A educação no século XXI, os quatro pilares de Jacques Delors e a educação para o trânsito: aproveitando a força das redes sociais para a práxis transformadora

Muita gente começa a pensar no rumo da educação no século XXI a partir de uma série de critérios, de fatos, tais como: professores desrespeitados e agredidos por alunos em sala de aula, bulling, a dificuldade dos professores e dos gestores em se aproximar e obter o apoio, a participação efetiva dos pais nos assuntos da escola, dentre outros. Há quem diga que educar os filhos nesses novos tempos é uma verdadeira dificuldade. Isso nos remete aos quatro pilares da educação, de Jacques Delors, conceitos fundamentais sobre educação baseados no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI  à UNESCO. O relatório foi coordenado e editado por Delors em forma de livro, com o título: “Educação: um tesouro a descobrir”, primeira edição de 1999. São quatro os pilares fundamentais da educação para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser.

Pensando bem, chega a ser redundante que se precise de uma comissão de estudos internacionais, da UNESCO e de relatório para recomendar o que deveria ser básico: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender com a viver com os outros (regra básica em sociedade) e aprender a ser. O mesmo acontece em relação à Constituição Federal quando todo mundo sabe que a vida é sagrada, necessita ser preservada, mas precisamos de leis que digam o óbvio. Mas essas supostas “redundâncias” tem uma explicação: a supervalorização do ter, do status, do poder econômico, da posição na classe social, a ideia de que o ter é mais importante que o ser, e a banalização da vida, ceifada em troca de alguns trocados ou de algum objeto que sirva como moeda de troca para a compra de drogas.

O que acontece, de fato, é que os valores básicos do ser humano estão sendo fraturados; as regras de convivência em sociedade, a ética, o respeito ao próximo, a tolerância, o servir, o fazer o bem estão cada vez mais desvalorizados. Pense em fazer algo em prol do outro e logo te perguntarão: mas e o que você vai ganhar com isso? Claro que pensando em cifras. Voltando a reflexão para a educação no século XXI, para os quatro pilares da educação propostos por Jacques Delors e a educação para o trânsito, constata-se que o mundo virtual em que vivemos, a internet, as redes e mídias sociais representam uma grande e rica oportunidade. Revisitando o passado, quando os primeiros computadores surgiram a primeira desconfiança da escola foi de que eles se tornassem uma ameaça ao ensino, aprendizagem e ao professor. No entanto, em menos de uma década lá estávamos nós, educadores, nos aperfeiçoando na arte de usar as Tecnologias da Informação (TI) a serviço da aprendizagem. Se ainda hoje muitos pais reclamam que os filhos passam a maior parte na frente do computador e não estudam, o Ensino à Distância (EAD) é uma realidade cada vez mais presente.

O fato é que temos bons trabalhos voltados para a educação para o trânsito e para a aprendizagem significativa sendo feitos pela internet, em blogs, nas redes sociais. Blogs e páginas como Dirigindo Seguro, Euquerodirigir.com, Blog do Trânsito, Educação no Trânsito e o Blog Aprendendo a Dirigir, um dos mais acessados por condutores que estão (re)iniciando o processo de habilitação são exemplos de um trabalho sério e forte voltado para a Educação Para o Trânsito (EPT). O Blog Aprendendo a Dirigir tem uma peculiaridade: faz parte do Grupo Aprendendo a Dirigir, que encontrou no MSN, no Orkut e no Facebook plataformas ideais para um trabalho voltado para a aprendizagem significativa e a direção defensiva com objetivo de formar cidadãos para o trânsito.

Está aí a grande força da internet, das mídias e redes sociais: ajudar a educar para o trânsito, debater os assuntos cotidianos sobre circulação, mobilidade e comportamento humano não só entre quem está aprendendo a dirigir, mas também entre os especialistas,  entre a comunidade organizada, os professores, os gestores das escolas e do trânsito nas cidades e, sobretudo entre os alunos como conteúdo e ferramentas de temas transversais.  É aquela velha história de fazer de um limão uma limonada: se nossos alunos levam vida virtual intensa, então que nós, professores, saibamos aproveitar os recursos da tecnologia a nosso favor, proporcionando ferramentas adequadas, úteis, interessantes e atrativas a nossos alunos.

Educação Para o Trânsito também se faz pela internet, pelas redes sociais, seja proporcionando uma leitura do trânsito, de seus problemas, custos sociais e exemplos do que está dando certo, seja para trabalharmos os valores de convivência, a ética, o respeito, a solidariedade, o respeito à vida tão em falta hoje em dia. Para aprender a conhecer porque segundo Edgar Morin temos que saber diferenciar entre dados (registros soltos, descontextualizados), informações (conjunto de dados conexos) e conhecimento (interação entre as vivências do indivíduo e as informações que recebe para formar opinião). Para aprender a fazer a coisa certa na escola, na vida ou no trânsito. Para aprender a viver com os outros em todos os espaços compartilhados, dentre eles o espaço do trânsito. Para aprender a ser, ser humano, ser cortês, ser gentil, e para não valorizar uma pessoa pelo que ela tem e não pelo que ela é.

Está aí a nossa grande chance, professores e gestores! Pegar esse limão chamado internet e redes sociais e saber fazer dele uma deliciosa e refrescante limonada para nossos alunos. Vivemos a era do e-learning, o que nos traz novas oportunidades de ensinar e de aprender.