A ESPIRITUALIDADE NA FORMAÇÃO DOCENTE[1]

 

Douglas Gonçalves Marques Neves

Pós-Graduado em Docência Universitária pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP-EC.

Pós-Graduado em Teologia Bíblica pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP-EC.

Graduado em Teologia na Universidade Adventista de São Paulo, UNASP/EC.

 

Resumo: Este artigo descreve a relevância da dimensão espiritual dentro da realidade social em que se vive no mundo pós-moderno. Sociedade onde se destaca o materialismo, imediatismo, relativismo e o hedonismo e, consequente os valores morais e espirituais tem sido desmerecidos, senão esquecidos. É diante deste quadro triste que o profissional da educação pode fazer a diferença. Como formadores de opinião e influenciadores de pessoas podem contribuir para um quadro diferente. Mas para que isto seja de fato efetivado a espiritualidade tem o seu lugar de importância dentro dos parâmetros curriculares na formação docente. Uma vez que, consciente ou não, todos os profissionais utilizam esta dimensão em sua vida. E ela nortea a execução de todas as demais dimensões. Com uma formação mais integral e com a inserção da espiritualidade o docente será capaz de revolucionar a sua prática pedagógica gerando seres com capacidade crítica que pense e reflita sobre a construção de sua própria identidade e autonomia e, acima de tudo, contribua para a resolução de problemas atuais.

 

Palavras- chave: Educação; Espiritualidade; Docente.

 

Abstract: This article describes the relevance of spiritual dimension into the social reality in which they live in the postmodern world. Society that stands out the materialism, immediacy, relativism and hedonism, and consequently the moral and spiritual values have been lightly esteemed, if not forgotten. Is in the face that the framework in the face of this professional education can make a difference. As opinion formers and influencers of people can contribute to a different frame. But for this to be truly effective the spirituality has its place of importance in the curricular parameters in teacher training. Once that, consciously or not, all professionals use this dimension in their lives. And it guides the execution of all other dimensions. With more training and integral with the insertion of spirituality the teacher will be able to revolutionize his pedagogical practice generating beings with the ability to think critically and reflect on the construction of their own identity and autonomy and, above all, contribute to the resolution current problems.

 

 

Key words: Education, Spirituality, teaching.

 

Introdução

 

Hoje se percebe sem dificuldades a busca desenfreada pela espiritualidade. Isto se dá de várias maneiras e em diversos lugares. A explicação para este fenômeno se encontra no nascimento da ciência moderna. Guerreiro (2004) coloca que esta busca fora provocada pela crise da modernidade. Segundo ele, a natureza fora dessacralizada pela ciência e pelo progresso tecnológico resultando em um ateísmo desenfreado e no predomínio do racionalismo. Sendo assim, a modernidade caracterizou-se pela razão cartesiana.

Venturella (2004, p. 26) sublinha que o sistema cartesiano de conhecimento influenciou, quer sejamos cônscios ou não, a nossa ciência, a nossa cultura, a nossa sociedade e a nossa educação. O sistema cartesiano, segundo a autora, fundamenta-se em três pressupostos principais:

  • O racionalismo, onde a razão é suprema, a única capaz de desvendar e chegar ao verdadeiro conhecimento.
  • A neutralidade do sujeito, ou seja, a separação entre aquele que estuda do objeto em estudo;
  • E a fragmentação, ou seja, a divisão de toda a dificuldade em fases de estudo no maior número de partes constituintes possíveis para então investiga-las;

De acordo com Venturella este modelo cartesiano que desconsidera o sujeito tem alcançado o nosso século em todos os setores da vida e, inclusive no modelo de educação. Devido a isso, hoje se presencia uma deficiência na visão do indivíduo como um todo, como um ser integral. A autora não desconsidera os avanços tecnológicos e científicos resultantes do modelo cartesiano de pensar e conhecer, mas a questão em pauta é a desconsideração dentro deste sistema do desenvolvimento integral do sujeito.

Cavalcanti (2004, pp. 89-90) nos menciona que na época da ciência moderna houve uma dificuldade na conciliação do mundo cientifico com o mundo espiritual, desta forma, o desenvolvimento da ciência no Ocidente se fez a margem da visão espiritual, mas focado no racionalismo e mecanicismo materialista. E esta maneira de ver o mundo, a despeito do espiritual, influenciou sobremodo os valores humanos conduzindo-os a objetividade, a neutralidade, o distanciamento e a impessoalidade.

Rocha (2004, p. 02) nos pondera que em nossa cultura, desde então, se valoriza o TER em vez do SER. Uma sociedade que repousa em uma visão materialista e consumista, onde se valoriza o que se tem em detrimento do nível de desenvolvimento pessoal, assim, o ser humano vive alienado de si mesmo, em uma corrida competitiva por posições. Todos estes fatores sociológicos tem gerado uma sociedade angustiada, cansada, repleta de problemas psicossomáticos que muitas vezes são insolúveis. O mundo vive em busca do sentido da vida, mas como geralmente ele não o encontra, então o mundo ameniza sua ânsia no consumismo. É uma forma de aliviar suas dores, porém tudo isto maximiza os seus problemas criando um vazio existencial redundando em suicídios, crimes e etc. É dentro deste contexto social que se faz necessário a busca urgente da espiritualidade na formação docente e na educação.

Definição de Espiritualidade

            Como definir “Espiritualidade”? Zilles (2004, p. 10) nos coloca que quando se indaga aos filósofos e teólogos sobre a conceituação ou definição de Espiritualidade se obtém várias respostas, porém, evasivas ou vagas. A causa segundo o autor seria o medo de equivocar-se. Este fato denota a dificuldade de se estabelecer uma definição do termo. Embora isto seja um fato, o termo é amplamente usado em todos os meios sociais. Rocha (2004, p. 03) nos coloca que quando se fala:

Em dimensão espiritual, ou espiritualidade, não nos referimos necessariamente à religião ou ensino religioso. Ao nosso ver, embora religião sempre envolva a espiritualidade e/ou a dimensão espiritual do indivíduo, a dimensão espiritual e a espiritualidade nem sempre envolvem uma manifestação religiosa.

 

A autora faz clara distinção entre os aspectos religiosos e a espiritualidade. A espiritualidade não envolve um conjunto de regras, rituais e liturgias, ela não é uma doutrina que possa ser ensinada, mas nasce e se desenvolve no interior de cada indivíduo. A espiritualidade determina a forma com que se vê a vida e como se lida com os problemas que vêm imprevisivelmente.

Müller (2004, p. 08) assegura que é viver com o espírito, é ser total, é viver segundo a dinâmica da própria vida. É olhar de modo diferente tudo na existência e como consequência construir sua própria imagem integra e sua relação com tudo que o cerca.

Venturella (2004, p. 27) nos faz uma análise etimológica da palavra. Segundo ela, o termo deriva da palavra espírito em latim spiritus, que tem o significado de sopro de vida. Assim, esse termo designaria a energia e a força vital que traz ânimo aos seres vivos. Esse termo, originalmente, não admite a ideia de algo distinto e separado do corpo, mas perfaz uma parte integral do ser. Diante desta análise a autora conceitua espiritualidade como “a vivência integral da dinâmica da vida, a consciência do ânimo e da energia de cada ser, em seu movimento e suas relações com o Universo”. Assim, a espiritualidade seria a maneira de ser e de se viver, de perceber o mundo e compreendê-lo de modo pleno e integral.

Arruda (2005, pp. 51-52) nos define espiritualidade como sendo “a qualidade do que é espiritual e espiritual é o que diz respeito ao espírito; incorpóreo; místico, devoto; relativo à religião”. Assim, para ele “é a essência do homem, é o seu ser, é a maneira de se comportar, agir e pensar”.

O que Zilles (2004) nos coloca sobre a dificuldade de conceituar o termo é uma realidade, é muito difícil definir espiritualidade com a mentalidade do século XXI, pois cada mente é carregada de seus pressupostos filosóficos e isto influencia no momento de expor uma definição. E de acordo com Zilles (2004) para entender amplamente o tema faz-se necessário uma volta ao passado. Embora não se encontre o termo “espiritualidade” sendo usado pelos pesquisadores e pessoas, mas se encontra em suas manifestações. Desta forma, segundo ele o que se observa é indivíduos desenvolvendo meios para com todo o seu ser encontrar o ser divino fora de si, pois ele é transcendente. Assim, locais de culto, rituais, e muitos outros são formas de ajudar as pessoas a experimentarem este encontro.

O autor continua nos dizendo que os meios foram mudando com o passar dos séculos, as mudanças sociais também influenciaram o desenvolver da espiritualidade. Sua origem era a busca pelo divino, hoje é o encontro com o seu próprio interior, uma ligação com o Cosmo Assim, esta evolução do comportamento espiritual é um reflexo das concepções teológico-filosóficas de uma determinada época. 

Portanto, neste artigo se considerará esta evolução etimológica da palavra “Espiritualidade”, e desta forma, se definirá espiritualidade em conformidade com tudo o que foi falado. Sendo assim, espiritualidade não é “a exclusão da materialidade, mas a relação ou união do homem todo – corpo e alma” (Zilles, 2004, p. 13) – com o ser transcendente, Deus. São os meios que o homem desenvolve para este fim e a manifestação do resultado obtido pelo desenvolver desta espiritualidade no meio em que vive (família, comunidade e a sociedade). 

 

A Existência de uma Espiritualidade

 

A espiritualidade em todo o seu curso histórico tem se demonstrado muito mais ampla e necessária à raça humana. Ela não é só a essência do ser, ela é tudo isto, é a dinâmica da vida e todas as características citadas no tópico anterior, mas é toda esta estrutura em busca de algo maior, em busca do transcendente.

O Dr. Andrew Newberg (2006, pp. 34-35), especialista em neurofisiologia da experiência religiosa, desenvolveu uma pesquisa com a ajuda de tomografias computadorizadas sobre a manifestação religiosa no Cérebro. Os resultados foram surpreendentes. Toda a estrutura cerebral foi desenvolvida para a experiência espiritual.

Segundo ele os benefícios são elucidados não por uma religião específica, mas pelas práticas religiosas, como a oração e a meditação. Como profissional na área da saúde, ele defende que os profissionais desta área deveriam estudar teologia e os princípios de religiões para estarem mais aptos a ajudarem seus pacientes. Newberg afirma que a ciência terá muita dificuldade em tentar provar a existência ou a inexistência de Deus, mas o que ele deixa claro é que “o conceito de Deus é fundamental para a sobrevivência da espécie humana.”

O que Dr. Newberg descobriu em experimentos tecnológicos na mente humana está amplamente documentados na literatura médica. Hoje se comprova “a interação entre mente e corpo, e a influência da espiritualidade sobre parâmetros de saúde” (FARRA; GEREMIA, 2010, p. 591). “O paciente desenvolve um sistema de crenças e valores otimistas que lhes fornecem um significado para a vida”. (DALFARRA; GEREMIA, 2010, p. 589). Seus estudos demonstraram que “o cuidado espiritual promove a maximização das potencialidades das pessoas, valorizando suas capacidades, renovando as esperanças e trazendo uma paz interior que lhes permite lidar com seus problemas de modo mais saudável”. (2010, p. 592). Logo, a “ideia de que a ciência e a espiritualidade são áreas antagônicas já faz parte do passado” (Müller, 2004, p. 8).  Desta forma, entende-se “que há a necessidade de se tratar de uma relação com o Divino, com uma força que transcende a realidade e por isso permite que não neguemos a existência de Deus, mas deixar que cada indivíduo opte por como irá definir essa relação”. (VIEIRA, p. 06).

Considerar esta dimensão humana é ratificar a visão adotada pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI:

 

A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças à educação que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida.

           

Sendo assim, se espera muito mais da verdadeira educação. Segundo White (2007, p. 13), a verdadeira educação:

 

Significa mais do que a prossecução de um certo curso de estudos. Significa mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo. Todo o período da existência possível do homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais.

 

Espiritualidade e a Formação Docente

 

Tendo como pano de fundo a sociedade pós-moderna, que vive entre uma turbulência ideológica, com uma gama de opções de pensamentos e filosofias onde não fornece bases seguras e únicas de valores, como isto interage com a identificação pessoal e profissional de uma pessoa? É lógico que tudo isto influencia a formação de qualquer profissional inclusive o profissional da educação. Mas como?

Busca-se a formação do educador em cima de grandes nomes filosóficos uma formação mais secular funcionando ainda no sistema cartesiano, uma racionalidade fragmentada. E esquece-se que o educador também é um ser holístico, portanto, todas as dimensões de seu ser perfaz o sistema de aprendizagem em sua formação e inevitavelmente transporá na sua prática pedagógica. Ou seja, não tem como se separar as diversas áreas de atuação profissional das áreas de formação do professor, ambas são interdependentes. (VIEIRA, 2004, P. 10-12).

Gursdorf (1970, p. 50) citado por Vieira (2004, p. 10) nos coloca que “tal sistema é desumano porque ninguém, dentre os professores, preocupa-se ou tem a seu cargo uma educação da alma. Cada um tenta realizar a sua missão segundo sua consciência profissional”. Esta declaração só evidencia o abandono desta área na formação profissional do educador, uma vez que a espiritualidade influencia toda a vida de uma pessoa inclusive a identidade profissional.

Esta questão da:

 

Formação docente é antiga e, ao mesmo tempo, atual: antiga, pois, em toda a nossa história da educação tem sido questionada a maneira como são formados nossos professores; atual porque, nos últimos anos, a formação do professor tem se apresentado como ponto nodal das reflexões sobre qualidade do ensino, evasão e reprovação. (PLACCO E SILVA, 2007, p. 25)

 

E em todo este processo de questionamentos e reflexões a pauta sempre tem sido as competências que se esperam dos profissionais. As dimensões de sua formação: técnico-científicas (domínio do conteúdo da matéria), formação continuada (continuar pesquisando), trabalho coletivo e construção coletiva do projeto pedagógico (trabalhos junto aos alunos e com os trabalhos e filosofia da escola), saberes para ensinar (todo o contexto do aluno e das didáticas apropriadas para a sua aprendizagem), crítica-reflexiva (avaliação do trabalho desenvolvido e a busca por novos métodos) e a avaliativa (que interpreta todas essas dimensões da formação) (PLACCO E SILVA, 2007, pp. 26-28) são sempre levantadas.

É lógico que tudo isto tem seu lugar na formação docente, são relevantes e fundamentais e devem ser consideradas quando se trata da identidade profissional do professor. Mas como discutido por Vieira (2004, p. 11) Placco e Silva não adentraram “a dimensão que é considerada aqui essencial para os professores, a da espiritualidade. Pois, entende-se que a dimensão da espiritualidade é aquela que confere sentido último à vida. Pode-se considera-la como uma supradimensão que reúne as demais sob si”.

Hoje se fala mais amplamente sobre a educação integral. Educação que considere todas as dimensões do ser (razão, corpo, emoção, espírito). Porém como nos ressalta Vieira (2004, p. 10):

Até os currículos e planejamentos começaram a incluir conteúdos atitudinais, conceituais, factuais e procedimentais, deixando, contudo, de se preocupar com a formação da espiritualidade e das emoções. A espiritualidade ficaria a cargo das igrejas e as emoções com o psicólogo. 

 

Não se aspira que o professor na dimensão da espiritualidade se torne um missionário, mas que nesta dimensão ele tenha condições de refletir sobre si, sua missão como educador, criador de opiniões e neste processo considere o educando não como mero produto, mas como um ser que pode influenciar o mundo ao seu redor.

Tomando como parâmetro desta reflexão os quatro pilares da educação estipulados pela Comissão Internacional de Educação para o Século XXI e assumidos oficialmente pela UNESCO a partir de 1996 temos: 1) aprender a conhecer: adquirir instrumentos da compreensão; 2) aprender a fazer: para poder agir sobre o meio envolvente; 3) aprender a viver juntos: participação e cooperação em todas as atividades humanas e 4) aprender a ser: este nível requer a integração de todos os outros pilares da educação, aqui se busca “uma experiência global que leva a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo e no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade” (DELORS,1996, p. 90) . 

O processo da educação que se requer para o Século XXI é muito mais abrangente do que se tem colocado na formação docente, mas embora ainda haja esta deficiência no processo de formação, as competências são sempre requeridas dos profissionais. Assim:

                       

Ser professor, face a tantas exigências políticas, sociais e profissionais que são impostas no exercício da profissão, requer uma diversidade de saberes que vão muito além de uma formação acadêmica. O exercício da docência no panorama educacional da atualidade, requer uma gama de qualidades pessoais e interpessoais que possam contribuir para uma prática de ensino personalizada, motivadora e sucessora, que só a formação continuada pode compor e, contudo, ainda não é efetiva, em grande parte das instituições educativas [...] uma formação continuada, voltada para o desenvolvimento de concepções realistas sobra as qualidades pessoais e profissionais, proporciona a satisfação, o bem-estar profissional do docente e promove uma elevação no seu nível de motivação. (SANTOS; ANTUNES E BERNARDI, 2008, p. 52).

 

Diante desta realidade “o resgate da espiritualidade na educação, dentro da perspectiva aqui discutida, se faz necessário para que possamos contribuir para a transformação do triste cenário de sofrimento e miséria humana” que se vivencia hoje. Sendo assim, esta espiritualidade deve perfazer todo o currículo da formação docente e a sua prática dependerá da capacidade do professor e vive-la em seu cotidiano educacional, bem como em toda a sua vida social (ROCHA, p. 11).

            Esta inserção da espiritualidade no currículo ganha importância na escola confessional. Como a filosofia é cristã, o enfoque na espiritualidade sobressai. Embora ele não seja formado pela instituição em que trabalha, ele é moldado pelo contato com as filosofias e ideologias da mesma, seja, rejeitando ou aceitando, e em todas as negociações desenvolvidas. E os professores que são inseridos dentro do processo adquire a ampliação do seu saber para toda a vida. Mas, e aquele profissional que não foi incluso em um sistema assim, e que não teve contato curricular a um desenvolvimento espiritual, uma vez que este profissional também terá que lidar com esta dimensão em sua vida acadêmica? Conscientes ou não, todos lidam com esta dimensão (VIEIRA, 2004, p. 12).

            É neste víeis entre as trocas de informações entre a instituição e o profissional que a identidade deste vai sendo formada e aprimorada. Uma vez que ele é admitido em uma escola confessional, o professor necessita sentir as filosofias e as crenças da instituição, e desta forma, ele passa a ter condições de observar, conhecer e desenvolver a crítica dos pressupostos da escola e apropriar-se sobre eles até torna-los experiências vivenciadas de aprendizagem. A relevância disto se encontra que em cada sala de aula o professor é aquele que coloca diante dos alunos a filosofia da escola. Por isso, a instituição confessional ou não deve fortalecer suas crenças para que não surja o medo dos questionamentos, mas que seja um instrumento para que conscientemente e fortemente promova as identidades tanto da escola quando do educador. (VIEIRA, 2004, 13).

            Uma vez que o professor entende e trabalha coerentemente com as filosofias da instituição e, isto se dá porque ele entende a razão de sua existência, influenciará diretamente sobre como ele executará as suas funções, com tentará desenvolver seu crescimento pessoal nas outras dimensões requeridas do professor: humano-interacional, afetiva, ética, técnica e estética (VIEIRA, 2004, p. 13).

            Portal; et al (2006, p. 11) realizou uma pesquisa sobre a prática docente e a inteligência espiritual e o resultado a que chegaram contribui grandemente para a discussão deste tópico do trabalho: “conclui-se existir uma relação inequívoca entre a Prática Docente Bem Sucedida e a Inteligência Espiritual Ampliada”. Mas, como trabalhar esta questão no ambiente de trabalho? Esta problemática será abordada no próximo tópico?

 

A Espiritualidade e a Prática Docente

 

Tão importante quanto o debate teórico do assunto da espiritualidade é a sua aplicação no âmbito de trabalho. Por isso, este capítulo visa responder a questão levantada no tópico anterior: como trabalhar a espiritualidade no ambiente de trabalho?

Rocha (2004, pp. 4-10) enumera alguns temas relacionados à aplicabilidade da espiritualidade na prática docente, onde ela estaria relacionada com:

 

  • O desenvolvimento do autoconhecimento, autocontrole e uma forma de se “SER” e estar no mundo coerentemente com o que realmente acreditamos;
  • A capacidade de se viver inteiramente o momento o presente;
  • A busca da transcendência e do transcendente;
  • Um senso de conexão com o próximo e com o meio Ambiente;
  • Um Senso de abertura para a vida, renovação de nossa vitalidade e resgaste de um sentido para viver;
  • O desenvolvimento de valores humanos universais;

 

Em síntese, uma busca efetiva por uma espiritualidade relevante redundará em melhorias consigo mesmo, com o transcendente (Deus) e com o próximo. Pois, esta transcendência, seria o ser humano sair de seu mundo interior para se comunicar com o mundo externo no sentido vertical (com o transcendente) e no horizontal, com as outras pessoas. Neste último, muitas vezes se faz necessário transcender níveis quase intransponíveis como: limitações pessoais, preconceitos, culturas e outras.

Dada a importância desta prática na vida cotidiana de cada docente, será delineado algumas sugestões de como esta concepção de espiritualidade pode ser trabalhada no âmbito escolar (ROCHA, 2004, pp. 11-12):

 

  • Transparecer um nosso cotidiano uma vida mais focalizada no desenvolvimento interior e na qualidade de nossas relações com as pessoas que nos cercam: os companheiros de trabalho, em qualquer nível que estejam, bem como, com os alunos;
  • Entender que o materialismo conduz ao consumismo, e assim, ao desenvolvimento da impessoalidade;
  • Promover um senso crítico nos alunos, a fim de enxergarem seu potencial, possibilidades, necessidades e propósitos na vida, o que geralmente é ofuscado pelas influências socioculturais;
  • Gerar nos alunos reflexões para desenvolver neles sua verdadeira identidade e encontrar respostas aos dilemas que encontram em suas vidas;
  • Criar neles a contemplação e a valorização do que belo, e que se encontra em nossa volta (o nosso mundo e as pessoas);
  • Leva-los ao contato com várias culturas para apreciarem as diferenças e desenvolver a criatividade por meio de obras artísticas;
  • Promover dinâmicas e atividades que promovam o que autoconhecimento, autocontrole e harmonia em que acredita e vive;
  • Trabalhar a elaboração de valores humanos universais;
  • Ressaltar e exemplificar na vida a importância da busca do transcendente;
  • E acima de tudo, nortear um estilo de vida que gere sentido a vida;

 

Nessa lista elaborada por Rocha poderia ser acrescentado ainda alguns elementos. Portal et al (2006, p. 9), através de uma entrevista feita com alguns professores chegou a seguinte conclusão:

 

A formação espiritual apareceu como essência e motivação para a prática pela crença demonstrada em Deus e a busca dessa conexão com sua vida profissional e pessoal. O aprender para ensinar como a idéia de vivenciar o sentimento e de apropriar-se da informação para compreender as ações e reações de seus educandos, compreendendo melhor o processo relacional; a vivência do amor e da Paz, significando, para as professoras, uma atitude de compaixão ao próximo, permeando a relação educativa e a interação pedagógica [...] percebeu-se uma preocupação com as necessidades, possibilidades e capacidades dos alunos o que denota forte interação entre os aspectos pessoais, técnicos e espirituais, tornando a prática educativa mais significativa.

               

 

                O que estes resultados demonstram é que quando a espiritualidade é relevantemente desenvolvida e aplicada a pessoa vê a vida não como o acaso como enfatiza Sartre, mas uma vida com propósitos, uma dinâmica que a leva para um compromisso consigo mesmo, com a instituição e com o próximo, no contexto educacional, com a administração, colaboradores e alunos e/ou com os pais destes alunos.

Sendo assim, a inserção da espiritualidade no sistema curricular de formação docente favorece ao educador como profissional e pessoa, mas também, e em grande proporção as instituições educacionais, pois, recebem um profissional com uma visão mais desenvolvida e integral do que é a verdadeira educação.

            Portal; et al (2006, p. 09) continua sua considerações dizendo que:

 

De acordo com a pesquisa realizada, percebeu-se no fator Divindade a prevalência do índice alto que se evidencia quando a prece e a sensação de deslumbramento provavelmente nos acompanham ao longo da vida. As entrevistadas percebem uma presença divina ao verem um deslumbrante pôr-do-sol ou alvorecer, ao viverem um belo dia ou observarem a estrutura de uma flor um céu estrelado. O significado da existência é visto por elas como uma conexão a um fenômeno transcendental mais amplo, em vez de estar estritamente fundamentado nas preocupações pragmáticas da vida diária. Lembram a si mesmas que os seres humanos estão na terra por um propósito, sentindo a presença de uma força maior que elas mesmas. Também indica terem a visão de trabalho como um dever Sagrado, em que o significado e o propósito são revelados num esforço diário. Entendem os eventos da vida como parte de um plano Divino. Um resultado alto nesse fator tem implicações na maneira de se relacionarem com os membros da família como uma fonte de conexão abençoada e como a aprecia como parte do dom da vida, baseada no amor e no sentimento de conexão a uma força vital transcendente.

 

            Por isso, quando se fala de prática pedagógica se expõe inúmeros conceitos e responsabilidades aos educandos e se espera esmero em seus cumprimentos. Porém, se esquece que a dimensão espiritualidade na prática docente desencadeia sentimentos pessoais e profissionais voltados à fidelidade no dever, pois, este sentimento gera um propósito de vida. Se tratar a espiritualidade meramente como introspecção, uma reflexão sobre a vida em todas as suas dimensões, bem como as reponsabilidades requeridas de cada profissional muito ainda será ganho pela educação. Porém, quando se adiciona o fator transcendente (o divino) os ganhos são ainda maiores.

            Como se viu na citação última, quando se vive e vê o mundo tento como fundamento o divino, toda a nossa cosmovisão muda radicalmente, tudo é visto do ponto de vista do sagrado, gerando um comprometimento muito maior com a missão de cada educador, uma educação integral e relevante para o século XXI.  

 

 

 

Metodologia

 

A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica entre alguns autores que pesquisaram sobre o tema em questão. Autores como Rocha, Vieira, Venturella nortearam as ideias parâmetros primordiais do trabalho.

 

Considerações finais

 

A verdadeira educação é aquela que contempla os ser todo, uma educação holística. Uma vez que:

o ser humano é um ser inacabado, é um ser em construção, é um devir. Ele não é apenas um ser de mudanças, ele nunca está pronto. O inacabamento humano supõe que ele está “fazendo-se” [...] que ocorre em suas dimensões física, psíquica, mental e espiritual, tem consequências diretas na vida social e cultural. (ARAUJO, 2005, p. 209).

 

Nesta construção do ser de modo integral a dimensão da espiritualidade deve ser contemplada, pois ela é supradimenssão de todas as outras dimensões humanas. Sendo assim, na formação docente se faz necessário essa inserção curricular para que como geradores de opiniões possam contribuir mais efetivamente para a mudança degradante que perfaz a sociedade atual.

Essa inserção curricular da espiritualidade gera no docente um compromisso consigo mesmo, com a instituição em que está ligado e com os alunos. Mesmo se tratando de uma espiritualidade introspectiva apenas, dissociada da ideia do transcendente (o divino). Porém, quando associada com a presença no transcendente, todos os resultados anteriormente obtidos sem esta realidade são enormemente maximizados.

Isto se dá, porque o olhar que era meramente humanístico passar a ser missiológico. Ou seja, o educar virá uma missão ou um propósito que refletirá em seu compromisso consigo mesmo, com a vida, com a instituição e com o próximo. Tudo será visto como fazendo parte de algo maior, o sagrado.

 

 

 

 

 

 

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[1] Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência do Ensino Superior – Centro Universitário Adventista de São Paulo- Campus 2, na cidade de Engenheiro Coelho, 2012, sob a orientação da Profa. Dra. Marinalva Imaculada Cuzin.