A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO PROCESSO DA ALFABETIZAÇÃO

 

 

                                                                                                                                      Vânia Franco De Battisti*

 

RESUMO

 

 

O presente estudo procurou analisar o contexto da leitura no processo da alfabetização, mostrando a importância do contato com fontes literárias na aprendizagem. Trata-se de uma pesquisa de campo, exploratória, qualitativa. Procura-se analisar práticas educativas fundamentadas no Letramento que visam promover a aquisição da leitura e da escrita de forma otimizada, proporcionando inserção do indivíduo na sociedade, ou seja, ensinar é antes de é tudo, letrar. Ler é muito mais do que a simples decodificação e na educação infantil envolve planejamento de procedimentos didáticos motivadores e parcerias. É preciso conhecer o meio sociocultural das crianças e envolver a família, relacionando atividades lúdicas e culturais às literárias. O aluno deve ser estimulado a ler o mundo e compreendê-lo, ou seja, saber fazer uso da leitura, ser um leitor crítico. A metodologia adotada foi a de observações in loco e entrevistas a educadores de uma escola pública de educação infantil. Os resultados indicam que é de suma importância oferecer oportunidades diversas aos alunos de interagirem por meio da leitura, pautadas principalmente nao lúdico. Neste sentido, foi observado que os projetos intensificam a atuação dos educadores e podem ser usados a favor da aquisição do hábito da leitura.

 

Palavras-chave: Alfabetização. Leitura. Projetos. Letramento.

 

1 INTRODUÇÃO

 

 

Atualmente em nosso país, ainda existem várias deficiências no processo da alfabetização, sendo que um dos maiores entraves se relaciona a metodologias adotadas, sobretudo, na escola pública. A maioria dos profissionais da educação se sentem injustiçados pelos baixos salários e pela desvalorização da profissão. Por outro lado, alunos oriundos das classes menos favorecidas não demonstram interesse na aprendizagem. Desta maneira, é urgente que se busque alternativas pedagógicas com base nos estudos contemporâneos e em práticas bem-sucedidas para que possamos almejar dias melhores para a educação brasileira, promovendo gosto pela leitura e criando base sólida na construção do conhecimento.

 

A alfabetização é uma etapa muito importante na vida de qualquer pessoa e deve realmente ser otimizada. Precisamos e devemos conhecer o que de fato pode facilitar esse processo, promovendo desenvolvimento qualitativo na aquisição de cultura e conscientização por parte de nossos educandos. Considerando a relevância da leitura, esta pesquisa ofereceu questionamento e elucidou parâmetros sobre o tema em questão. Para tanto, seu foco foi: Existe relação entre o hábito da leitura e a qualidade da alfabetização? Esta entendida como aquela que proporciona interesse pela leitura, melhor domínio gramatical, leitura oral com nitidez, prazer no hábito da leitura e aquisição de conhecimentos. Seu valor educacional foi estudar o recurso didático da mediação pela Leitura na obtenção melhores resultados na formação do aluno leitor.

 

O aluno precisa se desenvolver como um leitor autônomo, reflexivo, crítico e letrado. O importante é que trilhe o caminho do nível ingênuo de leitura em direção à escolha e análise crítica do que lê. Para Silva (2002), a leitura precisa ser vista muito além da decodificação de sinais, cabendo à instituição escolar buscar formas dinâmicas de leitura, despertando nos alunos o prazer de ler.

 

 

2 MARCO METODOLÓGICO

 

Este capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados na realização da pesquisa, apresentando o universo estudado, instrumentos, procedimentos e análise do s dados.

 

2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa se realizou de acordo com o seguinte roteiro:

Etapa 1: Apresentação do projeto de pesquisa;

Etapa 2: Diagnóstico inicial (interesse das crianças pela leitura);

Etapa 3: Projetos de leitura com práticas pedagógicas motivadoras, avaliação formativa e feedback de ações;

Etapa 4: Análise de dados e conclusões finais.

 

2.2 TIPO DE PESQUISA

 

Trata-se de um estudo qualitativo. O estudo se baseia principalmente em métodos de coletas de dados por meio de observações, entrevistas e hipóteses que se formalizam por meio dos eventos e do referencial teórico. A pesquisa qualitativa se baseia na interpretação dos dados sem medição numérica e:

 

 

vale-se de procedimentos de coleta de dados os mais variados, o processo de análise e interpretação pode, naturalmente, envolver diferentes modelos de análise. Todavia, é natural admitir que a análise dos dados seja de natureza predominantemente qualitativa. (GIL, 2008, p.141).

 

 

O objetivo da pesquisa foi coletar dados que pudessem comprovar a importância da leitura no processo de alfabetização, tendo em vista a otimização deste processo.

 

2.3 UNIVERSO

 

A escola atende apenas a crianças da educação infantil. O público–alvo é formado por crianças de 03 a 06 anos. A instituição é pública e preserva os princípios da ludicidade, a valorização da leitura e a formação de cidadãos conscientes. A concepção sociointeracionista é a que prevalece, pois procura-se valorizar a participação dos professores, que interferem para suprir as necessidades dos mesmos. Neste sentido, seu Projeto político pedagógico reconhece ser, a escola, local apropriado ao saber, às interações, inclusive, integrando a família e seu entorno, nas relações cotidianas. O aluno, deve se tornar um questionador do mundo, do homem e da sociedade e de si mesmo, com o objetivo de compreender melhor a cultura em que está inserido, sobretudo, na condição de um ser em formação.

 

Este trabalho de investigação científica foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas com professoras e bibliotecária que desenvolvem projetos de leitura com as crianças em sala de aula ou bibliotecas e projetos outros, de leitura, que envolvem as famílias, sempre enfatizando a Literatura infantil e a exploração de outras fontes literárias presentes na sociedade.

 

Outro instrumento de pesquisa utilizado foram as observações e coleta de dados que foram realizadas pela própria atuação da pesquisadora em atividades pedagógicas relacionadas ao tema estudado, contribuindo para o enriquecimento desse trabalho científico.

 

No desenrolar da execução dos projetos foi possível constatar que ao ler “com” crianças de tenra idade, o professor permite às mesmas, o desenvolvimento da oralidade como ponto de partida em seu processo de aprendizagem. Também foi possível observar que a atuação do educador que pretende despertar o gosto pela leitura e sua valorização deve ser pautada em atividades que pertencem ao universo das crianças e permitam liberdade, prazer e ludicidade.

 

As crianças se aproximam dos livros, quanto mais se sentem participantes das histórias ou do que está contextualizado na obra literária. Várias atividades correlatas são desenvolvidas na escola para promover estímulo aos alunos. De fato, é recomendável à escola constituir-se em um espaço de vivências significativas para apropriação e construção da linguagem oral e escrita, espaço no qual para muitas crianças é a única via de acesso para o mundo da leitura.

 

O cotidiano escolar é marcado por novos preceitos, pois muitas são as descobertas nos últimos anos. A didática da alfabetização mecanizada deu lugar a novas formas de aprendizagem pautadas bem mais na descoberta, na busca autônoma do conhecimento. A educação infantil traz inúmeras possibilidades de atuação do professor em prol da valorização da leitura, desde que o professor busque trabalhar de maneira a estar sempre mediando os conteúdos com a realidade de seus alunos levando-os a vencer desafios.

 

Para Betencourt (apud Costa, 2009, p. 37):

 

 

Convém lembrar que a leitura tem o poder conscientizador que possibilita ao homem descobrir as suas representações do mundo. Consequentemente, este processo faz com que o homem, dialeticamente, direcione-se para determinados fatos e relações contidos na realidade circundante e tome distância desses, a fim de refletir sobre eles, questioná-los e transformá-los, quando necessário. Entre os diversos tipos de textos existentes, o texto literário é o que dá conta da totalidade social, pois, mesmo representando o particular, atinge uma significação mais ampla. A linguagem literária extrai dos processos histórico- político-sociais uma visão da existência humana, havendo uma identificação com outros homens de tempos e lugares diversos.

 

 

Falar em Educação é falar na valorização da leitura, da linguagem literária. O homem só pode evoluir se fizer questionamentos a respeito de si enquanto sujeito localizado em uma determinada época, ou seja, como sujeito histórico e é nesse sentido que criar os primeiros contatos do indivíduo com a cultura e com a contextualização humana é fator tão importante. A Literatura, de forma explícita ou não, parece ser a forma mais apropriada para a compreensão humana de si e de toda a humanidade em todo tempo e lugar. A escola tem um papel de suma importância e a formação continuada do professor torna-se imprescindível para uma prática escolar de qualidade, sendo o mesmo, válido para a educação infantil.

 

O contexto da leitura na prática escolar da escola em questão é constante. Através da técnica da observação, percebe-se que a maioria dos professores se preocupa em adotar a leitura como incremento de suas atividades, criando recursos didáticos coerentes com a idade dos alunos, como o “Cantinho da leitura”, visitas à biblioteca, onde os alunos ouvem histórias relacionadas ao eixo temático e conteúdos ministrados pelos professores, bem como, projetos em que a família se torne parceira na missão de produzir ensino/aprendizagem. Sempre há o cuidado por parte da bibliotecária e de todos os educadores da instituição em despertar curiosidade e atenção, promovendo interpretação crítica do que se lê e gosto pela leitura.

Por meio das observações, a pesquisadora pôde perceber grande preocupação em formar alunos com gosto pela leitura e todas sabem da sua importância para fornecer os primeiros passos na construção do conhecimento. Vale lembrar também que existem projetos trabalhados na escola que envolve a família, proporcionando interação e aproximação da criança com seus familiares. Diferentes habilidades são incrementadas através da literatura, entre elas a linguagem oral, contribuindo para a ampliação do vocabulário e estimulando a criatividade e a brincadeira de faz de conta. Nesta fase, a linguagem é a habilidade que a criança mais desenvolve, e a interação com o adulto favorece esse processo, principalmente quando mediada pela literatura, oferecendo contato com a linguagem escrita, já que linguagem cotidiana não dá acesso à norma-padrão da língua.

 

Ler, contar e ouvir histórias são atividades pelas quais a criança pode conhecer diferentes formas de falar, viver, pensar e agir, além de um universo de valores, costumes e comportamentos de sua e de outras culturas situadas em tempos e espaços diversos do seu. Muitos professores estabelecem um horário na rotina das crianças para a atividade da leitura. Todos os alunos têm garantido seu horário de ir à biblioteca para ouvir histórias através de livros de Literatura Infantil ou através de filmes. Também têm horário para ir ao Laboratório de Informática, onde são trabalhadas atividades relacionados ao eixo temático da semana. O acervo literário conta com livros da Literatura infantil clássica e contemporâneos. Na biblioteca encontramos diversos livros com textos e imagem, livros só de imagens e alguns livros só de textos, com recursos audiovisuais e com imagens em alto relevo. Esses últimos costumam atrair bastante a atenção das crianças menores. Além dessas práticas pedagógicas, na maioria das salas, elas têm acesso a livros, revistas, jornais, encartes, dentre outras fontes comunicativas no “Canto da leitura”. Todas as atividades são planejadas pelas professoras com a parceria da pedagoga e a mediação pela leitura é uma constante no corpo docente da escola.

 

No que tange às brincadeiras propulsoras do interesse dos alunos pela leitura e familiarização com os padrões linguísticos, várias atividades são desenvolvidas, procurando fazer com que a criança aprenda se divertindo. Vários temas são trabalhados através de jogos de descoberta, como desenhar, rabiscar, representar, dançar, escrever, encontrar sons, formas etc. As crianças têm oportunidade de aprender de forma lúdica, pois a escola procura desenvolver diversas atividades em prol do ensino/aprendizagem. Atividades recreativas são estimuladas pelos pedagogos e estão sempre presentes no itinerário das práticas educativas. Desde o início do ano, as crianças têm oportunidade de participar de diversas situações de aprendizagem nas quais estão inseridos elementos que contribuem de forma significativo para a alfabetização. Por meio da leitura, principalmente de livros infantis, elas podem expressar-se através de desenhos, dramatizações, da oralidade, do movimento, da linguagem corporal da gestual, da música e do próprio brincar, experimentando vivências e sensações que em muito contribuirão para a sua formação. A leitura é um momento mágico, cheio de surpresas, que alimenta a imaginação das crianças.

 

Vários recursos são usados para despertar interesse e atenção, como por exemplo, fantoches e deboches. Esta técnica se utiliza das mãos para contar histórias e se caracteriza pela personificação de seres inanimados com o intuito não só de divertir, mas informar, além disso, contribuem na construção da identidade da criança. Por meio dessas ferramentas, as crianças trabalham emoções e o professor procura identificar traços comportamentais a ser trabalhados.

 

A pintura também é um recurso bastante utilizado como complemento ao ato da leitura, sendo que ela ajuda a desenvolver habilidades motoras e sensoriais, como controlar o pincel/dedo sobre o papel. Assim, o aluno estimula seu sentido do tato, o que o prepara para utilizar lápis, caneta e realizar desenhos.

 

O faz de conta, ou jogo simbólico é aquele que acontece naturalmente entre as crianças e elas sempre estão prontas para praticá-lo. É um momento de descontração e pode ser usado a favor da aprendizagem se o professor souber aproveitá-lo. Quando durante a aula se trabalha intensamente um assunto, inclusive através da literatura, é comum as crianças o utilizarem em suas brincadeiras.

 

Atividades com massinha de modelar despertam muito prazer nas crianças e enriquem a prática da leitura em sala de aula, pois fornece um elemento lúdico simples e de enorme importância, pois além de divertir, permitem aguçar o sentido do tato, aprimorando a coordenação motora.

 

O uso de músicas relacionadas ao tema abordado nos livros também faz parte da prática educativa, um complemento que desperta alegria e descontração. Ela favorece a autoestima, a socialização, senso rítmico. Para Chiareli (2005), trabalhar com música é desenvolver a inteligência e a interação social com o meio circundante, sendo essencial na educação, inclusive, na educação infantil. A música, realmente parece despertar grande interesse nas crianças que através delas exploram o espaço através da dança e trabalham inclusive, elementos sonoros, importantes para a alfabetização. Algumas vezes, as atividades musicais são incrementadas com parlendas e cantigas populares, o que faz enriquecer culturalmente ainda mais o ambiente escolar.

 

O reconto das histórias e as releituras são procedimentos também adotados e constituem oportunidade das crianças se expressarem oralmente ou artisticamente, podendo desta maneira desenvolver a imaginação, a sequência lógica dos fatos e dar vazão às suas emoções. Muitas atividades são desenvolvidas a partir da leitura de histórias e textos. A escolha do que ler para os alunos é selecionado de acordo com a faixa etária e a capacidade dos alunos, pois sua proposta pedagógica é regida pelo princípio de que não se deve apresentar aos alunos, conteúdos que estejam aquém ou além do que possam acompanhar. Práticas de desenho, modelagem, imitação, dramatizações, utilização de músicas, danças, passeios dentro e fora da escola fazem parte do contexto da leitura e sua vivificação.

 

Existem muitos projetos cujo foco é a valorização da Literatura infantil. Sempre que possível, a equipe pedagógica desenvolve dramatizações através de histórias contadas em sala de aula. É um recurso de grande efeito, que as crianças no geral, adoram. Algumas professoras desenvolvem o “Piquenique literário”, onde as crianças saem da sala de aula e vão com as professoras e suas assistentes ouvir histórias embaixo de árvores, sendo estimuladas a expressar-se verbalmente recontando as histórias, além de participarem do piquenique de alimentos saudáveis.

 

A família sempre é motivada a participar de todo o processo ensino-aprendizagem e sempre recebe informações acerca do funcionamento geral da escola, das atividades realizadas e tem seu espaço garantido sendo sempre bem-vinda. Existem eventos abertos, onde as crianças fazem apresentações, geralmente através de danças, festas populares e pequenas dramatizações. O projeto denominado “ Na trilha da leitura”, é um projeto onde a criança escolhe um livro e o leva para casa para que alguém leia para ela e juntos devem desenvolver alguma atividade lúdica significativa que, de preferência, deve ser registrada com fotografia ou desenho, e enviada para a escola para que a professora compartilhe com os colegas. A participação dos pais ou responsáveis pela criança é garantida pelos conselhos da escola, reuniões de pais e aconselhamentos, sempre avisados com antecedência por meio de bilhetes. Percebe-se, no entanto que, na prática, menos da metade dos pais mantém contato permanente com a escola, o que dificulta a resolução de problemas e a relação dialógica pretendida.

 

Este aspecto negativo presente na instituição analisada reflete a própria realidade brasileira, onde a grande maioria dos pais ou responsáveis pelos alunos não acompanham o desenvolvimento de seus filhos ou mesmo não mantém um relacionamento de parceria com a escola onde seus filhos estudam, o que muito ajudaria no processo ensino-aprendizagem.

 

Outro aspecto importante que foi analisado na presente pesquisa é a contribuição da escola no que se refere a formação de leitores que reconhecem a importância da construção do conhecimento. Remetendo à Costa (2009, pág. 23):

 

 

A atuação da escola na formação de leitores de primeiras letras pode resultar acréscimo significativo de valores humanos, sociais, econômicos, científicos, filosóficos, sociológicos, psíquicos, artísticos e tantos outros. A iniciação da criança nas habilidades de leitura abre-lhes portas ao conhecimento. A competência de leitura, adquirida nas trocas que, enquanto leitor, ela realiza, aperfeiçoa-se ao longo da vida e pode mantê-la conectada à toda produção do pensar, agir, e criar, realizada pela humanidade e registrada em formato de textos escritos. A força dessa aprendizagem constrói consciência e atitudes eficazes ao longo da vida.

 

 

Por meio de entrevistas e observações observou-se que os profissionais da instituição têm bastante preocupação em estabelecer essa relação entre a compreensão de textos e apreço pela leitura, apresentando-a em contextos delineados pela sua função social. O grande entrave, muitas vezes, é a indisciplina e o desinteresse que parecem refletir o meio social da criança. Há grande comunicação com as famílias, sendo que podemos dizer que a escola não é alheia aos problemas encontrados e a importância de uma alfabetização eficaz que leve seus alunos a se interessarem por diferentes textos. Cientes da importância de se conhecer a realidade de cada um aluno, há debates e um grande esforço em sintonizar o aluno com as práticas de leitura.

 

Parafraseando Costa (2009), o solo epistemológico comum de todas as áreas do conhecimento é a leitura, o que faz a configurar numa prática transdisciplinar, mantendo em total entrosamento, todas as ciências e o sistema escolar, pois todos eles têm, no livro a base, a forma de conhecer e refletir. É nesse sentido que a prática do professor da educação infantil deve ser reflexiva, pautada na realidade encontrada em sua sala de aula. Todo ser humano é passível de reflexão, sendo próprio de sua natureza avaliar condutas, ideias, conceitos e toda uma gama de assuntos. O professor precisa levar o aluno a refletir. O aluno que aprende a gostar de ler, que se familiariza com a leitura no seu cotidiano tem mais condição de interpretar conteúdos futuramente, primeiramente porque a própria leitura o possibilita ser um leitor de muitos e variados textos e porque, ao mesmo tempo, constrói a estrutura de seu pensamento que pode e deve ser, um pensamento crítico.

 

Segundo Souza (2009), em países como Canadá e Estados Unidos, algumas escolas já aboliram o livro didático e utilizaram textos para ensinar a ler e escrever e livros de Literatura para ensinar os conteúdos. Ler sempre para uma criança de educação infantil traz familiarização com a leitura e propicia interpretação individualizada, ou seja, o aluno aprende a dar a significação aos textos, extraindo dele aquilo que possa ser apropriado à sua vivência pessoal e social, além de tornar possível a formação de leitores habituados a refletir sobre o contexto cultural, político, econômico e social. Hoje em dia, as novas metodologias permitiram ao professor do ensino fundamental e do ensino médio propor novos procedimentos. Eles podem, através da leitura de livros, artigos, pesquisas bibliográficas diversas, levar os educandos a formular hipóteses, criar textos, peças teatrais, blogs e toda uma gama de situações. É nesses sentido que se torna ímpar, trabalhar com as crianças da educação infantil, criando nestas, a base para que percebam a importância da literatura, entendida esta, como fonte de prazer e também como ferramenta importante na aprendizagem, na aquisição de conhecimentos importantes e mediadora de decisões na construção de um mundo melhor para todos.

 

 

Quanto à utilizaçãodas novas Tecnologias de Comunicação e Informação (TICS), a escola pesquisada possui recursos como, uma sala de Informática, onde toda semana as crianças frequentam para complementar suas atividades. Também é bem frequente o uso de contação de histórias por meio do computador, possibilitando aos alunos, a utilização e reconhecimento deste meio de comunicação. Apesar do grande avanço com relação à novas tecnologias, é mais comum na instituição, o uso da televisão e data-show no cotidiano escolar. A animação contida nas imagens produzidas nas novas tecnologias, trazem um elemento a mais no desenvolvimento de suas habilidades, como por exemplo, no desenvolvimento da atenção, por trabalhar com sonorização, com cores, com o trabalho cenográfico e a própria movimentação dos personagens, se tornando um recurso importantíssimo na atualidade.

 

É importante considerar que o ensino desenvolvido por meio da Informática não é um fim em si mesmo, mas um meio auxiliar que deve pertencer ao universo educacional da escola, pois está muito presente no mundo atual. Existem muitas maneiras de se trabalhar a alfabetização e letramento através das novas tecnologias e os professores precisam se atualizar neste sentido, se quiserem utilizar esses novos instrumentos de conscientização.

 

Muito do já conquistado hoje em dia na educação se deve às novas tecnologias, pois, muitas pesquisas são realizadas pelos educadores em fontes digitais. O computador é o maior elo de comunicação na atualidade. Este aspecto da nossa sociedade atual nos remete a pensar que a escola e seus atores, precisam conhecer seu funcionamento e usufruir das utilidades que esta ferramenta proporciona. Ademais, mediar conhecimentos através das novas tecnologias digitais colocam os alunos em sintonia com a realidade do mundo atual.

 

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

 

3.1 ENTREVISTAS COM PROFESSORAS E BIBLIOTECÁRIA



Com o intuito de verificar como as educadoras promovem atividades de leitura na prática do cotidiano escolar, optou-se pela aplicação de entrevistas e observações in loco, visando conhecer e analisar o contexto e contribuir de forma significativa para a pesquisa em questão, pois só a conquista de resultados justifica a continuidade de práticas pedagógicas selecionadas para o uso no cotidiano escolar.



Ao analisar as atividades didáticas dos profissionais que trabalham diretamente com a execução de projetos que envolvem a Leitura, ficou claro que o interesse das crianças está diretamente relacionado à forma como os educadores atuam nesta dinâmica educativa.



Foram entrevistas 06 professoras e 01 bibliotecária, pelo fato de atuarem mais diretamente com atividades literárias e/ou serem efetivas na escola. A maioria das professoras possui mais de 20 anos de experiência de atuação no magistério e a bibliotecária também atua na educação, há mais de 20 anos, sendo que, prioriza o trabalho com projetos de estímulo ao hábito da leitura. Quanto à capacitação, apesar de a maioria ter cursado pós-graduação em Educação Infantil, quanto aos cursos de graduação há diferenças, como mostra o quadro abaixo.



Quadro 1: Titulação das professoras entrevistadas

Professora

Titulação

Professora 1 (P1)

Graduação em Pedagogia/ Pós-graduação em Educação Infantil e Gestão Educacional.

Professora 2 (P2)

Curso de Magistério. Especialização em Educação Infantil. Graduação em Ciências Contábeis.

Professora 3(P3)

Graduação em Pedagogia/ Pós-graduação em Educação Infantil.

Professora 4 (P4)

Graduação em Curso Normal Superior/Especialização em Educação Infantil.

Professora 5 (P5)

Graduação em pedagogia/ Pós-graduação em Educação Infantil.

Professora 6 (P6)

Graduação em Pedagogia/ Pós-graduação em educação Infantil.

 

Para a identificação de cada professora, foi utilizada a letra P, seguindo a ordem alfabética para a relação dos nomes.

Ao ser entrevistada, a professora P1 relatou que a instituição escolar vem se atualizando a cada dia e em sua opinião, houve mudanças significativas na escola pública, pois são oferecidos alguns cursos, a escola está mais democrática o que oportuniza o professor a opinar quanto a recursos metodológicos a serem implantados. Pensa que tais modificações trouxeram maior alinhamento entre os conteúdos, mais entrosamento entre teoria e prática, utilização de novas tecnologias (uso da televisão, aparelho de som, computador etc.) e mais envolvimento da família com a escola, mesmo que ainda não se tenha chegado a um nível participação ideal.



Em se tratando de atividades desenvolvidas na educação infantil, a opinião destas se dividiram de forma equilibrada em relação a serem, estas atividades, alfabetizadoras (P4, P1) ou pre-alfabetizadoras (P2, P3) e pre-alfabetizadoras para alguns alunos e alfabetizadoras para outros (P5, P6), sendo consensuais em admitir que as atividades devem se adequar ao nível de cada aluno. Também foram unânimes em aceitar a mediação do professor por meio da leitura como a principal ferramenta dentro do processo ensino-aprendizagem.



Neste sentido, percebe-se que a escola procura estimular a participação dos educandos em atividades lúdicas e criativas, sendo que a base dessas práticas é o estímulo à uma alfabetização de mãos dadas com o letramento, o que tem como objetivo final, a compreensão e a inserção do aluno na sociedade vigente. Há grande esforço em se trabalhar em conformidade com as propostas do Projeto Político Pedagógico.



Percebe-se, que são professoras que conhecem os preceitos de Emília Ferreiro e Magda Becker Soares que veem o Letramento como um grande aliado no processo da alfabetização. A professora P3, por exemplo, enfatiza que suas atividades são desenvolvidas numa perspectiva de letramento e com base no lúdico por trabalhar na educação infantil.



A escola possui os seguintes projetos de leitura: “Na trilha da leitura”, que promove a leitura de livros infantis com interação da criança com a família, o “Cantinho da leitura”, onde as crianças exploram livros infantis e criam suas hipóteses de leitura, “A hora do conto”, onde o professor lê e interage com as crianças. Além desses, desenvolvem atividades criativas que promovem a ludicidade na escola.



A maioria das professoras considera os mais importantes o projeto “Na trilha da leitura” e o “Cantinho da Leitura” que possibilita envolvimento da família na aprendizagem do educando, auxilia no fortalecimento afetivo familiar e “Cantinho da leitura” permite à criança elaborar suas hipóteses de leitura.



Quanto ao que consideram mais importante para criar o aluno/leitor, as respostas variaram entre desenvolver atividades lúdicas relacionadas à leitura (P6, P1, P4) envolver a família no processo (P2) e ler com entusiasmo para despertar a atenção e o gosto pela leitura (P3, P5).



No que tange às novas TCIs, a maioria das entrevistadas consideram a tecnologia digital, uma aliada no processo ensino-aprendizagem, pois além de permitir grande fonte de pesquisa aos educadores, podem ser usadas nas escolas pelas crianças e estão em consonância com o mundo atual. Somente uma professora (P3), considera que novas tecnologias, podem ou não ser usada pelo professor e que este deve ter o direito de escolher.



Há consenso em admitir que através da leitura, há desenvolvimento do pensamento para compreensão de novas leituras, que se tornam cada vez mais complexas, de acordo com a fase de cada aluno, sendo que a educação infantil é a base para a aquisição do gosto pela leitura, pelo hábito da pesquisa e busca de conhecimento e tem muito a contribuir para a educação como um todo.



Em entrevista à bibliotecária, que também foi alfabetizadora por muitos anos, a pesquisadora observou que esta valoriza o papel do adulto no processo ensino-aprendizagem. Em sua vasta atuação com Literatura, julga importante que se crie um ambiente no qual a criança se sinta envolvida pelo mundo dos livros, sem, contudo, ver isso como uma imposição. Em sua opinião, o professor deve dar o exemplo, contando histórias na sala de aula, apresentando textos que sejam do interesse das crianças e que despertem nas mesmas, sentimentos e emoções próprios da infância. Considera que a tecnologia só tem a acrescentar, pois com o advento da internet, ampliou-se o universo da matéria escrita e muitos professores a utilizam como suporte na sala de aula.



Acredita que o contador de história deva tornar o hábito da leitura prazeroso e apresentar o texto de forma criativa, divertida, despertando encantamento e transmitindo emoções às crianças, a cada história contada. Atividades lúdicas e brinquedos fazem com que o momento da leitura se torne agradável e divertido, causando grande impacto na formação de leitores e na aprendizagem da leitura e escrita. Várias atividades devem ser desenvolvidas pelos professores, como, roda de leitura, contação de histórias, dramatizações, conversa sobre o livro, encontro com escritores, etc. Para a entrevistada, a Literatura Infantil é um dos caminhos que facilitam a aprendizagem, além de desenvolver a imaginação, a criatividade e proporcionar o prazer da leitura. A partir daí, a criança busca novos textos literários, faz novas descobertas e amplia a compreensão de si e do mundo que a cerca.

Nesta ótica, os educadores devem assegurar que o trabalho com Literatura Infantil aconteça de forma dinâmica, por meio de práticas docentes geradoras de estímulos que sejam capazes de influenciar de maneira significativa o desenvolvimento de habilidades orais, leitoras e escritoras. A contação diária de histórias, por exemplo, é bastante significativa, porque proporciona um momento mágico de valor educativo sem igual na correlação desses três eixos: leitura, escrita e oralidade.



3.2 OBSERVAÇÕES IN LOCO



A escola pesquisada valoriza a leitura em sua prática educativa e é um processo que começa logo que as crianças se inserem em seu contexto educativo. Em todas as salas de aula, verifica-se o “Cantinho da leitura”, onde constam livros infantis, e, em algumas salas, revistas. Além disso, as professoras estão sempre lendo e promovendo atividades culturais e artísticas em conformidade com o meio sociocultural das crianças. Foi observado que as crianças demonstram grande interesse e satisfação pela dinâmica pedagógica da escola, apesar das diferenças individuais e da problemática da escola pública. Crianças de famílias menos informadas, muitas vezes demonstram menos interesse pelas atividades como um todo.



Diante da estrutura apresentada, foi constatado pela pesquisadora que a escola consegue os melhores resultados possíveis e seus alunos normalmente, perfazem todas as etapas da educação infantil. Ao final do ciclo (2º período), a maioria dos alunos sabem ler e o que é mais importante, percebem a importância da leitura. É uma instituição de alta performance com grande participação na formação de alunos que se interessam e valorizam a Leitura.

 

CONCLUSÃO

De acordo com o exposto ao longo desta pesquisa, constata-se que a leitura deve estar presente no cotidiano das crianças para que possa contribuir para uma alfabetização de qualidade.

 

Contudo, observa-se que muitos pais não reconhecem a importância de promover o acesso a fontes literárias desde tenra idade. O contato com livros, jornais, revistas, dentre outros, faz com que as crianças iniciem seu processo de letramento até mesmo antes de frequentar a escola, por isso, hoje em dia, falamos em letramentos, pois cada aluno leva para a escola suas próprias experiências. Neste sentido, cabe aos professores conhecer a realidade de cada aluno para planejar as atividades a serem realizadas.

 

Percebeu-se ainda que os procedimentos didáticos pautados no lúdico são importantíssimos na educação infantil e devem estar presentes na rotina escolar.

 

Os estudos sobre desenvolvimento infantil mostram que práticas pedagógicas devem respeitar o aluno em sua faixa etária, considerando as diferenças individuais e socioculturais. Deve-se procurar desenvolver as diferentes linguagens para que se amplie o desenvolvimento integral da criança, sobretudo, suas capacidades cognitivas.



Muitas atividades podem ser desenvolvidas relacionadas à leitura. O aprendizado através da brincadeira, por exemplo, desperta a imaginação criativa, proporcionam interações, organização do pensamento e da linguagem oral. Cantigas de roda, brincadeiras com palavras e rodas de conversa permitem associações de ideias e devem ser estimuladas.

 

Músicas, artes visuais, movimento, também são aspectos importantes de serem trabalhos com os educandos nesta etapa e precisam de comprometimento por parte dos professores.

 

Logo, de acordo com o estudo desenvolvido, um processo de alfabetização otimizado, depende substancialmente do preparo de seus educadores em lidar com novas formas entender a educação.

O objetivo da pesquisa de diagnosticar os fatores relacionados à aquisição do hábito da leitura e a interferência na alfabetização foi alcançado, bem como, identificar práticas pedagógicas que promovem mais interesse por parte das crianças por fontes literárias. Também foi possível avaliar o envolvimento da família no processo de ensino/aprendizagem. Conclui-se, no entanto, que a atualização por parte dos educadores se faz sempre necessária, para que se possa motivar a todos os envolvidos no processo.

 

Referências bibliográficas

CHIARELLI, Ligia Karina Meneghetti. A música como meio de desenvolver a inteligência e a integração de ser. Revista Recre@rte Nº 3- Junho 2005: Instituto Catarinense de Pós- graduação.

 

COSTA, Marta Morais da. Literatura, leitura a aprendizagem. 2ª edição. Editora IESES, 2009.

 

GIL, A. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.[

 

SILVA, Ezequiel T. da. O ato de ler. Fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 9ª edição. São Paulo: Cortez, 2002.

 

SOUZA, Vera Maria Tieztmann. Literatura infantil brasileira. Um guia para professores de leitura. 2ª edição: Cânone editorial, 2009.

 

 

 

* Mestranda em “Cências da Educação” pela Facultad de Ciencias Sociales Interamericanas. Professora do curso de Pedagogia na Faculdade Vasconcellos & Souza, na cidade de Anchieta, E.S.