A escola que sonhamos 

Adriana Pacheco do Amaral 

A busca pela escola “ideal” sempre esteve em pauta em nossa sociedade, isso porque essa escola é de uma forma utópica algo que todos almejamos; uma escola que apresenta características da perfeição, em que todos são iguais e de inteligência imensurável, em suma, a escola que desvale e se esquiva do modelo tradicional.

Contudo sabemos que uma escola assim está longe de se alcançar, mesmo porque o fenômeno educacional sempre está em pauta nas discussões atuais, principalmente nas que se refere à qualidade de ensino.

Sabemos que historicamente nossa educação volta-se para a reprodução do conhecimento, e é vista ainda por muitos, como a salvação da sociedade. Desde a sua criação, a escola tem como principal função a transmissão do conhecimento científico, entretanto, em diferentes contextos e épocas, sua preocupação maior estava em atender as demandas da sociedade, seja pelo cuidar da criança, ou pela necessidade de formar trabalhadores para a sociedade capitalista.

Assim, nos deparamos atualmente, com muitos sujeitos que não exercem a sua cidadania, na grande maioria são ensinados a reproduzir conhecimentos sem atribuir significado algum ao aprendido, tornando-se assim, alfabetos funcionais.

Nas escolas atuais, por exemplo, a realidade não é diferente. Há muitas crianças com dificuldades de aprendizagem, com problemas de indisciplina o que causa bastante preocupação, pois pesquisas apontam que muitos alunos terminaram o ensino médio e estão sem saber o que fazer, pois não sabem ler e escrever; em suma não conseguem se comunicar. Esse é um dos principais motivos que confere ao Brasil um dos piores índices mundiais de escolarização de sua população. Sua colocação é a 84ª, em pesquisa divulgada pelo Índice de Desenvolvimento Humano em 2011. Uma das piores dos grandes países emergentes.

Nesse contexto, há muitos autores que criticam essa formação escolar brasileira. Rubem Alves (2011), por exemplo, acredita e defende que a escola deve formar o sujeito para vida, pois segundo ele “[...] é para isso que a gente aprende. Pra viver melhor, pra ter mais prazer, ter mais eficiência, poupa tempo, não se arriscar”.

Paralelo a isso, Rubem (2011), conheceu em Portugal uma escola pública que a denominou como “a escola ideal”. Chegou a escrever um livro sobre ela, e o nomeou como “A escola com que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir”. Segundo ele, essa escola é sem paredes, valoriza o aluno, e o prepara para a vida.

José Pacheco foi o idealizador e fundador dessa escola, conhecida em Portugal e em todo mundo como a Escola da Ponte. Nessa escola, não há salas de aula, os alunos não são dispostos em fila e aguardam a reprodução dos conteúdos dispostos na apostila pelo professor, como acontece aqui no Brasil e em muitas escolas tradicionais pelo mundo. Pelo contrário, como afirma Pacheco em entrevista a Revista Nova Escola (2004, s/p):

 

Não há salas de aula, e sim lugares onde cada aluno procura pessoas, ferramentas e soluções, testa seus conhecimentos e convive com os outros. São os espaços educativos. Hoje, eles estão designados por área. Na humanística, por exemplo, estuda-se História e Geografia; no pavilhão das ciências fica o material sobre Matemática; e o central abriga a Educação Artística e a Tecnológica.

            Rubem (2011), afirma que na escola não se pode cobrar o silêncio. Na Escola da Ponte, por exemplo, não há professor em frente da sala ministrando os conteúdos, e nem tampouco cobra-se o silêncio nas aulas. Os professores ficam juntos com os alunos, ajudando e mediando em todo o processo educativo, como bem disse o escritor brasileiro, nesse processo, os professores “são companheiros dos alunos”.

Outro diferencial dessa escola de Portugal é a avaliação. Não existe prova lá, pois a nota segundo Rubem Alves (2011) “é uma inverdade”, pois uma boa ou má nota não é sinônimo de aprendizagem.

Para tanto devemos antes mesmo de pensar em qualidade de ensino, devemos repensar a forma tradicional de escola que dispomos. Segundo o escritor, devemos ter professores que se recusem a seguir os programas propostos, e que se perguntem “isso que eu vou ensinar serve para quê?”. Somente ensinando coisas que são essenciais no ambiente em que a criança vive é que será possível mudar essa realidade que vivenciamos, e quem sabe assim, possamos realmente ter a escola que esperamos, mas não utopicamente, mas sim uma escola que transforme a realidade, dando um salto na humanidade melhorando a qualidade do ensino, com a sociedade que desejamos construir em contínuo desenvolvimento, pois segundo a autora Heloisa Lück (2012) “o futuro se constrói com as ações de hoje”, portanto, não podemos idealizar uma escola, se nossas ações não forem voltadas para essa mudança e anseio.

 

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. A escola ideal. Revista Digital. Canal Portal Brasil, 2011. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=IEX9bOeTMZg>. Acesso em 03 de junho de 2012.

 

LUCK, Heloísa. Políticas públicas para a educação. Curitiba: CEDHAP, 2012. Disponível em: www.cedhap.com.br. Acessado em: 15 de maio de 2012. 

PACHECO, José. José Pacheco e a Escola da Ponte. Revista Nova Escola, São Paulo, s/p, 04/2004. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/jose-pacheco-escola-ponte-479055.shtml>. Acesso em 03 de junho de 2012.