A ANÁFORA: UM RECURSO LINGUÍSTICO-ESTILÍSTICO QUE CONSTRÓI UMA IDENTIDADE PARA O POETA

Romilton Batista de Oliveira

A ANÁFORA: UM RECURSO LINGUÍSTICO-ESTILÍSTICO QUE CONSTRÓI UMA IDENTIDADE PARA O POETA


O presente artigo pretende, a partir do texto poético "Ser poeta", de Florbela Espanca, analisar a anáfora como recurso linguístico-estilístico capaz de dialogar, intertextualizar e construir novas e possíveis leituras, à luz de teóricos como Alfredo Bosi. O poema Ser Poeta, pertencente à coletânea Charneca em Flor, de Florbela Espanca, publicado em 1931, contribuiu para a emancipação literária da mulher. Este trabalho será norteado pela Semiótica, por entender que a poesia atualiza e leva à máxima potência as virtualidades todas do signo e sobretudo a sua faculdade de dar nome a aspectos singulares da experiência. A palavra poética, assim pensada, deixa de ser intransitivo para tornar-se feixe de relações que prismatizam o som pelos sentidos e o sentido pelos sons, a imagem pelas idéias e a idéia pelas imagens. E o símbolo cumpre a sua missão de dar inteligibilidade à relação do homem com o mundo num processo dialógico. O artigo focalizará o aspecto híbrido que rege o tecido poético da escritora numa relação intimista. O ser da poesia contradiz o ser dos discursos correntes e a anáfora constrói a identidade do que é ser poeta, a partir daí, construindo o seu lugar na sociedade numa relação de superioridade. "O poeta goza desse incompatível privilégio de poder, à sua vontade, ser ele mesmo e outro" . E isto se realiza a partir da análise do poema Ser Poeta, apresentando um diálogo intertextual e comparativo, uma metáfora resistente que conduz o poeta à sua sublime missão, a missão de ser representante de um eu-lírico metapoético. Um dos aspectos relacionados à metapoesia em Florbela diz respeito à imagem do eu-lírico enquanto poeta. O soneto apresenta a preocupação quanto ao sentido da existência, e o próprio título parece indicar e sintetizar o que a figura do poeta representa. Enfim, o eu-lírico se revestirá de uma forma transindividual atingindo o universal, conferindo ao poeta uma posição sublimar, um representação identificada.

Palavras-chave: Anáfora; Eu-lírico; Poder; Representação; Poesia florbeliana.







INTRODUÇÃO


Florbela Espanca teve uma vida muito conturbada. Viveu uma época em que a mulher era submissa à sociedade machista e preconceituosa, uma época onde sentiu na pele a inferioridade biológica, social e cultural. Evolução e privilégios lhes foram negados. Era portadora de um "eu" repleto de ânsia de perfeição, libertação e compreensão humana. Compartilha a recíproca de uma sociedade que não a entende. Soube fazer da sua dor um poema. Fazia versos desde os oito anos. E fê-los até a sua morte. Foi a sua vocação e paixão literária.
A poesia de Florbela é o retrato de mulher, a qual procura mostrar-se sensível e ousada, quase que num movimento paradoxal, mas em busca de afirmar-se, acima de tudo, um ser humano consciente do seu "aqui" e do seu "agora", extrapolando tempo e espaço, levando-nos a refletir sobre o nosso estar no mundo.
O presente artigo pautar-se-á na análise do texto poético gerado em um determinado contexto histórico e que servirá como ponte entre arte e sociedade, concebendo, portanto, a feitura do soneto Ser Poeta, de Florbela Espanca, como um desvelamento de si e uma reflexão do ser, levando, assim, os receptores ao conhecimento de múltiplas verdades com reflexões elucidativas.
Desenvolve uma análise consistente e coerente, percebendo a importância da anáfora como recurso lingüístico e estilístico capaz de representar o "eu lírico" feminino, as vozes da poeta numa relação de resistência à submissão que lhe era imposta na sociedade, construindo um novo discurso através do poder expresso pelas imagens contidas nas palavras, pelo simbolismo à serviço da modernidade, na ânsia pela busca da perfeição e da liberdade.
É nessa perspectiva, do poeta como observador da humanidade, intuitivo e capaz de dar voz a pensamentos e sentimentos nem sempre enunciados, que se dá a análise do poema, pela percepção da linguagem poética que, muitas vezes, está por algum lugar atrás das palavras. "O poeta é radical: ele trabalha as raízes da linguagem: Com isso, o mundo da linguagem e a linguagem do mundo ganham troncos, ramos, flores e frutos" , na expectativa do nascimento de um discurso fundador de uma nova caminhada, que resista aos tempos, que tenha poder, o poder de criar, de nomear, de construir. Bosi nos afirma que
O poder de nomear significava para os antigos hebreus dar às coisas a sua verdadeira natureza, ou reconhecê-la. Esse poder é o fundamento da linguagem, e, por extensão, o fundamento da poesia.
[...] O poeta é o doador de sentido.

A análise feita a partir da anáfora será um grande passo para entendermos os sentidos que o eu-lírico pretende representar. A repetição poética não pode fazer o milagre de me dar o todo, resta apenas o sentimento da expectativa, da linguagem e da agonia. A repetição me preme a conhecer o signo que não volta: as diferenças, as partes móveis, a surpresa do discurso.



SONETO "SER POETA": A PALAVRA E A REPRESENTAÇÃO



A poesia de Florbela Espanca é polifônica , dialogizante, apresentado uma multiplicidade de vozes, não reduzidos a um denominador ideológico. Seu tecido poético é constituído de múltiplos estilos, representações, construções de signos, sons e imagens.
Verificamos que a imagem na Poesia desta poeta dialoga com várias tendências literárias, configurando um estilo híbrido, que aponta para uma expressividade singular.
A poesia de Florbela d?Alma da Conceição Espanca (1893-1930) desperta, com sua sensibilidade e ousadia, o encantamento de seus leitores e o interesse de críticos de sua época até a contemporaneidade.
Essa poeta portuguesa tem recebido destaque especial por sua produção literária, tornando-se uma das mais significativas do Modernismo português, sobretudo, no que diz respeito à voz lírica feminina.
Sua poesia, de caráter híbrido, não pode ser rotulada de poesia unicamente moderna. Ela parece configurar-se por imagens vinculadas às sensações que nos remetem à poética do Simbolismo.
No âmbito de um contexto-mundo, essa poesia edifica-se enquanto ato de consciência de si e do universo, ou dos objetos que nos cerca, confirmando um dos vértices da crítica temática que, segundo Poulet, se percebe na seguinte relação: "Dize-me qual é o teu modo de imaginar o tempo, de conceber as coisas e estabelecer relações com o mundo externo e eu te direi quem és" . E esse "quem és" será expresso por algo que se encontra além das palavras.

As palavras desempenham, pois, um ?papel acessório?: as formas específicas da poesia são ?a representação, a intuição, o sentimento, etc.?. Nem transparentes nem opacas, as palavras cedem a uma inferioridade que se assume, que se volta para si, ou seja, ?o espírito se objetiva para si próprio no seu próprio domínio e tão-somente se serve do elemento verbal como instrumento, seja de comunicação, seja de exteriorização direta; e dele se afasta desde o começo, como de um simples signo, para se debruçar sobre si próprio? .


Desta forma, o eu-lírico expresso no poema Ser Poeta, de Florbela Espanca, torna-se um instrumento que se condensa neste fenômeno que está por trás das palavras e que consegue ser expresso através da representação, da intuição, dos sentimentos, das vontades, da alegria, da tristeza, da plenitude, do porvir.
O eu-lírico presente no soneto Ser Poeta busca uma representação para o poeta. Conforme Christina Ramalho:

Toda representação faz parte de um código simbólico, um sistema de signos que estrutura e materializa a realidade, produzindo um regime de verdade. A representação é o fulcro de toda a prática discursiva. Estamos na representação e somos gerados por ela. E é exatamente por ser a representação tão poderosa em criar realidades, articulando uma verdadeira gramática do sistema de uma cultura, que o controle ideológico de seus mecanismos de organização e significação sempre foi a forma mais eficaz de manutenção de poder. Em termos de literatura, a representação singulariza um campo estratégico em que as convenções literárias [...] se imbricam com o sentido social, isto é, com a ordem dos valores transindividuais inscritos nos códigos de representação .

Deste modo, pode-se perceber que o poema representa o papel do poeta diante da realidade que o circunda. O eu-lírico se reveste de uma forma transindividual atingindo o universal. Umberto Eco afirma que:

A representação da arte abrangeria o todo e refletiria em si o cosmo, pois ?nela a unidade palpita da vida do todo e o todo está na vida da unidade, e toda singela representação artística é ela mesma e o universo, o universo na forma individual e a forma individual como universo. Em toda expressão de um poeta, em toda criatura de sua fantasia, está inteiro o destino humano, todas as esperanças, todas as ilusões, as dores e as alegrias, as grandezas e as misérias humanas, o drama inteiro do real, a devir e crescer perpetuamente sobre si mesmo, sofrendo e alegrando-se .

Confere o autor a perspectiva que norteia o eu-lírico desde o início ao fim do soneto: o de representar o poeta na relação do todo com as partes, ou seja, do material universal e sua coesão com o individual transcendentalmente, conferindo ao poeta uma posição sublimar.
No poema Ser poeta, a autora consegue, a partir da anáfora, expor seu eu-lírico sedento por libertação:

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!

A poeta utiliza o verbo ser do início ao fim do poema para exprimir a posição do eu-lírico diante da missão de ser poeta, de "condensar o mundo num só grito!", ou seja, expressar o mundo através do poema. O poema fala por si.
Quatro fontes de inspiração fecundaram a poética florbeliana: a dor, a paisagem alentejana e, sobretudo, o Amor. O amor sem fronteiras, sem limites:

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!


Como poeta, ela é dotada de um dom singular e muito à frente de seu tempo, pois com toda dificuldade poética que apresenta a fatura de um soneto, ela já enfrentava o desafio de compô-lo. O soneto sintetiza uma temática: Ser poeta. Florbela busca uma identidade para direcionar o seu trabalho com a representação e os sentimentos, rendendo-se à intensidade do amor numa dimensão esplêndida e sem limites, afirmando que ser poeta "é amar-te, assim, perdidamente...".



A ANÁFORA: INSTRUMENTO QUE NOS CONDUZ À METÁFORA COMPARATIVA, À INTERTEXTUALIDADE E À POSIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL


No decorrer do poema Ser Poeta transcrito anteriormente percebe-se a utilização da anáfora fortalecida pela metáfora comparativa. O eu-lírico se reveste de poder :

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! .

Constata-se a presença neste momento de palavras escritas com letras maiúsculas para determinar a posição do poeta diante do mundo e de seus problemas numa relação de superioridade temporal e espacial. O eu-lírico se expressa numa relação intertextual. Detecta-se a presença da relação com o texto bíblico, concernente ao beijo de Judas, "o traidor".
O par paradoxal "morder-beijar" nos conduz a uma leitura possível de que o poeta é um "traidor", precisa beijar para trair, ou seja, precisa se "perder" para se "achar", precisa testar para "descobrir"
O texto bíblico nos revela que Jesus era um homem de dores, rei dos judeus, e que estava acima do campo material (dor física), assim também, o poeta se sente e é associado a um homem que está acima dos homens, "um homem" que representa homens, o todo vinculado às partes. Pois todo homem sente dor, o poeta sente além da dor. Sendo "Rei dos Judeus", Jesus nasceu como mendigo, assim o poeta mostra-se como mendigo, para alcançar a posição de Rei do Reino.
O eu-lírico desvenda o que está oculto através da integração do profano (erotismo) ao sagrado, elevando e identificando o poeta como "ser mais alto, ser maior do que os homens". Percebe-se nitidamente que a anáfora, recurso lingüístico-estilístico bem usado pela autora, potencializa o eu-poético neste processo de representação.
Mais adiante do soneto percebe-se que a anáfora é usada para revelar a ânsia pela liberdade do eu-lírico nos versos:

É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de infinito!

Observe que o condor representa o pássaro que voa mais alto entre os seres de sua espécie. O poeta assim se compara, o mais preparado, o representante de sua espécie, pois é o único que tem "garras e asas de condor", e o que consegue ter fome e sede, não de coisas finitas (inerente ao homem), mas de infinitas, inerentes às coisas da alma, de um "meta-homem".
É clara a ânsia de se alcançar a plenitude, quando a poeta diz ter "fome e sede de infinito". Podemos dizer que ser poeta é viver em grande batalha, e que o elmo simboliza a arma mais fundamental e valorosa: a imaginação.
Logo adiante, verificamos que tal batalha ? a da escrita ? tem o que é de mais precioso e delicado, quando surgem as imagens do "oiro" e do "cetim".
No segundo quarteto do poema, o eu-lírico diz ter o esplendor de mil desejos, porém sem nem saber ao certo o que é desejado:

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

Esse esplendor confere a ele uma transcendência, ou seja, a superação de condição humana visto nas imagens do "astro que flameja ou do condor". Desta forma, o eu-lírico radia luz própria (como um Sol que possui luz própria ou um deus que exprime poder), usando a imagem de condor (que como sabemos tem como principais características o seu voar mais alto e a sua solidão) para representar a sua capacidade de poeta. Esta imagem que representa a identidade da poeta torna-se a sua motivação. "A motivação é a janela pela qual a palavra respira fundo e se comunica com as energias da imaginação e do sentimento, tornando-se expressiva, ou com as formas do mundo, tornando-se representativa" .
Convém ressaltar que a poesia é a expressão do "eu" por meio de metáforas. Essas metáforas são produzidas a partir de um ponto de partida: a anáfora. A anáfora, portanto, é o instrumento que nos conduz às metáforas. "A metáfora consistiria no esforço por imprimir as analogias novas que a imaginação do poeta desvenda ou constrói, em tudo semelhante ao ato que designa um objeto recentemente criado ou uma relação inédita com um neologismo" . Cada palavra expressa no soneto Ser Poeta é "um abismo sem fim.[...] O poder excitante de uma palavra é ilimitado" .
A anáfora predominante no soneto em análise localiza e identifica a renúncia do poeta como homem natural. Segundo Paul Valery "a renúncia [...] está muito próxima da mortificação. Mortificar-se é procurar, de uma maneira dura, e mesmo dolorosa, edificar-se, construir-se, elevar-se até um estado que suspeitamos ser superior". E isso se percebe principalmente nas duas primeiras estrofes do poema:

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

Enfim, a preocupação com o fazer poético no soneto aqui analisado cultiva uma reflexão, uma atitude de questionamento e uma tentativa de tradução do sentimento. A produção poética florbeliana caminha para a fusão da vida e da poesia, numa incessante busca da plenitude artística, do "despertar", do pensar livremente, do romper e construir novos paradigmas em torno das vozes que silenciosamente nascem em seu mundo interior e se manifestam através da sua imaginação, produzindo uma expressão escrita segura e de qualidade poética, "e dizê-lo cantando a toda gente" .

Para terminar, quero fazer minhas as palavras de Roland Barthes "para o verdadeiro escritor, escrever é fazer estremecer o mundo". A palavra poética torna-se, sobretudo, transgressora, pois ultrapassa a lógica do cotidiano. E Florbela Espanca representa muito bem esta transgressão tão indispensável na produção da escrita poética.
Para terminar, quero fazer minhas as palavras de Roland Barthes "para o verdadeiro escritor, escrever é fazer estremecer o mundo". A palavra poética torna-se, sobretudo, transgressora, pois ultrapassa a lógica do cotidiano. E Florbela Espanca representa muito bem esta transgressão tão indispensável na produção da escrita poética.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


A poesia é um importante instrumento para romper o modo convencional de perceber e de julgar, e mostra às pessoas o mundo com olhos novos. Espanca nos proporciona uma consciência mais ampla dos sentimentos profundos que formam o substrato de nosso ser porque a nossa vida é uma constante evasão de nós mesmos e do mundo visível e sensível. O poema Ser Poeta cumpre esse papel, dando ao poeta uma identidade a partir da sua entrada na história por duas portas: uma porta comunica com os labirintos do inconsciente onde se gestam as metamorfoses do desejo (Porta do sonho). A outra porta dá para os tesouros da memória formados por mais de três mil anos de tradição letrada (Porta da cultura).
O eu-lírico sobrevive, é resistente, reage como um filósofo na busca do sonho e da imagem que se funde com o pensamento, do corpo que se funde com a cultura, num instante poético, momento de plenitude, fazendo da poesia uma metafísica instantânea , sem temer a diferença nem a contradição, construindo a sua identidade.
É o soneto, a forma fixa que Florbela Espanca, traduz seus sentimentos, sua escrita laboriosamente profunda e intimista. E em Ser Poeta, ela consegue expor um "eu" plural, digno de ser identificado pelas palavras, sons e imagens que em fusão de perfeita interação, constrói uma identidade do trabalhar poético, do ser poeta, de seu ofício transcendental, capaz de representar-se apresentando-se, " É ter de mil desejos o esplendor/ E não saber sequer que se deseja!/ É ter cá dentro um astro que flameja,/ É ter garras e asas de condor!" . Alfredo Bosi complementa:

Se o poeta resiste, se o poeta transpassa, imune, o turbilhão do céu e o turbilhão da terra, é porque já cumpriu o rito do sacrifício, já se auto-anulou, para que o Juízo Final não venha surpreendê-lo grávido de si e não o entregue às garras letais do seu próprio Eu.


Florbela Espanca conseguiu resistir ao seu tempo. Fez uso da palavra com maestria e ousadia. Representou um eu-lírico feminino que ultrapassou os limites de seu tempo, rompendo tabus e construindo novos sentidos, "sendo alma e sangue e vida em si, condensando o mundo através de sua poesia e dizendo cantando a toda gente que ser poeta é ser maior, mordendo como quem beija, morrendo para encontrar a sua plena infinitude", sua plena resistência na busca da formação de um lugar para ancorar a sua identidade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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