INTRODUÇÃO

         O presente trabalho, cujo tema é “A Fauna e a Flora Nordestinas Representadas nas Músicas de Luiz Gonzaga – Rei do Baião” foi escolhido pelo fato de que tivemos um grande artista brasileiro e nordestino que cantou e encantou a todos os nordestinos brasileiros com suas músicas, principalmente ao retratar os animais e as plantas da Região Nordeste, completando centenário neste ano de 2012.

Como se sabe o Brasil é o país com a maior diversidade do mundo. A fauna pode ser doméstica, pois compreende os animais domesticados pelo homem e selvagem que são os animais selváticos: os animais que vivem em estado selvagem, aqueles que não dependem do homem para sobreviver e procriar, os que vivem livres em seu habitat.

Luiz Gonzaga foi o maior representante do Nordeste brasileiro, destacou as nossas riquezas, vida e sofrimento dos conterrâneos, defendeu os animais, exaltou a nossa flora e a fauna, tudo através do seu musical inesquecível, relembrando por todos depois da sua morte.

Luiz Gonzaga não foi apenas o Rei do Baião. Ele foi historiador, biólogo, linguista, matemático e geógrafo. Suas canções abordam conhecimentos das diversas áreas do saber. Seja através do contexto histórico da época em que as músicas foram escritas, do tema ou do vocabulário escolhido, o acervo musical de Gonzagão é uma boa pedida para professores e alunos interessados em aprender ou ensinar de uma forma nada convencional: cantando.

Além de representar a realidade, as palavras usadas pelo artista expressam sentimentos à frente de seu tempo. Nada é mais atual que a preocupação com o meio ambiente, já expressa na letra “Xote Ecológico”, escrita por ele e Agnaldo Batista em 1989. O xote é dedicado ao defensor da Amazônia Chico Mendes e descreve uma realidade onde até as flores “a poluição comeu”.

Em todas as musicas de Luiz Gonzaga são abordados temas sobre o nordeste, principalmente a caatinga com sua fauna e flora e na maioria delas existe a relação entre a natureza e o homem. Na música “o xote das meninas” não é diferente. A comparação entre o mandacaru e a menina é evidente. Quando o mandacaru floresce é sinal de chuva e quando a menina da boneca é sinal que já virou moça. O florescer do mandacaru e a menstruação da menina simbolizam o amadurecimento. O xote das meninas mostra a mudança de comportamento das meninas logo após de entrar na adolescência. A mudança de roupas: “meia comprida, não quer mais sapato baixo...”,o uso das maquiagens e os problemas enfrentados durante a adolescência. De acordo com Santos (2004, p. 88):

Gonzaga cantou a seca; cantou a triste partida do povo nordestino para as terras do Sul; cantou a chuva, grande alegria do pobre agricultor sertanejo; cantou o verde da mata, a aridez do agreste e as asperezas da caatinga; cantou também os rios, a fauna (jumento, assum-preto, acauã, o sabiá, o gogó da ema e o vem-vem) e a flora (coqueiro, embuzeiro e o juazeiro); cantou a geografia nordestina, homenageando cidades (Penedo, Porto Calvo, Maceió, Recife, Pesqueira, Caruaru, Garanhuns, Campina Grande, Piancó, Salgueiro, Bodocó e Exu), aspectos da cultura popular (feira-livre, boi-bumbá, festas de São João) e, como não poderia faltar, cantou personagens típicos do cenário humano nordestino, tais como cangaceiros (Lampião), violeiros, vaqueiros, viajantes, boiadeiros, romeiros, caçadores, Frei Damião, Padre Cícero e, é claro, o sanfoneiro.

Vê-se que a crueldade da seca e a migração marcam a triste sina do sertanejo que sofre com a falta de chuva e a migração para os grandes centros. A proteção divina representa a esperança celestial apontada como alternativa para a ocorrência de chuva. A relação homem/natureza é expressa pela associação de pássaros e outros animais ao cotidiano da seca. E, por fim, o desejo de retorno e o contraste entre o Nordeste e o Sudeste anunciam o desencanto e a saudade da terra natal e a tristeza das relações sociais.

Luiz Gonzaga, bem como Euclides da Cunha denunciou as tristezas do sertão nordestino e, na obra Os Sertões de Euclides da Cunha, pode se entender que é uma obra de Sociologia, Geografia, História ou crítica humana. Mas não é errado lê-la como uma epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites governamentais (REZENDE, 2001, p. 201).

Este trabalho fora realizado através de pesquisa bibliográfica, tendo como base os teóricos Ângelo (1990), Dreyfus (1997), Oliveira (1991), Rezende (2001), Santos (2004) e Travassos (2000) para aprofundamento da fundamentação teórica desta monografia, bem como por meio de entrevistas a 50 pessoas com perguntas fechadas sobre o Rei do Baião.

O presente trabalho monográfico está dividido em três capítulos. O primeiro trata de um breve histórico do Rei do Baião nordestino, onde pode-se encontrar a biografia de Luiz Gonzaga; o segundo capítulo trata de Luiz Gonzaga e a música como expressão popular nordestina e o terceiro capítulo trata da fauna e da flora cantadas pelo Rei do Baião, no qual apresenta músicas do cantor com suas respectivas análises.

Este trabalho tem como objetivos conhecer a vida e a obra de Luiz Gonzaga no contexto da história e da influência da música popular brasileira na fauna e na flora da Região Nordeste; identificar os problemas sociais do Nordeste a partir das músicas do compositor; conhecer e analisar as canções de Gonzaga e de outros compositores influenciados por ele; bem como apresentar, através das músicas de Luiz Gonzaga, informações da vida e dos costumes da população nordestina e apresentar a riqueza e a beleza da nossa fauna e da nossa flora.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 BREVE HISTÓRICO DO REI DO BAIÃO NORDESTINO

 

1.1 Biografia de Luiz Gonzaga

 

Luiz Gonzaga nasceu em 1912, o filho mais digno da cidade de Exu, no sertão pernambucano, ganhou o Brasil após conhecer um dos seus mais importantes parceiros que foi o advogado cearense Humberto Teixeira. É deles a música Baião, que marca o nascimento do gênero: "Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/ E quem quiser aprender/ É favor prestar atenção". Depois disso, Gonzaga detonou, vendendo milhares de discos e pôs o nordeste no panorama da MPB.

O Rio de Janeiro era um terreno fértil para a divulgação da música nordestina e do forró nas suas mais diferentes variações como baião, chamego, xaxado, xote e o coco. Nas décadas de 1940 e 1950 o rádio era o meio de comunicação mais popular no País. Além disso, a intensificação do processo de migração que trouxe milhares de nordestinos ao sul e sudeste do país (ÂNGELO, 1990, p. 17).

Lua, como Gonzagão ficou conhecido, foi um dos construtores da MPB. Ele não foi apenas um instrumentista ou um compositor. Gonzagão determinou uma espécie musical e abreviou como ninguém a cultura nordestina. Embora antes dele, outros nordestinos tenham tentado ninguém conseguiu a importância nacional de Gonzagão.

Sabe-se que o sucesso obtido por um artista não pode ser conferido somente à sua conjetura de genialidade. O efeito está sujeito a diversas variáveis, proferidas entre si, em um determinado contexto social, pois o rei do Baião estava no lugar certo, na hora certa.

Luiz Gonzaga foi um homem notório no Brasil e se tornou conhecido como o rei do baião, onde foi uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Luiz Gonzaga nasceu numa fazendinha no Sapé da Serra Araripe, na zona rural de Exu, Sertão de Pernambuco, em 13 de dezembro de 1912 e faleceu em Recife, no dia 2 de agosto de 1989. Sua mãe chamava-se Santana e seu pai Januário, que trabalhava na roça, em um latifúndio.

Nas horas vagas Gonzaga tocava acordeão, e foi com seu pai que aprendeu a tocá-lo. O gênero musical que o consagrou foi o baião, a canção destaque de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceria com o advogado cearense, Humberto Teixeira. Porém, suas músicas retrataram a fauna e a flora nordestinas com muita perfeição. Daí, a importância de suas músicas na vida dos nordestinos brasileiros (OLIVEIRA, 1991, p. 18).

Luiz Gonzaga foi uma das mais completas, extraordinários e inventivas siluetas da música popular brasileira. Cantando, seguido de sua sanfona, zabumba e triângulo, arrastou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, assim como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa ocasião em que grande parte das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado.

Sendo admirado por grandes músicos, como Dorival CaymmiGilberto GilRaul SeixasCaetano Veloso, entre outros, o genial instrumentista e aprimorado inventor de melodia e harmonias, ganhou popularidade com as antológicas canções "Baião" (1946), "Asa Branca" (1947), "Siridó" (1948), "Juazeiro" (1948), "Qui Nem Jiló" (1949) e "Baião de Dois" (1950).

1.2 Carreira Profissional do Rei do Baião

 

Em Juiz de ForaMinas Gerais (MG), conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. A partir daí começou a se interessar pela área musical.

Em 1939, deu baixa do Exército na Cidade do Rio de Janeiro. Estava decidido a se dedicar à música. Na então capital do Brasil, começou por tocar nas áreas de prostituição da cidade. No início da carreira, apenas solava acordeão (instrumentista), tendo chorossambas, Fox trotes e outros gêneros da época. Seu repertório era composto basicamente de músicas estrangeiras que apresentava, sem sucesso, em programas de calouros. Apresentava-se com o típico figurino do músico profissional: paletó e gravata. Até que, em 1941, no programa de Ary Barroso, ele foi aplaudido executando Vira e Mexe, um tema de sabor regional, de sua autoria. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais. Vira e mexe foi a primeira música que gravou em disco (OLIVEIRA, 1991, p. 19).

Logo depois veio o seu primeiro contrato pela Rádio Nacional. Foi lá, então, que ele assumiu contato com o acordeonista gaúcho Pedro Raimundo, o qual vestia trajes típicos da sua região. A partir do contato com o artista é que surgiu a ideia de Luiz Gonzaga apresentar-se vestido de vaqueiro, roupa que o tornou consagrado artista.

No dia 11 de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou a sua primeira música como cantor, no estúdio da RCA Victor: A mazurca Dança Mariquinha, ao lado de Saulo Augusto Silveira Oliveira.

No mesmo ano, uma cantora de coro chamada Odaléia Guedes dos Santos teve um menino, no Rio. Luiz Gonzaga cultivava um caso há meses com ela, o qual teve início quando ela já estava grávida. Luiz, sabendo que ela ia ser mãe solteira, declarou a paternidade da criança, adotando-o e dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior.

Odaléia, que além de cantora de coro era sambista, foi expulsa de casa por ter engravidado do namorado, que não assumiu a criança. Ela foi parar nas ruas, sofrendo muito, até que foi ajudada e descobriu-se seu talento para cantar e dançar, e ela passou a se apresentar em casas de samba no Rio, quando conheceu Luiz (OLIVEIRA, 1991, p. 20).

 O relacionamento com Odaléia era bastante agitado, cheio de brigas e discussões, e ao mesmo tempo muita atração física e paixão. Após o nascimento do garoto, as brigas se agravaram, pois havia muitos ciúmes entre os dois. Eles resolveram se separar com menos de dois anos de convivência. Léia ficou criando o filho, e Luiz, às vezes, ia visitá-los.

No ano de 1946 retornou pela primeira vez a Exu, e teve um comovente reencontro com seus pais, Januário e Santana, que há anos não sabiam nada sobre o filho e sofreram muito todo esse tempo. O reencontro com seu pai é contado em sua composição Respeita Januário, em parceria com Humberto Teixeira.

No ano de 1948, casou-se com a pernambucana Helena Cavalcanti, professora que tinha se tornado sua secretária particular, pela qual Luiz se apaixonou. O casal viveu junto até o fim da vida de Luiz. Eles não tiveram filhos biológicos, por Helena não poder engravidar, mas adotaram uma menina, a quem batizaram de Rosa.

Nesse mesmo ano Léia morreu de tuberculose, para desespero de Luiz. O filho deles, apelidado de Gonzaguinha, ficou órfão com 2 anos e meio. Luiz queria levar o menino para morar com ele e Helena, e pediu para a mulher criá-lo como se fosse dela, mas Helena não aceitou, juntamente com sua mãe, Marieta, que achava aquilo um absurdo, já que nem filho verdadeiro de Luiz era. Luiz não viu saída: Entregou o filho para os padrinhos da criança, Leopoldina e Henrique Xavier Pinheiro, criá-lo, no Morro do São Carlos (OLIVEIRA, 1991, p. 21).

Luiz sempre visitava a criança e o menino era sustentado com a assistência financeira do artista. Luizinho foi criado como muito amor. Xavier o considerava filho de verdade, e lhe ensinava viola, e o menino teve em Dina um amor verdadeiro 

1.3 Vida Pessoal e Família do Rei do Baião

 

Luiz não era muito unido com o filho, cuja alcunha era de Gonzaguinha. Ele não viu mais o filho na infância do garoto e sempre que se viam brigavam. Mas, apesar de amá-lo, acreditava que ele não teria um bom futuro, acreditando que ele seria um malandro ao crescer, já que o garoto tinha amizades ruins no morro, além de viver com malandros tocando viola pelos becos da favela. Dina tentava uni-los, porém Helena não gostava da aproximação deles, e passou a disseminar para todos que Luiz era infecundo e não era o pai do menino, mas Luiz sempre desmentia, já que ele não queria que ninguém soubesse que o menino era seu filho somente no civil. Ele amava o menino de fato, independente de ser filho de sangue ou não.  

Na adolescência, o jovem se tornou rebelde, não aceitava ir morar com o pai, já que amava os padrinhos e odiava ser órfão de mãe, e dizia sempre que Luiz não era seu pai biológico, o que entristecia-o. Helena detestava o menino e vivia implicando com ele, e humilhando-o e por isso Gonzaguinha também não gostava da madrasta Helena, o que afastou e causou mais brigas entre pai e filho, já que Luiz dava razão à esposa. Não vendo medidas, internou o jovem em um colégio interno para desespero de Dina e Xavier. Gonzaguinha contraiu tuberculose aos 14 anos e quase morreu. Aos 16, Luiz pegou-o para criar e o levou a força para a Ilha do Governador, onde morava, mas por ser muito autoritário e a esposa destratar o garoto, o que gerava brigas entre Luiz e Helena, Gonzaga mandou o filho Gonzaguinha de volta ao internato (DREYFUS, 1997, p. 13).

Ao crescer, a relação ficou mais tumultuada, pois o filho se tornou um malandro, tornando-se viciado em bebidas alcoólicas. Ao passar o tempo, tudo foi melhorando quando Gonzaguinha resolveu se tratar e concluiu a universidade, e se tornou músico como o pai. Pai e filho ficaram mais unidos quando em 1980 viajaram o Brasil juntos, quando o filho compôs algumas músicas para o pai. Eles se tornaram muito amigos, e conseguiram em fim viver em paz.

Luiz Gonzaga morreu em 2 de agosto de 1989, às cinco e quinze da manhã, depois de quarenta e dois dias internado no Hospital Santa Joana na cidade de Recife e no seu sepultamento compareceram mais de vinte mil pessoas que cantaram Asa Branca quando o caixão descia às quatorze horas e cinquenta minutos do dia quatro de agosto. Uma data que ficou marcada na vida de muitos brasileiros. 

E assim o Brasil perdia um ícone da música popular e ganhava um mito que viverá para sempre em suas músicas, pois o homem simples soube cantar a simplicidade do sofrido povo brasileiro e chegou a conquistar a todos, independente da classe social, Luiz Gonzaga é querido por todos, é sem dúvida alguma o eterno Rei do Baião.

Figura 1: Luiz Gonzaga

Fonte: linkatual.com – 2012

 

2 LUIZ GONZAGA E A MÚSICA COMO EXPRESSÃO POPULAR NORDESTINA

Ilude-se quem acredita que o Baião é fato do passado. Muito pelo contrário, ele continua vivo e influenciando a Música Popular Brasileira até hoje. E como o próprio criador do gênero cantou "Luiz Gonzaga não morreu / Nem a sanfona dele desapareceu". Isso porque desde que foi criado em 1946, sua batida está presente, direta ou indiretamente, em todos os movimentos musicais que surgiram em seguida.

Luiz Gonzaga foi a maior expressão da música popular brasileira no Nordeste de todos os tempos. Um exemplo disto tem-se esse pequeno refrão de uma de suas músicas que retratou o baião nordestino/brasileiro:

"Eu vou mostrar pra vocês
como se dança o baião
e quem quiser aprender
é favor prestar atenção"
(Baião, Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira, 1946)

 

 

 

 



            O Brasil deu atenção e estudou como se dança o Baião. E se seduziu com o balanço do gênero musical popular que deu início, lado a lado com a perfeição, em retratar e contar histórias, a vida, os folclores, a cultura e o sofrimento do povo nordestino, assim como, em bradar e fazer denúncias das suas aflições em face de diferenças políticas que sempre existiram neste País, em relação ao Nordeste.
            E o grito retumbante ressoou justamente do núcleo de todos esses acontecimentos, surgindo simplesmente por força da natureza e transformando-se em mito, sem precisar adicionar, devido à grandeza da sua áurea, enfeites externos, para ser a maior expressão da música verdadeiramente popular brasileira.
            Luiz foi nome dado para homenagear a Santa Luzia, a Santa do dia da sua origem, dia 13 de Dezembro. Gonzaga foi apelido dado pelo padre que o batizou, para completar o nome do Santo Luiz Gonzaga. Nascimento foi adicionado porque o menino nasceu na véspera de Natal, quando se celebra o nascimento de Cristo.

Luiz Gonzaga cresceu ouvindo o fole de oito baixos do pai Januário e em meio à cultura do lugar, representada fortemente pelo balanço promovido por um trio de instrumentos aparentemente simples, mas com recursos para produzir harmonias musicais complexas e ritmos extremamente agradáveis para a dança: a sanfona, o zabumba e o triângulo (ÂNGELO, 1990, p. 19).

No Nordeste, naquela época, o trabalho roceiro, o manuseio com o gado e a luta pela vida, numa seca insensível, eram elementos consideráveis para registro, na forma cultural de maior expressão regional: a música.

O menino Gonzaga se contagiou com o barulho da sanfona e logo transpôs a demonstração da aptidão para puxar o fole. O curioso disso tudo é o registro parecido com o percurso do grande maestro Vila Lobos, que foi amarrado e chicoteado pelo pai quando revelou interesse pela música. Com Luiz Gonzaga algo muito parecido aconteceu, quando o velho Januário estava trabalhando na roça, Luiz tomou posse da sanfona do pai e começou a tirar algumas modinhas do período. Vendo aquela cena, D. Santana chamou sua atenção com uma tapa e o avisou de que não queria que tocasse sanfona, para não se perder pelo sertão a fora.


De nada adiantou a repressão dos pais e Luiz Gonzaga logo foi notado pelos sanfoneiros da região e admirado pelo talento que possuía, a ponto de não haver mais oposição dos pais, que passaram a admitir que “filho de peixe peixinho é”. A andança pelos terreiros de forró resultou em namoro com a filha de um fazendeiro importante da cidade, que ao saber da pretensão do sanfoneiro, mandou lhe o seguinte recado: “Um diabo que não trabalha, não tem roça, não tem nada, só puxando aquele fole, como é que quer se casar? É isso, mora nas terras dos Aires e pensa que é Alencar. Os Aires podendo tirar o couro daquele negro, dão liberdade e agora quer moça branca pra se casar...”.  Luiz não gostou e chegou a comprar uma peixeira para tomar satisfação com o pai da moça. O encontro não aconteceu porque, D. Santana soube da história e deu-lhe uma grande surra (DREYFUS, 1997, p. 15).


            Então, Luiz Gonzaga envergonhado com a recriminação da mãe, tomou a decisão de fugir de Exu, sua terra natal. No entanto, só tinha uma saída: sentar Praça no Exército. Então, tornou-se o recruta 122, corneteiro da tropa e designado como Bico de Aço. E como ele mesmo fala nos relatos entre uma música e outra, nos seus shows: “participei de muitas revoluções mais nunca dei um tiro”.
            Em 1939, Gonzagão deixou o Exército e voltou à contradição do seu destino, pois foi aconselhado por um colega de farda, no Rio de Janeiro, onde estava abrigado no quartel, de que careceria tentar uma forma de vida tocando na Região do Mangue que era a zona de prostituição da época.

Ao ouvir o conselho do amigo, pensou, e como não lhe surgiu outra ideia, reuniu outros músicos e encarou a zona da prostituição carioca, onde imediatamente conquistou seus frequentadores com o fole da sanfona, o balanço do baião e a sua bela voz. Sem muita demora, as portas foram abertas para a música nordestina que trazia em suas veias. Enfiado no meio, conheceu outros artistas e logo estava expandindo espaço e conquistando a sociedade carioca com uma nova moda musical.


Certo dia conheceu Ary Barroso, que ao ouvi-lo cantando ritmos estrangeiros, lhe aconselhou: “Rapaz, procure um emprego”. Luiz ficou decepcionado e respondeu: “ Seu Ary, me dá oportunidade pra tocar um chamego? Chamego? O que é isso no rol das coisas mundanas? perguntou Ary Barroso. Luiz respondeu: “Chamego é musga pernambucana”. Ary voltou a indagar: “Como é o nome disso?” e Luiz respondeu: “Vira e Mexe”. Finalizou Ary barroso: “Pois arrivira e mexe esse danado... a gente vê cada uma”. Luiz tocou o Vira e Mexe e conquistou a todos, inclusive o grande Ary Barroso, que deu-lhe nota 5 e o prêmio de 15$000 (OLIVEIRA, 1991, p. 23).


       Em Março de 1941, ao gravar uma pequena participação instrumental na RCA, cativou o seu diretor e o mesmo o convidou para voltar no outro dia para gravar suas músicas.

Porém sua trajetória ainda estava em organização. O acometimento da obra de Luiz Gonzaga advém com o encontro entre o sanfoneiro cantador e seus parceiros musicais, dentre eles, o Cearense de Iguatu, Humberto Teixeira e o pernambucano de Carnaúba, José Dantas Filho.

As melhores músicas começam a ser produzidas em sequência por Luiz Gonzaga e seus mais relevantes parceiros. Asa Branca veio em 1947 por Gonzaga e Humberto Teixeira. Seus versos, em linguagem cabocla, vestiram-se de uma universalidade musical sem igual e tornou-se eterna pelo composto poético de rara beleza, retratando uma história de amor em meio ao sofrimento do sertanejo com a falta de chuva. Esta música, noutro país de maior elevação cultural, teria virado filme. Quiçá um dia isto aconteça por aqui?! “Quando o verde dos teus olhos, se espalhar na plantação, eu te asseguro, não chores não viu, que eu voltarei viu Meu coração”.

Em 1950, quando ainda não existia coro qualquer voz que se levantasse pela preservação ambiental, surge o grito do Assum Preto, registrando os maus tratos a esta espécie da Fauna brasileira. A canção denuncia que a ave era capturada e tinha os olhos furados para que parecesse mansa e assim fosse vendida por melhor preço. A música, além da beleza poética, trás um apelo político de conscientização ambiental numa feliz inspiração da dupla: Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga:
“Tudo em volta é só beleza, sol de abril e a mata em flor, mas Assum Preto, cego dos olhos, não vendo a luz ai canta de dor... ...mil vez a sina de uma gaiola, desde que o céu ai pudesse olhar...” (SANTOS, 2004, p. 90).

Ainda hoje o voar da Asa Branca se repercute com igual beleza e total independência de melodia, fazendo anunciar um novo tempo no sertão: a expectativa de chuva, convocando o sertanejo de volta à terra, no início dos anos 50. É mais uma obra da maravilhosa dupla: Luiz Gonzaga e Zé Dantas, A Volta da Asa Branca. “Já faz três noites que pro Norte relampeia, a Asa Branca ouvindo o ronco do trovão, já bateu asas e voltou pro meu sertão, ai ai eu vou me embora, vou cuidar da plantação...”

Entretanto, nenhum político brasileiro representou tão bem o seu povo, como Luiz Gonzaga, para representá-lo formalmente, gritou com a sua poesia e com a sua música em defesa do sertanejo.

No ano de 1953, a seca esturricou o solo sertanejo do Nordeste, acabou com o pasto, matou o gado e expulsou o sertanejo da sua terra. A fome converteu muitos operários em mendicantes pelas ruas, dependendo da solidariedade do povo do Sul e da compaixão de todo o Brasil. Luiz Gonzaga e Zé Dantas construíram mais uma bela música sertaneja que registrava a seca e a fome no Nordeste, e apelando aos políticos para acudir o povo sertanejo.

Nasceu, então, Vozes da Seca. A canção mexeu com os sentimentos dos brasileiros e Juscelino Kubitscheck de Oliveira, subiu à tribuna da Câmara dos Deputados e clamou: “Sr. Presidente, a música de Luiz Gonzaga e Zé Dantas vale mais do que cem discursos, tenho dito”. Referia o parlamentar à música Vozes da Seca. “...mas doutor uma esmola, a um homem que é são,  ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”... ...livre assim nos da esmola, que no fim desta estiagem lhe pagamos até os juros sem gastar nossa coragem...

O Rei do Baião deixou o seu reinado há 18 anos, precisamente às 05:15h., do dia 02/08/89, no Hospital Santa Joana, em Recife, mas ingressou na história da cultura brasileira como expressão máxima da nossa música, através da qual encantou e encanta a todos. Sua história é uma das mais pesquisadas por acadêmicos do mundo inteiro, sendo inclusive objeto de pesquisa em tese de mestrado e doutorado em várias universidades do Brasil e de outros países. O acervo da sua obra, documentários e causos registrados nas suas andanças por este País encontram-se no Museu de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, na cidade de Exu, Pernambuco, terra onde nasceu e onde buscou descanso nos seus últimos dias de reinado (SANTOS, 2004, p. 91).

   O Brasil ainda não testemunhou as homenagens recompensadas ao seu inesquecível filho Luiz Gonzaga do Nascimento, o Rei do Baião, pelo que determinou como poeta, músico e instrumentista dos melhores que esta terra já deu; pela relevância política que desempenhou na defesa do sertanejo e até no papel de pacificador de tumultos na região onde viveu; pela rica cultura que deixou a este país e por tudo que representou ao longo de 50 anos de viajante tocador pelas estradas deste país, especialmente para o sertanejo, do qual era o seu representante maior. Como disse na sua canção, a sua ausência só nos faz repetir: “Saudade assim faz doer e amarga que nem jiló, mas ninguém pode dizer que me viu triste a chorar, saudade, o meu remédio é cantar...”

Figura 2: Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

Fonte: silveiraroccha.blogspot.com - 2012

 

 

 

3 A FAUNA E A FLORA CANTADAS PELO REI DO BAIÃO

 

 

   A fauna é importantíssima e foi um elemento primordial para os homens, os quais dependiam dela para sobreviver. A caça foi uma forma elementar aproveitada por nossos antepassados para a aquisição de alimento. O manejo da fauna também pode ser muito importante para o homem chamado civilizado, que poderá manter e desenvolver criação de animais silvestres para fins de obtenção de proteína.

Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que, graças a Deus, té pra nascer tive sorte, apois nasci em Pernambuco, o famoso Leão do Norte.
Nas terras do novo Exu, da fazenda Caiçara, em novecentos e doze, viu o mundo a minha cara. No dia de Santa Luzia, por isso é que sou Luiz, no mês que Cristo nasceu, por isso é que sou feliz. (LUIZ GONZAGA, 1952)

              Músicas como “Asa Branca”, “Juazeiro”, “Xote das Meninas”, “Xote Ecológico”, “Aroeira”, “Assum Preto”, “Acauã”, “Fogo Pagou”, “Açucena cheirosa”, “Acácia amarela”, “Umbuzeiro da Saudade”, “Cajueiro Velho”, “Capim Novo”, “Ovo de Codorna”, “Flor do Lírio”, “Madureceu o milho”, “O Urubu é um triste”, “Penas do Tiê”, “Qui nem Jiló”, “Quero chá”, “O Adeus da Asa Branca”, “Erva Rasteira”, “Frutos da Terra”, “Projeto Asa Branca”, “Rodovia Asa Branca”, “Canto do Sabiá” e “Sabiá” representaram a fauna e a flora do sertão nordestino através das músicas de Luiz Gonzaga. E através delas vai ser possível desenvolver esse trabalho a fim de que se possa mostrar a riqueza e a importância delas na vida do sertanejo da região Nordeste.

Determinar ou conhecer a identidade de um povo não é fácil. Pois, identidade não é uma coisa fixa, é algo dinâmico, quase um ser vivo. Há sempre uma evolução, transformação, e mesmo assim diferentes manifestações de uma identidade coexistente, tornando-a ainda mais complexa.

Talvez a seca seja a maior característica da Caatinga, e é também o aspecto que tem maior força na construção da identidade do nordestino. Não é por menos que o maior sucesso de Luiz Gonzaga retrata as consequências da seca. A música Asa Branca conta a história de um nordestino que migra para o sudeste fugindo da fome e da seca.

3.1 As Músicas Cantadas Pelo Rei do Baião

            O auge do Baião transcorreu a segunda metade da década de 40 até a primeira metade da década de 50, época na qual Luiz Gonzaga consolida-se como um dos artistas mais populares em todo território nacional. Esse sucesso foi devido, sobretudo à genialidade musical da “Asa Branca” que ele compôs com Humberto Teixeira, um hino que relata a trajetória do sofrido imigrante nordestino.

3.1.1 Em “Asa Branca”

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

            Nessa música, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira quiseram demonstrar o lamento e a esperança do sertão. Ambos têm uma visão romântica poética e realista do cenário nordestino brasileiro. A música fala da Seca no Nordeste do Brasil, que por ser muito intensa, obrigando o seu povo a migrar, assim como as aves também, a exemplo da asa branca que é um tipo de um pombo que quando bate asa do sertão anuncia a seca. Migração essa que é feita por homens que deixam sua cidade, sua região, procurando melhorias de vida e sustento da família, saindo deixa para trás mulher e filhos.

3.1.2 Em “Juazeiro”

Juazeiro, juazeiro
Me arresponda, por favor,
Juazeiro, velho amigo,
Onde anda o meu amor
Ai, juazeiro
Ela nunca mais voltou,
Diz, juazeiro
Onde anda meu amor
Juazeiro, não te alembra
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ele e eu
Ai, juazeiro
Como dói a minha dor,
Diz, juazeiro
Onde anda o meu amor
Juazeiro, seje franco,
Ela tem um novo amor,
Se não tem, porque tu choras,
Solidário à minha dor
Ai, juazeiro
Não me deixa assim roer,
Ai, juazeiro
Tô cansado de sofrer
Juazeiro, meu destino
Tá ligado junto ao teu,
No teu tronco tem dois nomes,
Ele mesmo é que ecreveu
Ai, juazeiro
Eu num güento mais roer,
Ai, juazeiro
Eu prefiro inté morrer.
Ai, juazeiro... (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)


 

Essa é uma canção simples, ingênua e de muito bom gosto. A letra transmite o lamento de um sertanejo, abandonado pela amada, que interroga a árvore, testemunha de seu amor: O verbo "roer", que aparece em dois versos da canção, é muito usado no Nordeste com o significado de "remoer uma dor de cotovelo".

3.1.3 Em “Xote das Meninas”

Mandacaru
Quando fulora na seca
É o siná que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É siná que o amor
Já chegou no coração...

Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais usar jibão...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao dotô
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

Mas o dotô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

Mandacaru
Quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega
No sertão
Toda menina que enjôa
Da boneca
É sinal que o amor
Já chegou no coração...

Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, num estuda
Num dorme, num quer nada...

Porque ela só quer, hum!
Porque ela só quer
Só pensa em namorar...

Mas o doutô nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...

Porque ela só quer, oh!
Mas porque ela só quer, ai!
Mas porque ela só quer
Oi, oi, oi!
Ela só quer
Só pensa em namorar
Mas porque ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar... (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

Nessa música, Luiz Gonzaga e Zé Dantas mostram que “Mandacaru quando fulora na seca” se refere aos seios da menina apontando em um peito outrora liso. “É sinal que a chuva chega no sertão” é a consequencia da puberdade na qual acontece a primeira menstruação da menina. E o remanescente é uma brincadeira acerca da reação dos pais quanto à transformação da menina/ mulher em lidarem com a situação.

3.1.4 Em “Xote Ecológico”

 

 

Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
E se plantar não nasce, se nascer não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar

Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde é que está ?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu (Luiz Gonzaga)

 

O tema desta música é o meio ambiente cuja particularidade interdisciplinar vai além dos limites de uma única ciência, porque envolve política, economia, história, ecologia e geografia. No que se refere à Geografia, seu objeto de estudo é o espaço humanizado e neste se inclui o meio ambiente impactado pelas organizações sociais.

3.1.5 Em “Aroeira”

 

Passei um dia pela sombra da aroeira
Mas que árvore traiçoeira, veja em que eu fui me meter
Fiquei dez dias numa baita comichão
Corpo emzambuado desde o imbigo até o dedão

Desde esse dia, nunca mais entrei no mato
Prefiro carrapato a ter de novo a coçação

Desde esse dia, nunca mais entrei no mato
Prefiro carrapato a ter de novo a coçação

Pois teu amor comicha mais que aroeira
Vou fazer uma benzedura pra ele não me comichar
Faço uma cruz com três raminhos de alecrim
E antes que chegue no tempo, teu amor não coça em mim

Coça que coça, coça, coça, comichão
Vai coçar pra outras banda e deixa em paz meu coração

Coça que coça, coça, coça, comichão
Vai coçar pra outras banda e deixa em paz meu coração

Nós semos moço, temos a vida pela frente
Não faz mal que se a gente perde um pouco a esperar
Quando der jeito a gente ajeita um ranchinho
E junta o padre com os padrinhos sai da igreja e vai pra lá

E eu te coço, e tu me coça, e se coçemu
Eu grito: num se assustemo, General Onório Lemu
E eu te coço, e tu me coça, e se coçemu
Eu grito: num se assustemo, General Onório Lemu (Luiz Gonzaga)

Essa música de Luiz Gonzaga inicia fazendo alusão a uma árvore, que é peculiar da nossa região, e que é chamada “Aroeira-do-Sertão” e se pode perceber em trechos como: “Passei um dia pela sombra da aroeira, mas que árvore traiçoeira, veja em que eu fui me meter...”. Logo mais a frente ele fala que a árvore causa uma grande coceira, como se percebe nos versos: “Fiquei dez dias numa baita comichão. Corpo emzambuado desde o imbigo até o dedão...”; Mas, na verdade, quando ele citou essa planta, ele pretendia somente fazer uma comparação com o amor de sua amada, que se percebe quando ele diz: “Pois teu amor comicha mais que aroeira...”. Então a partir daí ele começa a falar sobre o amor deles, e que ela mexe muito com ele, mas assim mesmo, ele pretende se casar com ela, como se percebe nos versos: “Quando der jeito a gente ajeita um ranchinho. E junta o padre com os padrinhos sai da igreja e vai pra lá...”

            Luiz também utiliza expressões da região Nordeste, como: “baita”, “imbigo”, “coçemu”, entre outros. Já que em suas músicas sempre estão explícitas características e expressões nordestinas.  

3.1.6 Em “Assum Preto”

 

Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió (bis)
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus. (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

 

 

A música "Assum preto" fala sobre a época de chuva, quando as árvores estão com flores e o Nordeste se alegra com o canto dos pássaros.  Mas tem um em especial que canta de dor, esse é o Assum Preto que teve seus olhos furados para voltar a cantar. Parou de cantar quando ficou sem seu amor, de tristeza se encheu, não quis mais cantar, e "Tarvez por ignorança Ou mardade das pió" cometeram tal ato cruel. O Assum não pode mais voar, preferiria viver "na gaiola" com sua visão do que livre sem ela. Essa música, fala também, da lamentação por um amor que foi roubado, ela era a luz dos seus olhos, ele ficou como o Assum cego pelo amor perdido e cantam juntos de tristeza.

 

 

3.1.7 Em “Acauã”

 

 

Acauã, acauã vive cantando 
Durante o tempo do verão 
No silêncio das tardes agourando 
Chamando a seca pro sertão 
Chamando a seca pro sertão 
Acauã, 
Acauã, 
Teu canto é penoso e faz medo 
Te cala acauã, 
Que é pra chuva voltar cedo 
Que é pra chuva voltar cedo 
Toda noite no sertão 
Canta o João Corta-Pau 
A coruja, mãe da lua 
A peitica e o bacurau 
Na alegria do inverno 
Canta sapo, gia e rã 
Mas na tristeza da seca 
Só se ouve acauã 
Só se ouve acauã 
Acauã, Acauã...  (Zé Dantas)

 

Nessa música, Zé Dantas deixa bem claro que Acauã é uma ave peculiar do sertão, que resiste ao calor. Seu cantar, no sertão, divulga o verão. Contam que é a única ave que resiste a um período de seca. Quando todas as aves fogem, é a única que sobra. Nessa magnífica letra, o homem que cantou todas as aves do sertão, pede: “Te cala acauã; Que é pra chuva voltar cedo”. Se na alegria do inverno, período de chuvas, “Canta sapo, gia e rã, na tristeza da seca, só se ouve acauã”. Tema frequente de suas músicas, Luiz fala do desespero e desesperança vividos pelo povo durante o período de seca do sertão.

 

3.1.8 Em “Fogo Pagou”

 

 

Fogo Pagou

Teve pena da rolinha que o menino matou
Teve pena da rolinha que o menino matou

Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou

Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou. Tem dó de mim

Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou.é sempre assim

Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar

Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar

Teve pena da rolinha que o menino matou
Teve pena da rolinha que o menino matou

Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou
Mais depois que torrou a bichinha, comeu com farinha...gostou

Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou..tem dó de mim

Fogo pagou
Fogo pagou
Fogo pagou..é sempre assim

Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar

Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar
Más se disso tirar bom proveito sorrir satisfeito fingindo chorar

 

                                                           (Rivaldo Serrano de Andrade)

Aqui, Rivaldo Serrano retrata a rolinha fogo-pagou, mostrando que a fome obriga o homem a matar animais como a rolinha. Isso fica claro na frase “Todo mundo lamenta a desgraça que a gente passa num dia de azar”.
De origem brasileira, a Rolinha-fogo-pagou vive em praticamente todas as regiões do País. Como se alimenta de sementes de gramíneas apanhadas no chão é encontrada em áreas descobertas, onde pode facilmente achar seus alimentos, e em locais cultivados pelo homem, nutrindo-se de arroz e outras sementes; porém, não chega a ser uma ave predadora de plantações. Costuma viver sempre aos pares, só sendo vista em pequenos bandos perto dos locais de alimentação.

3.1.9 Em “Açucena Cheirosa”

Quem quiser comprar, 
eu vendo açucena cheirosa do meu jardim
Quem quiser comprar, 
eu vendo açucena cheirosa do meu jardim

Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim
Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim

Até flor de laranjeira pro dia de Santo Antonio
Eu quero vender pras moça pra arranjar seus matrimônio
Há mais estrelas no céu nas noites de São João
Há festa nestes teus olhos
Há fogo no meu coração

Quem quiser comprar, 
eu vendo açucena cheirosa do meu jardim

Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim
Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim

Até flor de laranjeira pro dia de Santo Antonio
Eu quero vender pras moça pra arranjar seus matrimônio
Há mais estrelas no céu nas noites de São João
Há festa nestes teus olhos
Há fogo no meu coração

Quem quiser comprar, 
eu vendo açucena cheirosa do meu jardim
Quem quiser comprar, 
eu vendo açucena cheirosa do meu jardim

Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim
Vendo cravo, vendo lírio, 
não vendo uma rosa que deram pra mim (Luiz Gonzaga)

Açucena é uma singela e branca flor. E nessa canção, Luiz Gonzaga quis nos dá a entender que venderia qualquer outra flor, menos uma rosa que lhe deram. A açucena significa que você está sempre pronto a se aventurar, muito cheio de energia, possui uma personalidade ativa e decidida. Não vê graça numa vida sem desafios. E por ser um líder por natureza, atrai as outras pessoas com seu entusiasmo. Mas é importante tomar cuidado e não se tornar uma pessoa teimosa.

3.1.10 Em “Acácia Amarela”

Ela é tão linda é tão bela
Aquela acácia amarela
Que a minha casa tem
Aquela casa direita
Que é tão justa e perfeita
Onde eu me sinto tão bem

Sou um feliz operário
Onde aumento de salário
Não tem luta nem discórdia
Ali o mal é submerso
E o Grande Arquiteto do Universo
É harmonia, é concórdia
É harmonia, é concórdia".

(Luiz Gonzaga e Orlando Silveira)

            Nessa canção, o Rei do Baião, junto a Orlando Silveira, preparou a letra e o tema musical. É uma composição que identifica e retrata uma loja maçônica. A inspiração poética acontece fortemente quando enfoca a árvore acácia amarela e sua casa. Em seguida, ele traz para o seu texto fortemente representativo e simbólico, o maçom como operário, como pedreiro, como construtor de um mundo novo, tolerante e pacificador, que no seu progresso espiritual, como pessoa e ser humano, recebe aumento de salário. Para concluir ele busca Deus, que é o grande construtor do mundo.

3.1.11 Em “Umbuzeiro da Saudade”

Umbuzeiro veio
Veio amigo quem diria
Que tuas folhas caídas
Tuas galhas ressequidas
Íam me servir um dia
Foi naquela manhãzinha
Quando o sol nos acordou
Que a nossa felicidade
Machucou tanta saudade
Que me endoideceu de amor
Indiscreto passarinho
Solitário cantador
Descobriu nosso segredo
Acabou com nosso enrêdo
Bateu asas e vou
Hoje vivo pelo mundo
Tal o qual o vem-vem
Sobiando o dia inteiro
Quando vejo um umbuzeiro
Me lembro de ti meu bem (Luiz Gonzaga e João Silva)

 

Nessa música, Luiz Gonzaga e João Silva retratam “os umbuzeiros… irradiantes em círculo… árvores sagradas do sertão…semelham grandes calotas esféricas. Suas flores alvíssimas são a nota mais feliz do cenário deslumbrante. Desafiando as secas mais duradouras, amparam, alimentam, abrandam a sede do homem do sertão”.

3.1.12 Em “Cajueiro Velho”

 

 

Naquele cajueiro velho
Com um canivete
Desenhei meu coração
Escreví nossas iniciais
Isto a gente faz cheio de paixão
Com uma flecha atravessada
Ficou bem gravata
Lá no cajueiro
História que a gente conta } bis
Quando se dá conta
Do amor primeiro

Ai, ai, cajueiro
Quanto tempo que já faz
Ai, ai, cajueiro
Meu desenho de amor
Não vejo mais

A gente quando nasce, nasce
Nasce outra que a gente entrega o coração
A gente fica tão feliz
Todo mundo diz com satisfação
A planta que não é regada
Fica adoentada, morre no canteiro
Assim é minha vida agora
Morro toda hora
Lá no cajueiro (Cecéu)


 

Nessa música, a autora Cecéu nos mostra que o cajueiro é uma planta que não perde totalmente as folhas durante o ano, adaptada ao crescimento a pleno sol, com nítida preferência por solos arenosos e bem drenados; ela floresce abundantemente durante os meses de junho a setembro e frutifica a partir de novembro, podendo estender-se até janeiro. Ao mesmo tempo, ela retrata a história de um amor que ficou gravado na copa do umbuzeiro que estava bastante velho.

 

3.1.13 Em “Capim Novo”

 

Nem ovo de codorna, 
Catuaba ou tiborna 
Não tem jeito não 
Não tem jeito não 
Amigo véio pra você 
Tem jeito não 
Amigo véio pra você 
Tem jeito não, não, não 
Esse negócio de dizer que 
Droga nova 
Muita gente diz que aprova 
Mas a prática desmentiu 
O doutor disse 
Que o problema é psicológico 
Não é nada fisiológico 
Ele até me garantiu 
Não se iluda amigo véio 
Vai nessa não 
Essa tal de droga nova 
Nunca passa de ilusão 
Certo mesmo é 
Um ditado do povo: 
Pra cavalo véio 
O remédio é capim novo (Luiz Gonzaga e José Clementino)

 

 

            Aqui, Luiz Gonzaga e José Clementino deixaram claro que remédios de farmácia não são os únicos a resolverem problemas sexuais de homens já com idade avançada. Porém um “capim novo” deve resolver melhor. Isso quer dizer que para homens mais velhos a solução é uma mulher nova.

 

 

3.1.14 Em “Ovo de Codorna”

 

Eu quero um ovo de codorna pra comer
O meu problema ele tem que resolver (bis)
Eu tô madurão
Passei da flor da idade
Mas ainda tenho
Alguma mocidade,
Vou cuidar de mim
Pra não acontecer
Vou comprar ovo de codorna
Pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer...
Eu já procurei
Um doutor meu amigo
Ele me falou
"Pode contar comigo"
Ele me ensinou
E eu passo pra você
Vou lhe dar ovo de codorna pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer...
Eu andava triste
Quase apavorado
Estavam me fazendo
De um pobre coitado
Minha companheira
Tá feliz porque
Eu comprei ovo de codorna pra comer
Eu quero um ovo de codorna pra comer
O meu problema ele tem que resolver (Severino Ramos)


 

 

            Ao compor essa música, Severino Ramos quis mostrar para nós que o Mestre Lua já havia passado da flor da idade. Entretanto, ele ainda tem alguma mocidade e de qualquer forma ele vai cuidar de si, isto é, cuidar de certa necessidade humana, dada biologicamente e construída socialmente. Nessa música, o autor ainda procura aproximar o conhecimento do senso comum do conhecimento científico, trazendo a figura significativa do doutor para legitimar os poderes afrodisíacos do ovo de codorna.

 

 

3.1.15 Em “Flor do Lírio”

 

Já viram
A flor do lírio como é linda
Linda, linda
Pois bem os olhos dela
São mais lindos
Muito mais ainda } bis

Eita! Que emoção danada
Que eu sinto por esta mulher
Sabendo desse meu amor
Ela faz o que bem quer
Sinto desmantelo } bis
Quando olho pra ela
Eu ainda vou morrer
Nos braços dela (Luiz Gonzaga e João Silva)

Luiz Gonzaga, nesta canção, destaca o amor que sente por uma mulher que sua beleza é comparada à flor do lírio. O lírio é uma flor bela e exuberante, pelo tamanho e variedade de cores, além de ser uma flor majestosa pelo porte e beleza. Extremamente bela para decoração de jantares e casamentos, muito utilizada para decoração.

 

3.1.16 Em “Madureceu o Milho”

 

Madureceu o milho
Fulorou algodão
Acorda São Pedro
Pra dormir São João } bis

Quando Deus mandar inverno
Sertão se balanceia
A negrada cai na farra
De sangue novo na veia
É tanto forró na terra
É tanto zuadeiro
Que parece carnaval
Lá no Rio de Janeiro

Nosso Deus mandou inverno
Quero ver animação
Juvená vai cortar lenha
Rosa vai fazer quentão
Toínha faz a pamonha
Rita faz o capilé
Todo mundo pra latada
Que hoje vai sobrar mulé (João Silva e Sebastião Rodrigues)

 

 

            Nessa música, João Silva e Sebastião Rodrigues retratam a importância do milho para os sertanejos e que o inverno quando chega anima a todos os aqueles que plantam no sertão nordestino. Então, a partir do momento que há milho, os homens e as mulheres festejam a boa nova.

3.1.17 Em “O Urubu é um triste”

 

Quem vem ao mundo marcado
Felicidade não tem
Mudar destino traçado
Ninguém consegue, ninguém

Quem nasce feio, enjoado
Tem sofrimento, tem dor
Por todos não desejado
Não tem vintém, nem amor

O urubú é um triste
Por ter nascido urubu
No mundo gente existe
Passando por cururu
O sabiá é invejado
Por ser feliz cantador
Conquistador afamado
Cantando versos de amor

O homem tem sua vida
Nas mãos de Nosso Senhor
Pra uns, estradas florida
Pra outros, só dissabor
Se a coruja um dia
Chegasse a ser beija-flor
Naturalmente eu teria
Dinheiro, paz e amor

(Nelson Valença)


 

Nelson Valença retrata o urubu, nesta música, como um animal sem sorte por ser aquele que vive a comer restos mortais e que ninguém dá valor. Algumas pessoas têm nojo da ave por ela ser assim. É uma ave de rapina que circula no ar à procura de carniça que é seu único alimento. Porém, o urubu tem um significado muito importante: representa uma pessoa muito respeitada, amigável, generosa e fácil de lidar. Mas quando o assunto é o seu dinheiro, seu tempo ou suas preocupações, nada ou ninguém é mais importante. Isso demonstra que deve aprender muito ainda sobre o crescimento da alma.

3.1.18 Em “Penas do Tiê”

 

Vocês já viram lá na mata a cantoria
Da passarada quando vai anoitecer?
E já ouviram o canto triste da araponga
Anunciando que na terra vai chover?

Já experimentaram guabiroba bem madura
Já viram as tardes quando vai anoitecer?
E já sentiram das planícies orvalhadas
O cheiro doce das frutinas muçambê ê

Pois meu amor tem um pouquinho disso tudo
E tem na boca a cor das penas to tiê

Quando ela canta os passarinhos ficam mudos
Sabem quem é o meu amor, êle é você (Heckel Tavares)

 

O Tiê é uma ave sul-americana passeriforme da família dos traupídeos reconhecida pela beleza de sua plumagem vermelha. Nessa canção, Heckel quis mostrar que a boca da sua amada tem a cor das penas do tié, pois ele tem penas lindíssimas. A plumagem do macho é de um vermelho-vivo, que lhe deu origem ao nome. Partes das asas e da cauda são pretas. A espécie apresenta dimorfismo sexual, sendo que a plumagem da fêmea é menos vistosa, de cor parda.

3.1.19 Em “Qui nem Jiló”

Se a gente lembra só por lembrar
De um amor que a gente um dia perdeu
Saudade entonce assim é bom pro cabra se convencê
Que é feliz sem saber pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade entonce assim é ruim eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer

Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz doer e amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
que vivo triste a chorar
Saudade o meu remédio é cantar
Saudade o meu remédio é cantar (Luiz Gonzaga)

 

O jiló é o fruto da planta herbácea jiloeiro, muito cultivado no Brasil. É um fruto, geralmente confundido com um legume, famoso por seu gosto amargo. Nessa canção, Luiz Gonzaga compara as dores da saudade à amargura do jiló: “ai, quem me dera voltar pros braços do meu xodó Saudade assim faz doer E amarga que nem jiló”

 

3.1.20 Em “Quero chá”

 

Morena eu quero chá, eu quero
chá, eu quero chá morena velha
eu quero chá. (bis)

Já, já, já, já morena velha eu
quero chá. (bis)

Morena eu quero chá, eu quero
chá, eu quero chá morena velha
eu quero chá. (bis)

Já, já, já, já morena velha eu
quero chá. (bis)

Pula, pula moreninha não deixa
o samba esfriar catuca Zeca do fole
para o compasso agitar
nas tanta da madrugada antes
da barra quebrar vai depressa
na cozinha e traz cházim pra
nós tomar.

Já, já, já, já morena velha eu
quero chá. (Luiz Gonzaga)


 

 

Nessa música, Luiz Gonzaga fala do chá como um calmante e o chá é uma bebida preparada através da infusão de folhas, flores, raízes de chá. Geralmente é preparada com água quente. Cada variedade adquire um sabor definido de acordo com o processamento utilizado, que pode incluir oxidação, fermentação, e o contato com outras ervas, especiarias e frutos.

 

3.1.2.1 Em “O Adeus da Asa Branca”

 

Quando o verde dos teus óio
Se espáia na prantação
Uma lágrima doída
Vai moiá todo o sertão
No cantá do assum preto
Vai se ouvir mágoas e dor
Ribaçã morrê de sede
Com sodade de douto

Foi se embora a Asa Branca
Lá pro céu ela levou
O poeta de alma franca
Que todo mundo cantou
Meu Padrinho Padim Ciço
Faça dele um acessô
Morre o homem fica o nome
E o nome dele ficou (Dalton Vogeler)

 

 

A música "O adeus da asa branca" é uma continuação da música "Asa branca", que mostra justamente a seca do nordeste, a questão da saída do sertanejo para os grandes centros urbanos e a repulsa dele em deixar suas terras e as pessoas amadas. Música essa criada em busca de protestar para chamar a atenção das autoridades para os problemas, e para o descaso do poder público com o nordeste.

 

3.1.22 Em “Erva Rasteira”

Erva rasteira
Nasceu pra ser pisada
Nasce pra ser pisada
Nasce e cresce
E morre bem embaixo
Mas o homem
Que é homem de valor }bis
Jamais se propõe
A ser capacho

É covarde aquele que cair
Por não tentar jamais se levantar
Sem ter-se os pés feridos
Em lamentos se deixa acomodar

Se um dia
Ele tenha abrir a boca
Se ver sem direito de falar
Seu destino é viver bem rente ao chão
Até que ele venha lhe tragar

Erva rasteira, erva rasteira (bis)

Erva rasteira
É que pode ser pisada
Mas descuido
Ela paga com espinho
O homem que é homem de valor
Se levanta e conquista seu caminho } bis

Erva rasteira, erva rasteira (bis) (Gonzaguinha)

3.1.23 Em “Frutos da Terra”

Esta terra dá de tudo
Que se possa imaginar
Eu e ela, ela e eu
Mão de Deus abeçoando
Eu e ela, ela e eu

Sapoti, jaboticaba
Mangaba, maracujá
Cajá, manga, murici
Cana caiana, juá
Graviola, umbu, pitomba
Araticum, araçá

Engenho Velho ô, carnaval
Favo de mel no meu quintal (bis)

O fruto bom dá no tempo
No pé pra gente tirar
Quem colhe fora do tempo
Não sabe o que o tempo dá
Beber a água na fonte
Ver o dia clarear
Jogar o corpo na areia
Ouvir as ondas do mar

Engenho Velho ô, carnaval
Favo de mel, no meu quintal (bis) (Jandhuy Finizola)


 

            Essa música é uma retratação da utilidade das frutas que a terra nos dá como as mencionadas na canção. Os frutos da terra são vistos como alimentos importantes na vida do ser humano. E, por isso, Luiz Gonzaga, ao cantar essa música de Jandhuy, soube muito bem falar sobre eles, pois ninguém melhor do que ele para mostrar a riqueza do pomar nordestino.

 

3.1.24 Em “Projeto Asa Branca”

 

Louvado seja Deus
Abençoada a canção
Louvado seja o homem
Que dá água pro sertão

Bendito foi o momento
De divina inspiração
Quando feita a conclusão
De um grande planejamento
Dia onze de dezembro
Do ano setenta e nove
Vem à tona e se promove
Uma idéia rica e franca
Marco Antonio Maciel
Criou o Projeto Asa Branca

Dia vinte e um de março
Data marcante, ano oitenta
Maciel num tempo escasso
Prevendo a seca cruenta
Na cidade de salgueiro
Promoveu o lançamento
Para o engrandecimento
Da terra em sua mensagem
Consagrou esse projeto
Pra salvação da estiagem

Parabéns sertão e agreste
Pela graça que hoje alcança
Com a cor da esperança
Toda a região se veste
Tantas obras preventivas
Por ele realizadas
Açude, barragem, estrada
Para comunicação
Prendendo as águas dos rios
Pela perenização (José Marcolino e Luiz Gonzaga)

 

 

            Nessa música, José Marcolino e Luiz Gonzaga mostram a alegria por um projeto que já estava pronto para a melhoria da estrada nordestina no governo de Marco Maciel em 1980.

3.1.25 Em “Rodovia Asa Branca”

 

Eu vi um dia
Dois homens fazer um trato
De ligar Exu ao Crato
Pernambuco ao Ceará
O homem de cá
Trabalhou chegou primeiro
E o de lá também ligeiro
Num dançou eu chego lá

Olha o homem aí
É gente da gente
Olha o homem aí
Alegre e contente

Olha os homen aí
É o povo que diz
Olha os homen aí
Juntos com Luiz

Roda, rodada
Rodando, roda rodeia
Rodovia, Asa Branca
Tá todinha prá você

Olha o homem aí....

Ei, êi...

É Asa Branca voltando
É carreta rodando
É o povo cantando
Junto com Luiz

Olha os homen aí...

Roda, rodada...

Ê,ê
Vocês precisavam também ver
Os dois homem de manga de camisa
Abraçados em cima da divisa
Pernambuco e Ceará
Naquela data tão festiva
Pareciam imitar o Patativa
Você canta lá
Que eu canto cá (Luiz Gonzaga e João Silva)

A Rodovia Asa Branca é um trecho asfaltado da BR-122, exatamente na divisa entre os Estados de Pernambuco e Ceará. Ela foi batizada assim, com o nome de Rodovia Asa Branco para homenagear o rei do baião, Luiz Gonzaga, que também estava presente à inauguração e devolveu a homenagem compondo uma música com o mesmo nome da rodovia.

3.1.26 Em “Canto do Sabiá”

Canto
Como canta o sabiá
Canta preso na gaiola } bis
Porque não sabe chorar

Oh! Minha viola amiga
Esta modinha que eu canto
Tem roupagem de cantiga
Mas seu motivo é de pranto

Há quem cante por cantar
Mas meu canto é diferente
Canto porque tão somente
Não aprendi a chorar

Tocar viola
Porque chorar não dá jeito }bis
Se fechar esta ferida
Que vive aberta em meu peito (Zé Alves Jr. e Dirceu Rabelo)

O sabiá vive originalmente em florestas abertas e beiras de campos, mas como é uma espécie bastante adaptável adentrou com sucesso nas áreas de lavoura e cidades, exigindo, porém a proximidade de água. É visto com frequência percorrendo o solo, mas nunca longe das árvores. É uma ave territorial, mas um tanto quanto tímida, e seu canto é melodioso, aflautado e frequente logo denuncia sua presença, podendo ser ouvido a mais de 1 km de distância. Entretanto, nessa música, Luiz Gonzaga mostra a importância de a ave ser livre para que seu canto seja mais bonito.

3.1.27 Em “Sabiá”

A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu)
Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu)
Tendo um coração vazio
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu)

A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu)
Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu)
Tendo um coração vazio
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu)

Tu que anda pelo mundo (Sabiá)
Tu que tanto já voou (Sabiá)
Tu que fala aos passarinhos (Sabiá)
Alivia minha dor (Sabiá)

Tem pena d'eu (Sabiá)
Diz por favor (Sabiá)
Tu que tanto anda no mundo (Sabiá)
Onde anda o meu amor
Sábia...

A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu)
Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu)
Tendo um coração vazio
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu)

A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu)
Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu)
Tendo um coração vazio
Vivo assim a dar psiu
Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu)

Tu que anda pelo mundo (Sabiá)
Tu que tanto já voou (Sabiá)
Tu que fala aos passarinhos (Sabiá)
Alivia minha dor (Sabiá)

Tem pena d'eu (Sabiá)
Diz por favor (Sabiá)
Tu que tanto anda no mundo (Sabiá)
Onde anda o meu amor
Sábia...

(Psiu, Psiu, Psiu)
(Psiu, Psiu, Psiu)

(Psiu, Psiu, Psiu)

(Sabiá)
(Sabiá)
(Sabiá)

Sabiá...

Tem pena d'eu (Sabiá)
Diz por favor (Sabiá)
Tu que tanto anda no mundo (Sabiá)
Onde anda o meu amor
Sábia... (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

O sabiá é uma ave citada por diversos poetas como o pássaro que canta o amor e a primavera. Luiz Gonzaga e Zé Dantas retratam, aqui, o sabiá como referência para chamar pelas pessoas para perguntar pelo seu amor, na esperança de encontrá-la. 

Luiz Gonzaga nos deixou, além de toda uma cultura popular muito forte, o ritmo baião, o xote, as toadas, outras tantas músicas de sua autoria como: A dança da moda, Assum preto, o xote das meninas, pau de arara, qui nem jiló, vozes da seca, entre outras.

Uma curiosidade sobre o forro do Luiz Gonzaga é que ele era tocado com sanfona, zabumba e triangulo a formação que ainda se usa atualmente.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO SOBRE OS ELEMENTOS DA FAUNA E FLORA CITADAS

 

4.1 Fauna

A fauna da caatinga do Nordeste brasileiro é bem diversificada, composta por répteis (principalmente lagartos e cobras), roedores, insetos, aracnídeos, cachorro-do-mato, arara-azul, sapo-cururu, asa-branca, cutia, gambá, preá, veado catingueiro, tatupeba, sagui-do-nordeste, entre outros animais. 

            Dentre os animais da fauna brasileira, destacam-se abaixo aqueles que Luiz Gonzaga cantou em suas músicas, para retratar a fauna do Nordeste do Brasil.

A Asa-branca ou pomba-asa-branca é também conhecida como pomba-pedrês, é uma ave columbídea endêmica da América do Sul que ocorre desde o nordeste brasileiro até a Argentina. A asa-branca vive em campos, cerrados e bordas de florestas e também em centros urbanos. Na música brasileira, este pombo e sua resistência à seca no Nordeste inspiraram Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira a criarem a música Asa Branca (FERREIRA, 1986, p. 145).

 

Figura 3: Luiz Gonzaga Canta a Fauna Brasileira

Fonte: Memorial Luiz Gonzaga

 

Assum-preto, pássaro típico da região nordestina, mais encontrado no interior. Ave bela e esguia, com boco fino e cauda mediana, era covardemente cegado pelas pessoas que sabiam que desta forma o animal no intuito de chamar outros de sua espécie, cantava mais, e seu cantar às vezes tinha ou tem, um ar de profunda tristeza, talvez por não entender porque não tem mais a sua visão.

A ave Acauã pertence à família do falcão, habita tanto as florestas úmidas quanto o Cerrado e a Caatinga e pode ser visto na região do vale do rio Paraopeba. Ela mede em torno de 46 cm, apresenta penas de cor creme, asas escuras e em torno de seus olhos há uma espécie de uma máscara negra. O Coan é uma ave caçadora que se alimenta de cobras, sendo a caça precedida de seu canto para que os demais de sua espécie saibam seu espaço de atuação.

A ave rolinha fogo pagou tem esse nome devido ao seu canto (fogo pagou), ave que ultimamente tem ganhado espaço no mercado brasileiro. É uma ave silvestre, e precisa de permissão para ser criada. Sua alimentação consiste em grãos, e algumas frutas.

A codorniz-comum, ou codorna é um membro da ordem dos galliformes. No entanto, algumas espécies do grupo dos Tinamiformes também são popularmente chamadas por esse nome. Este animal habita na Europa, e é uma ave migratória deslocando-se para o sul no verão para formar pares e reproduzir-se, voltando depois para o norte da Europa.

O urubu é popularmente chamado de urubu-rei, urubu-real, urubutinga, corvo-branco, urubu-branco, urubu-rubixá e iriburubixá, é uma ave da família Cathartidae. Habitante de zonas tropicais a semitropicais, desde o México à República da Argentina. Habita todo o território brasileiro, onde sua caça é proibida, pois é considerada uma ave importante na limpeza do meio ambiente: quando muitos animais são exterminados por doença, o urubu ajuda a controlar a epidemia comendo os animais mortos e agonizantes. Tem cabeça e pescoço nus, pintados de vermelho, amarelo e alaranjado, a parte superior do corpo amarelo-clara, esbranquiçada, asas e cauda pretas, o lado inferior branco, com plumagem branca e negra. Possui uma envergadura de 2,40 metros e peso que oscila de 3 a 5 kg, medindo cerca de 90 cm de comprimento. Na natureza, tem poucos predadores naturais, mas, devido à baixa reprodutividade da espécie e à degradação do seu habitat, é uma espécie cada vez mais rara de se observar.

            Segundo Ferreira (1986, p. 146), o tiê-sangue, é uma ave sul-americana passeriforme da família dos traupídeos reconhecida pela beleza de sua plumagem vermelha. A plumagem do macho é de um vermelho-vivo que lhe deu origem ao nome. Partes das asas e da cauda são pretas. A espécie apresenta dimorfismo sexual, sendo que a plumagem da fêmea é menos vistosa, de cor parda. O tiê-sangue é encontrado na porção oriental do Brasil, da Paraíba até Rio Grande do Sul. Vive em áreas desmatadas ou em campos sujos, capoeiras baixas e restingas. O tiê-sangue é frugívoro, tendo predileção pelos frutos da embaúba, árvore que é bastante comum em áreas em recuperação, bem como em locais próximos a cursos ou reservas de água. O tiê-sangue, apesar de não raro ser vítima de contrabando, não se encontra imediatamente ameaçado de extinção.

O sabiá é uma ave muito comum na América do Sul e o mais conhecido de todos os sabiás, identificado pela cor de ferrugem do ventre e por seu canto melodioso durante o período reprodutivo. É popular especialmente no Brasil, tendo se tornado por lei, em 2002, a ave-símbolo do país Já era símbolo do estado de São Paulo desde 1966. É citada por diversos poetas como o pássaro que canta o amor e a primavera. 

4.2 Flora

 

            A flora do Nordeste brasileiro é formada por espécies xerófitas, de formação seca e espinhosa resistente ao fogo e caducifólias, que perdem as folhas em determinada época do ano e são totalmente adaptadas ao clima seco com predominância de cactos e bromeliáceas. O extrato arbóreo apresenta espécies de até 12 metros de altura, o arbustivo, de até 5 metros e o extrato herbáceo apresenta vegetação de até 2 metros de altura. As principais representadas do reino vegetal são a aroeira, o mandacaru, o juazeiro e a amburana. E dentre as plantas que Luiz Gonzaga cantou em suas músicas estão estas:

O Juazeiro que é um membro da família Rhamnaceae, é uma árvore, em seu ambiente natural de caatinga e cerrado, de médio porte, com ramos tortuosos protegidos por espinhos. Entretanto, a espécie se adapta bem a locais mais úmidos, onde se torna árvore elegante com cerca de 15 metros de altura. Suas folhas assemelham-se às folhas de canela, exceto pelo tom verde mais claro e consistência mais membranácea. Suas flores são pequenas, de cor creme, dando origem a frutos esféricos, também pequenos, de cor amarelada, doces, com uma semente em seu interior. A árvore é reputada por diversas propriedades medicinais. Entre seus componentes químicos, destaca-se vitamina C, pó de juá, cafeína, ácido betulínico e saponinas (estas últimas consideradas tóxicas, se em grandes quantidades). O extrato do juazeiro, o juá, é empregado na indústria farmacêutica em produtos cosméticos, dentre eles xampus e cremes, bem como em cremes dentais. (HOUAISS, 2005)

A Aroeira é uma árvore de 3 a 15 m de altura, com copa arredondada. Seu tronco geralmente é curto e tortuoso, com casca externa grossa e fissurada, de coloração cinza escuro a preta, e casca interna avermelhada e com forte aroma. As folhas são compostas, alternas, membranáceas e verde-escuras. Possuem pecíolos alados, com ápice agudo, base assimétrica e nervura central proeminente na face inferior e bordos. É planta pioneira, heliófita, comum em beiras de rios, córregos e em várzeas úmidas, mas cresce também em solos secos e pobres. As flores branco-amareladas são glabras e reunidas em panículas terminais. Floresce de setembro a dezembro. Os frutos são drupas globosas, lisas, com pericarpo papiráceo-quebradiço, de coloração avermelhada. Os frutos amadurecem de dezembro a junho. Os frutos são amplamente consumidos por pássaros, o que explica sua ampla disseminação. A forma de dispersão desta espécie é zoocórica. Árvore de crescimento rápido reproduz-se por estacas de raízes e galhos. A época de frutificação é entre os meses de fevereiro e julho, e os frutos devem ser colhidos quando passarem da cor verde para róseo-vermelho-viva, não é necessário quebra de dormência. Na língua Guarani, o seu nome é yryvadja rembiu, que significa comida de tiribas. (HOUAISS, 2005)

 

Figura 4: Luiz Gonzaga – O Rei do Baião Canta a Flora Nordestina

Fonte: Memorial Luiz Gonzaga

 

A açucena é uma boa escolha entre as espécies de flores, pois é fácil de cultivar e se adapta bem a pequenas áreas. Pode ser plantada em todo o território brasileiro e em qualquer mês do ano. Além disso, têm como vantagem o rápido retorno financeiro. Existem cerca de 50 espécies de açucenas, também chamadas de Amarílis, a maior parte originária da América do Sul e muitas nativas do Brasil. Esse tipo de flor desperta grande interesse para o cultivo ornamental, mas são seus híbridos e variedades que dominam o mercado mundial de plantas decorativas. Elas podem ter pétalas simples ou dobradas, com coloração diversificada, que vai do vermelho ao salmão, passando pelo rosa e pelo branco. (HOUAISS, 2005)

A Acácia é uma planta da família das Moringáceas, mais conhecida simplesmente por Moringa, ainda que seja também vulgarmente designada como acácia-branca, cedro, moringueiro e quiabo-de-quina. Cresce principalmente em áreas semi-áridas tropicais e subtropicais. Sendo o seu habitat preferencial o solo seco e arenoso, tolera solos pobres, como em áreas costeiras. Suas mudas são obtidas através de semeadura ou estaquia de ramos com mais de 20 cm. No cultivo em larga escala, seu tronco é submetido a podas regulares de forma que sua altura não ultrapasse cerca de um metro e meio, visando facilitar a colheita das folhas. Seu crescimento é extremamente rápido, atingindo o porte arbóreo já nos primeiros meses após a semeadura. A produção de sementes se inicia no primeiro ano. Aparentemente, é nativa dos sopés montanhosos meridionais dos Himalaias. Hoje, o seu cultivo estende-se a África, à  América Central e América do Sul, Sri Lanka, Índia, México, Malásia e nas Filipinas. (HOUAISS, 2005)

O umbuzeiro é originário dos chapadões semi-áridos do Nordeste brasileiro; nas regiões do Agreste (Piauí), Cariris (Paraíba), Caatinga (Pernambuco e Bahia) a planta encontrou boas condições para seu desenvolvimento encontrando-se, em maior número, nos Cariris Velhos, seguindo desde o Piauí à Bahia e até norte de Minas Gerais. No Brasil colonial era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber". Pela importância de suas raízes foi chamada "árvore sagrada do Sertão" por Euclides da Cunha. O umbuzeiro é uma árvore de pequeno porte em torno de 6m de altura, de tronco curto, esparramada, copa em forma de guarda-chuva com diâmetro de 10 a 15m projetando sombra densa sobre o solo, vida longa (100 anos), é planta xerófila. Suas raízes superficiais exploram 1m de profundidade, possuem um órgão (estrutura) - túbera ou batata - conhecida como xilopódio que é constituído de tecido lacunoso que armazena água, mucilagem, glicose, tanino, amido, ácidos, entre outras. O caule, com casca cor cinza, tem ramos novos lisos e ramos velhos com ritidomas (casca externa morta que se destaca); as folhas são verdes, alternas, compostas, as flores são brancas, perfumadas, melíficas, agrupadas em panícula de 10-15 cm de comprimento. (DONATO, 1996)

O cajueiro, nome científico Anacardium occidentale, da família Anacardiaceae, é uma planta originária do norte e nordeste do Brasil, com arquitetura de copa tortuosa e de diferentes portes. Na natureza existem dois tipos: o comum e o anão. O tipo comum pode atingir entre 5 e 12 metros de altura, mas em condições muito propícias pode chegar a 20 metros. O tipo anão possui altura média de 4 metros. (CLÁUDIO, 2005)

O capim é uma planta anual capaz de se desenvolver em todos os tipos de solos. Reprodução por semente ocorre enraizamento através dos nós presentes nos colmos, quando em contato com o solo. Planta herbácea, reta e sem pêlos, com altura entre 20 e 60 cm. No Brasil, é comumente encontrado na região Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste, e, com baixa frequencia, no Rio Grande do Sul. É um coleótipo em forma de lança, com coloração violácea. A bainha é compacta, podendo apresentar pêlos no ápice, e margens arroxeadas. Suas folhas estão presentes em grande quantidade e distribuídas sobre os colmos. Lâmina foliar plana, com pêlos na parte de cima e lisa na parte de baixo. Medem de 10 a 30 cm de comprimento por 5 a 10 cm de largura. Bainha lisa ou com pequena quantidade de pêlos marginais na parte superior com anéis de pêlo branco. Existem vários tipos de capim, inclusive os que servem para fazer chá como o capim limão, o cidreira, entre outros e, por isso, Luiz Gonzaga fala nele referindo-se ao fato de que “pra cavalo velho, o remédio é capim novo”.

O lírio é o nome dado às flores do gênero Lilium L. da família Liliaceae, originárias do hemisfério norte com ocorrências na Europa, Ásia e América do Norte. Mais da metade das espécies são encontras na China e no Japão . As plantas atingem, normalmente, de 1,20 a 2 metros de altura. Várias espécies de lírios também recebem o nome de açucena. Lírio é também a denominação genérica de várias plantas da família das Liliáceas e Amarilidáceas. Os lírios representam o verão e a fartura, e significam o amor eterno e também significam a pureza.

O milho (Zea mays), também chamado abati, auati e avati, é um conhecido cereal, cultivado em grande parte do mundo. O milho é extensivamente utilizado como alimento humano ou ração animal, devido às suas qualidades nutricionais. Todas as evidências científicas levam a crer que seja uma planta de origem mexicana, já que a domesticação começou 7.500 a 12.000 anos atrás na área central do Mesoamérica. É um dos alimentos mais nutritivos que existem, contendo quase todos os aminoácidos conhecidos, sendo exceções a lisina e o triptofano. Tem um alto potencial produtivo e é bastante responsivo à tecnologia. Seu cultivo geralmente é mecanizado, se beneficiando muito de técnicas modernas de plantio e colheita. Produção mundial foi 817 milhões de toneladas em 2009-mais que arroz (678 milhões de toneladas) e trigo (682 milhões de toneladas), com 332 milhões de toneladas produzidas anualmente somente nos Estados Unidos.[2].O milho é cultivado em diversas regiões do mundo. O maior produtor mundial são os Estados Unidos. No Brasil, que também é um grande produtor e exportador, o Paraná é o maior estado produtor, com cerca de 27 por cento da produção nacional, seguido de Mato Grosso. (FAOSTAT, 2009)

O jiló (Solanum gilo) é o fruto da planta herbácea jiloeiro, muito cultivado no Brasil. É um fruto, geralmente confundido com um legume, famoso por seu gosto amargo. É famosa a canção de Luiz Gonzaga, "Que nem Jiló", em que ele compara as dores da saudade à amargura do jiló. É o fruto do arbusto jiloeiro ramificado, que pode atingir entre um e 1,5 metros de altura. Seus ramos são verdes, cilíndricos e alongados, tem folhas de formato oblongo, recobertas por pelos, principalmente na lauda inferior. Suas flores são brancas, dispostas de duas a três, em pequenos racemos com pedúnculo curto. O fruto pode ser oblongo, alongado ou quase esférico, conforme a variedade, de coloração verde-clara ou escura e peso de catorze a dezessete gramas. O jiló contém,  proteínas, sais minerais como cálcio, fósforo e ferro e as vitaminas B5 e C. A vitamina C contida no jiló é perdida com o cozimento. (HOUAISS, 2005)

 

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

 

Após realização de entrevistas com 50 (cinquenta) pessoas sobre Luiz Gonzaga, obtiveram-se os seguintes resultados:

Quanto à pergunta 1: Você conhece a história de Luiz Gonzaga? 90% dos entrevistados responderam que sim, conhece a história de Luiz Gonzaga, 10% dos entrevistados responderam que não, não conhece a história de Luiz Gonzaga.

 

Figura 1: Quanto à História de Luiz Gonzaga

 

Luís Gonzaga do Nascimento, ou simplesmente, Luiz Gonzaga, era filho do sanfoneiro Januário, que tocava em bailes e, nas horas vagas, consertava sanfonas. Foi com o pai, aliás, que aprendeu a tocar o instrumento, levando a alegria da música nordestina aos quatro cantos do País.

Quanto à pergunta 2: Tem conhecimento das músicas de Luiz Gonzaga? 90% dos entrevistados responderam que sim, têm conhecimento das músicas de Luiz Gonzaga, 10% dos entrevistados responderam que não, não têm conhecimento.

 

Figura 2: Quanto ao conhecimento das músicas de Luiz Gonzaga

Houve um momento na carreira em que Luiz Gonzaga criou músicas mais politizadas, que denunciavam o abandono do povo. Mas, sem importar o conteúdo, o que chamava a atenção das canções era o ritmo contagiante do baião, que viveu sua época de ouro até 1954, quando era enorme a popularidade de Luiz Gonzaga.

Quanto à pergunta 3: Gosta das músicas do Rei do Baião? 90% dos entrevistados responderam que sim, gostam muito das músicas do Rei do Baião, 10% responderam que não, não gostam das suas músicas.

 

Figura 3: Quanto ao gosto pelas músicas do Rei do Baião

Gostar das músicas do Rei do Baião é saber valorizar a rica cultura brasileira, pois elas apresentam toda uma história dos nordestinos e dos sertanejos sofredores.

Quanto à pergunta 4: Você acha que as músicas de Luiz Gonzaga são expressões populares do Nordeste brasileiro? 100% dos entrevistados responderam que sim, acreditam que suas músicas sejam expressões populares do Nordeste brasileiro.

 

Figura 4: Quanto às músicas de Luiz Gonzaga serem expressões populares do Nordeste brasileiro

 

Quanto à pergunta 5: Acredita que a música Asa Branca foi a mais famosa do Rei do Baião? 100% dos entrevistados responderam que sim, acreditam que essa música tenha sido a mais famosa do Rei do Baião.

 

Figura 5: Quanto à música mais famosa do Rei do Baião

Autêntico representante da cultura nordestina manteve-se fiel à suas origens mesmo seguindo carreira musical no sul do Brasil. O gênero musical que o consagrou foi o Baião. A canção emblemática de sua carreira foi Asa Branca, que compôs em 1947, em parceira com o advogado cearense Humberto Teixeira.

Quanto à pergunta 6: Tem conhecimento da fauna e da flora cantadas pelo Rei do Baião? 90% dos entrevistados responderam que sim, têm conhecimento da fauna e da flora cantadas pelo Rei do Baião; 10% responderam que não, não têm conhecimento.

 

Figura 6: Quanto ao conhecimento da fauna e da flora cantadas pelo Rei do Baião

 

A fauna e a flora cantadas pelo Rei do Baião traz para todos os indivíduos a realidade brasileira e nordestina, isto é, os animais que ainda são expressões do sertão e as plantas que ainda são cultivadas pelos sertanejos.

Quanto à pergunta 7: Conhece os animais que ele retrata em suas músicas? 90% dos entrevistados responderam que sim, conhecem os animais retratados por Luiz Gonzaga em suas músicas; 10% responderam que não, não conhecem.

 

Figura 7: Quanto aos animais retratados nas músicas de Luiz Gonzaga

Os animais retratados em suas músicas são símbolos expressivos do sertão nordestino e Luiz Gonzaga fez com que todos eles fossem lembrados e até respeitados no sertão.

Quanto à pergunta 8: Conhece as plantas retratadas por Luiz Gonzaga em suas músicas? 90% dos entrevistados responderam que sim, conhecem as plantas retratadas por Luiz Gonzaga em suas músicas; 10% responderam que não, não conhecem as plantas retratadas por ele.

 

Figura 8: Quanto às plantas retratadas nas músicas de Luiz Gonzaga

A plantas retratadas por Luiz Gonzaga em suas músicas são simplesmente meios de o sertanejo mostrar que elas são importantes para a criação do gado e para outros fins peculiares do sertão.

Quanto à pergunta 9: Acredita que Luiz Gonzaga sempre será lembrado por todos os nordestinos brasileiros? 100% dos entrevistados responderam que sim, Luiz Gonzaga sempre será lembrado por todos os nordestinos brasileiros em especial os sertanejos.

 

Figura 9: Quanto ao fato de Luiz Gonzaga ser lembrado por todos os nordestinos brasileiros

 

Luiz Gonzaga sempre será lembrado por todos os nordestinos brasileiros porque todas as suas músicas falaram e ainda falam da vida real do sertanejo, da seca do Nordeste e de tudo o que faz parte do Brasil.

Quanto à pergunta 10: As músicas do Rei do Baião são importantes para a cultura brasileira? 100% dos entrevistados responderam que sim, as músicas do Rei do Baião são importantes para a cultura brasileira.

 

Figura 10: Quanto às músicas do Rei do Baião serem importantes para a cultura brasileira

As músicas do Rei do Baião são e sempre serão importantes para a cultura brasileira, pois elas têm a riqueza da cultura do Nordeste e do sertão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É sabido que a fauna tem importância fundamental no equilíbrio dos ecossistemas em geral, pois muitos animais são vitais à existência de muitas plantas, pois se constituem no elo de procriação já que são seus agentes polinizadores, como no caso dos beija-flores, insetos como borboletas, besouros etc.

A cultura nordestina é bastante diversificada, seja nos costumes, na culinária ou nas músicas que sempre chamaram a atenção de pessoas de outras regiões e também de outros países. Porém, o que mais se destaca na região é a música com seus diversos estilos, variando de axé à forró pé de serra. Mas dentre os estilos e os artistas, um artista se destacou não só no país, mas fora, o conhecido por todos como o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Ele marcou a história do Nordeste e da música, é graças à ele que o forró é um dos estilos musicais mais conhecidos, não só na região. Os ritmos dançantes e as letras que sempre chamaram atenção por representarem à sua visão sobre o Nordeste foi o ponto crucial para toda sua carreira.

Foi Luiz Gonzaga, junto com seus poetas como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira e muitos outros que divulgaram o sertão nordestino que está na imaginação do povo brasileiro. Mas, pintores como Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna, se somaram nessa divulgação, mas como uma crítica à crueldade da fome e da sede que pairavam sobre o semiárido.

A música de Gonzaga continua viva por ser uma obra prima da cultura popular, mas a nossa realidade mudou. Há muito pelo caminho, mas grande parte desse caminho foi feito. Gonzaga gostaria de ver a volta de grande parte dos migrantes nordestinos para o Nordeste.

É notório que as pessoas ainda curtem muito o Rei do Baião, valorizando que há de melhor no Nordeste brasileiro através das músicas desse pernambucano que muito marcou a cultura nordestina.

 

 

 

7 REFERÊNCIAS

ÂNGELO, Assis. Eu Vou Contar Pra Vocês. São Paulo: Ícone, 1990.  Luiz Gonzaga: Vozes do Brasil. São Paulo: Martin Claret, 1990. 

CLÁUDIO, Manoel. 100 Árvores do Cerrado. Guia de Campo: Rede de sementes do cerrado, 2005

DONATO, A. A "árvore sagrada do sertão" precisa ser preservada. Integração, v.4, n.26, p.16-18, mar./abr. 1996.

DREYFUS, Dominique. Vida do Viajante: A saga de Luiz Gonzaga. Vozes do Brasil. 2 ed. São Paulo: 34, 1997. 

FAOSTAT. Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, 2009. Web. Texto extraído do site www.cnpms.embrapa.br em 06 de novembro de 2012.

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

HOUAISS, Antônio; Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; Lisboa; Temas e Debates; 2005.

OLIVEIRA, Gildson. Luiz Gonzaga: o matuto que conquistou o mundo. Recife: Comunicarte, 1991.

REZENDE, Maria José de. Os sertões e os (des)caminhos da mudança social no Brasil. Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 201-226, nov. de 2001

SANTOS, José Farias dos. Luiz Gonzaga: a música como expressão do Nordeste. São Paulo: IBRASA, 2004.

TRAVASSOS, Elizabeth. Modernismo e música brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000