RESUMO

O propósito deste trabalho éinquietar os educadores com relação a reflexão de suas práticas pedagógicas que possibilitem o trabalho com a inclusão tendo em vista a história que permeia as lutas, avanços e resistências com relação a essa vertente sugerindo ao leitor, através do relato de experiência  baseado no ensino/ aprendizagem  de ELE para deficientes visuais,  um viés que contemple o ensino de LE pautado na perspectiva inclusiva.

 

 

INTRODUÇÃO

A educação especial é uma área de conhecimento e também uma modalidade de ensino que tem como objetivo o desenvolvimento de práticas e estratégias pedagógicas voltadas para os alunos com necessidadeseducacionais especiais.

O mundo atualmente tem sido permeado por constantes mudanças e inovações.         Lutas a favor da promoção das diferenças tem eclodido emtodos os contextos sociais. Nessa esfera, a inclusão social tem buscado a equiparação de oportunidade paratodos os indivíduos de grupos minoritários até então excluídos.

No cenário educacional um objetivo tem sido pleiteado, o da inclusão escolar,que visa a construção de uma escola democrática, composta por aprendizes com e sem limitação física, cognitiva, englobando aqueles que tem suas identidades e  culturassilenciadas por uma sociedade que rotula  os indivíduos em padrões. Nessa escola os alunos,sem exceção são aceitos, respeitados e valorizados entendendo que as diferenças que configuram a aprendizagem.

Baseado nas considerações acima tecidassobre a inclusão escolar  que, ainda tem encontrado barreiras por parte das instituições, dos professores, um questionamento tem sido levantado no processo de ensino/ aprendizagem: Como ensinar uma   língua estrangeira, nesse caso o espanhol, para alunos que possuem necessidades especiais?

Para dar conta de cumprir com o propósito da discursão, este trabalho será dividido em três partes. Na primeira parte será feita uma abordagem histórica referente à inclusão perpassando pelas políticas públicas. Na segunda partehaverá uma discursão relacionada ao ensino de ELEpara alunos brasileiros. Na terceira parte será apresentado o projeto¨UM OLHAR PARA A INCLUSÃO: O ENSINO DE ESPANHOL PARA DEFICIENTES VISUAIS¨expondo os resultados  com o intuito de mostrar que é possível agregar o ensino de língua estrangeira a inclusão. 

CONTEXTO HISTÓRICO DA INCLUSÃO

Ao longo dos anos as pessoas com deficiência sofreram destrato, abandono por parte de uma sociedade que elege padrõessejam eles de beleza, inteligência, simpatia, idade, gênero, cor, peso, dentre outros, que  costumam excluir  os indivíduos não se adequem a estes.

Na idade média, no Egito, as pessoas com deficiência podiam participar de atividades comuns para a época bem como prestar oferendas aos deuses. Essa atitude demostra que havia uma inclusão quanto às práticas sociais desse povo.

Na Grécia, mais especificamente em Esparta, os indivíduos que nascessem apresentando alguma limitação eram retirados do convívio de seus paise jogados em um precipício por não serem fisicamente apresentáveis e competentes para guerrear. Já em Atenas, o Estado dava aos pais o direito de escolherem o destino de seus filhos, se seguiam vivos ou morreriam.

 Essaatitude denota a  ¨sensatez ¨dos governantes frente a uma  punição sofrida por conta de não nascerem tal qual estavam predestinados a serem, homens fortes, estáveis ou mulheres prendadas, em fim, seres ditos normais, é claro, concepção estabelecida por uma sociedade instaurada e excludente.

Na Roma Antiga, os bebês eram colocados no chão, aos pés dos pais, estes por sua vez davam um sinal que decidia o futuro de seu filho. Se o sinal fosse positivo, a criança com deficiência viveria. Se o sinal fosse negativo, ela seria abandonada para que morresse devido à falta de alimentação.

Na Idade Média devido ao Cristianismo, essa prática cruel até então corriqueira na antiguidade, foi sendo diminuída, pois essas crianças passavama serem vistas como seres que necessitavam de piedade e não de respeito. Portanto, era lhes dado à oportunidade de viver no sentido de poder se alimentar, respirar, realizar as atividades básicas. No entanto, eram consideradas pessoasinúteis, fardos que a família teria que suportar.

É importante ressaltar que a mesma questão espiritual queresguardava a vida das pessoas deficientes também as condenava quando justificava a deficiência como castigo de Deus. ¨Muitos chegavam a admitir que o deficiente era possuído pelo demônio, o que torna aconselhável o exorcismo com flagelações para expulsá-lo ¨(PESSOTTI, 1984,p.6)

Tendo em vista a história daexclusão que os deficientes sofreram nas mais diversas épocas e contextos percebeu-se que o liberalismo veio a ser o percussor para que pessoas com deficiências pudessem ter o direito a escolarização.

A proposta liberal defendia o direito de TODOS os indivíduosnos campos econômico, político, religioso e intelectual. Dessa forma alguns pedagogos decidiram de maneira prática perceber em que medida o aprendizadopoderia acontecer para estes indivíduos.

No século XVIII no Brasil as Santas Casas de Misericórdia abrigavam deficientes abandonados com até sete anos de idade que posteriormente seguiriam para outros seminários tendo seus direitos educacionais atendidos. Nesse período, o Brasil sofria influências europeias com realização de experiências práticas pedagógicas tendo como clientela esses indivíduos,surgindo assim  o Imperial Instituto de Meninos Cegos que posteriormente foi denominado como Imperial Instituto de Meninos Surdos-Mudos para atender pessoas surdas  segundo a lei 839 de 26 de setembro de 1857.

É importante ressaltar que nos séculos XVIII e XIX o conceito de deficiência estava intrinsicamente ligado a medicina. Logo, deficiência era confundida como patologia por isso os materiais que descreviam a história dos deficienteseram baseadas nos critérios orgânicos. Fernandes (2006),ao abordar a confusão entre patologia e deficiência colocava os doentes mentais como seres que deviam ficar segregados do convívio da sociedade. As considerações a respeito da genética, estudos voltados para atender e poder ajudar essas pessoas só se tornaria realidade vários anos depois.

Por acreditar que não conseguiriam desenvolversua aprendizagem, os deficientes, separados por grupo, recebiam instrução básica, noções de aritmética, letras, tendo  como destaque o trabalho manual que deveria satisfazer a necessidade capitalista vigente da época  formando mão de obra desqualificada e barata.

Na década de cinquenta,após a segunda Guerra Mundial, percebeu-se o quanto maltratados e violentados foram os deficientes eclodindo inúmeros movimentos sociais no mundo ocidental apontando que a essência dos direitos humanos está no ¨direito  a ter direitos¨.

Dessa forma a Declaração dos Direitos Humanos, em seus artigos I, II, V, VII, passou a inspirar as políticas públicas de assistência ao deficiente intelectual e a educação especial e inclusiva. É válido pontuar a força da medicina diante da educação mesmo depois da abertura dos novos horizontes de pensamento com relação à inclusão.

De acordo com aLDB n° 4024/61 em seu artigo 88 ¨A educação de excepcionais deve no que for possível enquadrar –se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade¨

Ao analisar o termo integrar depreende-se a precariedade quanto aos trabalhos educacionais vigentes da época. Sabe-se que o termo denota que o aprendiz com deficiência estará nasala de aula com os demais alunos, mas a ele não será resguardado o direito de estar incluído visto que não havia, de acordo com a lei, o compromisso com a adequação de metodologias, curriculum que o inserisse nas atividades.

A partir dos anos 90 houve a aprovação de vários documentos acerca da educação especial queassegurava tanto aos deficientes físicos quanto os cognitivos o direito de estar matriculados em escola regular podendo permanecer e receber atendimento especializado para que possam superar as barreiras que dificultam sua aprendizagem, o pleno exercício da cidadania e sua inserção no mercado de trabalho nos limites de suas capacidades.

A Declaração de Salamanca na Espanha em 1994 trata do acesso e permanência de todas as crianças independente de suas condições motoras, cognitivas, culturais nas instituições educacionais.

No Brasil, a Constituição de 1988 assegurou o direito à matrícula e permanência dos deficientes em escolas comuns assegurando ajuda de um profissional para poder transpor as barreiras que impliquem em sua aprendizagem. Esse direito foi reforçado no Estatuto da Criança e do Adolescenteem seu artigo 54 inciso III  ¨É dever do Estado assegurar a criança e ao adolescente: atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino¨

A LDB 9394/96 dispõe no capítulo V em seus artigos 58,59,60 tornando a educação especial como modalidade de ensino, dispondo sobre currículos, técnicas que possam ir de encontro as necessidades especiais, discorre sobre a formação de professores  cuja finalidade visa a promoção da inclusão e a segurança  das pessoas com necessidades especiais sua  inserção no mercado de trabalho.

            Mesmo as leis garantindo os direitos aos portadores de necessidades especiais é comum ouvir reflexões pejorativas acerca da inclusão sendo que os professores,  as instituições,  deveriam estar centrados em buscar melhorar suas práxis a fim de atender a educação educacional e inclusiva.

No entanto, ainda se discute e se tenta conscientizar as pessoas sobre uma questão que não cabe discursão. É direito de todo cidadãofazer parte da sociedade, transitar sobre todos os espaços e estar incluído inclusive nos espaços educacionais independente de suas limitações ou problemas sociais. 

O ENSINO DE ELE PARA BRASILEIROS

O ensino de ELEtem se configurado numa função social por buscar agregar as identidades e culturas locais dos alunos, incluindo as diferenças, entendendo que estas são cruciais para que os educandos possam entender melhor a sua cultura ou outras silenciadas contribuindo para a formação de um aprendiz conscientemente crítico.

Por volta dos anos setenta o ensino de línguasnão entendia como prioridade assuntos relacionados a cultura no sentido de refletir criticamente sobre o contexto político, históricos e social que a constitui. A LE era ensinada com o objetivo de apresentar sua estrutura, informando mais que formando.

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