A educação como um ato dialógico: uma perspectiva Freiriana 1
Duanne valente Neiva granja 2

Resumo:
O diálogo existe como ato de amor, obtendo nisso o poder de transformação de uma situação de dominação social. Assim, propiciando uma consciência crítica entre sujeitos de uma comunicação consciente.

Palavras chave: diálogo, amor, companheirismo, libertação, consciência crítica, educação opressora.

Para Paulo Freire o diálogo não existe somente na sala de aula, mas em todos os espaços educativos sociais. Freire escrevia para dialogar com o seu leitor, tinha sempre em mente que escrever era construir um encontro com o outro, para que este descobrisse e construísse o conhecimento a partir do diálogo, podendo este ser epistemológico, ou melhor, um estudo a partir de hipóteses.
A regra de conhecimento se dá através da mutua conversação entre os sujeitos, por este motivo a interação do ser humano na busca de transformações sociais torna-se essencial para entendermos a dialogicidade do ato educativo. Normalmente, o diálogo é entendido como uma possibilidade de "democratizar" um tempo e espaço, onde todos tenham o direito de falar. Na pedagogia freiriana o diálogo não é só isso. Quando ele se refere ao diálogo amoroso não esta falando de um bate papo descompromissado entre pessoas na sala, quarto ou botequim. Ele esta falando num diálogo onde o interlocutor por meio de perguntas questiona as verdades do objeto em questão, se diferenciando de Sócrates por ter defendido um método metafísico e idealista.
De acordo com Paulo Freire, o diálogo não provoca nos sujeitos a possibilidade de conhecer concretamente, é a partir da teoria-prática que o saber passa a ser elaborado, portanto, o diálogo freiriano é o amor pelo objeto que pode ser conhecido e o modo como as pessoas se tratam amorosamente no ato de descobrir o que antes estava velado. Conhecer com franqueza e fraternidade.



1- Artigo referente ao curso de Educação.
2- Pedagoga; Especialista em Docência do Ensino Superior.
A dialogicidade é a presença do "eu" e do "tu" como seres dignos de respeito mútuo e admirando o objeto sobre o qual estão tratando. Esse objeto de conhecimento pode ser a fé, a miséria, a falta de escola ou moradia, a cidadania, dentre outros aspectos.
O gesto de ouvir não pode ser somente físico, de forma a pensar que o conhecimento, a opinião estão prontas e acabadas. É elaborar o que se escuta, de forma racional e emocional. O escutar de Paulo Freire é elaborar e desenvolver com o outro sua reflexão e emoção. Para ele não existe diálogo sem esperança, e esta está na própria essência da imperfeição dos homens, levando-os a uma eterna busca.
O momento do diálogo é aquele em que os homens se encontram para transformar a realidade e progredir. Embora no processo do conhecimento haja uma dimensão individual, esta não é suficiente para explicar todo processo de conhecimento. Precisamos do outro para conhecer, pois conhecer é um processo social, onde o diálogo é justamente a base.
Para que exista o diálogo é necessário que se tenha humildade. Freire deixa clara sua opinião em que não se pode dialogar com o outro se nos sentimos superiores, ou seja, isso seria uma forma de dominação e opressão. O individualismo não condiz com o diálogo, se não existem companheirismo e união em um mesmo caminho de pensamento, não existe dialogicidade. Para que haja conversação é imprescindível fé em construir, confiança para fazer e refazer. Convicção de que todos os homens têm direitos iguais e lutam por eles.
O ser humano que dialoga tem a força transformadora, sabe que pode lutar contra uma situação de dominação. É claro que não acontece de uma maneira mágica, mas por uma luta verdadeira em busca de sua libertação. Com a disposição de um trabalho não mais escravo, mas liberto que permita o prazer de viver.
Sem acreditar nos seres humanos, o diálogo seria uma maneira de manipulação docilmente paternalista. O diálogo consiste numa relação horizontal centrada pelo respeito entre os sujeitos que participam da expressão de uma prática social, valorizando-se o saber de todos. Freire comunga da opinião de que ninguém liberta ninguém, porém também ninguém se liberta sozinho, porém os homens se libertam em comunhão.
Outra forma ou ângulo desse questionamento é entender que o diálogo proposto pelas elites é verticalizado, forma o educando-massa, impossibilitando-o de se manifestar. Para que o educando passe da consciência ingênua para crítica ele tem que se tornar sujeito, libertando-se do domínio do opressor que muitas vezes o faz se sentir ignorante e incapaz.
Educar dialogicamente é essencial para formação do pensar crítico. Para se chegar a tal resultado é necessário que se tenha entre os sujeitos uma comunicação autêntica, onde haja confiança entre ambas as partes. A comunicação como forma de manter a consciência crítica entende-se como a consciência articulada junto às práxis. Para Paulo Freire o caminho para se chegar a um olhar perceptivo, desafiador e transformador, é imprescindível o dialogo critico, a fala e a convivência. Para este autor o mundo impressiona e desafia uns aos outros, originando visões ou pontos de vista impregnados de dúvidas, anseios, esperanças e desesperanças.
Quando verificamos as relações educador-educando na escola, em qualquer etapa, passamos a acreditar que tais relações apresentam um caráter especial e marcante, o de serem relações de assimilação e acomodação, isto é, o aluno assimila aquilo que o professor ensina, antecipadamente decididos. Quando na própria escola o aluno recebe cartilhas, folders e manuais escolares em que os mesmos são colocados na posição de meros observadores e não pessoas que fazem parte e interagem com suas realidades. Impedindo que os educandos aprendam a refletir sobre o seu papel na sociedade.
Esta concepção que acreditamos ser prejudicial ao ensino-aprendizagem é opressora, autoritária, onde apenas tem o ato de depositar e transferir conhecimentos considerados corretos. Quanto mais se der continuidade à educação "bancária" mais se desenvolverem indivíduos alienados, não transformadores da sua realidade, pessoas incapazes de mudar o seu destino.
A solução é discutir a realidade nas salas de aula, libertar os seres humanos da alienação, abrir os olhos humanizando através da práxis com ação e reflexão dos homens sobre o mundo e suas ações nele.
A verdadeira educação se compromete com a ação libertadora, não pode se conformar com a consciência do homem como sendo algo vazio, a ser preenchido com conteúdos previamente definidos. Nesse momento entra o diálogo, a problematização da realidade, a fim de formar cidadãos com consciência real do mundo em que vive. Propondo que o homem seja o agente transformador da sua realidade, e não objeto passivo da condição de oprimido pela sociedade.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, 1987.

_____________. Educação como prática de liberdade. 14 ed. Rio de Janeiro, 1983.

_____________. Medo e Ousadia: O cotidiano do professor. 23 ed. Rio de Janeiro, 1986.

_____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 14 ed. São Paulo,1996.