Certo dia acordei refletindo sobre algumas afirmações recentes da ciência cosmológica, a exemplo do que escreveu o falecido Dr. Stephen Hawking, de que nosso passado, presente e futuro já estão estabelecidos desde a grande singularidade do BIG BANG. Num documentário da série cosmos também esta afirmação fora ilustrada na forma de uma imagem que retrata a trajetória espiral de nosso planeta Terra orbitando em torno do sol enquanto, ao mesmo tempo, todo este conjunto (sol, Terra e demais planetas do nosso sistema) avança de acordo com a expansão do universo iniciada após o BIG BANG. A partir do momento desta singularidade, deu-se origem também o nosso conceito de tempo, uma dimensão que caminha apenas num único sentido seguindo a expansão espacial do universo. Assim, nesta imagem bastante ilustrativa, podemos ver o que pode representar nosso mesmo planeta em diferentes instantes desta trajetória espiral ao longo do eixo do tempo crescente e do espaço universal em expansão. Se considerarmos então que habitamos este mesmo planeta ali representado, torna-se possível imaginar que as transformações de nossos corpos e mentes também estariam ali representados e previsíveis pela ciência. Da mesma forma que uma formiga não tem consciência do movimento de uma laranja sobre a qual ela caminha, durante a queda a partir do galho de uma árvore, nós seres vivos também não tomamos consciência destes amplos movimentos de nosso planeta tanto na órbita solar quanto na expansão lenta do universo. Na verdade, a ciência também já comprovou que toda a matéria do universo foi formada pelas mesmas partículas elementares que resultaram da grande explosão ocorrida a bilhões de anos. Numa destas inúmeras combinações de partículas elementares deu-se origem à molécula do DNA cuja forma igualmente espiral possui características que permitem sua auto-reprodução dando origem à vida que conhecemos hoje. Numa destas fortuitas combinações deu-se também origem aos seres inteligentes como os humanos e que conseguem analisar e evoluir todas estas questões. Mesmo tão quase perfeitos que somos, originados de tantas combinações fortuitas da matéria, somos também compostos de partículas elementares tais como os elétrons de nossos átomos que, em verdade, formam um grande vazio entre seus núcleos, além de saltarem de forma quântica em suas órbitas. Assim sendo, nós humanos também somos parte deste universo quântico de vazios e partículas em expansão segundo o que convencionamos chamar de tempo.

Façamos agora um exercício mental de que nosso Eu de agora possa ser representado isoladamente da mesma forma que uma das imagens do nosso planeta dentro daquele conjunto de imagens da Terra em trajetória espiral de expansão. Ou seja, imaginemos uma imagem de nosso Eu como uma pessoa sentada numa das poltronas de um cinema escuro. Neste cenário, nossa consciência da realidade poderia ser comparada ao facho de uma lanterna que nos ilumina dentro daquele cinema escuro. Agora, imaginemos que o nosso Eu no instante seguinte já seria representado por outra pessoa sentada na poltrona ao lado e à esquerda da primeira. Assim como a lanterna do cinema sempre espalha uma penumbra que permite enxergar algo das pessoas que estão sentadas à esquerda e à direita daquele que está sendo diretamente iluminado pela lanterna, nossa consciência humana também consegue ter visões do seu passado mais próximo e até mesmo do seu futuro, através de planos pessoais e tendências. Mas com a consciência que temos hoje de nossa realidade não conseguimos enxergar nada, além disso. Entretanto, se for possível acender a luz de todo o cinema seremos capazes de enxergar nosso passado e nosso futuro desde o nosso nascimento até a nossa morte, todos ali mapeados numa mesma imagem. Portanto, se pudéssemos representar o cosmos em todas as dimensões incluindo a dimensão temporal, seria como uma grande tela onde cada uma de nossas vidas seria representada por uma pequena pincelada nesta grande tela, onde o primeiro toque do pincel se deu em nosso nascimento e o fim desta pincelada representaria a nossa morte. Desta forma, podemos compreender que algumas mortes mais repentinas são como que provocadas pela erguida abrupta do pincel sobre o traçado que representava essas vidas. E, considerando-se que toda esta grande tela já se encontra pintada desde a singularidade do BIG BANG, todos os nossos atos conscientes ou materiais já estão integralmente mapeados nesta grande tela, apenas nossa consciência nos restringe a visão sobre o pedaço da tela em que vivemos no tempo. Considerando-se que, assim como as células de nossa pele morrem e se reconstroem a cada instante, nosso corpo e nossa mente não são mais os mesmos no instante seguinte de nossas vidas, o que significa dizer que o indivíduo sentado à nossa esquerda neste cinema cósmico também não é mais a mesma pessoa.