A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EM BUSCA DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

1 INTRODUÇÃO

A afetividade é algo intrínseco ao ser humano; ela acompanha o indivíduo durante toda sua vida e desempenha um importante papel no seu desenvolvimento e em suas relações sociais. Com as crianças não é diferente, precisamos apenas fazer com que elas descubram isto. Se pesquisarmos o significado no dicionário Michaelis (2008), encontraremos a palavra ‘afetividade’ como a qualidade de quem é afetivo e, do ponto de vista psicológico, a suscetibilidade a quaisquer estímulos ou disposição para receber experiências afetivas.

Segundo Galvão (2008), a criança começa a criar vínculos afetivos desde recém-nascida, quando é acolhida pelas pessoas mais próximas que interpretam seus movimentos como estados afetivos. O pequeno humano inicia a manifestação com vários tipos de emoções que visam a expressão e a comunicação de algo ao outro, que pode ser o desconforto ou a alegria, a dor por meio do choro etc.

Conceituar o termo afetividade não constitui uma tarefa fácil, mas podemos procurar entender o assunto através das obras de alguns autores que procuram mostrar cada ponto de vista sobre o tema. Arribas (2006, p. 45) conceitua a afetividade. “[...] A afetividade refere-se, portanto, ao fato de que em todas as situações vitais conscientes o ser humano tem o testemunho de sua própria vivência interna com respeito à ressonância e ao grau em que esta situação influi sobre ele, que o afeta.”

No desenvolvimento do indivíduo, as necessidades afetivas tornam-se cognitivas; e a integração, afetividade e inteligência permitem à criança atingir níveis de evolução cada vez mais elevados. (BORBA; SPAZZIANI, 2007). A afetividade, assim, assume papel fundamental no desenvolvimento humano, determinando os interesses e necessidades individuais da pessoa.

Por isso, faz-se necessário investigar acerca da afetividade na Educação Infantil, demonstrando como ela é importante, tanto como elo na relação professor e aluno, quanto como incentivo na aquisição de conhecimentos, promovendo assim um melhor desenvolvimento integral do indivíduo.

2 A AFETIVIDADE ATUANDO NA AÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA

A afetividade é a base da vida. Se o ser humano não está bem afetivamente, sua ação como ser social estará comprometida. Isto vale independentemente de sexo, idade, cultura. (ROTHENBERGER; CARNEIRO, 2016).

              Piaget (1971) entende que o desenvolvimento social age sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo. Como o desenvolvimento afetivo não é separado do desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento social está relacionado ao desenvolvimento cognitivo e afetivo. O conhecimento social é constituído pela criança à medida que ela interage com os adultos e com outras crianças.

As relações entre  o  sujeito e  o  meio  consistem em uma interação radical, de tal modo  que  a  consciência  não começa pelo conhecimento dos objetos nem pelo da atividade  do  sujeito,  mas  por  um  estado  indiferenciado;  e  é  desse  estado   que derivam dois movimentos complementares, um de incorporação das coisas ao sujeito, o outro de acomodação das próprias coisas (PIAGET, 1971, p. 384).

Segundo Maturana (2004), durante seu desenvolvimento a criança adquire, através das interações com sua mãe e outros membros da comunidade em que vive, as emoções próprias de sua família e cultura. Assim, o emocionar se dá nas relações sociais como algo natural e cultural.

Wallon (1968) mostra, portanto, as diferentes etapas e vínculos, bem como suas implicações com o “todo” representado pela personalidade, considerando que o sujeito se constrói na sua interação com o meio. Nessa intenção, Piaget (1971) afirma que o conhecimento é construído com o tempo e por meio da interação entre os indivíduos e o meio social. Para este teórico, as relações afetivas pressupõem sentimentos bons ou ruins, de acordo com o momento vivido.

Conforme Vygostky (1994), a interação social é de fundamental importância para a aprendizagem, na qual a partir da inserção da criança na cultura e com a interação social com as pessoas mais próximas ela vai se desenvolver de forma integral.

Por isto, a criança deve ter boas relações pessoais – que se sinta inserida num grupo social, seja motivada e aceita - para que tenha uma boa aprendizagem e desenvolva-se integralmente.

3 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA ESCOLA

Para que as crianças sejam bem atendidas no ambiente escolar, conforme Guiotti (2011), os conhecimentos a respeito de suas necessidades afetivas nesta fase do desenvolvimento são fundamentais, pois a criança pequena está em um momento significativo de sua constituição subjetiva e, na escola, tais conhecimentos precisam fazer parte da formação do professor, já que não são somente os aspectos cognitivos que devem ser privilegiados para o bom andamento da aprendizagem do aluno na Educação infantil.

Nesse sentido, a educação afetiva deveria ser a primeira preocupação dos educadores, porque é um elemento que condiciona o comportamento, o caráter e a atividade cognitiva da criança e o amor não é  contrário ao conhecimento, podendo tornar-se lucidez, necessidade e alegria de aprender. Quando se ama o mundo, esse amor ilumina e ajuda a revelá-lo e a descobri-lo. (SNYDERS,1986).

  A relação do professor não deve estar voltada apenas em repassar conhecimentos, seguir metas, mas sim uma preocupação que visa atender em todos os momentos as dificuldades dos alunos, buscando uma relação de ternura e de compreensão, processo que requer tempo, construído a cada dia. “[...] As reações do professor dependem, em grande parte, da maneira como ele percebe os alunos. Convém que o professor tenha consciência de suas percepções que podem ser falhas e de que podem ser modificadas.” (PILETTI, 2004, p.81).

  Souza (1970) entende que a escola é a continuação do lar, portanto, a escola não pode limitar-se apenas a fornecer conhecimentos conceituais, mas deve contribuir para o desenvolvimento da personalidade de seus alunos. A influência mais importante no processo escolar é exercida pelo professor; então é preciso que ele compreenda a origem do desenvolvimento emocional e o comportamento da criança em todas as suas manifestações.

  A afetividade se refere à competência que se tem em ter ligações de emoções, seja ela sentimentos prazerosos ou não, em que pode ser expressa diante de algumas situações cotidianas. E assim acontece na escola: o aluno se depara com situações diferentes onde tudo é novo e há uma necessidade de adaptação. Segundo Corrêa (2008, p.13) “[...] O aluno ao entrar na escola, não deixa para fora da sala de aula os aspectos afetivos que compõem sua personalidade, e ao interagir, com os objetos de conhecimento, mostra a relação entre afeto e intelecto nas suas interações, no seu pensar e no agir”.

   De acordo com Galvão (2008), a relação professor-aluno tem como principal fator a emoção, muitas vezes o educador usa o autoritarismo despertando no aluno o sentimento de oposição. A autora questiona o método tradicional da escola e a prática pedagógica utilizada, bem como a forma como a sala de aula deveria ser um lugar acolhedor e agradável, propiciando a aprendizagem. Nesta linha de pensamento, o papel da escola é contribuir para que a criança se desenvolva no aspecto cognitivo, mas também no afetivo e psicomotor, considerando o aspecto afetivo como um dos elementos essenciais à formação do ser humano.

  O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, para que isto aconteça é necessário que o professor desperte a curiosidade dos mesmos, acompanhando suas ações no desenrolar das atividades em sala de aula. Freire (1996, p. 96) enfatiza que,

[...] o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem, cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.

 Nesse sentido, Rubem Alves (2004) corrobora Freire (1996), reafirmando que a aprendizagem se dá numa relação entre o saber, abstratamente definido, e a inteligência da criança, cuja mediação entre saberes e inteligência se dá pela didática. Se a aprendizagem não acontece, o problema se encontra, ou na inteligência deficiente da criança, ou numa didática inadequada. Por isso, o vínculo entre professor e aluno deve ser bem definido, com amor, respeito e afeto.

Fernandez (1991) diz que a aprendizagem é repleta de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, e nos diz ainda que, aprendizagem é uma mudança comportamental resultante da experiência, é uma forma de adaptação ao meio onde esse indivíduo está inserido.

A afetividade, portanto, é um estado psicológico do ser humano que pode ou não ser modificado a partir de situações, em que tal estado é de grande influencia no comportamento e no aprendizado das pessoas juntamente com o desenvolvimento cognitivo. Faz-se presente em sentimentos, desejos, interesses, tendências, valores e emoções, ou seja, em todas as esferas de nossa vida. (SARNOSKI, 2014).

Wallon (1968) traz a dimensão afetiva como ponto extremamente importante em sua teoria psicogenética, na qual apresenta a distinção entre afetividade e emoção. Diretamente ligada à emoção, a afetividade consegue determinar o modo com que as pessoas visualizam o mundo e também a forma com que se manifestam dentro dele. Todos os fatos e acontecimentos que houve na vida de uma pessoa traz recordações e experiências por toda sua história. Desse modo, a presença de afeto determina a forma com que o indivíduo se desenvolverá, determinando assim a auto-estima das pessoas a partir da infância, pois quando uma criança recebe afeto dos outros consegue crescer e desenvolver-se com segurança e determinação.

Cada estágio da afetividade, quer dizer, as emoções, o sentimento e a paixão, pressupõem o desenvolvimento de certas capacidades, em que se revelam um estado de maturação. Portanto, quanto mais habilidades se adquire no campo da racionalidade, maior é o desenvolvimento da afetividade. Sendo assim, as aprendizagens ocorrem, inicialmente, no âmbito familiar e depois, no social e na escola.

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