RESENHA CRÍTICA

Marisa Vorraber Costa é Graduada em Filosofia, Doutora em Ciências Humanas e Professora dos Programas de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Luterana do Brasil. Ela também é pesquisadora do CNPQ e integrante do Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade (NECCSO), realizando estudos sobre pedagogias culturais, currículo, mídia e escola na pós-modernidade. Além disso, publicou inúmeros livros como “A escola Básica na virada do século: cultura, política e currículo; Caminhos Investigativos: novos olhares na pesquisa em Educação, A escola tem futuro? E dentre outros”.

O livro em questão “A escola tem futuro?” traz em seu conteúdo entrevistas com professores e professoras, que debatem o tema Escola com intensidade, de acordo com visões e posicionamentos distintos.

A autora discute a questão enfocando o espaço escolar como objeto importante na formação da cidadania e na materialização dos sonhos de infância. E que confirma a sua paixão pela educação no seguinte trecho do seu livro: “Tenho fortes razões para supor que minha opção pela licenciatura e pelo magistério e, mais tarde, pelo mestrado e doutorado na área da Educação, está perpassada por tudo isso.” (COSTA, 2003, pág. 12).

Como pesquisadora nesse primeiro texto intitulado “A escola rouba a cena!”, ela continua relatando sobre suas experiências sobre o contexto escolar de uma escola pública de periferia, objeto que serviu para a sua tese de doutorado.

Marisa Vorraber cita também suas experiências como professora, mencionando informações sobre o seminário internacional cujo próprio nome deu origem ao livro “Escola Básica na virada do século: cultura, política e currículo”, que traz textos que discutem as questões da escolarização básica no complexo cenário político, econômico, social e cultural do final do século XX.

No texto, ela afirma que passa a se interessar pelos estudos culturais da educação, que estão ligados diretamente a escola, principalmente a visão da instituição educacional na mídia e cita, analisando diversos programas televisivos, que repassam a realidade da escola no contexto mundial e brasileiro. Mas, também ressalta que a escola tem sido objeto do mercado financeiro e cinematográfico, além de levantar algumas críticas a visões dos cineastas e produtores em abordar a problemática do contexto escolar em algumas situações como o comportamento de alguns personagens, principalmente alunos em situação de desordem.

Marisa também dá ênfases no seu texto ás mídias escritas, que elaboram textos que exploram e ressaltam a dimensão social e política da escola e sua responsabilidade em promover uma educação cidadã.

A autora continua suas indagações em relação às tramas e fios da educação no século XX, tecendo reflexões, preocupações e convicções que caracterizam o conteúdo desse livro, procurando respondê-lo, através de entrevistas sobre o tão desejado futuro da escola.

A primeira entrevista intitulada “A escola com que sonhamos é aquela que assegura a todos informações cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã.” foi realizada com o Professor aposentado da Universidade Federal de Goiás e atual Professor Titular da Universidade Católica de Goiás José Carlos Libâneo.

Segundo sua visão, ele afirma que a educação de hoje está relacionada com a função social e política da escola em termos gerais. E que todos os discentes de ambos os níveis educacionais podem ter acesso, domínio e desenvolvimento de conhecimentos científicos para aprimorar suas capacidades e habilidades intelectuais na construção de uma sociedade digna e democrática.

Sendo que tudo isso só ocorrerá se houver uma intervenção pedagógica nas salas de aulas pelos docentes, e afirma ainda que para esse efetivo processo, os educadores devem passar pelo um constante preparo profissional.

Ele continua respondendo e citando suas experiências sobre suas idéias ligadas a formação cultural e científica no processo de construção do ser social e democrático e ressalta ainda sobre as informações contidas no seu livro “Adeus professor, adeus professora”; que seu objetivo e seu interesse são ajudar os professores de hoje no bom desenvolvimento do seu trabalho, pautado nas idéias de uma escola aberta, voltada para as realidades sociais, culturais comunicacionais e das questões relacionados à formação do currículo.

Libâneo também concorda com a idéia da entrevistadora em desrespeito ao livro “Tecnologias da inteligência” do Francês Pierre Lèvy que expõe de forma cognitiva sobre a importância da nossa interação com as mídias, e os resultados ou transformações radicais no nosso jeito de sermos humanos.

Carlos Libâneo afirma que a escola é um espaço social e cultural que deve desenvolver a arte de ensinar a pensar no seu contexto, através de uma pedagogia do pensar. Onde as competências cognitivas estão centradas no professor, que ajuda seus alunos no desenvolvimento de diversas capacidades como a investigação, argumentação, comunicação e dentre outras.

Com o título “A escola poderia avançar um pouco no sentido de melhorar a dor de tanta gente” foi com o Antonio Flavio, professor da Universidade Católica de Petrópolis e titular, além de pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele expõe e discorda da entrevistadora em certas perguntas como que aborda a escola crítica, por exemplo; mas o mesmo afirma que uma excelente escola está fundamentada nas bases legais de um bom currículo, que poderia mudar a realidade da mesma e acabar com o sofrimento da clientela menos favorecida. Baseado nisso, Antonio Flávio defende que o futuro da educação e da escola está na formação do professor, principalmente da educação infantil, etapa primordial no desenvolvimento do educando como cidadão e um bom profissional.

A terceira foi com a Professora Nilda Alves, professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, que informa sobre suas pesquisas em relação ao cotidiano escolar e as memórias das professoras, chamadas de praticantes.

Ela assegura que a escola deve trabalhar os conhecimentos prévios, pois a escola do passado continua sendo a mesma do presente, pois tem os mesmos problemas, ás vezes, só mudando de contexto. E que não há uma desvalorização do professore nem dos conhecimentos adquiridos dentro e fora da instituição educacional, o que ocorre na realidade e falta de qualificação atual para que o educador possa acompanhar as mudanças ocorridas com os avanços da tecnologia e com a modernidade do ensino, pois muitos cursos sem certificação surgem no Brasil e por causa da clientela carente, que a realidade do ensino os distancia desse processo, mas que há a mesma dedicação e compromisso dos professores com a escola de hoje.

Segundo os dados da quarta entrevista com o professor Alfredo Veiga Neto, a escola continua sendo a principal instituição encarregada de construir um mundo moderno. E foi com a modernização, que conhecemos a uma espécie de fabricação de um sujeito moderno, de acordo com algumas correntes de pensamentos iluministas, revolucionários, antiaristocráticos e dentre outros.

E que a escola não é uma salvação para as mazelas sociais, e sim um lugar ligado a modernidade, através da disciplinaridade social, pois a escola moderna deve está instituída na constituição da modernidade e não no saudosismo da crise escolar e nos conceitos tradicionais. E hoje ela está se distanciados desses padrões impostos pela sociedade moderna, e que essas mudanças ocorrerá com um novo currículo for elaborado de acordo com a realidade e com os avanços da tecnologia.

Já Miguel Arroyo afirma que a escola deve deixar a linha tradicional de ser preparatória, pois deve se apoiar na construção de um novo currículo, de acordo com a realidade da sua clientela. E que não podemos depositar certas responsabilidades sociais e políticas nela, porque a própria sociedade as deposita e cria a descrença nessa instituição educacional, que deve está compromissada com o processo de humanização e não só de escolarização.

E como ainda a escola está ligada a tradicionalidade popular, os pais vêm à escola como refúgio para seus filhos contra a marginalidade social; Arroyo defende ainda que a escola esteja centrada na modernidade e no seu educando, sendo assim poderá construir um verdadeiro processo de cidadania, desvinculando dessa falsa ideologia social que prepara com incerteza, somente o alunado para o mundo do trabalho.

A entrevista final foi com a professora Selma Garrido Pimenta que enfatiza sua trajetória como educadora e pesquisadora na área da Educação, sendo o contexto do professor um dos seus alvos de estudo, pois são eles que são capazes de ter uma posição crítica em relação ao seu trabalho e nos fornecer dados para buscar um ensino de qualidade.

Ela também afirma que temos que construir uma escola pra todos e nas bases da humanização para garantir e assegurar o domínio dos conhecimentos e prepará-los para enfrentar a realidade como o desemprego. Alem disso, suas pesquisas estão voltadas para a formação do professor e para o exercício profissional dentro da escola, com objetivos de ajudá-los a enfrentar e se adequar a realidade moderna.

Selma se mantém na modernidade e reflete sobre a importância de ter uma escola crítica com um modelo organizacional, de currículo, de conhecimento científico, de relações professor-aluno, de processo de ensino-aprendizagem, de ciência e de relação com a sociedade bem real e cidadão, para que a escola sai da crise.

Entretanto, o livro expõe vários pontos de vista sobre o futuro da escola e concordamos com a autora e seus entrevistados, em relação que a escola deve ser construída nas bases legais e reais de um novo currículo, voltada, principalmente, para o discente e para a propagação de conhecimentos, que o ajude a entender o verdadeiro sentido do processo de cidadania. Na verdade, não podemos fingir que a escola é um espaço que resolverá todos os problemas sociais de uma sociedade, ela só fornece subsídios para sua compreensão, porque no final queremos e buscamos uma educação de qualidade e mais humanizada para construir um cidadão e um mundo melhor.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

COSTA, Marisa Vorraber. A escola tem futuro?Marisa Vorraber Costa (org.) – Rio de Janeiro: DP & A, 2003.