A APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA NO 2° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PERSPECTIVA SÓCIO-CONSTRUTIVISTA E INTERACIONISTA

 

Jaqueline Silva dos Santos[1]

Michelle Nunes do Amaral[2]

Edilene Gomes Távora[3]

RESUMO

Este presente artigo, tem como objetivo geral, analisar como ocorre o processo de ensino e  aprendizagem da leitura e escrita no 2º ano do Ensino Fundamental I, assim como investigar as concepções de leitura e escrita defendidas por alguns teóricos nas áreas da Educação e da Pedagogia, entre eles: Cagliari (2009), Ferreiro & Teberosky (1985), Soares (2004), Paulo Freire (1986), Piaget (1974) e Vygotsky (2005), abordando questões relevantes sobre algumas dificuldades enfrentadas pelos alunos, durante a aprendizagem da leitura e escrita no ambiente escolar, descrevendo as práticas de leitura e escrita desenvolvidas pelas professoras em sala de aula. O campo investigativo da pesquisa é uma escola da rede pública municipal do Jaboatão dos Guararapes-PE e os sujeitos são os alunos dos 2° anos A e B e suas respectivas professoras. Com base nas observações de campo, realizamos um questionário com as duas professoras, a fim de coletar e analisar dados a respeito do tema proposto.

PALAVRAS-CHAVE: aprendizagem, leitura e escrita.

ABSTRACT:

This present article, has the general objective to analyze how is the process of teaching and learning of reading and writing in the 2nd year of elementary school , as well as investigate the conceptions of reading and writing advocated by some theorists in Education and Pedagogy including: Cagliari (2009 ) , Smith & Teberosky (1985 ) , Smith (2004 ) , Paulo Freire (1986 ) , Piaget (1974) and Vygotsky (2005) , addressing relevant issues on some difficulties faced by students during the learning reading and writing at school , describing the reading and writing practices developed by teachers in the classroom . The investigative field of research is a school of public health system of Jaboatão Guararapes -PE and the subjects are students of 2nd year A and B and their teachers . Based on field observations , we conducted a questionnaire with two teachers in order to collect and analyze data on the proposed theme.

KEYWORDS : learning, reading and writing.

INTRODUÇÃO

O interesse em realizar essa pesquisa, deu-se a partir de algumas experiências que vivenciamos em sala de aula. Observamos que muitas crianças, no início de sua vida escolar, sentem dificuldade para aprender a ler e a escrever corretamente, ou seja, para apropriar-se do sistema de escrita alfabética. Com o objetivo de analisar como ocorre o processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita no 2º ano do Ensino Fundamental I, investigar as concepções de leitura e escrita defendidas pelos teóricos e descrever as práticas que contribuem para a alfabetização e o letramento, acreditamos na necessidade de tentar investigar essas dificuldades enfrentadas pelos alunos, no processo de apropriação da leitura e escrita no 2° ano, analisando como ocorre o ensino e a aprendizagem numa perspectiva construtivista e sócio- interacionista.

A contribuição dessa pesquisa é importante para a Educação, para a Pedagogia e para o Ensino Fundamental, no que diz respeito às metodologias, concepções e práticas de ensino na área da linguagem e escrita, desenvolvidas pelos professores nos anos iniciais, em escolas da rede municipal de ensino. O seu desenvolvimento é importante, pois amplia os conhecimentos desses professores sobre o ensino da língua portuguesa em sala de aula, e sua importância na formação para a cidadania.

O ensino da língua portuguesa na escola, desde a década de 80, tem sido o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar a qualidade de ensino no país. A principal discussão, no que se refere ao fracasso escolar nas escolas públicas, é a questão do ensino da leitura e da escrita nos anos iniciais do Ensino Fundamental I.Os índices brasileiros de repetência nos anos iniciais, estão diretamente ligados à dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever.

Com o lançamento do documento “Parâmetros Curriculares Nacionais” em 1997, a proposta curricular brasileira foi reelaborada e o ensino fundamental foi ampliado para nove anos, pois tal documento foi formulado para servir como referência e renovação da educação brasileira. Segundo os PCN’S de Língua Portuguesa (1997, pág.21), o domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para o ser humano esteja inserido no meio social, pois é por meio dela que ele se comunica, tem acesso a informação, partilha ou constrói visões de mundo, produzindo o conhecimento. Por isso, ao ensiná-la a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os alunos, o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania.

No momento atual, uma discussão é levantada, no que diz respeito, ao direito de ser alfabetizado e ao acesso á cultura escrita nos primeiros anos de escolaridade. Desse modo, pode-se, hoje, afirmar que é necessário um compromisso dos educadores em torno do pressuposto, de que até oito anos de idade, as crianças tenham se apropriado dos conhecimentos necessários a leitura e a escrita de textos quer circulam socialmente.

O direito a educação básica é garantido a todos os brasileiros e, segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96),esse direito é assegurado, pois a referida lei, tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua formação para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais. Dentre outros direitos, é prioritário o ensino da leitura e escrita, tal como previsto no artigo 32, inciso I:

Art.32. O Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9 anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I – O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.

No decorrer de sua vida escolar, as crianças são convidadas a ler, produzir e refletir sobre textos de diferentes gêneros e suportes, que circulam na sociedade, com a finalidade de discutirem temas sociais relevantes. Se as crianças concluírem os anos iniciais do Ensino Fundamental I, compreendendo os princípios básicos do sistema de escrita alfabética, será muito provável, que consigam consolidar com autonomia, a fluência de leitura e produção escrita nos anos seguintes de sua escolaridade.

Diante das observações realizadas, pode-se verificar que, em ambas as turmas, nas aulas de língua portuguesa, há dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita de palavras do padrão silábico simples. Foi observado que a maioria das crianças não lêem com fluência, palavras do padrão silábico simples, assim como apresentam dificuldades na escrita das mesmas. Observamos também que, de trinta crianças, apenas quinze, dominam as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler e escrever palavras, frases e pequenos textos como: poemas, parlendas, bilhete, cantigas de roda, etc. A maioria das crianças, não dominam o sistema de escrita alfabética e precisam de intervenções das professoras em diversas atividades de leitura e produção textual.

Quanto ao ambiente escolar, foi observado que, a sala de aula dispõe de um alfabeto ilustrado, cartazes com as produções escritas dos alunos, painel com os nomes das crianças em ordem alfabética, proporcionando com isso um ambiente estimulador e alfabetizador. Porém, ambas as professoras não dispõem de recursos didáticos necessários para utilizar em suas aulas, fazendo uso apenas do quadro negro, alfabeto móvel, caderno, papel sulfite, lápis grafite e giz de cera.

A maioria dos alunos, vive numa comunidade carente do município de Jaboatão dos Guararapes, e dificilmente são incentivados pela família, no que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita, pois vivem num ambiente não - letrado, dependendo somente da escola, para que essa aprendizagem aconteça.   

Após a pesquisa de campo e análise dos dados coletados podemos notar que, embora as professoras estudadas estejam familiarizadas com o pensar teórico a respeito de ler e escrever, o mesmo não se dá em relação ao ensino e aprendizagem da língua.  Há uma discordância quanto ao significado e a importância do processo de ensinar/aprender a ler e a escrever. Percebemos que, na inquietação de desenvolver um trabalho pedagógico eficiente, as professoras acabam abrindo mão do material didático e lançam mão de outros recursos didáticos como cópias de textos que circulam no dia a dia das crianças, mas não organizam esse material tornando-o significativo para os alunos.

Os resultados obtidos na pesquisa e na investigação de campo nos proporcionaram vivenciar aprendizagens riquíssimas na área da alfabetização e do letramento, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tais aprendizagens, contribuiram não só para a nossa formação acadêmica, como também, para o nosso crescimento como profissionais da Educação e da Pedagogia.

O trabalho aqui apresentado, nos fez perceber que os alunos, quando motivados, podem desenvolver, de forma autônoma, atividades de leitura e escrita, com criticidade e gosto. Verificou-se que o professor deve investir e acreditar na sua capacidade de auxiliar seus alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Além disso, é preciso que o professor diversifique as situações de aprendizagem e procure adaptá-la a realidade de seus alunos.

 

METODOLOGIA E DESCRIÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA

A Metodologia Científica introduz o discente no mundo dos procedimentos sistemáticos e racionais, base da formação tanto do estudioso quanto do profissional, pois ambos atuam, além da prática, no mundo das ideias. Pode-se afirmar até: a prática nasce da concepção sobre o que deve ser realizado, e qualquer tomada de decisão fundamenta-se naquilo que se afigura como o mais lógico, racional, eficiente e eficaz. (LAKATOS & MARCONI, 2003, pág.17)

Ao iniciarmos a pesquisa buscamos realizar um levantamento bibliográfico e de fontes, acerca do tema a ser investigado. A pesquisa inicial foi de referência teórica, como o estudo em livros, revistas, artigos e sites na internet, que serviram como base facilitadora a elaboração deste trabalho científico.

O método utilizado na pesquisa foi o indutivo, que segundo os autores citados acima, é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões, cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. (LAKATOS & MARCONI, 2003, pág.86).

A Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta ou uma hipótese, que se queira comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Consiste na observação de fatos e fenômenos, tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes, e no registro dos mesmos, para então serem analisados. (LAKATOS & MARCONI, 2003, pág.186).

A pesquisa realizada foi de cunho qualitativo e teve como campo de investigação uma escola da rede pública municipal, localizada na cidade do Jaboatão dos Guararapes, no bairro da Vila Rica, que aqui vamos nos dirigir pelas iniciais E.M.M.C.B. Os sujeitos da nossa pesquisa de campo, são os trinta alunos matriculados nos 2° Anos A e B do Ensino Fundamental, com idades entre 8 e 9 anos e as professoras das turmas, as quais iremos nos dirigir como professora A e B. Sendo a professora A, graduada em Pedagogia e Pós-graduada em Psicopedagogia, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), e a professora B, formada em normal médio (magistério) e concluindo seu curso superior em Pedagogia pela FAINTVISA (Faculdades Integradas de Vitória de Santo Antão).

 A fim de alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa qualitativa, utilizamos como instrumentos de coleta de dados: a observação do ambiente escolar e o questionário com as respectivas professoras supracitadas acima.

A visita a escola foi realizada durante uma semana, no turno vespertino, com duração de 4 horas. Quanto ao espaço físico, a escola encontra-se em um prédio alugado à Prefeitura Municipal do Jaboatão dos Guararapes-PE, no bairro da padre Roma. O prédio foi adaptado e possui área ampla, com seis salas de aula, biblioteca móvel, três banheiros, pátio, cozinha e diretoria. Porém, não atende as necessidades básicas do alunado, precisando de reparos em sua infraestrutura interna e externa. O acesso das crianças à escola, é por meio de um transporte escolar, custeado pela prefeitura local, com o intuito de diminuir a evasão escolar e melhorar a qualidade de ensino no município.

Ao iniciarmos a pesquisa, elaboramos um roteiro de observação, onde analisamos alguns pontos importantes, tais como:

1. Os conteúdos ensinados em língua portuguesa, atende às necessidades de aprendizagem das turmas do 2° ano A e B?

2. Os recursos didáticos utilizados estão relacionados aos conteúdos ensinados em sala de aula?

3. Há uma interação entre as professoras e os alunos nas aulas?

4. Os objetivos de aprendizagem dos conteúdos ensinados em língua portuguesa estão claros para as turmas do 2° A e B?

5. As propostas de atividades foram assimiladas por todos os alunos das turmas pesquisadas? Seria necessário, o professor explicar outra vez e de outra maneira?

Seguindo o roteiro dado acima, pode-se observar que, a maioria das crianças dos 2° anos A e B, conhecem o alfabeto maiúsculo e minúsculo, assim como vários tipos de letras, fazendo uso, na maioria das vezes, de letras de fôrma em suas atividades de escrita. Elas também associam algumas consoantes, ao seu respectivo som inicial nas palavras, e atribuem o valor sonoro à junção de sílabas simples e complexas. Porém, a maioria delas, ainda não conseguem ler e escrever com fluência pequenos textos, necessitando das intervenções pedagógicas de suas professoras no desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da escrita.

Ao término das observações no campo investigativo, realizamos um questionário com as professoras das turmas dos 2° anos A e B, para melhor esclarecimento das dificuldades apresentadas pelas crianças em leitura e escrita.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

 

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as crianças são incentivadas a realizarem inúmeras atividades de preparação para a escrita, geralmente, cópias ou ditado de palavras que já foram memorizadas por elas. Primeiro elas copiam sílabas, depois palavras e frases, e só mais tarde, são solicitadas a produzir escritas de forma autônoma. É o que geralmente acontece quando as crianças ingressam na escola.

Para Cagliari (2009), deve ser dada maior ênfase a leitura desde a alfabetização, pois uma criança que aprende a ler, se torna mais veloz no aprendizado e tem mais estímulo e motivação para gostar de estudar e ir a escola, pois serve de satisfação pessoal. Em sua obra Alfabetização e Linguística (2009), fala a respeito do ensino da Língua Portuguesa. Em sua concepção, afirma que: 

Ensinar a Língua Portuguesa é ensinar o que é uma língua, mostrar as prioridades que ela tem, juntamente com os seus usos, percebendo primeiramente o que o indivíduo tem de sua fala para, á partir daí, ensinar a língua como se deve, pois para ele toda a pessoa traz consigo uma linguagem própria. (CAGLIARI, 2009, Pág. 27).

Durante muito tempo, a alfabetização foi entendida como uma simples decodificação de fonemas, ou seja, como a aquisição de um modelo fundamentado na estrutura da relação fonemas e grafemas. Com o passar dos anos, essa concepção ”tradicional” de alfabetização foi dando lugar a uma proposta inovadora de ensino da Língua Portuguesa. Uma teoria da aprendizagem, em que a criança vai construindo o seu próprio conhecimento acerca da leitura e da escrita, passando a elaborar hipóteses sobre esse conhecimento.

  As pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita, surgem no fim da década de 70 e são publicadas no Brasil por volta de 1984, influenciando até hoje o ensino e a aprendizagem da língua escrita. Essa teoria construtivista da aprendizagem, teve como precursora a Psicopedagoga argentina Emília Ferreiro, que descreveu em seus estudos, o caminho percorrido pela criança durante o aprendizado inicial da escrita alfabética.

Emília Ferreiro e Ana Teberosky em sua obra Psicogênese da Língua Escrita (1985), afirmam que “As crianças constroem diferentes ideias sobre a escrita, resolvem problemas e elaboram conceituações”. As dificuldades encontradas no processo de aquisição de leitura e escrita, são fatores que interferem na aprendizagem do aluno. As autoras ainda asseguram que a aprendizagem da leitura e escrita, entendida como questionamento a respeito de sua natureza e de sua função, se propõe a resolver problemas e tratam de solucioná-los, seguindo sua própria metodologia. Para as autoras, a criança não chega á escola vazia, sem saber nada sobre a língua, pois a escrita não é um produto escolar, mas um objeto cultural resultante do esforço coletivo da humanidade.

A aprendizagem da leitura, entendida como o questionamento á respeito da natureza, função e valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola o imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõem problemas e trata de solucioná-los seguindo sua própria metodologia. (FERREIRO, 1985, pág. 27).

Jean Piaget, em sua obra Aprendizagem e conhecimento (1974), diferencia aprendizagem de desenvolvimento. Para ele, a aprendizagem é provocada por estímulos relacionados ao meio em que se vive, por isso ela não acontece espontaneamente. No entanto, o desenvolvimento é um processo fundamental que dá suporte, para que uma nova aprendizagem aconteça. Portanto, o desenvolvimento explica a aprendizagem.

A aprendizagem é provocada por uma situação externa. Em geral, é provocada e não espontânea. Além disso, é um processo limitado – limitado a um problema único ou a uma estrutura única. Assim, eu penso que desenvolvimento explica aprendizagem, e essa opinião é contrária à opinião amplamente difundida de que o desenvolvimento é uma soma de experiências discretas de aprendizagem. (PIAGET, 1964, p.176).

Lev Vygotsky, em sua obra Pensamento e Linguagem (2005), explica que existe uma inter-relação entre pensamento e linguagem no processo de desenvolvimento cognitivo da criança. Pois, a linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela criança, ou seja, ela tem um papel fundamental na formação do pensamento e caráter do indivíduo.

A história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial na determinação de como a criança vai aprender a pensar. (MURRAY THOMAS, 1993, p.03).

De acordo com Vygotsky, uma característica essencial do aprendizado é que ele desperta vários processos de desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas quando a criança interage em seu ambiente de convívio.

Paulo Freire, em sua obra A importância do ato de ler (1986), afirma que, a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo, e aprender a ler e escrever, ou seja, alfabetizar-se é, antes de qualquer coisa, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto.

Dessa forma, saber ler consistiria num conhecimento baseado principalmente na habilidade de memorizar determinados sinais gráficos (as letras). Uma vez adquirido tal conhecimento, a leitura tornar-se-ia um processo mecânico, prejudicado apenas por limitações materiais ou por questões linguísticas. (FREIRE, 1986, pág.73).

Magda Soares, em sua obra Alfabetização e Letramento (2004), afirma que, é importante que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere a etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e escrita, e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais.

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita, ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita a alfabetização- e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita o letramento”. (SOARES, 2004, pág.14)

Para a autora, a leitura e a escrita são um conjunto de habilidades, de comportamentos e conhecimentos que compõem o processo de produção do conhecimento. A criança ou o adulto letrado, passam a ter outra condição social e cultural, mudam seu modo de viver e consequentemente de pensar o mundo.

RESULTADO E DISCUSSÃO

 

A escola, de modo em geral, não tem despertado no aluno o gosto e o prazer pela leitura e escrita. A criança, quando inicia sua vida escolar demonstra muito interesse e muita expectativa em relação à escola e aos professores, mas, aos poucos, vai perdendo o entusiasmo. Por que tudo isso acontece? Por que as crianças não aprendem? Por que a maioria tem tanto medo e dificuldade de ler e escrever? E o que a escola e o professor podem fazer para superar essas dificuldades e oferecer um ensino de qualidade? E ainda, como trabalhar a língua escrita para que a criança tenha um bom desempenho? Como a escola pode garantir a todos o direito de aprender? Como tornar essas crianças leitoras e escritoras?

Hoje, estudos realizados, com base nas teorias construtivistas e sócio-interacionistas entendem que, conhecer como se dá o processo de aquisição e desenvolvimento da língua escrita pela criança, no início de sua aprendizagem, e entender a natureza desse objetivo, a língua escrita, são questões fundamentais que o professor precisa saber, para entender e respeitar o processo e desenvolvimento da criança. A partir daí, o educador tem condição de intervir e propor atividades adequadas que favoreçam o processo de aprendizagem da criança. Para isso, o professor precisa de conhecimentos teóricos sólidos para exercer sua prática.

A pesquisa qualitativa abordou um questionário acerca do tema proposto nesse presente estudo. As questões a serem respondidas pelas professoras do 2º ano A e B, foram elaboradas da seguinte forma:

1)Quando se inicia a construção da leitura e da escrita alfabética pela criança?

Professora A: No 1º ano do Ensino Fundamental.

Professora B: Na Educação Infantil.

2)Como a criança pode conhecer a função social da escrita?

Professora A: No meio em que ela vive e interage.

Professora B: No convívio com outras pessoas na sociedade.

3)Qual a diferença entre a criança que vive num ambiente letrado e a que não está inserida nesse ambiente?

Professora A: Muita, pois as que não estão inseridas nesse ambiente, não apresentam interesse na leitura.

Professora B: Há uma grande diferença entre a que vive e a que não vive, com relação à aprendizagem.

4)A criança interage mais com a leitura e a escrita, dentro ou fora da escola?

Professora A: Fora, pois existe a leitura de mundo.

Professora B: Fora da escola, pois a criança constrói informações acerca do mundo em que vive.

5) O que deve ser ensinado primeiro: as atividades de leitura ou escrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental ?

Professora A: juntas, pois ambas se completam.

Professora B:As atividades devem ser ensinadas de forma que uma complementa a outra.

6)Quais são as atividades utilizadas para desenvolver a leitura e a produção textual escrita?

Professora A: alfabeto móvel, dominó de sílabas e ditado de palavras.

Professora B: Rodas de leitura, contação de histórias, bingo de palavras, ditado de palavras e frases, etc.

7)A maioria da turma domina as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler e escrever palavras e textos?

Professora A: não, apenas 05 crianças.

Professora B: não, apenas 10 crianças.

8)A maioria da turma usa diferentes tipos de letras em situações de escrita de palavras e textos?

Professora A: sim, pois querem escrever em letras de fôrma.

Professora B: sim, algumas crianças misturam letras cursivas com letras de fôrma.

9)Quais são as atividades utilizadas para desenvolver a fluência da leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental?

Professora A: leitura de história: oral e visual, depois a escrita.

Professora B: rodas de leitura e contação de histórias.

10)As crianças precisam da escola e da intervenção do professor(a) para iniciar seu processo de construção da leitura e escrita?

Professora A: sim, pois as mesmas não dominam a leitura.

Professora B: sim, pois a intervenção do professor é importante nesse processo de aprendizagem.

Ao analisarmos o instrumento de coleta de dados (questionário), pode-se verificar que, em ambas as turmas, nas aulas de língua portuguesa, há dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita de palavras do padrão silábico simples. Foi observado que a maioria das crianças não lêem com fluência, palavras do padrão silábico simples, assim como apresentam dificuldades na escrita das mesmas.

            As respostas dadas pelas professoras A e B, com relação ao início do processo de construção da leitura e da escrita (questão 1),são bem diferentes. Enquanto a professora A diz que, a criança inicia o processo de construção da leitura e da escrita no 1° ano do Ensino Fundamental, a professora B diz que a partir da Educação Infantil, a criança começa a construir a aprendizagem da leitura e da escrita por meio de rabiscos, desenhos, símbolos, etc.

A professora B, baseia-se na teoria de aprendizagem sócio-construtivista, ao responder que a construção da aprendizagem da leitura e escrita começa desde cedo, na Educação Infantil. Emília Ferreiro, precursora de tal teoria, afirma que a criança elabora hipóteses e conceituações acerca da leitura e escrita. A primeira fase, a qual chamamos de pré-silábica, a criança começa a desenvolver a escrita, fazendo rabiscos, desenhos e garatujas. Essa fase inicial de construção da escrita, começa na pré-escola.

Com relação a questão 2,ambas as professoras A e B, responderam que a criança conhece a função social da escrita no meio em que vivem e interage. Tal resposta, aborda a teoria interacionista piagetiana, ao afirma que o sujeito desenvolve a aprendizagem através dos estímulos vivenciados no ambiente em que vive. De acordo com Ferreiro e Teberosky (1984), a criança reconstrói a escrita, ou seja, a escrita é algo que já existe na sociedade e que ela precisa tão somente compreendê-la.

Tanto a professora A, quanto a professora B, na (questão 3), afirmam que a criança que vive num ambiente letrado tem mais facilidade em aprender a ler e a escrever do que a criança que não está inserida nesse ambiente, assim como a leitura que a criança faz fora do ambiente escolar, representa um significado importante para ela. Pois, há mais interação com a leitura e a escrita fora da escola.

As professoras A e B, basearam-se na teoria freiriana, quando responderam a tal questionamento. Para Paulo Freire, a leitura de mundo é muito significativa na vida de um indivíduo, seja ele alfabetizado ou não. Essa leitura é feita no ambiente em que essa criança está inserida, pois se a mesma, vive num ambiente cercado de informações, livros, jornais, revistas, histórias em quadrinhos, etc., terá mais facilidade em aprender a ler e escrever, do que aquela que não está inserida em tal ambiente.

Com relação a questão 5, tanto a professora A, quanto a professora B, acreditam que a leitura e a escrita não podem ser ensinadas separadamente, ou seja, as atividades de língua portuguesa, devem explorar tanto a leitura quanto a escrita dos alunos. Porém, foi observado que a resposta da professora A, não condiz com a sua prática pedagógica. Pois, a mesma, busca primeiro ensinar a escrita, para então, ensinar a leitura.

Pode-se observar tal afirmação das respectivas professoras A e B, na obra de Magda Soares: Alfabetização e Letramento (2004).A autora, afirma que dissociar alfabetização de letramento é um equívoco. Pois, é importante que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento, ou seja, desenvolvendo habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita. Sendo assim, o professor precisa ser um facilitador do processo de apropriação do SEA (sistema de escrita alfabética), diagnosticando o que a criança já sabe sobre a escrita, para então, inseri-la nas situações de alfabetização e letramento.

Após a pesquisa no campo investigativo, coleta e análise dos dados obtidos, através do questionário, podemos verificar que, embora as professoras estudadas estejam familiarizadas com o pensar teórico a respeito de ler/escrever, o mesmo não se dá em relação ao ensino e aprendizagem da língua. Percebemos que, na inquietação de desenvolver um trabalho pedagógico significativo para seus alunos, as professoras acabam abrindo mão do material didático colocado à sua disposição e lançam mão de outros recursos, de xérox ou de textos que circulam no dia a dia das crianças, mas não organizam pedagogicamente esse material tornando-o significativo para o aluno.

            As aulas acontecem sem uma sequência didática que favoreça a percepção, por parte dos alunos, dos mecanismos de funcionamento da língua. E o resultado de tudo isso está evidenciado nos diversos momentos em que os alunos estão sendo avaliados. De fato, eles não estão sendo alfabetizados em seu devido tempo, ou seja, ao longo do ensino fundamental. Muitos estão chegando ao ensino médio e até mesmo à graduação sem a formação integral das competências de leitura/escrita exigidas.

Com relação as atividades utilizadas para desenvolver para desenvolver a leitura e a escrita de palavras, ambas responderam que trabalham com atividades lúdicas como dominó de sílabas, bingo silábico, ditado de palavras e jogos do CEEL, facilitando assim o interesse dos alunos em aprenderem a ler e a escrever na escola. Pois, as mesmas afirmaram que, de trinta crianças, apenas dezoito, dominam as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler e escrever palavras e textos, como também, que as mesmas, apresentam dificuldades na produção textual escrita.

            Para viver em uma sociedade letrada, a criança constrói algumas hipóteses sobre o SEA, mesmo antes de entrar na escola. Tais hipóteses, são citadas por Emília Ferreiro como níveis de leitura e escrita, são eles: pré-silábico, silábico (quantitativo) sem valor sonoro, silábico (qualitativo) com valor sonoro, silábico-alfabético e alfabético.

Os resultados obtidos na pesquisa e na investigação de campo  nos proporcionaram vivenciar aprendizagens riquíssimas na área da alfabetização e do letramento, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tais aprendizagens, contribuiram não só para a nossa formação acadêmica, como também, para o nosso crescimento como profissionais da Educação e da Pedagogia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao concluirmos esse presente estudo, foi possível perceber que muito ainda se tem a fazer para que a leitura e a escrita seja de fato um direito de todos. Uma criança que ingressa na escola e começa a apresentar dificuldades relacionadas à aprendizagem passa por diversas complicações. Muitas vezes, são rotuladas como preguiçosas, desinteressadas,

irresponsáveis.

O presente estudo, procurou mostrar a importância da leitura para o desenvolvimento da escrita, e que a forma de como está organizado o sistema de ensino, é que leva em muitos casos o desestímulo do aluno, pois o que se ensina, muitas vezes não condiz com sua realidade, e o que é mais preocupante é que esse aluno venha a fracassar em sua aprendizagem. Nesse sentido, o que os alunos trazem de conhecimento deve ser aproveitado e valorizado para o aperfeiçoamento deste conhecimento, pois valorizar o que o aluno sabe é olhar para esta criança como um sujeito de direito construído historicamente.

O trabalho aqui apresentado, nos fez perceber que os alunos, quando motivados, podem desenvolver, de forma autônoma, atividades de leitura e escrita, com criticidade e gosto. Verificou-se que o professor deve investir e acreditar na sua capacidade de auxiliar seus alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Além disso, é preciso que o professor diversifique as situações de aprendizagem e procure adaptá-la a realidade de seus alunos. É necessário que os profissionais da educação adotem uma postura ética em relação ao aluno. A aprendizagem ocorrerá de maneira mais satisfatória se houver motivação (necessidade ou desejo de aprendê-la) e um reforço (recompensa).

Alguns processos de aprendizagem podem ocorrer sem motivação e reforço, ou seja, por meio de identificação com o outro, pois quando uma criança se identifica com os pais, adquire muitas características, pensamentos e sentimentos deles, seguindo consequentemente o padrão de comportamento da família. Tanto a família, quanto os educadores devem incentivar na criança o desejo pela leitura, de forma que as atividades escolares proporcionem esse desejo.

Por meio desse trabalho ficou evidente aos professores da escola pesquisada, o quanto a leitura é um instrumento útil e necessário para o resgate de uma boa aprendizagem, levando o aluno a perceber o quanto a escola é um ambiente agradável e significativo, desde que desenvolva as leituras variadas de acordo com o cotidiano do aluno, abrindo espaço para que o mesmo busque a construção de novos conhecimentos e torne-se sujeito transformador, crítico e capaz de enfrentar os desafios que a vida lhe oferece.

Nós professores, sabemos da importância de proporcionar aos nossos alunos, o ensino da língua escrita. Consideramos que na escola, deve haver lugar para todos, pois, é somente através da convivência e aceitação entre as diferenças pessoais que aprendemos a construir uma humanidade com valores de justiça e generosidade. Políticas públicas garantem o aceso de todas as crianças à escola. Apesar disso, muitas não têm aprendizagem garantida e chegam à idade adulta sem conseguir ler e compreender o que está escrito.

Para alcançarmos um ensino de qualidade, o professor (a) precisa ser um mediador do conhecimento, descobrir várias maneiras de despertar no aluno a curiosidade, a atenção e o prazer pela leitura. Infelizmente, poucas crianças de nosso país têm contato com a leitura, sendo que a maioria, é somente quando chega à escola.

REFERÊNCIAS

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724 Informação e

documentação. Trabalhos Acadêmicos - Apresentação. São Paulo: ABNT, 2002.

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº 9394/96.

 

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo. Scipione, 2009.

FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita.

Editora Artmed. Porto Alegre, 1984.

 

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[1] Aluno da Graduação do Curso de Pedagogia da Faculdade Joaquim Nabuco – Recife

[2] Aluna da Graduação do Curso de Pedagogia da Faculdade Joaquim Nabuco – Recife

[3] Breve currículo do orientador