças e adultos participavam dos mesmos ritos e brincadeiras, dessa forma, a comunidade estreitava seus laços e unia-se.

            Conforme Áries (1981) as crianças do século XIV ao XVII, possuíam uma função especial nas festas e reuniões familiares. Por volta dos setes anos, a criança deixa de lado os brinquedos para entrar na escola.

Tenta-se então fazê-lo abandonar, os brinquedos da primeira infância, essencialmente as brincadeiras das bonecas: “não deveis mais brincar com esses brinquedinhos, nem brincar de carreteiro: agora sois um menino grande, não sois mais criança”. Ele começou a aprender a montar cavalo, a atirar e a caçar (Áries, 1981, p.87)

 

            Contudo, os jogos e brincadeiras que divertiam adultos e crianças, aos poucos foram sendo recriminados pela igreja e pelos moralistas que consideravam como um vício, azar e prazeres carnais. Nesse sentido, Áries (1981) verifica dois aspectos contraditórios sobre a atitude moral frente aos jogos: ao mesmo tempo em que eram admitidos indiscriminadamente pela grande maioria, eram condenados de forma rígida, devido a sua imoralidade, por uma elite poderosa. Com isso, os jogos foram classificados como: maus e bons ou proibidos e recomendados.

            Na sociedade atual ainda existem rastros contraditórios sobre os jogos, segundo os conceitos morais determinados pelos adultos. Assim também, o entendimento da atividade do jogo, como promotor de energia e prazer, lentamente foi compreendido como atividade única e exclusiva para crianças.

Com o passar dos anos, a importante preocupação com a influência da brincadeira no desenvolvimento da criança, vem ganhando maior destaque no meio educacional. Com isso torna-se fundamental a nós educadores um considerável estudo sobre essa influencia que é exercida sobre o aluno através do brincar.

            Para se obter um melhor esclarecimento sobre essa relação da criança com o brinquedo, faremos uma breve digressão ao passado histórico.

            Os estudos de Áries (1960) mostram que o sentimento de infância começou a surgir na sociedade ocidental entre os séculos XIII e XVII. A infância era desconsiderada, a criança se transformava em adulto sem passar pelas etapas da juventude. De acordo com Áries não existia distinção entre meninos e meninas, ambos usavam o mesmo traje. Os brinquedos daquela época eram artesanais, originados no convívio familiar.  Com o avanço da industrialização, o brinquedo passou a ser um objeto a ser adquirido e consumido.

Com o passar dos anos a criança conquista seu espaço e assim torna-se evidente suas especificidades. Os jogos e brinquedos das crianças já não são os mesmos dos adultos, cada faixa etária tem suas brincadeiras especificas.

De acordo com Gomes (2008), o brincar é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a infância. Infelizmente até pouco tempo o brincar era desvalorizado e menosprezado, destituído de valor a nível educativo. Porém, a história dos brinquedos é tão antiga quanto a história do homem, como por exemplo, jogo da velha, bolinhas de gude, dominó, as pipas entre outros que vieram de vários países a muitos séculos atrás.

            Nesse sentido, atualmente o brincar é um direito da criança reconhecido por lei. A criança tem direito a se desenvolver através da educação, e preparar se para o exercício da cidadania, onde o estado tem o dever de assegurá-la, pois ela faz parte da sociedade, necessita de educação e cuidados desde o nascimento, para que possa desenvolver-se e desempenhar um papel participativo.

            Dentro do contexto histórico social brasileiro, a oportunidade do brincar assumiu características próprias, voltadas para a necessidade de melhor atender as crianças e as famílias brasileiras.

            Atualmente, percebe-se uma maior preocupação com a formação da criança, tanto pais como educadores, estão procurando a melhor forma de a criança se tornar responsáveis, equilibradas, atenciosas, trabalhadoras, e o brincar pode ser uma “ferramenta” essencial para que a criança desenvolva essas qualidades (Gomes, 2008), brincar é também um ato de aprendizagem.

 

3 – A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E DO LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

 

O brinquedo, objeto manipulável, é o suporte da brincadeira (KISHIMOTO, 1997, pág.23) que tem uma relação íntima com a criança quando esta exerce uma ação, ou seja, quando mergulha no lúdico. A brincadeira é a ação de brincar, um divertimento.

O brincar é uma forma lúdica de enorme valor para a criança, à medida que a ajuda a aprender sobre as pessoas e coisas do mundo exterior aprendem a competir, cooperar e a conviver como um ser social, promovendo ainda sua auto-imagem e auto-estima. As brincadeiras e atividades lúdicas precisam ser inseridas de maneira prazerosa no ambiente familiar e principalmente escolar. O lúdico desenvolve a imaginação, a fantasia, a criatividade, o sentido crítico, entre outros aspectos que ajuda moldar a vida da criança e futuramente como adulto.

Segundo Piaget (1996), o brincar é essencial na vida da criança, e as brincadeiras devem estar presentes na educação infantil, pois é nesse período da vida que a criança ganha aspectos de sua formação. Portanto, ao brincar ela desenvolve capacidades importantes como a atenção, a memória e a imitação, ela explora e reflete sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas.

Segundo Rojas (2007), o brincar infantil, não é sem nenhum valor, o brincar desperta fantasias que chegam a influenciar diretamente a formação e a estruturação do pensamento da criança. O brincar não significa apenas recrear-se, pelo contrário, é através do brincar que a criança se comunica consigo mesma e com o mundo.

Brincar é tão importante para a criança, que ela se sente mal e infeliz quando não a deixam brincar. As crianças vêem sendo estimuladas de forma precoce à vida e responsabilidade dos adultos. A infância precisa ser respeitada e valorizada.

Uma criança devidamente estimulada pode descobrir brincadeiras em diversas coisas e objetos como em brinquedos sofisticados.
É preciso não confundir a qualidade do brincar com a quantidade de brinquedos. Atualmente, as propagandas estão em toda parte e estimula a compra de todo tipo de brinquedo, levando a criança a pedir coisas com as quais irá brincar muito pouco, já que muitos brinquedos são específicos demais e limitam a imaginação.

Contudo, pais e educadores devem estar conscientes de que não é o preço nem a quantidade de brinquedos que garantem a diversão, e que brinquedos e objetos simples podem proporcionar momentos de muita alegria e aprendizagem. Brincar é possível com e sem brinquedos, basta usar a imaginação e a criatividade.

            Os brinquedos são suportes que promovem de forma saudável o desenvolvimento físico, social, intelectual e emocional.

            Parafraseando Almeida (2000), “o brincar é uma necessidade básica e um direito de todos. O brincar é uma experiência humana rica e complexa”.

            O brincar é um direito da criança, garantido na Declaração Universal dos Direitos da Criança (ONU, 20/11/1959).

A criança deve ter todas as possibilidades de entregar-se aos jogos e as atividades recreativas, que devem ser orientadas para os fins visados pela educação; a sociedade e os poderes públicos devem esforçar-se para favorecer o gozo deste direito. (Declaração Universal dos Direitos da Criança, 1959).

 

Portanto, cabe aos educadores fazer valer o direito a brincadeira e conduzir de maneira correta e consciente, formando futuros cidadãos com valores morais, que saibam respeitar regras, que sejam autônomos e independentes.

            Pesquisas revelam que crianças que exercem uma constante atividade do brincar serão mais equilibradas e preparadas para a vida adulta. Brincar educa, ajudando a criança a adquirir conhecimentos, o papel e os valores que serão necessários na vida adulta.

            Contudo, conforme Gomes, ao brincar a criança potencializa o desenvolvimento, aprende a conhecer, a conviver, a fazer e, sobretudo aprende a ser, além de estimular a curiosidade, a autoconfiança, a autonomia e a inteligência, proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.

            É preciso, no entanto que o educador tenha um olhar perceptivo para compreender que a educação é um ato intencional. Requer orientação por parte do professor, cujos caminhos podem ser viabilizados por instrumentos e material que podem ser utilizados para facilitar a construção do conhecimento por parte da criança. “O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil” (KISHIMOTO, apud ROJAS, 1999, p.36).

Portanto, o educador deve saber o benefício que cada brinquedo proporciona. Cada fase do desenvolvimento exige brinquedos específicos, em todos os períodos do desenvolvimento a escolha dos brinquedos é de grande importância e deve despertar o interesse de pais e educadores.

            Para que o brinquedo seja ideal, segundo Huizinga (1940), ele precisa despertar a emoção da criança, estimular a imaginação, promover a construção do conhecimento, auxiliar na autonomia, na auto-estima, que possa explorar o lúdico, desenvolvendo a linguagem e respeitar a faixa etária da criança. O jogo e as brincadeiras são sempre situações em que a criança realiza, constrói e se apropria de conhecimentos das mais diversas formas. Dessa forma, o professor deve agir somente como mediador, observando a ação de cada criança e a partir daí poder interferir no momento certo.

No entanto, para Vygotsky (1998), o brinquedo vai além e supera as expectativas, pois, ao brincar, ao manusear um brinquedo, a criança aprende e se desenvolve consigo mesma, e aprende regras impostas pela sociedade que mais tarde terá de cumpri-las, pois há vários brinquedos que exigem regras. São essas regras que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do que aquela habitual para sua idade.

Assim, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança, no brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário: no brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento, (Vygotsky, 1988, p. 117).

 

Na visão sócio-histórica, a brincadeira e o jogo é uma atividade específica da infância, em que a criança recria a sua própria realidade. Portanto o jogo e a brincadeira é uma atividade social, onde além de ser prazerosa, é uma atividade humana criadora, na qual a imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, expressão e de ação pelas crianças, assim como formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Dentro do espaço das ações lúdicas, a criança recria suas vivências cotidianas, reproduz modos culturais de ação com objetos e modos de relação interpessoal.

Portanto, para Vygotsky as brincadeiras que são oferecidas à criança devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que ela encontra criando estímulos para o desenvolvimento do ir além.

No processo da educação infantil, o papel do professor é de suma importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza os materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do conhecimento. Portanto, é necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e com outras crianças.

Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira do “faz-de-conta”, como por exemplo, brincar de escolinha, de casinha, de médico, de motorista entre outros. Esse tipo de brincadeira serve como representação de uma realidade ausente, porém cheia de significados.

De acordo com Vygotsky (1998), cada período do desenvolvimento tem uma atividade principal. Na idade pré-escolar, essa atividade é a brincadeira.

É a partir desses pressupostos que devemos pensar o papel do jogo e da brincadeira na pré-escola. Devemos considerar o brincar não como uma atividade complementar a outras de natureza dita pedagógica, mas sim como uma atividade fundamental para a constituição de sua identidade cultural e de sua personalidade.

A criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados e esse mundo é o que chamamos de brinquedo. (Vygotsky, 1992, p.92)

 

A criança de 4 e 5 anos dedica grande parte de seu tempo ao brincar de faz-de-conta. Dessa forma ela desenvolve a linguagem e a narrativa e passa a ter melhor compreensão de si e do outro, por meio da interação com as pessoas e objetos que constituem o seu meio social e cultural. O desenvolvimento do imaginário infantil se dá também através da música, da dança, e artes gráficas.

            Quando a criança imita e recria personagens, em sua vivência, a fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que aprenda sobre as pessoas, sobre o eu sobre o outro. Contudo, percebe-se o quanto o brincar é benéfico ao aprendizado. A promoção de atividades que favoreçam a criação de situações imaginárias tem nítida função pedagógica, e deve-se utilizar na pré-escola, atuando no desenvolvimento das crianças. (Vygotsky apud Oliveira, 2004, p.67)

            Nesse sentido, cabe ao professor organizar-se para que as brincadeiras ocorram de forma a propiciar às crianças a possibilidade de escolherem os temas, os papéis, os objetos, as regras e os companheiros.

Independente da época, cultura e classe social, os jogos e brinquedos fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo da fantasia, de encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se confunde.O jogo está na gênese do pensamento, da descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de transformar o mundo. SANTOS (2000, p.9).

            Contudo, para estimular a imaginação infantil, o professor deve oferecer materiais dos mais simples aos mais complexos, podendo esses brinquedos ou jogos ser fabricados ou serem brinquedos e jogos confeccionados com material reciclado. Assim, para Vygotsky, (1998, p. 128) “no brinquedo o pensamento está separado dos objetos e a ação surge de idéias e não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco, e um cabo de vassoura torna-se um cavalo”. Dessa forma, todo e qualquer material cria para a criança uma possibilidade de fantasiar e brincar.

            O professor deve dar o tempo necessário às crianças para que as brincadeiras apareçam, desenvolvam e objetivem seus propósitos. O educador através do conhecimento deve coordenar sua ação, a ação da criança, por intermédio das emoções desta.

            Nessa linha de pensamento, devemos resgatar os brinquedos e brincadeiras tradicionais, perpetuando a tradicionalidade, a cultura de nossos antepassados. “(...) A brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e emitir o prazer de brincar”. (TIZUKO 1997 p: 38-39).

As brincadeiras tradicionais dão continuidade e permanência na história e culturas passadas. Essas brincadeiras foram sendo transmitidas de geração em geração, garantindo a presença do lúdico e das situações imaginárias.

Contudo, cabe ao educador resgatar as brincadeiras tradicionais como forma de transmitir as tradições culturais dos antepassados às crianças. Como por exemplo: a amarelinha, o dominó, o pião, a bolinha de gude, o xadrez, o pula corda, etc.

 Pode-se perceber que todo aprendizado que o brincar permite é fundamental para a formação da criança em todas as etapas da sua vida.

Para Vygotsky (1998) e Leontiev (1998b), o brinquedo tem intrínseca relação com o desenvolvimento infantil, especialmente na idade pré-escolar.

Portanto, com base nos pressupostos, pode-se dizer que os brinquedos e brincadeiras são necessários na formação da criança em idade pré-escolar. O educador infantil ciente dessa importância deve proporcionar às crianças a liberdade de expressão, respeitando e valorizando suas escolhas e ao mesmo tempo propondo novas brincadeiras lúdicas, que favoreça e promova seu pleno desenvolvimento.

 

4 – O PLANEJAMENTO DO PROFESSOR EM RELAÇÃO AO BRINQUEDO

 

            O lúdico na educação infantil tem por objetivo oportunizar ao educador a compreensão do significado e da importância das atividades lúdicas na educação infantil, procurando provocá-los para que se insira o brincar no contexto dos projetos educativos. Propõe-se, nesse sentido a intencionalidade, os objetivos e a consciência clara de sua ação em relação ao desenvolvimento e aprendizagem infantil.

            Segundo Negrini (1994) é fundamental que os professores conheçam o valor que a criança já constitui na interação com o ambiente familiar e sociocultural, para depois formular sua proposta pedagógica.

            O educador deve ser líder democrático que coordena e mantém um clima de liberdade para a ação do aluno, atuando em sintonia com a criança para conseguir a cooperação mútua. A partir dessa ação, constrói-se a autonomia intelectual e a segurança afetiva da criança, aliando teoria e prática, valorizando seu conhecimento prévio, planejando as atividades conforme as necessidades dos sujeitos envolvidos na ação lúdica.

Para Kishimoto (1999) as praticas lúdicas proporcionam subsídios para a compreensão da brincadeira como ação livre da criança e uso dos dons; objetos, sendo valiosos suportes da ação docente, que enriquecem o trabalho pedagógico permitindo a aquisição de habilidades e conhecimentos, justificando, assim, os jogos educativos.

Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantida as condições para expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador esta potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. (KISHIMOTO, 1999, p. 36 – 37).

            Dessa forma, a ação do educador deve ser refletida, planejada, e após sua execução, avaliada. Essas ações devem propiciar a ampliação do desenvolvimento lingüístico e cultural das crianças.

            Portanto, o brincar como recurso para o professor de pré-escola, deve ser parte integrante do planejamento deste. As atividades lúdicas geralmente têm momentos específicos na programação com tema, material, ocupação do espaço e até mesmo duração. No entanto, é importante dar outras possibilidades de ação para as crianças, de forma que elas próprias possam determinar os aspectos citados acima. Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança.

            O educador deve disponibilizar brinquedos que chame a atenção da criança. Brinquedos  que convida a criança a brincar, que desafia seu pensamento, mobiliza sua percepção e proporciona suas experiências e descobertas.

Para os diferentes momentos, devem-se usar brinquedos adequados, que estimule a ação possibilitando a aprendizagem.

De acordo com Brougère (1997), o brincar exige uma aprendizagem, sendo assim o professor terá este papel fundamental de inserir a criança na brincadeira, criando espaços, oportunidades e interagindo com ela.

            Para crianças de 4 e 5 anos devem ser oferecidos brinquedos de cores vibrantes e de formas mais simples que as atrai. No entanto, o brinquedo de qualquer cor, na forma e textura diferente, contribui para o estimulo sensorial da criança. As crianças se divertem com os brinquedos de encaixar, e ganha significativo destaque os jogos de regras, que exigem o cumprimento de normas, concentração e raciocínio, principalmente, os de modo simbólico, em que se assumem papéis. Elas se apropriam dos elementos da realidade e dão a eles novos significados.

            Outros autores também privilegiam a importância do brinquedo na educação infantil, porém, para Andrade (1995), o brinquedo é considerado suporte do jogo que ao ser mediador permite que a criança teste as situações da vida real colocando-a ao seu nível e em condições seguras e controladas. O brinquedo é caracterizado como objeto que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a invenção, a imaginação e a descoberta. O brinquedo propõe à criança um mundo do tamanho da sua compreensão. (ANDRADE, 1995, p. 81).   

            De outro lado, por meio da fantasia, a criança apreende sobre a cultura. No faz-de-conta, acontece algo íntimo que não se deve atropelar. O professor contribui com um gesto, uma palavra ou um brinquedo, mas a turma é livre para aceitar. Pode-se desenvolver estratégias para enriquecer o brincar, atraindo a turma para espaços diferenciados, como o cantinho da história, brinquedotecas, o pátio, a sala de vídeo, entre outros. O cenário por si só, avisa a proposta da brincadeira e pressupõe papéis pré-definidos com o tempo e o próprio grupo produzirão outros.

            A participação dos pais e professores nas brincadeiras é fundamental, pois auxilia a criança a explorar o brinquedo da melhor forma possível. A criança ao brincar com alguém reforça os laços afetivos, sendo que essa participação nas brincadeiras eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças.

            No brincar dirigido, pode-se propor desafios a partir da escolha de jogos, brinquedos e brincadeiras determinadas pelo professor. Esses jogos orientados podem ser feitos com propósitos claros de promover o acesso e a aprendizagens de conhecimentos específicos como: matemáticos, lingüísticos, históricos, físicos, culturais, morais, etc. Um outro propósito é ajudar no desenvolvimento cognitivo, afetivo, sociais, motriz e na construção da moralidade.

            Já no brincar espontâneo, podemos registrar as ações lúdicas, a partir da observação, registro, análise e tratamento. Com isso, podemos criar para cada ação lúdica um banco de dados sobre o mesmo, subsidiando de forma mais eficiente e científica os resultados das ações. É possível também fazer o mapeamento da criança em sua trajetória lúdica durante a sua vivência dentro de um jogo ou de uma brincadeira, buscando dessa forma entender e compreender melhor suas ações fazendo intervenções e diagnósticos mais seguros contribuindo de forma individual ou coletiva.

O brincar “aberto”, aquele que poderíamos chamar da verdadeira situação de brincar, apresenta uma esfera de possibilidades para a criança, satisfazendo suas necessidades de aprendizagem e tornando mais clara a sua aprendizagem explícita. Parte da tarefa do professor é proporcionar situações de brincar livre e dirigido que tentem atender as necessidades de aprendizagem das crianças. Neste papel, o professor poderia ser chamado de um iniciador e mediador da aprendizagem. (MOYLES, 2002, p.36-37)

 

Através do brincar livre, o professor pode observar as idéias, valores, necessidades, nível de desenvolvimento, comportamento dos envolvidos na ação lúdica, conflitos, problemas, etc. Dessa forma, podemos escolher as ações lúdicas mais adequadas para cada criança envolvida, respeitando a individualidade de cada ser humano.

Há necessidade dos profissionais da educação infantil ter acesso ao conhecimento produzido nesta área e da cultura em geral, para repensarem sua prática, se reconstituir enquanto cidadãos e atuarem enquanto sujeitos da produção do conhecimento. (Kramer apud MEC/SEF/COEDI, 1996, p. 19)

 Portanto, é fundamental garantir a formação do professor e condições de atuação. Sendo assim, a decisão de se envolver no mundo mágico infantil seria o primeiro passo que o professor deveria dar. Explorar o universo infantil exige do educador conhecimento teórico, prático, capacidade de observação, afetividade e disposição de ser parceiro nesse processo.

            Contudo, é importante que o professor reflita não apenas seu planejamento para o desenvolvimento de brincadeiras, mas o de reformular seu olhar sobre os espaços e o tempo que proporciona para cada atividade. Deve-se repensar sua intervenção no sentido de garantir o pleno desenvolvimento de suas crianças.

É importante ressaltar que só é possível compreender os aspectos de uma criança se nela o educador reconhecer um pouco da criança que foi e que ainda existe em si, sendo possível ao educador redescobrir e reconstruir em si mesmo o gosto pelo lúdico, buscando experiências, brincadeiras de infância e adolescência que possa contribuir para uma aprendizagem lúdica prazerosa e significante.

            A criação do espaço e tempo para os jogos e brincadeiras é uma das tarefas mais importantes do professor, que precisa estar atento, pois sua participação é importante para enriquecer suas atividades, introduzindo situações que torne o jogo mais rico e interessante para elas, aumentando sua possibilidade de aprendizagem.

Para Rojas (2007) há necessidade de o professor ampliar significativamente as vivencias da criança com o ambiente físico, com brinquedo, brincadeiras e com outras crianças.

            Com isso, o papel do educador é observar e coletar informações sobre as brincadeiras das crianças para aproveitá-las mais tarde. O professor tem que respeitar o direito da criança de participar ou não da brincadeira, se for necessário pode mudar as regras ou adaptá - las para facilitar e estimular nelas a socialização e com isso o hábito de cooperação, conservação e manutenção dos brinquedos.

A criança está brincando não apenas quando pega um carrinho ou quando inventa histórias com uma boneca, mas também existem outras bem mais simples e que passam quase despercebidas no dia-a-dia dos educadores. Espaços simples, com objetos fáceis de serem encontrados e manipulados podem se transformar em grandes aliados do educador.

Para Oliveira apud Rojas (2007), os adultos estão sempre exigindo ordem e limpeza, qualidades muito valorizadas numa sociedade progressiva, que, para as crianças, são como limites impostos ao seu brincar. A criança sente um choque quando, por meio de um comportamento severo do adulto é arrancada do rico mundo da fantasia e sonho e bruscamente empurrada para a realidade do mundo adulto. Tais posturas desencadeiam no prazer original do brincar a timidez, a insegurança e o medo, gerando comportamentos distorcidos que criam as raízes das atitudes inadequadas na criança.

Ao manusear uma caixa de papelão, esfregar a mão na mesa, brincar com bichos ou jogar um objeto para o ar, a criança, além de brincar, está conhecendo o mundo ao seu redor. Comportamentos como esses são repreendidos e condenados por serem considerados "bagunça". Entretanto esses momentos contribuem para a formação da criança tanto ou mais que brincadeiras com brinquedos industrializados.

Cunha (1994) ressalta que a brincadeira oferece uma “situação de aprendizagem delicada”, isto é, o educador precisa ser capaz de respeitar e nutrir o interesse da criança, dando-lhe possibilidades para que evolua em seu processo, ou do contrário perde-se a riqueza que o lúdico apresenta.

 Contudo, o importante é que pais e educadores dêem liberdade às crianças para que elas possam se expressar e vivenciar novas experiências, a criança também deve perceber que limites existem e são necessários.

Portanto, o educador como conhecedor da importância do brinquedo e da brincadeira na vida da criança em formação, deve planejar executar e avaliar o brincar lúdico, de acordo com o nível de desenvolvimento em que a criança se encontra, proporcionando espaços que atendam as demandas e que faça fluir o imaginário e a criatividade infantil, assim como suas necessidades emocionais, socioculturais, físicas ou intelectuais.

 

 

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Diante do que foi ressaltado no decorrer deste trabalho, ficou evidente a enorme influência que o brincar exerce sobre a criança. Por isso, é fundamental que o educador infantil organize e planeje suas atividades lúdicas visando promover o desenvolvimento afetivo, cognitivo, físico, emocional e social das crianças.

Nesse sentido, Gomes afirma: “a criança precisa ter tempo, espaço e materiais adequados a sua faixa etária, isto é, ter um ambiente rico para a brincadeira de forma a estimular a atividade lúdica no meio escolar. Ter um ambiente rico para o brincar, não significa ter brinquedos caros, mas proporcionar a exploração de diversas linguagens que a brincadeira possibilita, fazendo com que desenvolvam a sua criatividade e imaginação”.

Portanto, o ato de brincar pode internalizar valores morais e culturais, onde as atividades podem promover a auto-estima, a auto-imagem e a cooperação, entre outros aspectos que ajudam a moldá-los agora como crianças, e futuramente como adultos.

Para isso, é de suma importância que o educador como portador de todo esse embasamento teórico, possa transpor para sua prática pedagógica cotidiana momentos de atividades lúdicas espontâneas e dirigidas, respeitando e valorizando o repertório infantil, possibilitando suas ações.

Nessa perspectiva, o educador como mediador do conhecimento, poderá observar as interações, apreendendo sobre seus interesses, o nível de realização em que elas se encontram, suas habilidades, seus comportamentos, podendo a partir daí sistematizar  atividades que contemple as crianças, não só do ponto de vista lingüístico, mas também cultural, aprendendo a conviver como um ser social em constante formação.

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[1] Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia para Educação Infantil pela UNEMAT e pós-graduanda em Educação para a Infância: Educação Infantil e os Anos Iniciais do Ensino Fundamental pela Universidade Cândido Mendes/Wpós.