A IMPORTÂNCIA DA LINGUÍSTICA NA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
LÍDIA CARMEM SANTANA QUEIRÓZ
Resumo: O presente artigo ressalta a importância da Linguística como facilitador na construção e interpretação de textos. Muitos professores pensam que ensinar regras gramaticais é primordial e se esquecem o fato de que o aluno já tem domínio da fala e basta somente que os educadores de Língua Portuguesa (LP) atentem para os estudos de texto, o que fará com que o aluno esteja em contato com a grafia das palavras (ortografia) e como as mesmas se entrelaçam (concordância) e regência.

1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por fundamento apresentar, embasado com teorias, a importância da Linguística no âmbito escolar, uma vez que, de acordo com a entrevista feita aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio da rede estadual de ensino, a maioria mostrou que não conhecia e não sabia o significado desta teoria que tem como estudo a língua falada e suas variantes.
Através da entrevista percebe-se que há uma confusão acerca de Linguística e Gramática, em que, muitas pessoas pensam que ambas são idênticas, não sabendo assim diferi-las. Sabendo que a língua falada é o primeiro contato de qualquer indivíduo com o meio em que o cerca, deveria, portanto, ter relevância nas escolas ? que só se preocupam exclusivamente em ensinar regras. Essa ênfase dada à Gramática, tanto nos livros didáticos ? que apresentam muitas regras a serem decoradas, quanto ao próprio professor ? que não busca inovar e/ou renovar os métodos de ensino para trabalhar naquilo que os educandos ou qualquer pessoa têm domínio: a fala.
Construir e Interpretar textos requer um conhecimento prévio sobre o que se está escrevendo ou interpretando devido ao fato de que, não interpreta ou escreve sobre qualquer assunto desconhecido. Para se escrever bem, não há necessidade em dominar todas as regras gramaticais, mesmo porque, nem todas serão usadas. Portanto, deve-se saber o que está escrevendo, ter certeza e confiança se não há erros ortográficos, se há coerência no texto escrito, se os elementos de coesão estão entrelaçados corretamente nas orações, já que, não se escreve como se fala.
Para haver sincronia, é necessário que haja uma preocupação na escolha de textos a serem trabalhados nas salas de aula, sendo que, cada leitor deve estar apto a receber determinado texto para que ele se sinta mais confiante para interpretar e/ou produzir textos.

2 GRAMÁTICA NORMATIVA
Esta área das muitas outras pertencentes aos estudos de Linguagens e Códigos está relacionada às normas de concordância, às regras e preocupa-se com o entrelace das palavras na pronúncia e escrita corretas, visando à estética, em não encontrar erros de ortografia, de regência, de pontuação, etc.
De acordo com Possenti (2000) "[...] a noção de gramática é controvertida: nem todos os que se dedicam ao estudo desse aspecto das línguas a definem da mesma maneira." Gramática nada mais é, num sentido mais simples, um conjunto de regras que de acordo com os estudiosos da área, devem ser seguidas e dominadas pelos falantes da língua.
Estas regras são encontradas na Gramática Normativa que tem por intuito contribuir para o desenvolvimento do estudo de processos lexicais. Esta área atenta para que seja ensinada e aprendida a norma-padrão da escrita, ou seja, os indivíduos em contato com a gramática normativa aprenderão escrever de acordo com as regras impostas pela mesma, o chamado português "correto", a norma culta.
Estudar gramática muitas vezes se torna um trabalho árduo e cansativo devido ao fato de que muitos teóricos apresentam análises diferentes numa mesma oração. Nas gramáticas normativas deveriam ter o mesmo conjunto de regras e exceções, porém, os estudiosos da língua portuguesa se contradizem ao apresentar análises diferentes do mesmo objeto de estudo: a língua escrita formal.
A complexidade da língua culta faz com que os próprios estudiosos contradizem-se, causando assim, incertezas aos novos aprendizes da língua.
"As falhas da gramática tradicional são, em geral, resumidas em três grandes pontos: sua inconsistência teórica e falta de coerência; seu caráter predominantemente normativo; e o enfoque centrado, o dialeto padrão [...]" (PERINI, 2002:6).
Parafraseando Perini (2002), a gramática deveria ser consistente e livre de contradições para ganhar mais credibilidade diante de seus usuários, fazendo assim, com que seja mais fácil e agradável estudá-la. Para os gramáticos, a língua é tida como um sistema, ou um conjunto de sistemas em que a preocupação em defini-la não é uma constante, uma vez que, muitas gramáticas não fazem sequer menção a uma conceituação de língua, sendo que, os gramáticos a conceituam para distingui-la da linguagem, fazendo destes conceitos o foco de seus estudos teóricos.
"Com a instrumentalização da Gramática Normativa em mecanismo ideológico de poder e de controle de uma camada social sobre as demais, formou-se essa "falsa consciência" coletiva de que os usuários de uma língua necessitam da Gramática Normativa como se ela fosse uma espécie de fonte mística da qual emana a língua "pura". Foi assim que a língua subordinou-se à gramática." (BAGNO, 2000:87).

Segundo Bagno (2000) "A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra a produção irrefletida e acrítica da gramática normativa".
A gramática normativa tem a função de estabelecer regras para o uso da língua, sendo, então, a mais usada em salas de aula como forma de padronizar a utilização da língua materna, embora alguns linguistas destaquem certos problemas relativos à aplicação somente da norma padrão, já que muitas pessoas acham o português e sua totalidade de regras muito difíceis. A importância do estudo da gramática normativa está, então, inserida em um conjunto de regras que vai nos fornecer o que é certo e errado na hora de elaborar textos e em toda a forma escrita. Além disso, é comum vermos que muitos gramáticos buscam embasar a língua falada de acordo com o estabelecido pela norma padrão.

3 UMA SINOPSE SOBRE LINGUÍSTICA
Distinguindo-se totalmente da Gramática, a Línguística está totalmente ligada à fala dos indivíduos e se preocupa em entender as diferenças entre os dialetos que variam de região para região em nosso país devido à miscigenação cultural e social encontradas no mesmo.
Para os linguistas, não há necessidade de o indivíduo saber todas as regras gramaticais para se comunicar no ato da fala. A linguagem é inata a qualquer ser humano e é o meio de comunicação entre falantes de um mesmo país ou grupo. Porém, as escolas tradicionais se preocupam e ensinar para os alunos, todas as regras gramaticais, esquecendo de aprimorar a fala, sendo ela, o que o corpo docente domina melhor.
"Eis um óbvio que frequentemente esquecem os que transformam o estudo da língua em estudo de Gramática. Uma crítica indireta à escola tradicional onde é tão raro que se estude a língua como meio de comunicação." (LUFT, 1995:16).

A possibilidade humana de se comunicar, de interagir no nível de ideias, só é possível com a aquisição de uma língua. Mesmo havendo dúvidas quanto à maneira de usá-la, o importante - acima de tudo - é conseguir transmitir a mensagem de forma que os interlocutores a compreendam. As diferentes abordagens quanto ao uso da língua implica inúmeras incógnitas, pois, pensar a língua significa também, pensar no processo de fala e de escrita, ou seja, pensar a língua em seu uso.
"Segundo a Linguística, não existe uma forma melhor (mais certa) ou pior (mais errada) de empregar uma língua. A norma culta é apenas uma entre as muitas formas de usar a língua. A escolha da norma culta como "modelo" é arbitrária e convencional; baseia-se em critérios ideológicos (sociais, culturais, políticos e econômicos)." (AMARAL [et al.], 2005:141).

Esta teoria apresenta ainda uma tendência maior à universalização e aspira à construção de uma teoria geral da estrutura da linguagem que abarque todos os seus aspectos. O desenvolvimento, ao longo dos séculos, de várias hipóteses sobre a formação, evolução e funcionamento da linguagem criou a base para as pesquisas linguísticas atuais. Antes do século XIX, quando a linguística ainda não havia adquirido caráter científico, os estudos nessa área eram dominados por considerações empíricas sobre a própria condição da linguagem, que proliferaram em vários glossários e gramáticas cujo objetivo era explicar e conservar as formas linguísticas conhecidas.
4 O PAPEL DA LEITURA NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS
Ler é um processo que encanta, fascina e leva o leitor a um mundo desconhecido repleto de fantasia e aventura. Não deixa de ser cansativo para quem não tem hábito de praticar, não sabendo este, que ler é uma viagem ao desconhecido e proporciona muito conhecimento.
Parafraseando Eco (1994) numa história sempre há um leitor e ele é ingrediente fundamental no processo de contar uma história e no da própria história. O leitor é peça fundamental em contato com um texto, ele não deixa de ser um personagem que, através da leitura descobrirá todo o "mistério" envolvido naquele conjunto de palavras, orações e capítulos.
O ato de ler é usualmente relacionado com a escrita, e, o leitor é quem decodifica as letras, é quem fica em contato com elas, interpretando seus significados, e o que querem dizer em determinado contexto. A linguagem é um fenômeno que possui várias formas e desafia homens de todos os lugares, porém, os indivíduos com acesso à leitura e à escrita, têm mais facilidade em construir textos.
"A finalidade de um livro que apresenta elementos de uma gramática de discurso é tornar explícitos mecanismos implícitos de estruturação e interpretação de textos. Quem escreve ou lê com eficiência conhece esses procedimentos de maneira mais ou menos "intuitiva". Explicitá-los contribui para que um maior número de pessoas possa, de maneira mais rápida e eficaz, transformar-se em bons leitores." (FIORINI, 2000:10).

Levar o aluno a aprender como desenvolve a competência textual é tarefa da escola, e a cobrança maior cai sempre no professor de Português, mas de forma interdisciplinar todas as áreas podem e devem colaborar. Construir um texto não é tarefa fácil, exige muita concentração e muita leitura, já que, é esta que leva à decodificação do texto em sua forma. Um texto se constrói muitas vezes, penosa e lentamente dependendo muito do esforço e da persistência do construtor para refazer a "obra", seja por insuficiência de alicerce cultural, seja por causa de desvios temáticos ou de implosões gramaticais.
Ninguém nasce com clarividência de encontrar a palavra perfeita na construção textual, uma vez que, por mais simples que pareça tecer um texto, o mesmo gera cansaço e estresse quando não concluído, ou quando não conseguimos iniciá-lo e/ou concluí-lo. Acontece que, na construção de um texto, o autor deve se esforçar para superar a si próprio. O ato de escrever requer outro muito importante tornando-se um elo: o ato de ler. Quanto mais lemos, mais enriquecemos o vocabulário, o que facilita a construção do texto. Podemos também colocar a dispor desse processo de escrita nosso conhecimento de mundo, nossos conhecimento enciclopédico , nossas vivências cotidianas e nosso conhecimento linguístico , pois quando juntamos essas experiências com o hábito da leitura, a escrita certamente torna-se mais fácil. A partir daí, as palavras vão surgindo naturalmente e nós acrescentamos os elementos de coesão que Halliday & Hasan (1976) apresentam o conceito de coesão textual, como um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no interior do texto e que o definem como um texto.
Devemos proporcionar ao aluno oportunidades múltiplas de escrever, para que exercite sua capacidade comunicativa. Fiorin (2008, p.18) citando Baktin, afirma que "[...] o enunciador, para construir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, que está presente no seu". Sendo assim, percebe- se que a capacidade comunicativa implica em diálogos numa roca com o outro.
Bazerman (2006) afirma que a escrita amplia o repertório discursivo e contribui para que o indivíduo passe a atuar de forma mais eficaz na vida em sociedade e que o processo de escrever "[...]ajuda a introduzir os alunos em novos territórios discursivos, um pouco mais além dos limites de seu habitat linguístico atual".
"A produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias concretas de ação e a escolha dos meios adequados à realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o falante, de conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentado dar a entender seus propósitos ao destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional, visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na atividade de produção textual." (KOCH, 2000:22).
A definição de texto depende da concepção de linguagem que subjaz o trabalho docente na sala de aula e optar por esta forma de ver a linguagem pressupõe secundarizar as outras formas que se referem à linguagem como expressão de pensamento e instrumento de comunicação.
Qualquer ato de linguagem, desde que se objetive o seu uso efetivo, é interacionista, intersubjetivo. Assim, o texto ganha valor quando está inserido num real processo de interlocução. Pécora (1992) afirma que "é possível falar apropriadamente em sujeito apenas quando ele é afirmado por um único ato de linguagem: quando as pessoalidades envolvidas nesse ato não se diluem nos limites das condições de produção desse ato [...]".
Na produção textual é necessário considerar o que existe de coletivo nas experiências e conhecimentos produzidos historicamente pelo homem. É urgente entender o saber, a escrita como algo a ser construído, como um processo e não produto finalizado.

5 INTERPRETAÇÃO E COMPREENSÃO TEXTUAL
Muitas pessoas dizem não saber interpretar e/ou compreender um texto e afirmam apresentar dificuldades quando são questionadas a essa prática. Para entender um texto é preciso reconhecer as informações que o mesmo oferece e usar nossos conhecimentos de mundo a favor dessa prática. O texto para ser compreendido deve apresentar ideias seletas e organizadas através de parágrafos que são compostos pela ideia central, desenvolvimento e conclusão.
"A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto." (FREIRE, 1997:11).
A competência de produção/interpretação ultrapassa o simples conhecimento de palavras e suas regras de combinação e requer um saber mais global, que compreende outros elementos da interação social que fazem parte do processo de enunciação. A partir daí, torna-se premente a necessidade de substituir a postura do professor reprodutor de regras gramaticais por uma postura investigativa e experimental, fazendo com que os alunos busquem compreender os mecanismos intra e interdiscursivos de constituição do sentido.
Interpretar um texto não é simplesmente saber o que se passava na cabeça do autor quando ele escreveu seu texto, é antes de tudo, inferir, ou seja, retirar informações implícitas e explícitas do texto. É importante ressaltar sobre a importância da interpretação textual, pois sua ocorrência não se dá somente no meio educacional, mas também na própria vivência. Interpretar um texto significa "desvendar seus mistérios" quanto à questão do discurso, pois o mesmo representa a mensagem que deseja transmitir.
É inegável a importância de estarmos aptos a interpretar todo e qualquer texto, independente de sua finalidade e para que isto ocorra, é necessário lançarmos mão de certos recursos que não são oferecidos, e muitas vezes não os priorizamos como: a leitura, a busca constante por informações extratextuais para que assim, nos tornemos leitores cada vez mais conscientes e eficazes.
No processo de recepção textual, o sujeito interpretante age em duas esferas: da compreensão e interpretação, em que deve reconhecer o sentido das palavras e as "instruções de sentido" mais prováveis, a coesão textual propiciadas pelas operações de identificação e qualificação que presidem o sentido de língua. A interpretação de texto é constituída no processo discursivo, é situacional de ordem inferencial que leva ao reconhecimento do sentido do discurso problematizado e finalizado.

6 LINGUÍSTICA TEXTUAL: ALIADO IMPORTANTÍSSIMO
Um texto não é somente uma sequência de frases isoladas, e sim, uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas, e para dar mais enfoque nessa área tão ampla, surgiu a Linguística Textual como forma de aprimorar o estudo e o ensino de textos.
A Linguística é uma área vasta que aborda inúmeros assuntos e envolve a língua e suas variantes. Cada área aborda de forma específica o assunto a ser estudado para que haja facilidade na compreensão de cada tema.
Koch, citando Beaugrande e Dressler (1990) diz que tais estudiosos "adotam como critérios de textualidade a coesão e a coerência (centrados no texto), e a informatividade, a situcionalidade, a intertextualidade, a intencionalidade e a aceitabilibidade (centrada no usuário)".
A Linguística Textual está relacionada aos processos de construção e interpretação de textos e passou por inúmeras fases e orientações heterogêneas (estruturalista, gerativista, funcionalista) que são até os dias atuais amplamente discutidas em livros e artigos que abordam sua trajetória. De acordo com Koch (1990) a Linguística Textual "teve inicialmente por preocupação descrever os fenômenos sintático-semânticos ocorrentes entre enunciados ou sequência de enunciados [...]". Essa teoria toma como objetivo particular o texto, já que os linguistas observaram que num texto há diversos fenômenos linguísticos e o mesmo serve como meio de comunicação entre os homens. Parafraseando Fávero e Koch (1983), e todos os usuários da língua possuem habilidades também nomeadas competência textual que são compreender, interpretar, parafrasear, resumir e produzir um texto, poder-se-ia justificar assim, a elaboração de uma gramática de texto.
"A Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Por um lado deve preservar a organização linear que é o tratamento estritamente lingüístico abordado no aspecto da coesão e, por outro, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear, portanto, dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas" (MARCHUSCHI, 1983: 12-13).
De acordo com Marcuschi (1999), "as gramáticas textuais, pela primeira vez, propuseram o texto como o objeto central da Lingüística e, assim, procuraram estabelecer um sistema de regras finito e recorrente, partilhado (internalizado) por todos os usuários de uma língua". Esse sistema de regras habilitaria os usuários a identificar se uma dada seqüência de frases constitui (ou não) um texto e se esse texto é bem formado. Esse conjunto de regras constitui a competência textual de cada usuário e permite aos usuários diferenciar entre um conjunto aleatório de palavras ou frases, ou um texto dotado de sentido pleno. Outras manifestações dessa competência são a capacidade de resumir ou parafrasear um texto, perceber se ele está completo ou incompleto, produzir outros textos a partir dele, atribuir-lhe um título, diferenciar as partes constitutivas do mesmo e estabelecer as relações entre essas partes.
De acordo com Marcuschi (1998), "no final da década de setenta, o enfoque deixa de ser a competência textual dos falantes e, assim, passa-se a considerar a noção de textualidade", assim estabelecida por Beaugrande e Dressler (1981): "modo múltiplo de conexão ativado sempre que ocorrem eventos comunicativos". Outras noções relevantes da Lingüística Textual são o contexto (genericamente, o conjunto de condições externas à língua, e necessários para a produção, recepção e interpretação de texto) e interação (pois o sentido não está no texto, mas surge na interação entre o escritor / falante e o leitor/ouvinte).
Essa nova etapa no desenvolvimento da Linguística de Texto decorre de uma nova concepção de língua e um novo conceito de texto (não mais encarado como um produto pronto e acabado, mas um processo em construção). Com isso, fixou-se como objetivo a ser alcançado: a análise e explicação da unidade textual em funcionamento e não a depreensão das regras subjacentes a um sistema formal abstrato. A Linguística Textual, nesse estágio de sua evolução, assume nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não considera a língua como entidade autônoma ou formal.
De acordo com Morato (2004) "a noção de interação em Linguística se coloca numa perspectiva de abordagem de alguns fenômenos como o processo de produção textual que passa a ser resultado de uma atividade interacional".
A Linguística Textual parte do pressuposto de que todo fazer é necessariamente acompanhado de processos de ordem cognitivo, de modo que o agente dispõe de modelos e tipos de operações mentais. No caso do texto, consideram-se os processos mentais de que resulta o texto, numa abordagem procedimental. De acordo com Koch (2004), nessa abordagem "os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, têm conhecimentos na memória que necessitam ser ativados para que a atividade seja coroada de sucesso". Essas atividades geram expectativas, de que resulta um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.
Considerações Finais
A construção deste trabalho sobre a importância da Linguística na construção e interpretação de textos foi fundamentada numa entrevista com alunos do 3º ano do ensino médio da rede estadual, em que se constatou uma carência quando os alunos eram submetidos a qualquer uma destas atividades (os mesmos alegavam não saber interpretar e/ou produzir um texto).
Observando as respostas do corpo docente, nota-se a indignação perante o ensino exacerbado da gramática na sala de aula, onde o professor sente-se superior por "dominar" um conjunto de regras que seus alunos abominam. Acontece que, os livros didáticos também não colaboram muito, pois, ao invés de trazerem mais atividades voltadas à escrita e à interpretação, vêm "lotados" de construções gramaticais com regras chatas e cansativas.
Nossos professores ainda não perceberam a importância de explorar o conhecimento linguístico e de mundo dos seus alunos. No processo de produção textual ele pode explorar toda "bagagem" que o aluno traz consigo, na sua vivência cotidiana, no seu conhecimento enciclopédico, afinal, nossos alunos são mais espertos do que pensamos, apenas sentem-se amedrontados diante de situações que o possam constranger. Contudo, se o professor prepará-lo desde o início da vida escolar para os processos de interpretação e produção textual, o aluno certamente com o passar do tempo se sentirá mais confiante e experiente para exercer atividades relacionadas a esses métodos que exigem muita concentração, força de vontade e persistência.
A Linguística só veio acrescentar nesse processo devido aos estudos relacionados a essa área. A Linguística Textual surgiu para enriquecer essa área tão esquecida na sala de aula e tão necessitada de atenção. O trabalho é árduo e cansativo, mas ensinar não é tarefa fácil e o indivíduo que escolheu por profissão ser educador, deve no mínimo ter respeito por seus alunos ensinando-os o que realmente precisarão para sua vida.










Entrevista
1) O que você entende por Gramática?
2) Sabe a que se refere à Linguística?
3) Tem alguma dificuldade em produzir textos? Quais?
4) Qual a sua opinião a respeito das regras gramaticais ensinadas na escola?
5) Você tem facilidade em interpretar textos? Justifique
6) Você acha chata a aula de Português? Por quê?
7) Se pudesse dar opinião ao seu professor de Português acerca do conteúdo ensinado, o que diria?
8) Caso você fosse professor de Português, o que faria de diferente para obter a atenção os alunos? Que métodos utilizariam para ensinar Produção e Interpretação de Textos?
Aluno: Elienay Cássio de Oliveira
1) "Gramática é para mim algo que faz com que tenhamos melhor conhecimento das palavras, como escrevê-las e como pronunciá-las corretamente."
2) "Refere ao modo de falar, expressão da língua. Refere-se ao conjunto de ideias e características de nossa língua."
3) "Sim. Dificuldades de apresentar argumentos e justificativas coerentes."
4) "Para mim não passam de regras formuladas para desanimar o aluno, as regras em vez de ajudarem complicam o entendimento do aluno."
5) "Sim. Pois tenho dificuldade de assimilar certas ideias presentes no texto. Tenho dificuldade de entender o que verdadeiramente está explícito no texto."
6) "Não. Pois a dinâmica da aula é boa. A professora compreende os alunos, e assim passa para os alunos a explicação de um modo fácil de entender."
7) "Diria que não tem nada a ser formulado, pelo menos na aula dele, pois estou conseguindo entender bem o conteúdo."
8) "Em vez de passar a matéria no quadro, faria aulas mais criativas, com a introdução de vídeos e etc. Os métodos que ei utilizaria era propor aos alunos que pratiquem mais, pois praticando é que se aprende.

Aluno: Lucas Rodrigues Alves

1) "Gramática é um conjunto de regras para que as pessoas passam se expressar melhor através da palavras."
2) "Se refere ao modo de falar de cada um pronunciar as palavras."
3) "Sim, desenvolver o assunto."
4) "São boas, pois com elas aprendemos a escrever corretamente."
5) "Sim, leio e consigo interpretar facilmente."
6) "Sim, porque existem muitas regras e exceções que devem ser lembradas."
7) "Diria para que ela fosse mais paciente e não corresse tanto com a matéria."
8) "Passaria DVD?s contando histórias dos autores e suas escolas literárias. Daria revistas e outros meios para incentivar a leitura."

Aluno: Mayara Pedrosa Durço

1) "É o estudo das palavras, sua classificação."
2) "Não me lembro a que se refere."
3) "Sim, principalmente para começar um texto, ou quando não tenho conhecimento do assunto dado para se produzir o texto."
4) "Acho chatas e às vezes complicadas."
5) "Não, acho chato."
6) "Às vezes, porque não é uma matéria que gosto."
7) "Não diria nada, pois acho que a matéria está sendo explicada e trabalhada do jeito que deveria ser, e de forma que eu possa entender."
8) "Não faço a mínima ideia."







Referências Bibliográficas
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