INTRODUÇÃO
A indisciplina escolar tem sido um dos maiores desafios que nós, educadores, temos enfrentado nos dias de hoje. Vários estudiosos das mais diferentes áreas têm exposto o que pensam sobre o tema. É necessário encontrar meios para, se não resolver o problema, pelo menos minimizar seus impactos sobre os atores do processo educativo e da própria escola como um todo.
Busca-se no presente trabalho refletir sobre as causas da indisciplina na sala de aula, o modo como ela se manifesta, as conseqüências que ela traz para os alunos e professore. A escolha do tema deve-se ao fato de que "os dilemas disciplinares têm sido apontados, em uníssono" (AQUINO, 1999:146).
Vivemos numa sociedade globalizada pela lógica do capitalismo desenfreado, pela rápida difusão das informações e pela busca incessante pelo conhecimento. Temos como características dessa sociedade neoliberal a qual pertencemos, o individualismo exacerbado, a conexão global através da internet, a exaltação do corpo, da estética, da moda.
Nossa sociedade tem sido impactada por uma série de inovações sociais, científicas, tecnológicas, econômicas e filosóficas, e isso tem provocado amplas modificações nos seus valores. Além de todas essas mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos últimos anos, percebemos também a inversão de valores morais, provocando mudanças no modo de agir das pessoas. Essas mudanças comportamentais ocorrem devido também à crise ética que estamos vivenciando nos últimos anos. Sob esse ângulo "a indisciplina escolar pode estar indicando o impacto do ingresso de um novo sujeito histórico, com outras demandas e valores numa ordem arcaica e despreparada para absorvê-lo (AQUINO in Rebello, 2000;35)".
Entre algumas das instituições que foram abaladas por essas transformações que a nossa sociedade vem sofrendo, está a família. Muitos pais não impõem limites aos seus filhos, não corrigem, não estabelecem normas de convivência, não apresentam padrões de conduta necessários para se viver bem em sociedade. Segundo Rebelo "Sem saber como lidar com os filhos, os pais acabam não colocando limites para que os filhos respeitem colegas, professores, funcionários. (2002:69)".
Alguns pais por medo de magoar seus filhos voltam atrás nas decisões tomadas anteriormente, e assim vão perdendo a credibilidade, outros não podem exigir comportamentos morais que eles mesmos não possuem, então muitas crianças e adolescentes crescem sem Ter referências éticas na família, sem ter uma figura de autoridade em casa que lhes imponha os limites necessários para vivermos de forma coerente, ou pelo menos aceitável na sociedade da qual fazemos parte.
Este pode ser um dos motivos responsáveis pela indisciplina na sala de aula: o desconhecimento de limites, de valores éticos, de comportamentos morais, assim como, de regras de convivência, necessárias para o bom funcionamento social, por parte de adolescentes que não possuem essas referências em casa. "De acordo com a tese de que o comportamento é aprendido, podemos dizer que a família tem responsabilidade também com a indisciplina, (REBELLO, 2002:69)".
Então o professor se vê diante de um problema sério que é fazer o aluno percebê-lo como profissional da educação, figura de autoridade institucionalizada, que merece respeito, como também, fazer o aluno compreender que há limites e regras que existem para ser cumpridas e respeitadas caso se queira um bom desempenho dos envolvidos no processo de ensino aprendizagem, como também na sociedade em geral.
A prática pedagógica desenvolvida pelo professor, a metodologia por ele adotada para trabalhar os conteúdos, sua visão de como ocorre a aprendizagem, a relação professor-aluno desenvolvida também podem favorecer a instalação da indisciplina, como analisa Rebelo "o plano de trabalho, o tipo de estratégia e o conteúdos desenvolvidos na sala de aula contribuem para a indisciplina dos alunos e o professor pode contribuir para a separação da indisciplina a partir da mudança de sua prática pedagógica.(2002:68)".
Outro fator que pode contribuir para a indisciplina na sala de aula é a postura pedagógica adotada pelo professor, ou seja, como ele se apresenta perante seus alunos. O modo como o professor se vê enquanto profissional da educação, a imagem que ele tem de si mesmo enquanto formador de mentes pensantes, o grau de sua auto-estima, sua relação pessoal consigo mesmo, é outro fator que pode influenciar a representação que os alunos farão deste professor.
Acreditamos que a indisciplina traz conseqüências negativas para auto-imagem do professor em quanto profissional da educação, principalmente porque alguns tipos de indisciplina não deixam de ser uma afronta ao educador em si, ou seja, algumas vezes, é a própria pessoa do professor quem está sendo agredida e menosprezada.
A indisciplina além de causar no professor sentimentos de impotência e incapacidade frente a uma a sala de aula onde os alunos não o respeitam; causando também a este profissional sentimentos de: perda de tempo, mágoa, desgosto, descontentamento e desestímulo, pelo fato não estar sendo bem reconhecido pelo seu público, o que prejudica a qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido.
Outro fator que pode ocasionar a indisciplina é a falta de uma adequada estrutura física da escola como é o caso de salas de aula muito grandes onde a voz do professor e os recursos por ele utilizados não chegam aos alunos, ou das salas de aulas que são muito pequenas para a quantidade de alunos existentes, ocasionando o acúmulo de cadeiras, gerando conversas paralelas e dispersão.
Como nos diz Snyder, "Alguns professores e alunos vivem em condições realmente lastimáveis em classes superlotadas, locais inadequados, cansados, angustiados. E ambas as partes estão preocupadas em sobreviver (in REBELO 2002:37)".
Para que uma organização funcione é necessário que nela exista ordem, e é neste sentido que vemos a disciplina, quando há cooperação consciente e uma obediência voluntária de todos os membros que fazem parte de uma determinada instituição, para alcançarem juntos objetos humanos.
INDISCIPLINA E MORALIDADE
[...] toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras.
(Piaget)
O desenvolvimento do juízo moral na criança é marcado por três fases: a anomia, a heteronomia e a autonomia, assim assevera Araújo . A primeira é a fase na qual a ausência de regras é a temática. A criança não tem noção das regras e normas sociais. Já na fase da heteronomia, ela percebe a existência das regras, sabe que algumas coisas ela pode fazer ao passo que outras não, porém, quem determina essa permissividade são outras pessoas que não a criança. Passadas essas duas primeiras fases, vem, por final, a autonomia. Esta se caracteriza pela conscientização, por parte da criança, da existência de regras para se viver em sociedade, regras estas que têm como fonte a própria criança que as internalizou. A autonomia neste sentido não corresponde a praticar o que se quer de acordo com as suas próprias idéias tendo por princípio seus interesses pessoais. Nela o indivíduo age conscientemente levando-se outros em consideração, suas as ações baseiam-se em princípios universais de justiça.
O processo se desenvolve da seguinte forma: dado o nascimento, inicia-se a primeira fase - anomia. A criança encontra-se em um estado de egocentrismo radical. Ela não percebe a existência dos outros e muito menos das regras sociais. Ao interagir com o mundo - interação esta iniciada com o convívio familiar - , a criança passa a perceber a si mesma e aos outros, começa a compreender a existência de regras sociais, mas acredita que quem sabe o que é certo ou errado são os mais velhos e não ela própria. Durante o desenvolvimento humano ela ao sofrer o processo natural de socialização vai deixando para trás seu egocentrismo e o conviver com seus semelhantes a faz defrontar-se com diferentes pontos de vistas e na medida em que passa cooperar com as outras pessoas ela desenvolve a reciprocidade, a solidariedade e o respeito mútuo que são a base da autonomia. Araújo diz que
[...]a autonomia, pode ser compreendida como resultante do processo de socialização que leva o indivíduo a sair do seu egocentrismo, característico dos estados de heteronomia para cooperar com os outros e submeter-se (ou não) às regras sociais e isso será possível a partir do tipo de relações estabelecidas pelo sujeito com os outros.
O indivíduo atinge o desenvolvimento moral quando se sente obrigado, racionalmente, movido por uma necessidade interna de agir de acordo com princípios universais de justiça e igualdade. Ressalte-se que esse nível de autonomia moral não é alcançado em ambientes de coação, medo e autoritarismo; ele só acontece com indivíduos que estabelecem relações baseadas na cooperação, na reciprocidade e no respeito mútuo. Ora, se um dos objetivos da educação é ajudar o sujeito a desenvolver a autonomia e, por conseguinte, a respeitar as regras sociais, ela deve proporcionar ao educando relações que não sejam baseadas na coação e na obediência, pois agindo assim ela apenas reforça a heteronomia. As relações estabelecidas nas escolas devem ter como base ideais democráticos de justiça e igualdade com vista a levar o indivíduo adquirir o respeito por tais princípios.
A INDISCIPLINA E O SENTIMENTO DE VERGONHA

De acordo com Taile "a indisciplina na sala de aula é entre outros fatores decorrência do enfraquecimento do vínculo entre moralidade e sentimento de vergonha." Ora, se faz necessário antes de abordarmos tal aspecto, definir o que significa o termo "vergonha" no sentido de como o senso comum a conhece. Define-a Houaiss em seu dicionário: "vergonha" é igual a desonra que ultraja, humilha; opróbrio. Também seria o sentimento desse ultraje, dessa desonra ou humilhação; ou ainda o sentimento penoso causado pela inferioridade, indecência ou indignidade; o sentimento de insegurança causado por medo do ridículo e do julgamento dos outros; timidez, acanhamento, recato, decoro. É o sentimento ou consciência da própria honra, dignidade, honestidade; brio. Trata-se de qualquer atitude ou ato indecoroso, desonesto, vexatório, Continua o lexicógrafo. Coisa ou situação vergonhosa.
É natural que sejamos acometidos pelo sentimento de vergonha, o que normalmente acontece quando sabemos que somos objeto do olhar, da escuta e do pensamento dos outros. Alguém pode enrubescer ao ser elogiado publicamente, ao falar para muitas pessoas, ao ter sua imagem exposta. A pessoa ao sentir vergonha sente-se constrangida por estar sendo olhada pelo outro. E caso esse olhar seja crítico negativamente, a vergonha se tornará sentimento de humilhação e rebaixamento. O sentimento de vergonha surge a partir do momento em que passamos a nos perceber, ele está associado ao juízo de valor que temos de nós mesmos. Vem à tona ao percebermos que estamos sendo observados e que essa observação está associada a juízos de valores positivos e/ou negativos. Normalmente, o sentimento de vergonha está associado, em certo sentido, mais a juízos de valor negativos que a positivos; o fato é que a se perceber julgado negativamente e se temer o juízo negativo de outra pessoa, é porque compartilhamos com ela os mesmos valores.
Uma pessoa desprovida desse sentimento ignora e despreza o juízo dos outros, ela não reconhece o controle social externo; a imagem que tem de si mesma não sofre com a realização de atos tidos como imorais pelo meio social em que vive. Essas pessoas não são sensíveis ao olhar moral da sociedade, assim, sua auto-imagem não sofre dano algum em face de suas ações contrárias à moral e aos bons costumes. Se a uma criança são colocadas poucas proibições morais, poucas normas de conduta; se lhe forem passados apenas valores superficiais ligados à beleza física, sucesso profissional, ascensão social e condutas de sucesso por exemplo, ela não sentirá vergonha quando agir de forma contrária à moral social em virtude do fato de seus pais não terem demonstrado valorar negativamente essas ações. No entanto, esta criança sentirá vergonha quando não conseguir ser a melhor, a mais inteligente, a mais bonita e bem sucedida. Ensina-nos Taille que " Se a vergonha é um sentimento inevitável, inerente ao ser humano, aquela associada à moral não se impõe necessariamente. A vergonha pode ter vários caminhos; a moral é um deles".
Atualmente podemos perceber que a sociedade passa por uma inversão de valores sem precedentes. A beleza física, o consumismo exacerbado, a competitividade profissional, o culto ao corpo e a busca desenfreada pelo prazer imediato, são algumas das ambições do homem moderno, cada vez mais individualista e menos solidário. Esse homem tem demonstrado interesse apenas por uma coisa: ele mesmo; por seus projetos, seus anseios, seus impulsos e seu pequeno grupo de amigos, quando existe. Tal comportamento carrega em si sérias conseqüências morais. Assim sendo, o homem contemporâneo não assume valores que se contraponham à sua busca de prazer e a personalidade social fica em segundo plano. Nesse sentido, Taille deduz: "A vergonha perdeu o caráter de sentimento moral no trato das questões do espaço público, não mais regula a ação do cidadão frente à opinião pública." Frente a tal comportamento, vê-se surgir o sentimento vergonha, mas não no seu sentido salutar, ele surge no indivíduo em virtude de não ter tido ele êxito no atingir seus objetivos próprios como sucesso, dinheiro. É uma vergonha ligada ao fracasso pessoal.
Entre moral e a disciplina há dois vínculos: o primeiro é o problema da relação do indivíduo com as normas e o segundo é que vários atos de indisciplina desse indivíduo se traduzem pelo desrespeito pelos colegas, professores e pela instituição escola. O que tem preocupado os educadores é a falta de respeito dos alunos, a indisciplina faz os professores se sentirem humilhados perante a classe e muitas vezes essa indisciplina, na visão de boa parte, assume caráter de afronta pessoal. Se considerarmos que comportamentos indisciplinados estão ligados a valores morais - o que no nosso entender estão -, é de se esperar que um aluno que possui poucos ou quase nenhum valor moral, não tenha o respeito pela dignidade alheia como algo a ser respeitado e reverenciado. Esse indivíduo não sentirá efeito, não verá sua auto-imagem afetada pelo "simples" dos seus valores serem outros. Assim, ou o professor se impõe por suas características próprias ou nada consegue já que tais alunos desprezam sua dignidade pessoal e profissional.
Concordamos com Taille quando diz que "A questão da indisciplina na sala de aula não se deve essencialmente a falhas psicopedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que a moral ocupa." Disso se abstrai que a solução para a indisciplina não está numa relação pedagógica autoritária onde o professor consegue manter atitudes comportamentais ditas dentro da "normalidade" baseada em ameaças, castigos e humilhações. Talvez ela esteja em desenvolver no aluno o sentimento de dignidade como ser moral. Observe-se: não há moral se não houver respeito por si mesmo e pelo outro.

A INDISCIPLINA E A FAMÍLIA
A criança, antes de iniciar sua trajetória escolar, precisa ter desenvolvido uma estrutura psicológica moral, assim, com muito mais facilidade e compreensão há de reconhecer e se adaptar uma autoridade externa, no caso, a do professor.. Essa estrutura psicológica nada mais é que a internalização de determinados padrões morais presentes na sociedade, tais como respeito às regras comuns, cooperação, responsabilidade, reciprocidade, dentre outros.
Neste sentido, a indisciplina pode estar revelando que a família tem falhado no cumprimento de algumas de suas responsabilidades e uma dessas falhas é a falta de estruturação moral na criança que se manifesta na sala de aula através da falta de limites, do desrespeito, da rebeldia e da indiferença para com o professor. Aquino (1996 p.45) observa que
[...]numa perspectiva genericamente psicológica, a questão da indisciplina estará inevitavelmente associada à idéia de uma carência. Tal fenômeno não pode ser pensado como uma predisposição particular, isto é, um atributo psicológico individual, mas de acordo com determinantes psicossociais, cujas raízes encontram-se no advento, no sujeito, da noção de autoridade.
Assim a família, enquanto primeiro contexto de socialização exerce uma grande influência sobre o indivíduo, sobretudo na sua infância; as atitudes dos pais e a forma de criarem seus filhos irão interferir, diretamente, no desenvolvimento infantil. Rego ensina que [...] de acordo com essa perspectiva, Moreno e Cubero referem-se a três estilos de práticas educacionais paternos (principalmente no que se refere à forma de lidar com a indisciplina) predominantes na maior parte das famílias e suas influências sobre o comportamento da criança. [Apud AQUINO(Org), 1996, p.97].
Discriminando, pais autoritários são aqueles que além de serem pouco comunicativos e afetuosos, são bastante rígidos, controladores e exigem demais dos filhos - o que, mais tarde, pode resultar no indivíduo sentimento de auto-cobrança exacerbada ou mesmo em desprezo total aos elementos dantes a ele exigidos. Esses pais, tidos por alguns como "tiranos", costumam valorizar a fiel e incontestável obediência às regras e normas por eles definidas sem, contudo, explicar aos filhos, seus destinatários finais, os reais motivos dessas imposições. Tais cobranças são seguidas de punições físicas e/ou psicológicas, tais como ameaças, caso a criança desobedeça a norma posta. Pesquisas realizadas chegaram à conclusão que filhos de pais que educam autoritariamente tendem a manifestar timidez, obediência e organização. Já os pais liberais não determinam normas ou regras para a criança, conseqüentemente não exigem responsabilidade dos seus filhos que crescem à sua própria vontade. Esses pais permissivos acreditam que estão no caminho certo e que agindo dessa forma estão preparando seus filhos para bem viver suas vidas, mas esquecem que o estabelecimento de limites é fundamental para o desenvolvimento de uma personalidade sadia. Na mesma pesquisa em que se buscou motivos, razões e conseqüências da indisciplina, obteve-se que os filhos de pais democráticos costumam apresentar autocontrole, auto-estima, capacidade de iniciativa, autonomia, facilidade nos relacionamentos, valores morais internalizados e assumem posturas por si mesmos e não por medo de castigos.
Foram felizes em suas colocações vários educadores e doutrinadores quando acertam ser a educação de responsabilidade solidária da família e da escola. É pacífico que cada entidade tem sua função específica nesse processo, contudo, o que se observa em última análise é que tem crescido equivocadamente a exigência de responsabilidades em nível da escola que ultrapassam a sua competência no âmbito pedagógico. Içami Tiba(1996) muito bem coloca que existem papéis específicos e distintos para a família e para a escola, não podendo nem devendo ser confundidos. Diz o educador que há aspectos educacionais que residem exclusivamente na esfera da família e sendo o seu papel exercê-los, no mesmo sentido, cremos que existam também aspectos educacionais que sejam inerentes à esfera da escola e, portanto, nela residam e devam ser exercidos. No sentido da cobrança equivocada à escola, exemplifica Tiba(1996, p.169):
Há pais que por pagar uma escola, acham que esta é responsável pela educação dos seus filhos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas do aluno, os pais jogam a responsabilidade sobre a própria escola, alegando que ficam pouco tempo com os filhos e que por isso não possuem tempo para educá-los.
Em face da mudança da dinâmica social que exige o deslocamento dos pais para o mercado de trabalho, é comum escutarmos dos pais justificativas como a falta de tempo em face da não possibilidade de dirigir uma melhor educação aos seus filhos. Essa é uma questão que tem se tornado comum: a problemática da falta de tempo como obstáculo na educação dos filhos, isto porque o trabalho ? garantidor da sobrevivência da família - e as obrigações extras absorvem grande parte da jornada diária do casal; a conseqüência desse processo é o surgimento do sentimento de culpa nesses pais, vez que cobram de si o tempo que deveria ser reservado para uma maior convivência com a família e que está sendo despendido em atividades outras.
Esse sentimento de culpa sobrecarrega o inconsciente - por vezes o consciente - dos pais que, com vista a minimizar os efeitos sobre si, geram outro problema. Eis o processo: objetivando sublimar suas culpas por estarem ausentes na vida de seus filhos, alguns pais tentam compensar essa falta satisfazendo todas as vontades e desejos de suas crianças. Assim, ao deixar seus filhos agirem de acordo com suas próprias vontades, sem perceber, os pais vão perdendo o controle da situação. Mais tarde, ao se darem conta do dano já não há mais como impor aos seus filhos os limites necessários para se bem viver em comum. No dizer de Içami Tiba (1996, p.174) tais crianças "buscam somente saciar suas vontades, ficam tão acostumadas a satisfazer seus desejos que já nem pensam mais se o que irão fazer é ou não adequado". E essa falta de limites é, possivelmente, um dos motivos da indisciplina nas escolas.

A DISCIPLINA E A FALTA DE LIMITES
Percebemos que pessoas cuja criação se deu de forma repressora por pais extremamente autoritários, exigindo-lhes comportamentos e atitudes sem discutir com eles a razão de tais exigências, hoje procuram educar seus filhos de uma outra maneira. É provável que por terem sido educados de forma rígida duvidem da eficácia do método, o que os leva a não agir com seus filhos da mesma maneira. Assim, sendo menos rigorosos, mais compreensivos, mais "dialogadores", exigindo menos e não batendo, acreditam que não provocariam frustrações, tampouco acarretariam traumas em suas crianças.
Mesmo diante desse tipo de comportamento não é raro, segundo especialistas em educação infantil, escutar-se de muitas famílias reclamações e questionamentos acerca de sua forma de criar e do resultado obtido. Zaguri (2000, p.16) muito bem aborda a situação:
[...] "Onde foi que eu errei?" Perguntam-se desesperados os pais, afinal, conversam, explicam, não agridem, não impõem, não batem, não castigam... e, no fim a vida esta virando um verdadeiro inferno, quanto mais os filhos querem que se faça, já não se sabem mais o que dizer, como agir. Estão desesperados!
Inquestionável é que não é pequeno o número de pais que não estão obtendo êxito na educação de seus filhos. A base, que seria obter aquela autoridade natural sobre eles não é estabelecida, consequentemente, o que se segue é sabido: não se consegue estabelecer limites mínimos a fim de que a criança absorva os princípios básicos da cidadania.
A criança ao vir ao mundo não sabe o que é certo e o que é errado, desprovida, portanto, de juízos de valor, assim, prima facie, cabe aos pais primaria e ordinariamente a tarefa de ensinar, orientar e estabelecer os primeiros passos necessários para o desenvolvimento de uma personalidade saudável. O que se deve ter em mente é que a criança deve ser educada desde os primeiros anos de vida no sentido de compreender que ela pode fazer muitas coisas as quais deseja, porém, nem todas. Podemos até parafrasear o que no Livro Sagrado o apóstolo Paulo ensina: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm." Içami Tiba(2002, p 141; 144) conclui que
Os pais não precisam e nem devem ser autoritários, porque essa forma de agir não educa e ainda causa revolta; porém precisam ser firmes e claros ao dizer a criança o que ela pode fazer, pois por medo de errar, os pais acabam errando, não estabelecem limites.
Os limites aos quais os educadores e psicólogos fazem alusão são primários, tais como direitos e deveres isonômicos. Devemos ensinar às nossas crianças que os direitos e deveres são iguais para todos, sem exceção, e que existem outras pessoas no mundo às quais devemos prestar e exigir respeito mutuamente; também devemos fazer elas verem que muitas coisas podem ser realizadas, outras não. Educadores como Tiba ensina-nos que o estabelecimento do bom senso é primordial de modo a saber dizer "sim" à criança sempre que for possível e, da mesma forma, dizer-lhe "não", quando necessário. Finalisticamente, a criança deve adquirir consciência lógica de que as pessoas não têm obrigatoriedade de satisfazer-lhe os desejos.
No mesmo sentido diz Tania Zaguri (2000, p.28) que
O que provoca traumas e problemas emocionais é, em primeiro lugar a falta do amor e carinho seguida de injustiça, violência física (bater nos filhos é uma forma comum de violência física que, em geral, começa com palmadinha no bumbum), humilhações e desrespeitos à criança.
Afere-se, portanto, que o estabelecer limites não significa que os pais devem bater em seus filhos, serem autoritários - isto na medida em que ordenam sem explicar por quê e para que o fazem - necessitando gritar para serem atendidos; fazerem apenas os que estão com vontade de fazer ou invadirem a privacidade de sua criança. Os pais que têm autoridade ouvem e respeitam seus filhos e têm como objetivos primos o bem-estar dos filhos, protegendo-os de prováveis perigos e orientando-os na direção à cidadania.
Zaguiri (2000, p.32) apregoa que o estabelecer limites não choca - nem é o oposto, como muitos pensam ? como dar amor, carinho atenção e segurança. E conclui que se agirmos com segurança e firmeza de propósitos, mas também com muito afeto e carinho poderemos atingir nossos objetivos educacionais sem autoritarismo e muito menos sem bater uma vez sequer nos nossos filhos.
Observa-se que quando por insegurança, culpa ou receio de serem autoritários os pais deixam de estabelecer limites. A tendência natural é que a criança passe a não aceitar qualquer tipo de limite a seus desejos, é por isso que algumas delas, quando não atendidas gritam, choram, batem chutam, xingam, esperneiam e até quebram objetos ao seu alcance, numa forma clássica de fazer pressão sobre seus pais até serem atendidas. Diante desse comportamento muitos pais, para se verem livres do "vexame", cedem às vontades dos filhos, mesmo que elas não sejam boas.
Agindo desta forma ou tentando evitar traumas psicológicos, alguns pais poderão estar contribuindo para o surgimento de sérios problemas no futuro, tais como distúrbios de conduta, desrespeito aos pais e colegas bem como a autoridades; ratifica tal posicionamento Zaguri(2002, p.43) quando diz que "a criança que não aprende a ter limite cresce com uma deformação na percepção do outro. Só ela importa, o seu querer, o seu prazer".

A INDISCIPLINA E A POSTURA PEDAGÓGICA DO EDUCADOR
Ao refletirmos sobre os fatores relacionados à indisciplina na sala de aula se faz necessário considerarmos a postura pedagógica adotada pelo educador, vez que ela, sabe-se, influencia diretamente sobre relação professor versus aluno e o tipo de trabalho desenvolvido em sala de aula e, por extensão, tal postura, como lhe é inerente, também influenciará no resultado de todo o esforço pedagógico empreendido ao longo da trajetória da turma educanda.
O elemento "postura pedagógica" - que traduz-se simplesmente pelo modo com que o mestre se apresenta frente à sua turma tanto pessoal, física e comportamentalmente, quanto nos métodos educativos adotados com vistas à sua atividade-fim: ensinar -, é por demais importante no diagnóstico do aprendizado do aluno, bem como no diagnósticos de elementos outros, tais como indisciplina em sala de aula. Assim, tem-se que uma postura equivocadamente adotada pode causar danos irreparáveis se não em toda turma, em parte dela. Na verdade, a postura pedagógica que o professor apresenta perante seu alunado tem relação direta com muitos casos de indisciplina com os quais ele se depara, podendo até ela, sua postura errônea, o verdadeiro agente disseminador e/ou genético, da desordem em sua sala de aula. Exemplos nos são fartos.
É muito curioso o fato de que alguns professores naturalmente conseguem obter o respeito, carinho, consideração e admiração de seus alunos por sua pessoa e/ou pelo seu trabalho e, consequentemente, consegue também prender a atenção deles durante suas aulas. O reverso do espelho também se observa: há professores que entram em suas salas de aula e a sensação aparente é a de que não entrou ninguém no ambiente; os alunos que conversam, ignorando a sua presença na classe, continuam a fazê-lo, os que dormitavam, assim permanecem. Durante a aula não presta atenção e isto quando não resolvem - ao enredarem perturbações no ambiente, com conversas paralelas e brincadeiras - atrapalhá-la. Esses professores são tidos por Içami Tiba como "vitimas". Explica ele(TIBA, 1998, p.146) o adjetivo colocado dizendo que esse professor é vítima por que:
[...]sofre com a classe que descobre um prazer sádico em torturá-lo. Vale tudo para tumultuar a aula. Enquanto implora silêncio pelo amor de Deus, um aluno está atrás dele, imitando seus gestos, dando-lhe uns cascudos e fazendo gozações com sua pessoa.
Fica patente que tais professores não conseguem exercer a autoridade que possuem enquanto professores. Eles, explica Tiba, não conseguem se impor, não possuem o chamado "domínio de sala de aula", não coordenam bem a classe e os alunos fazem o que querem de modo que a cooperação fica à escolha dos próprios discentes. Em conseqüência, tais mestres sofrem um desgaste psicológico muito acentuado enquanto ministram suas aulas, isto em face do comportamento da turma que os leva a parar, incontáveis vezes, sua explanação para reclamar, "clamar" por silêncio e até mesmo para discutir com alguns alunos, culminando com algumas expulsões de sala de aula. Fora o desgaste mencionado, há o desgaste emocional, desgaste esse que é contínuo e se acentua quando entram, temerosos pelo que poderá vir a acontecer, em suas salas de aula. Sobre isso, afirma Taille(1996, p 20): " muitos têm medo de entrar em sala de aula, não apenas por temerem não ter êxito na tarefa de ensinar, mas sobretudo por não saberem se receberão tratamento digno por parte dos seus alunos". O desrespeito se estabelece continuamente e faz com que o professor sinta-se diminuído enquanto pessoa - baixa auto-estima - e profissional, pois, além dos problemas inerentes à sua função , ele ainda tem que enfrentar a falta de respeito de certos alunos e sendo, por vezes, desprovido, pela sistemática adotada pela escola, da autonomia adequada para responsabilizá-los disciplinarmente pelas suas ações.
Diante da situação de indisciplina atual pela qual passam as nossas escolas, os professores ficam sem saber o que fazer e como agir e se questionam se com maior rigidez se obteriam uma disciplina melhor; o que viria a ser disciplina; o como tratar os casos de indisciplina; como ter autoridade sem, contudo, ser autoritário; dever-se-ia deixar os alunos agirem como bem querem até que atinjam o desenvolvimento moral por si mesmos, continuam a questionarem-se. É bem verdade, muitos professores não sabem qual a postura pedagógica ideal a ser adotada e como nos diz Vasconcelos(2000, p.28)
[...]diante deste quadro, os professores geralmente optam: impor uma disciplina custe o que custar recorrendo a instrumento de coerção como penalidades e principalmente à nota, ou por outro lado, deixar como está ver como é que fica numa verdadeira demissão de tarefa de educador.
Tem-se tal assertiva pelo fato de saber-se que a indisciplina em sala de aula, dentre outros fatores, pode ser ocasionada pela postura pedagógica adotada pelo professor ou despertada por alguma atitude equivocada, desmedida ou sem propósito do mestre. Nos parágrafos seguintes comentaremos algumas atitudes dos professores que contribuem para a instalação da desordem na sala de aula.
Um fator que parece ser insignificante mas que influencia sobremaneira na questão disciplinar dos alunos é assiduidade e pontualidade do educador. Celso Antunes(2000, p.24) nos adverte que
Não há fator mais ?detonante? para o inicio da indisciplina que a chegada de um professor que a turma estava pensando que não vinha mais. Quando os alunos se habituam aos atrasos do professor e às faltas de mestre, a espera por sua sala é sempre a espera da conversa da bagunça, festa, alegria.
Além disso, o professor que constantemente falta ou chega atrasado passa para os alunos a impressão de descompromisso com a turma, de irresponsabilidade com o trabalho e de desorganização pessoal. Chegando atrasado geralmente o professor entra em sala, cumprimenta rapidamente seus alunos e inicia, de imediato, a sua aula, sem nem ter tido tempo de "sentir o clima" da turma naquele dia.
Outro fator é ausência de um plano de aula, ou seja, o modo de como a aula foi planejada para ser ministrada, a ligação que o professor faz do conteúdo novo com o apresentado na aula anterior, as técnicas pedagógicas que o professor utiliza para que aluno construa novos conhecimentos, a metodologia utilizada para trabalhar os conteúdos na sala de aula relacionando-os com o dia-a-dia do alunado. Nesse sentido Vasconcelos(2000, p. 77) afirma que "é comum o professor se preocupar em demais com as exigências relativas ao aluno a disciplina, mas esquece-se da contrapartida necessária um ensino significativo." Freinet comenta sobre a relação entre um trabalho pedagógico organizado e a motivação dos alunos que a criança que participa de atividades pelas quais é apaixonada, ou seja, que goste efetivamente do que faz e aprende, auto-disciplina-se.
Buscando, então, essa "disciplina consciente" da criança, caberá ao professor organizar e estruturar suas aulas, caso contrário, os alunos perceberão a falta de conexão, as lacunas, entre os assuntos abordados. Caberá a ele, também, fazer da sala de aula um lugar de descobertas onde os alunos possam discutir e refletir sobre suas realidades, portanto, devem os alunos perceber que os conteúdos curriculares têm um significado real em suas vidas. Sobre a indisciplina, Franco tenta levar-nos a uma reflexão quando questiona
E o que o aluno poderia esta tentando dizer ao professor com os constantes atos de indisciplina? Possivelmente que a escola que aí está não lhe proporciona alegria, satisfação e tampouco uma aprendizagem consistente, estando dessa maneira muito distante de suas aspirações e necessidades.
Em alguns casos a indisciplina é sinal de que o aluno está na sala de aula, mas não está vendo sentido algum em estar ali, ele não vê importância naqueles conteúdos trabalhados muitas vezes de uma forma estática, ele realmente não compreende nada do que o professor está ensinando, seja porque ele não possua os conhecimentos prévios para obter a compreensão, seja, porque realmente o professor não sabe transmitir o conteúdo de modo a que ele possa entender.
Uma outra ação do professor que pode contribuir para que os alunos não o respeitem é demonstrar preferência por algum aluno ou grupos de alunos. "Sedutor", essa é a alcunha que a essa modalidade de professor defere Içami Tiba(1998, p. 147) e o define dizendo que ele
[...]atraído por conversa, beleza, status, poder ou outras característica de um aluno, torna-se extremamente parcial em seu comportamento: tende facilitar ou privilegiar este aluno, fazendo uma distinção nítida entre os demais. A aula possa a ser dada para ele.
Esse comportamento do professor, além de fazer os alunos se sentirem injustiçados, provoca neles sentimentos de ciúme, inveja, revolta e rejeição. Na medida em que se sentem excluídos da preferência do professor, seus alunos podem reagira ele com indiferença e desprezo ou com afrontas e gozações.
Sobre essas atitudes preferenciais, Vasconcelos(2000, p.28) afirma que "o professor deve dirigir-se a todos na sala procurando não demonstrar preferências." Antunes(2002, p. 28) também fala sobre o assunto e observa: "Bobagem dar aula olhando apenas para alguns alunos, para a turma da frente ou para o pessoal do fundão. A aula é para todos e a postura de professor jamais pode deixar dúvida sobre isso."
Arvorando-se da posição que ocupam, alguns professores se excedem em rigidez de modo que o abuso do poder a eles conferidos, enquanto agentes da educação, são também atitudes freqüentes na medida em que adotam postura autoritária frente seus alunos. Esse autoritarismo se manifesta por meio de várias maneiras, entre elas ressalta-se quando ele não permite que o aluno fale nada na sala de aula, que expresse seus pontos de vista ou discorde da opinião docente; quando exige absoluto silêncio, inclusive imobilidade; que não vá ao banheiro ou beba água; quando apresenta uma postura fria e indiferente vinco a revelar um baixo nível de afetividade ao se relacionar com a turma. Içami Tiba(1998, p. 112) é categórico ao dizer que o docente, em adotando essa postura, torna-se "ameaçador, ele apavora seus alunos. Amarra seus corpos na cadeira enquanto amordaça os cérebros. Transforma adolescente em seres inanimados perante a autoridade em classe. E desse modo nega a condição máxima de interação." Isto posto podemos dizer que a indisciplina, em alguns casos, pode expressar, além do ódio e vingança, uma forma de romper com as imposições da escola. Assim, é de se concluir que o confronto criado entre as normas da escola e as normas próprias dos diferentes grupos que a compõem devem ser resolvidos por meio da negociação entre os contendores, ou seja, entre a escola e esses próprios grupos.
Ainda podemos falar sobre outro tipo de professor, o mestre que contribui para que os alunos apresentem uma conduta indisciplinada, é o professor que assume uma postura de indiferença diante dos alunos. Tiba(1999, p. 144) o descreve como sendo o professor para quem tudo "tanto faz. Nada o atinge: se o aluno aprendeu ótimo. Se não aprendeu pouco importa, independentemente do que fizer o seu salário será pago de qualquer jeito." Assim, se acerta que ele é um professor que está interessado em transmitir conteúdos, contudo, se o aluno irá aprender, se irá absorvê-lo ou não, o problema é dele. É típico desse professor não exigir, de deixar que os alunos entreguem seus trabalhos quando quiserem, que não se preocupar se seus alunos fazem ou não os exercícios propostos. Não há outro resultado que não a acomodação; tal postura leva os alunos a essa acomodação e, por conseguinte, à falta de interesse. Ora, a indiferença de seu professor é a "força motriz" que os conduz à falta de motivação.
Como gerenciador da turma, o professor deve impor limites, limites esses impostos de forma democrática, é claro! Porém, e muito bem deve ser observado à turma, o aluno deve ter consciência de que nem tudo o que ele quer ele pode fazer numa sala de aula; ele deve estar ciente de que existem momentos e lugares adequados nos quais ele poderá fazer tudo o que tem vontade. Em sua classe é devido por todos o respeito ao professor e a eles mesmos entre si enquanto colegas de turma.
Um dos erros comuns de alguns professores é não deixar claro para os alunos o que pode e o que não pode ser feito em sala de aula. De acordo com Antunes(2002, p.25), "ensinar não é fácil e educar mais difícil ainda; mas não ensina e não educa quem não define limites, quem não constrói democraticamente as linhas do que é e do que não é permitido." E continua o educador(ANTUNES, 2002, p.31), asseverando, advertindo e sugerindo que "o aluno precisa ouvir NÃO, e muitas vezes, a palavra firme do professor substitui a fragilidade com que as negações são trabalhadas na família. Não hesite em usar o Não". Mas é fato, temos testemunhado no dia a dia a existência de pais que satisfazem todas as vontades dos filhos, resultado: eles chegam à escola acreditando que podem tudo e apresentando uma grande dificuldade em aceitar o "não" do professor.
É de fundamental importância que o professor seja firme. Não precisa ser autoritário, mas deve ter firmeza ao estabelecer limites, não devendo jamais voltar atrás no que foi decidido. Se realmente queremos educar para a cidadania devemos educar as crianças no sentido de que existem regras que precisam ser respeitadas se quisermos ter uma vida social tranqüila. Além do respeito às regras de convivência, as crianças devem aprender o respeito por si mesmas, por seus semelhantes e pelo ambiente que as rodeia.

BIBLIOGRAFIA
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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: Construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula. São Paulo: Libertad, 2000.