A EDUCAÇÃO EM DELMIRO GOUVEIA: Do Pioneirismo do fundador à inclusão das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação.*
Maria Lenilda Caetano França**

RESUMO: Este artigo trata da inclusão e do uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação nas escolas públicas municipais de Delmiro Gouveia, no sertão de Alagoas; analisa a história do município que é marcada pelo pioneirismo do seu fundador; examina o espaço dado às Novas TIC?s nas escolas e nas salas de aula, em que proporção e como essas tecnologias são usadas pelos professores, bem como a existência de capacitações para os docentes trabalharem com as novas ferramentas.
Palavras-chave: escola, novas tecnologias, formação docente.

INTRODUÇÃO

As Novas Tecnologias da Informação e Comunicação estão sendo lentamente inseridas nas escolas públicas, sabemos que existem muitas instituições de ensino, de estados mais ricos que possuem uma boa estrutura humana e material, porém o foco deste estudo são escolas onde esses recursos são questões complexas, não existindo soluções fáceis e em curto prazo.
As "velhas tecnologias", representadas por quadro-de-giz e materiais impressos vem sendo complementadas e substituídas por quadro branco e pincel, retroprojetor, televisor, aparelhos de som, computadores, data show, etc. A presença das TIC tem sido investida de sentidos múltiplos, que vão da alternativa de ultrapassagem dos limites postos pelas velhas tecnologias à resposta para os mais diversos problemas educacionais ou até mesmo para questões sociais, econômicas e políticas.
A formação inicial dos educadores ainda é um problema, na medida em que o contato com essas tecnologias não é tido durante sua formação, o professor chega ao seu ambiente de trabalho muitas vezes sem conhecer um computador. Por tanto, é necessário primeiramente uma familiarização do professor com as novas tecnologias, através de treinamentos e cursos de capacitação, já que em sua formação inicial esse contato não foi possível.
A presença da tecnologia na escola estimula os professores a repensarem seus modos de ensinar e os alunos a adotarem novos modos de aprender. Professores e alunos precisam aprender a tirar vantagens de tais artefatos. E nesse contexto de melhoria da relação professor-aluno, Guimarães (2007, p.70-71) propala:
As tecnologias permitem um novo encantamento na escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, país ou exterior, no próprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Os trabalhos de pesquisa podem ser compartilhados por outros alunos e divulgados instantaneamente na rede para quem quiser. Alunos e professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas on line, com muitos textos, imagens e sons, que facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de pesquisa e ter materiais atraentes para apresentação.

Dentro desta discussão é preciso, ainda, referir-se a outro problema em relação a inclusão das TIC?s na educação e nas escolas, em que proporção as tecnologias existentes na escola são usadas pelos professores, e estes usam para melhorar sua prática ou apenas para abrilhantar suas aulas, enchendo a platéia com um belo discurso e belas projeções e deixando os alunos sempre vazios e ociosos por um conhecimento verdadeiramente necessário.
Nesse campo Alves (2003, p.2) diz que pensar em educação no contexto atual exige, de nós educadores uma reflexão bem mais ampla, que englobe o repensar dos próprios conceitos de educação e tecnologia, de forma integrada, no sentido de criar propostas pedagógicas que incorporem as potencialidades que as novas tecnologias trazem para o processo coletivo de construção do conhecimento.
Todas essas considerações perpassam pelos professores, pois estes têm a responsabilidade de selecionar os recursos tecnológicos que vão utilizar em sua aula. Assim, para que seja efetivada uma verdadeira inserção das NTIC?s na escola e nas salas de aula, devemos assumir novos olhares, enaltecer as possibilidades que cada um tem no processo de construção da aprendizagem.
Neste estudo é mostrado que a sociedade educativa busca caminhos que desenvolvam os valores humanos mais significativos, dando inicio a um diferente processo de ensino e aprendizagem, contando com o auxilio das velhas e das novas tecnologias da informação e comunicação.

A EDUCAÇÃO E AS NOVAS TECNOLOGIAS

As últimas décadas do século XX foram marcadas por tempos de reformas educacionais inovadoras. O desenvolvimento e a apropriação do conhecimento aliado ao poder e saber nas sociedades modernas abriu novos caminhos para o campo educacional. A racionalidade instrumental e técnica que caracterizou a modernidade se transforma. Emerge a era da complexidade e suas exigências para a compreensão do mundo. O que chamávamos de vôos da nossa imaginação em filmes de ficção científica, hoje já são realidades no nosso cotidiano.
Uma nova sociedade emergiu dentro da exigência da informação, da conexão global, da necessidade de competitividade e produtividade dependentes da capacidade de gerar e processar informações num mundo cada vez mais virtualizado. Demo (2002, p. 264) retrata que:
Chama de "informacional" esta sociedade, porque organiza-se em torno da geração, processamento e transmissão de informação como fontes decisivas de produtividade e poder. As tecnologias informacionais estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade, privilegiando a comunicação mediada por computador que, por sua vez, enfatiza vasto espectro de comunidades virtuais.

Demo operacionaliza modernidade como "o desafio que o futuro acena para as novas gerações, em particular seus traços científicos e tecnológicos" (DEMO, 1993, p.20) e isso nos remete a criação dos chips, bits, megabits, microeletrônica, microinformática e seu uso num revolucionário modelo de comunicação que integra o mundo e põe as diversas culturas em contato direto.
No contexto é retratado o contato entre indivíduos e novos meios de comunicação e a inclusão dessas novas tecnologias na educação e nas escolas. Um passeio na era das descobertas.
Demo (2009) entende que:

Não é a toa que as eras se definem preferencialmente pelas descobertas tecnológicas (era do ferro, era do bronze, era da agricultura, era da produção industrial, era da informática) não raro com a sugestão materialista de que as tecnologias materiais seriam determinantes.

Em termos de contato e inclusão de novas abordagens de comunicação na escola, mediadas pelas novas tecnologias da informação, estamos tratando de Tecnologia Educacional. Esta observação é pertinente porque certos autores consideram este tema como algo inteiramente novo. Tudo tem uma história, explícita ou não, cabendo ao conhecedor crítico tentar desvendá-la, interpretá-la e usá-la para não repetir erros. Uma das principais referências nesta área usadas neste estudo é o trabalho de Pedro Demo.
Antes porem é bom atentar para a qualidade do ensino, o que permite debruçarmo-nos procurando interpretar as questões que levam a relação professor-aluno construir conhecimentos.
Demo (2002, p.127) diz que:
O conhecimento flagra as brechas abertas e planta nelas "estratégias de intervenção alternativa [...] Intervém [...] na natureza, na sociedade, em si mesmo, mas a tessitura disruptiva do conhecimento assombra vibrante, quase um protesto incontido da criatura limitada que sonha ultrapassar todos os limites. Se o olhar fosse linear, seguiria o conformismo, a capitulação. Em sua não linearidade emergem utopia, esperança, revolta, confronto. Conhecimento não deixa nada de pé. Seu primeiro ímpeto é desconstruir, [...] depois reconstrói, mas sempre sob o signo da provisoriedade, para poder continuar desconstruindo".

Nesta concepção temos, de início, que a qualidade do ensino não depende simplesmente de um autor, mas de uma relação de pessoas em busca do saber, fundada em princípios éticos. E nessa relação são necessários meios para que se alcancem os objetivos esperados, daí surge a tecnologia, a necessidade de novos procedimentos, novas ferramentas, novos métodos capazes de inculcar nos alunos uma grande gama de conteúdos.
Demo (1993, p. 35) estabelece que:
Qualidade educativa [...] adquire a função estratégica de fiel da balança no horizonte de oportunidades de cada sociedade, significando, de um lado, instrumentação adequada para a cidadania, e, de outro, capacidade produtiva apta a organizar processos realmente competitivos e qualitativos. Qualidade e competitividade não supõem mais a exploração absoluta do trabalhador apenas treinado, de preferência ignorante para não atrapalhar, mas a presença de atores competentes. As relações capitalistas de produção não mudam na essência, mas permitem sociedades menos intoleráveis. Por outra, o desafio da competitividade e qualidade não aponta para compromissos sociais, como se sua primeira finalidade fosse o emprego. A modernidade produtiva não tem vocação social. Pode, porém, convergir com as necessidades sociais, sobretudo para aquelas que investem na qualidade educativa, sanitária, cívica da população, desde que exista educação qualitativa para o exercício da cidadania correspondente.

Nesta ótica, é muito importante que coloquemos tais ferramentas nas mãos de nossos alunos, porém sempre predominando o ato de educar, de examinar criticamente - numa atitude freiriana - de não estar no mundo para simplesmente a ele se adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, que se deva usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.
Na concepção de Pedro Demo "Atualizar-se é um direito do professor. Ele tem que ser resgatado, passar a representar a dignidade da nossa sociedade. Uma sociedade onde o professor é mal tratado, obviamente é uma sociedade indigna, que não quer se desenvolver". (DEMO, 2000, p.02)
Outro auxilio importante, são as interpretações de Paulo Freire analisando que conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer.
O questionamento hoje, em relação aos novos desafios dado ao professor e a educação é a introdução de novos meios que facilitem a aprendizagem. Muitos professores vêem na tecnologia uma forma de qualificar melhor suas práticas pedagógicas, esquecendo que a qualidade também está no bom planejamento da aula onde é disponibilizado ao aluno a aquisição do conhecimento, pois uma aula ruim é ruim com ou sem tecnologia e uma boa aula será sempre boa independentemente da tecnologia utilizada.
Guimarães apud Brennand ( 2007 p.70) assevera:
As tecnologias de comunicação não mudam necessariamente a relação pedagógica. Tanto servem para reforçar uma visão conservadora, individualista, como uma visão progressista. O educador autoritário utilizará o computador para reforçar ainda mais o seu controle sobre os educandos, por outro lado, uma mente aberta, interativa, participativa encontrará nas tecnologias ferramentas importantes de ampliação e interação.

As novas tecnologias devem ser vistas como mais um dos elementos que contribui para melhoria de algumas atividades em sala de aula. Não se deve dar mais importância a belas telas projetadas do que a objetos concretos, todas as ferramentas são importantes quando usadas para propiciar novos conhecimentos. As tecnologias amplificam a capacidade expositiva do professor, reduzindo a posição relativa do aluno na situação de aprendizagem.
A educação se faz com seus agentes, a figura do professor é muitas vezes minorizada em sua importância, em suas necessidades, Paulo Freire (1992, p.84) repensa o papel e a importância de ser professor quando diz que ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível:
Ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem "águias" e não apenas "galinhas". Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.

Atualmente muito se fala da necessidade de se educar para o uso das ferramentas do mundo digital, porém, pouco se faz a respeito da preparação de professores na orientação dos alunos diante desses novos conceitos que surgem no mundo tecnológico. O uso da tecnologia integra novos saberes à prática educacional propiciando ao professor uma maior capacidade crítica de sua ação pedagógica e um leque maior de possibilidades na busca pelo interesse de seus alunos. Nesse contexto Moran (2000, p.16-17) fala:
O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe, e ao mesmo tempo, está atento ao que não sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade do aprender, a nossa ignorância, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a relativizar, a valorizar a diferença, a aceitar o provisório. Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses.

Em relação às novas mudanças na escola Perrenoud afirma "a escola não pode ignorar o que se passa no mundo, as novas TIC?s transformam espetacularmente não só nossas maneiras de comunicar, mas também de trabalhar, de decidir, de pensar". (PERRENOUD, 2000, p.125)
Guimarães apud Brennand (2007, p.65) faz a seguinte leitura:
As escolas estão caminhando de forma muito lenta no processo de incorporação das tecnologias da informação e comunicação, quando comparadas a outros setores sociais. A idéia é de que, com a exploração dessa "estrada", alunos, conectados de suas residências possam fazer suas tarefas de casa ou trabalhos em grupo de forma interativa, e os professores possam atuar mais como mediadores do conhecimento. Os trabalhos, tanto de alunos, quanto de professores, serão transformados em documentos eletrônicos para futuras consultas e o compartilhamento com outras culturas.

Nesta perspectiva, evidencia-se que a educação vem sofrendo, e que as escolas públicas não estão preparadas para esta nova realidade. Todas estas transformações, todo este processo de disseminação do conhecimento, acaba, muitas vezes esbarrando nos gabinetes dos tecnocratas, que sempre visam maquiar a educação brasileira com números que deixam com o sorriso amarelo, pois sabe-se que a realidade é um monstro que assombra.

A PRESENÇA E O USO DAS FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS NAS ESCOLAS

A educação penetra todos os setores da atividade humana, une as pessoas, fazendo-as sonhar, buscar seus ideais. A educação está presente nos mais variados espaços, na concepção de Saviani, a escola é responsável pela socialização do saber sistematizado ou elaborado, cuja incumbência é proporcionar o acesso a esse saber.
Na concepção de Sales "a função primordial da escola é a produção do saber refletido num sentir / pensar / agir". (SALES, 1992, p.8). Acontece que na nossa realidade o modelo atual tem nos colocado na posição de consumidores, transmissores e usuários do saber, não de produtores.
Sales fala ainda, do saber produzindo um modo de sentir / pensar / agir no sentido da produção de tecnologias que proporcionem o fazer valer interesses negados e resgatar a auto-estima e a altivez de quem não está conseguindo sentir / pensar / agir como construtor da sociedade e detentor de um saber. É importante ter essa visão de produção tecnológica para referendar o avanço das ciências.
Belloni (1999, p. 50) fala:
A inserção das Tecnologias de Informática e Comunicação envolve um vasto campo de interrogações e reflexões acerca da situação nas atuais escolas públicas, não bastando apenas discutir, mas procurar soluções. Cabe lembrar que as NTICs não são necessariamente mais relevantes ou mais eficazes do que as mídias tradicionais em qualquer situação de aprendizagem. Mas é preciso também não esquecer que, embora estas técnicas ainda não tenham demonstrado toda sua eficácia pedagógica, elas estão cada vez mais presentes na vida cotidiana e fazem parte do universo dos jovens, sendo esta a razão principal da necessidade de sua integração à educação.

No decorrer destas reflexões acerca da realidade das escolas públicas, é visto a necessidade de envolvimento dos autores na discussão das estruturas oferecidas por esta instituição, que mesmo recebendo investimentos do governo, equipando a escola com laboratórios de ciência e tecnologias, ainda assim o acesso dos alunos a esses laboratórios é limitado.
Luiz Carlos Menezes, educador da USP (2010, p.106) diz que a educação não deve estar a serviço dos valores do mercado, e sim da sociedade. Que se deve valorizar o trabalho dos profissionais que fazem o possível nas circunstâncias que enfrentam, com os recursos que dispõem.
Os professores precisam trabalhar com seus alunos técnicas que facilitem o desenvolvimento de suas habilidades e orientá-los na busca do conhecimento, sempre propondo ao aluno a construção do conhecimento e nunca impondo verdades absolutas.
Para Alves (1998, p.146):
As experiências com esses elementos tecnológicos, na maioria das vezes, estão desarticuladas do projeto pedagógico da escola. Usa-se o software em disciplinas isoladas, durante os 50 minutos das aulas, apenas uma vez por semana. Uma análise superficial dos softwares que estão sendo utilizados nas escolas, comprova que eles não passam de livros eletrônicos.

E mais adiante Alves (1998, p.146) relata:
Utilizar o software pelo software implica em empobrecer a prática pedagógica, mantendo uma postura tradicional frente ao processo de ensinar e aprender, que se limita a transmissão de informações, onde o aluno recebe os "pacotes" cheios de conteúdos, caracterizando a velha educação bancária (Paulo Freire, 1996), cuja única diferença é a presença do som, imagem e texto. É, em verdade, uma grande mixagem, que torna inicialmente atrativa a navegação pelo software, mas é logo preterida por se tornar "chata", limitada, cansativa, repetitiva.

A autora alerta que é preciso rever toda a noção e abordagem de como as novas tecnologias têm sido manejadas no decorrer dos anos.
Nesses termos, o professor necessita se atualizar, mudar suas posturas, ressignificar sua prática pedagógica, construir novos conceitos, se aliar a NTIC?s na busca por um processo ensino-aprendizagem mais estimulante e significativo. No entanto, para que esse objetivo seja concretizado, o professor necessita de tempo para se familiarizar com essas novas tecnologias, para conhecer as possibilidades e os limites das mesmas; para que, na prática, faça escolhas conscientes sobre o uso das formas mais adequadas ao ensino de um determinado conteúdo, compreendendo as possibilidades do uso dessas ferramentas em sua realidade.
Kenski apud Dianna Laurrillard (1997, p. 68) apresenta os papéis do professor e do aluno em quatro diferentes tipos de ensino que podem ser desenvolvidos através de novas tecnologias de comunicação e informação:

? No primeiro, o professor é o "contador de histórias" e pode ser substituído por um vídeo, um programa de rádio ou uma teleconferência, por exemplo.

? No segundo tipo, o professor assume o papel de negociador e o ensino se dá através da "discussão" do que foi aprendido fora da sala de aula (a leitura de um texto, observação, visita a determinado lugar, ou assistir a um filme, por exemplo).

? Uma terceira possibilidade exclui inclusive a ação direta do professor. Neste caso, o aluno assume o papel de "pesquisador" e interage com o conhecimento através dos mais diferenciados recursos multimediáticos. O aluno aprende "por descoberta" e ao professor cabe um encontro final com o aluno, para "ordenar" os conhecimentos apreendidos nos outros espaços do saber.

? A quarta modalidade de ensino apresenta professores e alunos como "colaboradores", utilizando os recursos multimediáticos em conjunto, para realizarem buscas e trocas de informações, criando um novo espaço de ensino-aprendizagem em que ambos aprendem.
Esses papéis dado ao professor é possível e necessário, porém, uma nova concepção de sala de aula e de escola devem surgir para o professor e também para os alunos, uma escola que desenvolva não somente a inteligência individual, como também a inteligência coletiva, dando importância a troca de conhecimentos e experiências vividas não apenas no espaço escolar, mas, em todos os ambientes desses agentes, e com isso tornar a sala de aula e a escola em um novo espaço, mais atrativo e estimulante, onde o saber seja primordial a promoção da aprendizagem em seu sentido mais amplo.

A EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE DELMIRO GOUVEIA-AL ? PEQUENO HISTÓRICO MUNICIPAL

O município de Delmiro Gouveia está localizado no extremo oeste do estado de Alagoas, sertão nordestino, fazendo divisa com os estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia, cortado pelo Rio São Francisco, tendo, segundo senso demográfico do IBGE de 2000, uma população total de 48.462 habitantes.
O primeiro nome dado à cidade de Delmiro Gouveia foi Pedra e o povoado se constituiu a partir de uma estação da estrada de ferro da então Great-Western. A denominação Pedra veio de grandes rochas que existiam junto da estação.
Em 1903 chegou à região, vindo de Recife (PE), o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, que se estabeleceu vendendo couros de bovinos e peles de caprinos. Em 1914, ele instalou uma fábrica de linha com o nome de Companhia Agro Fabril Mercantil, atraindo para a região muitos moradores e trazendo o desenvolvimento. Em 1921, Delmiro Gouveia conseguiu dotar o lugar de energia elétrica e água canalizada, vindos da cachoeira de Paulo Afonso. A vila operária recebeu o nome de Pedra, a "Pedra de Delmiro".
A história registra como fato importante a visita do Imperador D. Pedro II à cachoeira, datada de 20 de outubro de 1859 e assinalada por um marco de pedra, erguido no local.
O decreto-lei 846, de 01 de novembro de 1938, da Interventoria Federal, criou o distrito com o nome de Pedra. O decreto-lei 2.902, de 30 de dezembro de 1943 que fixou a divisão administrativa e judiciária do Estado mudou a denominação da vila para Delmiro Gouveia. O município, porém, só foi definitivamente criado pela Lei 1.623, de 16 de junho de 1952, desmembrado de Água Branca. Delmiro Gouveia, o desbravador pioneiro no aproveitamento da cachoeira, morreu assassinado.
No que concerne à educação, o município de Delmiro Gouveia, mesmo estando tão distante das capitais Maceió (330 Km) e Aracaju (285 Km), teve sua inserção tecnológica sempre ligada às industrias propulsoras da economia do município. O ensino tentava atender a demanda de trabalho na esteira desenvolvimentista pregoada por seu fundador, Delmiro Gouveia.
Os tempos mudaram com o natural curso histórico. Também para o Município de Delmiro Gouveia, de forma incontestável, a informação e o conhecimento sempre estiveram associados de maneira crucial ao crescimento econômico e social, bem como aos padrões de vida. Neste sentido, a revolução tecnológica da informação, como primeira etapa da sociedade do conhecimento superou, em um breve espaço de tempo, as transformações vivenciadas pelas revoluções industriais que a precederam.
A MUDANÇA DE PARADIGMA ? INSERÇÃO DAS TIC´S NA EDUCAÇÃO EM DELMIRO GOUVEIA
O rumo do Município de Delmiro Gouveia não foge da história do mundo cada vez mais virtual. A inclusão das novas tecnologias de informação está posta de forma inefável, integrando globalmente e interferindo diretamente nas vidas das pessoas, restando observar se a educação no município se municiou para o uso das TIC´s a bem do ensino e aprendizagem.
Demo, citando Castells, dá contornos gerais do que ocorre, de como tudo é atingido pela forçosa integração global na modificação de paradigmas:
Ademais, um novo sistema de comunicação, falando língua crescentemente universal e digital está tanto integrando globalmente produção e distribuição de palavras, sons e imagens de nossa cultura, quanto adaptando-os a gostos das identidades e humores dos indivíduos. Redes interativas de computador estão crescendo exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e sendo moldadas pela vida ao mesmo tempo. (Castells apud Demo, 2002, p.261).

Assim, depara-se com uma era onde o conhecimento é gerado como produto de riqueza, recurso primário para os indivíduos e para a economia como um todo, ao passo que os tradicionais fatores de produção ? terra, trabalho e capital estão a se tornar mais secundários, sendo que o Município de Delmiro Gouveia e sua educação se encontram dentro desse quadro de superação de paradigma.
Desta maneira, a todo o momento é possível aprender, ensinar, trocar e gerar algum tipo de informação. Vive-se em uma sociedade fundada na informação e no seu processamento como produto. Uma sociedade interativa, intermediada pela comunicação entre os indivíduos via computador, por meios eletrônicos em rede. Na qual surgem diversas formas de sociabilidade e vida urbana adaptadas ao ambiente tecnológico.
Demo (2002, p. 264) arremata:
O desempenho de cada modo de desenvolvimento está "estruturalmente determinado" pelos processos tecnológicos respectivos: industrialismo está orientado para o crescimento econômico, maximização do produto; informacionalismo está orientado para o desenvolvimento tecnológico, acumulação de conhecimento e para níveis mais elevados de complexidade no processo de informação. A renovação da renovação de conhecimento e informação caracteriza a função de produção tecnológica no informacionalismo. "A determinação tecnológica" ecoa outra vez, ao afirmar que todas as sociedades tendem a torna-se "sociedades informacionais", porque os processos centrais de geração do conhecimento, produtividade econômica, poder político/militar e comunicação da mídia já estão profundamente transformados pelo paradigma informacional...


A educação vai a reboque destas mudanças para corresponder à realidade vigente. E em caso de não se enquadrar ao processo central de conhecimento, ocorrerá um desserviço aos alunos e prejuízo para as possibilidades que esse novo mundo disponibiliza.
Atualmente, a evolução tecnológica, segundo sugerem informações da Secretaria de Educação, no município de Delmiro Gouveia contrasta com o histórico do fundador da cidade, um empreendedor de espírito futurístico e visionário, de inserção tecnológica industrial, buscando sempre o desenvolvimento para a região.

A EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE DELMIRO GOUVEIA-AL ? AS TECNOLOGIAS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS

Segundo o Radar Social do IPEA ? Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada, interpretando dados do IBGE, há lugares onde o poder público simplesmente não chega às populações com a educação, como ocorre com as comunidades ribeirinhas do Amazonas no recôndito florestal entranhado na Região Norte. Em outras regiões a escola chega de forma deficitária, como no sertão da Região Nordeste, com parcos meios e sofrida qualificação docente. Delmiro Gouveia se ressente também da falta de escolas e de pouca estrutura na educação, portanto, da falta de tecnologia para compor o ensino e aprendizagem.
A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada em 08 de setembro de 2010, através do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), verificou que um em cada cinco brasileiros é analfabeto funcional, ou seja, a pessoa com 15 ou mais anos de idade e com menos de quatro anos de estudo completo. Em geral, ele lê e escreve frases simples, mas não consegue, por exemplo, interpretar textos, escrever um bilhete em que é necessário passar uma mensagem simplória.
A pesquisa relata ainda, que o problema é maior na região Nordeste, na qual a taxa de analfabetismo funcional chega a 30,8%, o dobro da região Sudeste, que tem o menor índice, de 15%.
De acordo com o IBGE, a maioria dos analfabetos (92,6%) está concentrada no grupo com mais de 25 anos de idade. No Nordeste, a taxa de analfabetismo entre a população com 50 anos ou mais chega a 40,1%, enquanto que no Sul, esse número é de 12,2%. Os nordestinos têm as maiores taxas em todas as faixas de idade.
Ainda segundo dados do IBGE, a região Nordeste apresenta a menor proporção de domicílios com computador, com 18,5%, sendo que somente 14,4% tem acesso à internet.
A inserção das tecnologias que coadjuvam a educação se faz tímida e justifica os baixos índices de desempenho na educação. Segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em avaliação criada pelo Ministério da Educação para aferir qualidade de ensino, Delmiro Gouveia, em 2009, teve parco desenvolvimento, bem abaixo da média nacional. Esse índice tem, dentro de seus componentes, também, a realidade de inserção tecnológica.
O Brasil obteve índices totais nos anos iniciais de 4,6 e nos anos finais do ensino fundamental 4,0, tentando, com políticas de incremento à educação pública elevar este índice para a meta 6,0, dentro dos padrões internacionais.
Alagoas amarga, segundo dados do IDEB, o pior índice nacional com 2,7 no ensino básico. A nota é inferior à metade do que seria o nível de ensino dos países desenvolvidos que participam da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O índice 6 representa a referência de qualidade de ensino nesses países. Os estados com piores índices do país são o alvo das políticas do Plano de Desenvolvimento da Educação e recebem dinheiro e apoio técnico do Ministério da Educação e Cultura.
O município Alagoano de Delmiro Gouveia, dentro desta realidade estadual, tem índices de 3,0 nos anos iniciais e 2,5 nos anos finais do ensino fundamental, dados referenciados no IDEB em tabela comparativa.
Dados da Secretaria de Educação do Município de Delmiro Gouveia informam que as escolas públicas municipais têm recebido incentivos do Governo Federal pelo Programa Nacional de Informática na Educação ? PROINFO, contempladas com computadores para criação de laboratórios de ciências e de informática, com suporte de softwares educativos, material didático para o uso dos computadores e plataforma para propiciar acesso à internet.
Os materiais de informática do PROINFO não chegam para todas as escolas. Segundo informações da Secretaria de Educação Municipal e de acordo com dados do IBGE, somente 8 das 35 escolas municipais possuem os computadores, sendo que somente cinco funcionam com internet. Já na zona rural, das 23 escolas, somente 3 têm laboratório de informática, sem internet.
Mais um dado negativo é que a Secretaria de Educação Municipal entende que laboratório de informática é uma sala de aula comum. Assim, não há infra-estrutura para acomodar as máquinas cujas quantidades são aquém do número de alunos, bastando informar que cada sala de aula tem cerca de 50 alunos no início do ano letivo. Resultado disso é que em cada computador ficam cinco a seis alunos.
Nunca houve capacitação para professores trabalharem com informática em Delmiro Gouveia. Não há, igualmente, professores de informática.
Não há didática para a abordagem nas aulas de informática, sendo como se fosse um horário de laser em que os alunos interagem com os computadores com seu próprio conhecimento prévio, mas não recebem informação, ou seja, não se trata de aula.
Muitas das vezes o aluno tem mais conhecimento que o professor. Já o professor não encara o computador como ferramenta, mas como um meio de propiciar um momento diferenciado das aulas normais com o uso de giz. Os alunos ficam à vontade e nas escolas onde a internet funciona o ambiente de sala é transformado em lan house onde os alunos navegam a bem de seus interesses de diversão, em redes sociais, serviços de instant messaging, jogos on line não educacionais e outras atividades divertidas, mas nada pedagógicas.
Outros meios tecnológicos existem, mesmo que pouco disponíveis, na rede municipal de ensino de Delmiro Gouveia, como retroprojetores, data show, episcópio, televisores, aparelhos de DVD, aparelhos de som que podem ser utilizados de forma integrada com a informática para facilitar a aprendizagem, dentro do que já foi aqui observado em Kenski apud Dianna Laurrillard (1997, p. 68), quando apresenta os papéis do professor e do aluno nas quatro úteis perspectivas de tipos de ensino com as NTIC´s.

CONCLUSÃO

As novas tecnologias postas ao dispor da escola são decorrência da observação de que estamos em uma nova sociedade e de que deve haver uma harmonização da realidade informacional, virtual e ávida por romper barreiras de espaço, tempo e presença, com a meta escolar de passar conhecimento entre as gerações.
Grande problema se põe no entrave administrativo e na postura docente conservadora. Do lado administrativo encontramos uma escola desaparelhada. Do lado docente encontramos professores distantes da utilização do pouco material de novas tecnologias e suas ferramentas que se tem, quer seja por falta de capacitação, quer, mesmo por acomodação ou turva visão desse novo mundo. Nesta realidade se encontra a educação municipal em Delmiro Gouveia.
No entanto, é visto que diversos professores não se adaptam a era tecnológica, não sabem utilizar estes artefatos, sequer sabem ligar um data show em um computador e por isso continuam insistindo em aulas tradicionais. Estes profissionais dizem que não sabem lidar com "essas coisas" e preferem "dar aula de verdade".
Necessitamos, portanto, de um aprendizado mais abrangente, com instrumentos e métodos alternativos e avançados. E que esse aprendizado chegue primeiramente aos professores, que estes pensem em termos de subjetividade, sentimentos, emoções, vontades, interesses, enfim, em termos de cotidiano e sua construção pela humanidade.
Vasconcelos (2003, p.13) faz a seguinte explanação:
Professor é aquele sujeito que está inserido no processo de humanização, que faz a educação por meio do ensino, que está implicando na tarefa de propiciar a apropriação crítica, criativa, duradoura e significativa da herança cultural, como mediação para a construção da consciência, do caráter e da cidadania.

O aspecto da humanização e cidadania não exclui a integração com as novas tecnologias de informação, pelo contrário, faz forçar que o cidadão professor tenha acesso aos meios de conhecer para interagir com esse novo mundo informacional. O professor é o primeiro e maior vetor, diante dessa realidade. Ele tem que se formar para se integrar, para se comunicar com o aluno que é nativo da "geração net".
Perrenoud (2000, p. 128) estabelece que,
Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e capacitar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação.

O professor tem o papel indispensável na transformação da realidade, por isso é necessário que ele desenvolva a vontade de ação, a fidelidade ao compromisso ético de ser professor.
É preciso pensar que a era das tecnologias nos trouxe grandes benefícios em todos os setores e sempre através da educação. Entendo que educar utilizando essas ferramentas é um grande desafio dado aos professores desta época. Os educadores possuem um conhecimento pedagógico que auxilia o pensamento de como se fazer na prática. Pude perceber que ainda há professores que procuram em sala de aula propor aos alunos uma relação dialética, onde os alunos também possam apontar caminhos para chegar ao objetivo do ensino que é a aprendizagem.
Posso afirmar que o cotidiano do professor é muito atribulado, repleto de tarefas que, muitas vezes acabam não satisfazendo os anseios de seus alunos. É necessário aos professores enxergarem a complexidade existente na sua labuta, para explorá-las de modo a colocá-las significativamente no dia-a-dia de seus alunos.






REFERÊNCIAS

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