A ESCOLA E A QUESTÃO DOS LIMITES

            A construção histórica e cultural da infância e da estruturação familiar sofreu algumas transformações no decorrer dos anos. A passagem da concepção da imagem da criança-anjo do século XIII, para a imagem da criança frágil do século XIX, que precisa de cuidados e correções de moral e de disciplina, vai desencadeando novos olhares voltados à criança nas relações familiares e sociais, permitindo que a mesma conquiste alguns espaços entre os indivíduos e    na sociedade. A criança que aprendia no convívio familiar, agora também aprende na escola.

           A escola recebeu uma ampliação em seu papel como instituição de ensino, a tarefa de educar, e em alguns casos, vem demonstrando um despreparo para dar conta de uma responsabilidade que se acredita caber às famílias, ocasionando um “jogo de empurra” entre ambas. Assim a relação família-escola vem destacando-se como elemento chave na problemática em questão. Ambas apresentam algumas fragilidades em suas atuações, mas precisam atuar juntas. É necessário que a escola respeite os diferentes vínculos que configuram as famílias (biológicos, econômicos, afetivos...) e que a família, por sua vez, assuma suas responsabilidades na educação dos filhos, colocando limites e educando-os.

          As instituições escolares produzem um sistema de ensino que considera suas práticas pedagógicas favoráveis para a produção e reprodução da ordem social. Com a relação com o meio social que a cerca, a criança por meio das aprendizagens desenvolve um trabalho educativo e moral.

            Contudo, nas escolas a relação entre o aluno e o professor chegou a uma condição muito favorável, quando entendemos que a participação do aluno está maior, diferentemente de outras épocas onde o papel se restringia apenas a ouvir e guardar as informações que chegavam. O professor deve procurar ser um mediador, adequando o ensino aos interesses dos alunos, saindo da posição de mero transmissor, transformando-se em construtor de aprendizagem significativa. Assim, tornando as aulas mais significativas e interessantes, no qual o aluno interaja demonstrando atenção e interesse pelos saberes construído. Pois a criança de hoje está bem mais estimulada e responde com maior agilidade ao meio, o que lhe confere a boa posição de ser participante nos grupos sociais, especialmente, a casa e escola.

            A escola, de modo geral, ao mesmo tempo em que deseja um aluno mais autônomo e crítico, continua a supervalorizar a aula expositiva. Deseja-se um aluno mais participativo, mas no cotidiano da sala de aula espera-se que este só se manifeste na hora que seja solicitada sua participação, para que não atrapalhe o fluxo da aula. . O aluno, figura sobre a qual se aplica a prática pedagógica, submete-se à educação de forma parcial e seletiva, aderindo ou resistindo a determinadas proposições. O ato de resistência pelo educando em obedecer algo que lhe foi pedido, volta-se contra pessoas e estabelecimentos concretos, em especial sobre a figura do professor e sobre o prédio escolar, gerando situações de sofrimento ao docente, a família e improdutividade de aprendizagem. Ao que tudo indica uma prática disciplinar aplicada à Escola, como a construída desde o século XVIII, apresenta-se desgastada e antiquada, incompatível com os preceitos éticos e com a configuração social dos tempos atuais.

            Portanto, ensinar não é fácil e educar mais difícil ainda, frente a esse impasse, propõe-se à instituição e ao professor buscar gerir de forma consciente o poder enquanto força que emerge nas relações, utilizando-se de instrumentos diferentes dos criados nos primórdios das instituições escolares, estabelecendo muito diálogo e negociação com a criança e a família para superar os desentendimentos ocasionados no cotidiano escolar.        

            Entretanto sabemos que, quem não ensina e não educa e não define limites, não constrói democraticamente as linhas do que é e do que não é permitido. O professor jamais pode acreditar que cada aluno já sabe o que pode e o que não pode. É preciso que os limites sejam claros, lúcidos, reiterados. A aula necessita estar internalizada no aluno, assim como as regras de boa convivência, sendo que, o professor pode agir com firmeza e ao mesmo tempo com doçura. Ter autoridade, mas não ser autoritário.

            O aluno em determinados momentos precisa ouvir não, e muitas vezes, a palavra firme do professor substitui a fragilidade com que as negações são trabalhadas em família. Uma excelente maneira de habituar o aluno à disciplina que se almeja é a segurança em perceber que no jogo, na casa, na rua, é claro, na escola existem regras e existe a serenidade de quem as relembra e cobra.

             Porém, o professor deve ter o cuidado em enfatizar ou culpar a família em sua fragilidade no educar seus filhos, mas procurar fortalecer vínculos com a mesma para criar soluções e iniciativas para construir a educação desejada para a criança. Do mesmo modo, a família deve auxiliar o professor nessa iniciativa que correspondente principalmente a ela como principal responsável em realizá-la.