ARTIGO CIENTÍFICO

A ARTE DO CONTO 

SILVA, Maria Oziane Pereira da.

RESUMO: Abordaremos neste estudo o tema “A arte do conto”, centrado na análise de propostas de contos para serem adotados nos três anos do ensino médio. Além de ressaltar a cultura popular de um povo que narra suas próprias histórias aliadas às didáticas dos livros escolhidos por professores para ministrar em suas aulas. Narrar é muito mais que contar uma simples história, o seu conteúdo também tem haver com a realidade do momento e da criança/adolescente/adulto. Portanto literatura é a arte do pensar, do imaginário, do aprender a fazer e do aprender a ser. Este trabalho tem a intenção de apresentar as possíveis propostas de contos que possam ser usados como parte de metodologia aplicada em sala de aula. Não apenas no ensino fundamental, mas que continue no ensino médio, dando ênfase para preparar o aluno para adentrar no ensino superior, ou seja, o mundo acadêmico.

Palavras-chave: Literatura. Contos. Didática. Ensino médio.

INTRODUÇÃO: Nesta análise de conto, cujo tema se refere à arte de contar histórias que tanto podem ser contadas para o público infantil como para o público adulto, principalmente quando se depende do conteúdo pedagógico artístico do conto popular, fruto da cultura de um povo unindo a didática dos livros de grandes autores de contos como Monteiro Lobato, a grande referência da Literatura Infantil do Brasil.

Porém, neste estudo trabalharemos apenas com as possíveis propostas de contos que podem ser contados nos três anos do ensino médio. Contos que possam ser adequados à realidade adolescente/adulto que tenha por finalidade a metodologia empregada por cada professor de acordo com as suas observações no ambiente escolar, em relação aos acontecimentos presente na nossa atual situação.

Desenvolver uma proposta a ser trabalhada é sempre difícil, principalmente quando não se sabe o que o outro espera desta e se serão aceitos e como serão interpretados didaticamente. E se dessa história pode-se tirar uma mensagem para a vida ou é apenas  uma mera história para preencher a carga horária designada a cada educador.

Desenvolver as habilidades do aluno é muito mais que isso, é dar-lhes a oportunidade de entender a si mesmo, para depois compreender e analisar o que se pede da maneira tal qual.

- A narrativa primordial, histórias de trancoso.

Gênero tão antigo como a imaginação humana, é o relato de contos fabulosos, seja para revoar com sua mera narração ou para tirar deles um ensinamento soluto a parábola, o apólogo, a fábula e outros do símbolo didático são narrações mais ou menos simples e formas do conto. “Todas têm em suas origens mais remotas, certas características e transcendental cujo sentido foi-se perdendo com o passar dos tempos, ficando apenas a mera envoltura poética ou episódica”. (Menedes Peoyo, Origens de La Novela I, p. 7) .

O impulso de contar estórias deve ter nascido no homem no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros certa experiência sua, que poderia ter significação para todos. Escrever é gravar relações psíquicas. O escritor funciona qual antena e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixou-se aspectos da alma de um povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo.

MONTEIRO LOBATO

As histórias de ficção, e muito especialmente as narrativas que vêm do folclore, os mitos, as lendas, os contos de fadas, se apresentam com a maneira mais significativa da cultura popular de um povo. “A natureza só permite aos gênios uma filha: sua obra”. (Monteiro Lobato).

O conto procura lidar com um elemento repressivo complicado. De acordo com SILVA(1986, P. 21), a leitura do texto literário ‘pode-se constituir num fator de liberdade e transformação dos homens”.

Histórias de trancoso ou literatura de cordel. A expressão história de trancoso aparece com frequência na linguagem popular nordestina, denominada história de encantamento, de autor desconhecido ou mesmo lendas e crendices. Independente de autores recebem esta denominação, são recontadas pecos pais aos filhos e foram a fonte de inspiração para a criação de muitas obras famosas, conhecidas hoje como literatura de cordel. “O certo em literatura é escrever com o mínimo possível de literatura (...) a mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas simplifiquei-me”. (Monteiro Lobato).

Trancoso foi um famoso escritor português do século XVI. Seu nome completo era Gonçalo Fernandes Trancoso. Bastante divulgado no Brasil por padre Antonio Vieira. Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira­­ – mas já tantos sonhos se realizaram.

Estudiosos de todos os pontos da terra e pertencentes às mais diferentes áreas de pesquisa (filologia, linguística, folclore, etnologia, antropologia, história, literatura, pedagogia, etc.), tanto têm tentado descobrir os misteriosos caminhos seguidos por essa literatura popular que, vinda das origens dos tempos, chegou até nós.

A mula sem cabeça ou popularmente chamada de besta fera, é a história de uma mulher que namorava o padre e à meia noite de quinta para sexta-feira transformou-se em burra, e no lugar de cabeça, uma tocha de fogo correndo e assombrando a todos da cidade. Um animal encontrado que ao ser furado desencanta, foi assim que um viajante o encontrou e o furou, quando ao desencantar surgiu a figura de uma bela moça, aquela que por suposto namorava o padre e jamais alguém pensou ser tal coisa.

Relato do seu Joaquim

Nesse conto podemos observar que seu conteúdo não é propriamente para o público infantil e por que não para os adultos? Pois trás uma mensagem de ensinamento em relação ao comportamento de uma moça para com um sacerdote, um padre que deve ser fiel aos seus votos sacerdotais voltados exclusivamente para a igreja. Além de tratar dos aspectos da sexualidade de uma mulher em relação a um homem, mesmo este sendo “proibido”. E a sociedade ao tomar conhecimento sobre o assunto ou puna severamente por ter praticado tal ato inconcebível até mesmo nos tempos atuais.

O ato de contar faz-se cada vez mais presente no corpo da narrativa. Em função da crescente valorização que a nossa época dá à linguagem como fator essencial na formação da criança e dos jovens, a literatura contemporânea tem supervalorizado o ato de narrar-compreendido como ato de criar- através da palavra, daí a utilização cada vez maior da metalinguagem, com histórias que falam de si mesmas e do seu fazer-se. Esse novo aspecto da literatura infanto/juvenil visa levar os leitores a descobrirem que a invenção literária é um processo de construção verbal, inteiramente dependente da decisão do escritor.

O conto procura lidar com um elemento repressivo complicado. A sociedade, que ainda repreende certos assuntos mesmo diante da modernidade em que se encontra. A essência da literatura consiste na obra de arte literária que é a organização verbal significativa da experiência interna e externa, das vividas do eu particular com as transmitidas e influenciadas pelo mundo.

No conto “as crianças-adultos” Peamuts, Mafalda e Calvim resgatam a infância remanescente na vida adulta-neurose na infância. Separação de mundos entre adultos e crianças. Elaboração adulta de sofrimentos infantis. Idealização da autonomia e passividade infantil. Exposição das crianças à violência e ao sexo na mídia/adultos/crianças. Ilusões pedagógicas, refúgio na fantasia. Solidão na infância, desidealização da parentalidade.

Os contos de Machado de Assis:

1- uma nova perspectiva noEnsino Médio*

Este artigo comprova que os contos de Machado de Assis podem ser trabalhados de forma  prazerosa com alunos de Ensino Médio. Os contos podem ser explorados por meio de roteiros de leitura cuja metodologia articula os estudos de língua e de literatura, partindo da leitura integral dos textos e  fundamentando-se na Estética da Recepção. Os contos de Machado de Assis apresentam uma riqueza de significados que podem prender a atenção do leitor desde que sejam explorados em seus aspectos técnico composicionais e desde que sejam estabelecidas  relações com o contexto dos leitores da atualidade. O trabalho  desenvolve nos alunos o gosto pela leitura, o interesse em conhecer outras obras de Machado de Assis e a melhoria na escrita, demonstrando assim, que os textos do autor são fundamentais para o aprimoramento dos alunos do Ensino Médio.

. Contos tais como:

A cartomante e Pai contra mãe, ambos de Machado de Assis.  podem ser aplicados com o auxilio de roteiros com o objetivo de estimular a prática da leitura, valorizar os contos de Machado e demonstrar que é possível trabalhar com os contos do autor de forma prazerosa. O trabalho pode ser introduzido nas séries de ensino médio primeiramente com o inicio da leitura do conto A cartomante  que pode muito bem ser comparado com Tílburi de praça, conto de Raul.em seguida o trabalho pode  prosseguiu com a análise de Pai contra mãe e com o estabelecimento de suas relações intertextuais com o conto O caso da vara.  Essa proposta de trabalho pode ser  desenvolvida de acordo com uma metodologia que articula os estudos de língua e de literatura, partindo da leitura integral dos textos e fundamentando-se na Estética da Recepção.Os contos de Machado de Assis apresentam uma riqueza de significados que podem prender a atenção do leitor  desde que sejam estabelecidas relações com o contexto dos leitores da atualidade. Assim, este artigo contempla dois tópicos: a leitura de contos como alternativa na formação de leitores; uma proposta de roteiro de leitura de contos para o Ensino Médio.

1.1- A leitura de contos como alternativa na formação de leitores:

 

            Neste mundo globalizado em que o desejo do acesso a bens materiais sufoca valores essenciais, em que tudo é passageiro e em que as inovações tecnológicas atraem o olhar, o professor precisa introduzir seus alunos no universo mágico da leitura, de forma criativa e prazerosa, para que, no futuro, eles possam alçar voos maiores. Para que a obra literária possa capturar o leitor, é necessário que seja apresentada ao aluno de forma adequada. Os contos, por serem mais curtos e propiciarem uma leitura mais rápida, viabilizam sua leitura integral numa só aula, o que permitirá ao professor realizar uma leitura compartilhada com os alunos. O acesso a contos pode constituir uma alternativa viável para formar leitores apaixonados se o professor investir nos aspectos que estabelecem uma crítica da realidade.

            Em relação à leitura de Machado de Assis no Ensino Médio, Saraiva constata que a maioria dos alunos, mesmo não conhecendo as obras do autor, rotula-as depreciativamente, estabelecendo uma espécie de rejeição:

 

Outra barreira que o professor enfrenta são os preconceitos ou pré-conceitos que “aderem” a autores ou obras, provocando uma rejeição que se antecipa a sua leitura. Nesse último caso, inclui-se Joaquim Maria Machado de Assis: raros são os alunos que, cursando a 1.ª ou a 2.ª série do Ensino Médio, já leram algum de seus textos; entretanto, muitos dizem ser ele um autor “difícil e chato”, ainda que não tenham tido acesso às suas obras, enquanto outros não têm qualquer informação sobre o escritor brasileiro.

(SARAIVA, 2007, p. 173)

 

Saraiva expõe, também, que o professor pode ter acesso às diferentes temáticas abordadas por Machado de Assis, cuja atualidade é evidente como se constata em Pai contra mãe No primeiro conto evidencia-se:

 

“a brutalidade humana, cuja manifestação não se restringe às práticas do regime escravocrata e que desconhece até mesmo o direito à vida, e a luta pela sobrevivência que expõem os mais primitivos instintos do homem”; nos outros dois, projeta-se “a vida das mulheres, seus desejos e afetos, as frustrações e os preconceitos que sofrem” (SARAIVA 2007, p. 176).

 

Na obra machadiana, o professor possui variadas opções de textos para o trabalho em sala de aula, temas distintos, instigantes e atuais, capazes de promover a reflexão sobre a condição humana.

3 - Um proposta de roteiro de leitura dos contos para o Ensino Médio

As obras de Machado de Assis podem ser trabalhadas no Ensino Médio facilitando assim com que os alunos possam redescobrir o prazer de ler contos. Uma das propostas de roteiro que podem ser trabalhadas com as turmas de 1º e 2º constituindo-se na aplicação de leitura e exploração dos contos machadianos: A cartomante e Pai contra mãe.

Os objetivos gerais deste trabalho: comprovar que os contos de Machado de Assis podem ser trabalhados de forma prazerosa em turmas de Ensino Médio e incentivar o gosto pela leitura e pela escrita por meio do trabalho desenvolvido com roteiros de leitura.

Os objetivos específicos consistiram em:

. Ouvir, ler e compreender os contos em estudo;

. Perceber a seqüencialidade das ações na história e a diferença entre história e discurso;

. Analisar as personagens observando o ponto de vista do narrador e a visão que uma personagem apresenta da outra;

. Relacionar os episódios relatados nos contos à vida real, observando a atualidade dos assuntos neles explorados;

. Comparar os contos: A cartomante, de Machado de Assis com o Tílburi de praça,

de Raul Pompéia e Pai contra mãe com O caso da vara, ambos de Machado de

Assis;

O roteiro de leitura referente ao conto A cartomante pode se, aplicado em turmas de 1º ano e de 2º ano a atividade introdutória de recepção ao texto consistiu na análise, em pequenos grupos, de anúncios de cartomantes retirados de jornais e de revistas e de panfletos do mesmo tipo distribuídos nas ruas da cidade e da discussão sobre a forma com que os anúncios são elaborados para influenciar as pessoas. Depois da atividade introdutória pode ser realizada a leitura oral do conto, na qual a professora fará a explicação aos alunos sobre os aspectos composicionais da narrativa, localizando com os alunos os informantes espaciais e temporais e os índices. Ao final da leitura, a professora pode pedir aos alunos que leiam novamente o conto, silenciosamente, e observem a seqüencialidade das ações na história e esclareceu a diferença entre história e discurso.

Após a realização das atividades propostas no roteiro, os alunos podem fazer a leitura do conto Tílburi de praça, de Raul Pompéia e desenvolver atividades de comparação entre os

dois contos, uma vez que ambos apresentam um triângulo amoroso e o tema da traição, além de se passarem na mesma época. No final do trabalho com esses contos, os alunos podem escolher uma cena de um dos contos para dramatizarem em grupos; pesquisaram a biografia e a obra dos autores na internet e também o contexto sócio-cultural da época em que foram escritos os contos em estudo.

No roteiro de leitura de Pai contra mãe: pode ser aplicado em turmas de 2ª e 3º ano começando com uma atividade introdutória à recepção do texto com a apresentação de telas ou murais com imagens representando a escravidão no Brasil colônia, tais imagens podem ser analisadas em pequenos grupos onde serão debatidas sobre.  Importante que todas essas imagens retratem castigos aplicados aos negros na época da escravidão .

Após a análise das telas pode ser realizada a leitura oral do conto e as explicações da professora sobre os aspectos composicionais da narrativa.

As atividades que se destacam no roteiro são as de compreensão textual e de interpretação, as de análise das estratégias discursivas adotadas por Machado de Assis, tais como a ironia e a metáfora, procurando captar o que não está dito claramente no conto, a identificação dos tipos de discurso presentes no texto, a análise das relações entre as personagens, o estabelecimento de relações entre os nomes de ruas e o significado do texto.

Também podem ser realizadas também uma produção textual, questionando o motivo da escolha do título Pai contra mãe por Machado.

. Ao término das atividades previstas no roteiro, pode ser feita a leitura oral e silenciosa de outro conto de Machado de Assis que também retrata a escravidão, O caso da vara, e a comparação entre os dois.

METODOLOGIA

Neste trabalho foram usados referências bibliográficas com base em livros de contos e de sites. Além de uma pesquisa de campo realizada no colégio Plácido Aderaldo Castro na cidade de Pacujá com a aluna X, que ao ser perguntada sobre o assunto não sabia sequer do que se tratava o assunto. Pois não era trabalhado em sala de aula. Tal situação reflete a problemática da formação docente, evidenciando lacunas na preparação do profissional para a atuação em sala de aula.

ANÁLISES E DISCUSSÕES

 

Hoje o que se vê não são só professores desinteressados, mas alunos também, muitos não se interessam em cobrar tal conteúdo do professor. Em face a este quadro o educador se detém continuamente nos manuais didáticos com o objetivo de preencher as lacunas deixadas em sua formação acadêmica, a clamar por medalhas a serem aplicadas nas aulas em que ministra e a criticar a contribuição das Universidades, julgando-as desconectadas com a realidade escolar. Embora nossa educação tenha dado saltos na qualidade de ensino, mesmo assim ainda têm deficiências a serem corrigidas. Alguns alunos ainda não estão habituados a ler este tipo de texto, pois lêem apenas o que lhes interessam. Isso acontece principalmente no ensino fundamental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização deste artigo pode-se concluir que a categoria dos contos começada na infância até a adolescência chegando à fase adulta. No qual podemos detectar um questionamento muito maior em relação à criticidade do conteúdo exposto.

 

De fato este conteúdo se faz necessário não apenas como uma didática inserida em sala  de aula, mas sim retrata o prazer pelas narrativas que se assemelham à nossa realidade, quer sejam histórias de crendice popular ou narradas por autores consagradas. Um grande acervo de narrativas é como uma boa caixa de ferramentas, na qual sempre temos o instrumento certo para a operação necessária, que poderá ser realizada se tivermos a broca, o alicate e a chave de fenda adequados.

É inserida neste contexto literário o componente curricular de LIJ, está ficando a sua atenção, para o preenchimento da seguinte metodologia. Não só apenas em sala de aula, mas levar para a vida como forma de conhecimento do ser, do aprender e do saber a fazer da vida uma eterna aprendizagem da manifestação primordial da vida, o mundo da fantasia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENJAMIM, Walter. O Narrador, In Magia e Técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Ed. Brasiliensa, 3ª Ed. 1985.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil/juvenil. 4ª Ed. São Paulo: Ática, 1991.

CORSO, Diana Liehtenstein; CORSO,Mário. Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Site: WWW. História de trancoso e citações de Monteiro Lobato.