A INCLUSÃO NA PRÁTICA EXTENSIONISTA ATRAVÉS DA CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA


Rudval Andrade de Oliveira*
Angelica de Fátima Piovesan**
Marilúcia Pereira Lago***


RESUMO: Este artigo tem como objetivo falar sobre a importância da prática extensionista através da clínica-escola de psicologia da Universidade Tiradentes. A partir da reforma universitária, tornando obrigatoriedade os projetos de extensão nas universidades e instituições superiores e partindo das neces-sidades encontradas nos cursos universitários, percebemos a importância e a necessidade de um espaço específico como as clínicas-escola para que os alunos coloquem em prática tudo o que aprenderam em sala de aula visando beneficiar a comunidade e contribuir para o resgate de uma população historica-mente excluída. A prática extensionista na clínica-escola propicia ao aluno e ao seu supervisor-orientador a oportunidade de prestar atendimento de forma responsável, beneficiando a população de baixa renda que é carente da atuação da psicologia na saúde pública, e favorecendo a universidade, divulgando e embasando a sua qualidade de ensino e responsabilidade social no mercado educacional.

Palavras?chave: Clínica-escola; Comunidade, Extensão universitária


INTRODUÇÃO

Partindo das necessidades encontradas nos cursos universitários e da obrigatoriedade dos cursos de extensão, escrevemos esse artigo enfocando a clínica-escola de psicologia e a extensão universitária como fatores importantes no aprendizado do aluno e assistência à comunidade.

A reforma universitária de 1968, através da Lei federal no 5540, instituiu a obrigatorieda-de da extensão universitária. "Artigo 20: As universidades e os estabelecimentos de ensino supe-rior estenderão à comunidade, sob a forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os resultados das pesquisas que lhes são inerentes". (LIMA, 2009, p. 29).

O curso de psicologia tem como objetivo proporcionar o saber teórico, prático e metodo-lógico da Psicologia ao estudante que se interesse em se tornar um profissional que atua na pre-venção, promoção e proteção da saúde psíquica, das relações inter-humanas, sociais e interpes-soais. Tem como campos de atuações as áreas de saúde, educação, organizacional entre outras.

A função do ensinar e pesquisar acompanha a ideia de criação das universidades como instância produtora de conhecimento, e a extensão universitária surge a partir dos conflitos gerados pela sua própria razão de existir, uma vez que seu produto não se estende igualmente a todos, pois o acesso ao saber ao longo da história da humanidade tem se constituído em formas de poder, daí a universi-dade se imiscuir em processos de disputas e domínios (DEMO, 2001, pg.6).


CLÍNICA-ESCOLA

A Clínica-Escola de Psicologia tem como objetivo oferecer ao estudante de Psicologia as condições teóricas, técnicas e práticas para a realização de intervenções clínicas em diversas frentes de trabalho: prestar serviços de qualidade à comunidade, principalmente a carente; ofere-cendo atendimentos clínico-psicológico; acompanhar cuidadosamente a qualidade dos atendi-mentos através de supervisão dos estagiários; promover a articulação entre a formação teórica e a formação profissional em psicologia; viabilizar a formação clínica do profissional de psicologia, levando em consideração o compromisso com a prática pautada em estimular e exercer a relação Ensino, Pesquisa e Extensão.

Os atendimentos são ofertados às crianças, adolescentes, adultos, indivíduos da terceira idade e famílias, em grupo ou individualmente.

A Clínica-Escola atende a comunidade das seguintes formas:

? Triagem e Plantão Psicológico;
? Psicodiagnóstico;
? Psicoterapia Infantil, Adolescentes, Adultos, Terceira Idade e Famílias;
? Parceria com áreas complementares (Psiquiatria, Neurologia, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Saúde, Justiça, Direitos Humanos, Prefeituras, entre outras);
? Orientação vocacional.

A Clínica funciona como uma facilitadora na inclusão dos alunos em um ambiente com realidades educacionais práticas e diversificadas. Estes alunos prestam atendimentos efetivos que contribuem para a saúde mental de uma fatia economicamente desfavorecida da população e dependente de psicoterapia. Essa fatia, muitas vezes, é simplesmente esquecida e deixada de lado por governantes ou programas assistenciais. "O Brasil, país capitalista, caracteriza-se por ser uma sociedade autoritária e hierarquizada em que os direitos do homem e do cidadão simples-mente não existem" (CHAUÍ, 1986, p.2).

Para que os projetos de extensão formados por grupos recreativos infantis, de jovens, grupos temáticos de pais ou atendimentos individuais possam ocorrer de forma eficaz, há neces-sidade do "backstage" (bastidores) da clínica de psicologia para facilitar a organização do núme-ro da clientela em fila de espera, assim como, ajudar na disposição de recursos materiais ao alu-nado e eventualidades que possam acontecer durante o projeto.

Quando um projeto de extensão é desenvolvido, tem-se como objetivo contribuir para a formação do aluno tanto na sua prática profissional como no exercício da sua cidadania. O pro-fessor funciona como um facilitador e ao contrário da sala de aula, na extensão, ele não é o prin-cipal dissipador de conhecimentos.

Segundo FREIRE (1996, p. 25), ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as pos-sibilidades para a sua própria produção ou a sua construção, ou seja, na clínica as probabilidades são inúmeras e cabe ao futuro profissional aproveitar ou deixar essa oportunidade passar.

Outro fator relevante é disponibilizar para a população carente de atendimento psicosso-cial um espaço de cidadania organizado que preste atendimento com total atenção, ética e respei-to.

Por outro lado, a clínica é beneficiada, pois ganha credibilidade junto à comunidade e contribui para que a universidade colete dados importantes para melhorar seu atendimento e instalar novas práticas psicológicas. Além disso, a população ganha com serviços de qualidade e aumenta sua possibilidade de acesso ao atendimento psicológico.

Para Freire,

educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem ? por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais ? em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais (FREIRE, 1977, p.24).


A PRÁTICA EXTENSIONISTA DA UNIVERSIDADE

"O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movi-mento na História" (FREIRE, 1996, p. 154).

É notório que a atividade extensionista exerce função articuladora do ensino e da pesqui-sa resultante de um longo período de acúmulo de conhecimentos surgidos a partir de uma prática coletiva de pensar e refletir. Um dos motivadores para a realização das atividades de extensão é a ineficiência na distribuição de atendimento. Isso faz com que a atividade de extensão universitá-ria tenha o grande desafio de diminuir a distância entre a população e profissionais capacitados. Parece-nos, entretanto, que a ação extensionista envolve qualquer que seja o setor em que se rea-lize a necessidade de ir até a "outra parte do mundo", considerada inferior, para, à sua maneira, "normalizá-la". Para fazê-la mais ou menos semelhante a seu mundo (FREIRE, 1977, p.23).


INTERLOCUÇÃO DE SABERES: O CAMINHO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

É necessário entendermos que a distância cada vez menor entre universidade e população se deu desde que as academias abriram suas portas, antes tão restritas, buscando trocar experiên-cias. A universidade passou a adotar o conhecimento popular como complemento para o conhe-cimento cientifico. Isso quer dizer que agora os conhecimentos são parceiros e caminham lado a lado visando uma transformação efetiva e iniciando assim o longo caminho da interdisciplinari-dade.

Durante o atendimento a um paciente da clínica, é possível ver a interlocução de saberes na prática. Enquanto o aluno disponibiliza todo o seu conhecimento científico, o paciente atendi-do, de alguma forma, contribui transmitindo novos ensinamentos, como por exemplo, uma nova expressão para o que ele sente ou até informações sobre as características da região onde mora.

A interlocução de saberes é um fator extremamente importante no projeto de extensão u-niversitária. Não só alunos de psicologia atuam na clínica. Alunos de outras áreas também fazem parte do atendimento direto ao público e sempre que necessário, o paciente é encaminhado para outras atividades extensionistas da universidade. Seja um tratamento odontológico, jurídico ou exame laboratorial, por exemplo. Todos estes serviços são oferecidos gratuitamente para a popu-lação de baixa renda ou é cobrada uma taxa semestral com um valor simbólico pela universidade para quem tenha condições financeiras de pagar.

Tal como explica Fazenda (2003, p. 74), a interdisciplinaridade e experiência prática for-mam a base da extensão universitária. O registro das experiências vividas pode gerar novas pers-pectivas, depende do exercício interdisciplinar de captar o movimento dialético e contraditório.

Por outro lado, o que busca o extensionista não é estender suas mãos, mas seus conheci-mentos e suas técnicas (FREIRE, 1977, p.20). Esses conhecimentos e técnicas derivam de cada um que o pratica e partem do princípio que a educação é a mola propulsora de toda a base do conhecimento.

A educação existe onde não há escola e por toda parte pode haver redes e estru-turas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e centralizado. Porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida. A vi-da que transporta de uma espécie para a outra, dentro da história da natureza, e de uma geração a outra de viventes, dentro da história da espécie, os princípios através dos quais a própria vida aprende e ensina a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser (BRANDÃO, 2004, p. 13).


CONCLUSÃO

O Artigo 205 da Constituição Brasileira diz que: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".

Neste sentido, a Clínica de Psicologia contando com o respaldo total da Universidade, contribui de forma imprescindível não só para a formação do universitário, mas também do cidadão. A educação existe em toda parte e faz parte dela existir entre opostos (BRANDÃO, 1995, p. 102).

Ao deixar a extensão de lado a Universidade esquece de toda uma comunidade carente de ajuda e mostra que não dá valor aos seus profissionais e alunos, pois deixa de propiciar uma formação integral consolidada e faz-se esquecer que a interação entre as pessoas proporciona a fusão do aprendizado, fazendo surgir novos conhecimentos que poderão ser favoráveis para a produção de conhecimentos científicos e consequentemente para o clima organizacional.

Durante uma atividade de extensão, a universidade se aproxima da realidade local, regional e nacional, atualizando sempre seus conhecimentos, alterando sua estrutura, percebendo os anseios de uma comunidade carente e se voltando para a realidade atual do Brasil.

Quando organizadas de forma correta e trabalhadas com qualidade, a extensão prepara seus futuros profissionais para uma carreira brilhante aproximando sala de aula e prática. Logo, pode-se dizer que a verdadeira e eficaz definição de qualidade é aquela que vem acompanhada dos valores e princípios que rege o comprometimento da clínica, bem como a interação mútua de envolvimento aos valores e expectativas, tanto do funcionário para a empresa como da empresa para o funcionário e principalmente do público que é assistido por ela. É imprescindível adotar um programa de qualidade na prestação de serviços, para superar as expectativas dos clientes que todos os dias procuram e confiam na clínica de Psicologia.

A clínica-escola funciona, desta forma, não somente como espaço formativo, mas também espaço político de exercício da cidadania e da prática social.

A viabilização da extensão como prática social da Universidade não passa apenas pelo estabelecimento da interação ensino e pesquisa, mas implica a sua inserção na formação do aluno, do professor e da sociedade, na composição de um projeto político-pedagógico de universidade e sociedade em que a crítica e autonomia mediadas pelo diálogo são os pilares de sua ação e produção do conhecimento, elemento propulsor da emancipação humana e social. (1986 apud Morlin, 2009, p.13).


REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. O que é educação? - São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção Primeiros Passos; 20).

BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 56/2007 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94. ? Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008. 464p.

CHAUÍ, M. Conformismo e resistência. São Paulo, Brasiliense, 1986.

DEMO, P. Lugar de Extensão. In. FARIA, Dória Santos de. (org.). Construção Conceitual da Extensão Universitária na América Latina. Brasília. UnB, 2001.

FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: qual o sentido? ? São Paulo: Paulus, 2003.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 93 p. (O Mundo, Hoje, v.24)

_____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa - São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIMA, R. C. P. Extensão Universitária: uma contribuição holística para a edificação dos direitos da criança e do adolescente. Balanço Social da Universidade Tiradentes 2009. Aracaju, p.26-35. 2009.

MORLIN, M. T. Extensão Universitária: uma contribuição holística para a edificação dos direitos da criança e do adolescente. Balanço Social da Universidade Tiradentes 2009. Aracaju, p.26-35. 2009.