INSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR DE ITUMBIARA

CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA

 

 

ADRIANA ROCHA NOGUEIRA GARCIA

BARBARA BUZO FERREIRA

GISELLE SOUZA DINIZ

LURYAN CRISOSTOMO FERREIRA

YURE NOIO SOUSA

 

 

 

 

 

 

 

 

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A PERMANÊNCIA EM RELACIONAMENTOS ABUSIVOS 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Itumbiara

2020

ADRIANA ROCHA NOGUEIRA GARCIA

BARBARA BUZO FERREIRA

GISELLE SOUZA DINIZ

LURYAN CRISOSTOMO FERREIRA

YURE NOIO SOUSA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A PERMANÊNCIA EM RELACIONAMENTOS ABUSIVOS 

 

 

Projeto de pesquisa submetido ao Curso de Bacharelado em Psicologia do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, Goiás.

 

Orientadora: Profª Patrícia Francisca dos Santos Medeiros

 

 

 

 

 

 

 

 

Itumbiara

2020

 

RESUMO

O presente projeto de pesquisa tem como base investigar os fatores que contribuem para a permanência de um indivíduo em relacionamentos abusivos. Há relatos de que o indivíduo possua baixa autoestima, solidão exacerbada, dependência emocional e/ou financeira em relação ao agressor, além de poder apresentar o histórico de criação tóxico que contribuem para a permanência do mesmo nestas relações. Dessa maneira irá ser desenvolvido as compreensões acerca dos relacionamentos abusivos em geral, além de evidenciar e especificar as principais motivações e sentimentos que levam o sujeito a ser um refém desta relação e por fim analisar os motivos que contribuem para que o mesmo não coloque um fim na relação. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que será realizada por meio de consultas online, via computadores e smartphones, tendo como foco principal a leitura minuciosa em cima de artigos acadêmicos, vistos como fundamentais para este projeto. No que se refere ao procedimento de coleta de dados serão selecionados os artigos acadêmicos pertinentes ao tema, e a partir da leitura detalhada e rigorosa em cima de todos os instrumentos escolhidos, será realizada uma análise que irá verificar os artigos e as demais pesquisas, e a identificação dos mesmos com os aspectos fundamentais do conteúdo destes com o estudo deste projeto. Diante do impacto na saúde e vida social e familiar da vítima, faz-se necessário o atendimento psicológico e médico, para que a mesma possa se restabelecer perante a relação abusiva. Da mesma maneira esperara-se pronto atendimento da justiça perante a causa, no julgamento e encaminhamento do agressor para tratamento médico/psicológico quando necessário.

 

Palavras-chave: Relacionamento abusivo; permanência em relacionamento abusivo; vítima de um relacionamento abusivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

Relacionamentos abusivos vem sendo um tema muito recorrente, uma vez que muitos namoros e casamentos estão sob esta condição em nossa sociedade, chegando muitas vezes ao final trágico do feminicídio. Em razão da crescente taxa de indivíduos que sofrem em relacionamentos abusivos, é possível questionar: Quais os fatores que contribuem para a permanência de um indivíduo em um relacionamento abusivo?

Acredita-se que a baixa autoestima pode contribuir para este quadro, já que a vítima pode crer que não merece mais do que isto. Outros agravantes podem ser o medo da solidão e, também, a crença de que o parceiro irá mudar. Já em casos mais extremos, a maneira com que a vítima foi criada e os valores que lhe foram passados podem fazer com que a mesma considere o abuso normal.

O presente trabalho tem como objetivo geral compreender os principais fatores que fazem com que o sujeito permaneça no relacionamento abusivo e como objetivos específicos conceituar relacionamento abusivo; elencar as principais motivações e sentimentos que fazem o indivíduo ser refém do relacionamento; e analisar os principais motivos que levam a vítima de um relacionamento abusivo a não terminar a relação.

Como justificativa pessoal, destaca-se que a realização deste estudo ocorre pelo interesse em entender o tema exposto, já que é um assunto presente em nossa realidade atual; e, também, no intuito de adquirir conhecimento sobre os fatores que contribuem para a permanência destes indivíduos em relacionamentos abusivos.

Quanto à justificativa social, faz-se importante mencionar que é um trabalho que poderá despertar o interesse de várias pessoas, tanto as que têm curiosidade acerca /do assunto quanto as que vivenciam essa realidade, psicólogos e estudantes da área, assim possibilitando o compartilhamento desse material e podendo ser utilizado para outros fins.

Academicamente, justifica-se por ser um trabalho de cunho bibliográfico, no qual serão analisadas as visões e estudos de autores que possuem conhecimento na área discutida, assim contribuindo para a compreensão do tema, que, além de ter relevância social, reveste-se de importância para o meio acadêmico. Esse material poderá servir de auxílio para discussão do tema e, também, para tratar questões referentes ao assunto, podendo-se assim, entender as motivações da vítima ao permanecer no relacionamento.

 

 

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

 

2.1. Relacionamento abusivo

Os estudos sobre violência tiveram seu auge na década de 1990, embora seja um fenômeno antigo presente na humanidade. As relações abusivas, em especial, são compostas de violências de natureza física, sexual e psicológica, e mantém o poder na mão do agressor sobre o abusado, que é posto como um objeto. (BARRETTO, 2018)

Um relacionamento abusivo pode ser caracterizado como tal partindo do princípio que haja, por parte de pelo menos um integrante deste relacionamento, algum tipo de violência ou que o mesmo fique prejudicado de alguma forma. Conceituando esta violência Leite et al. (2017) ressalta que são abrangidas características individuais, ambientais, sociais e culturais, sendo esta última referenciando o machismo impregnado na sociedade que faz com que as mulheres, em várias circunstâncias, se sintam inferiorizadas.

Aprofundando no conceito do ato de violentar o companheiro em um relacionamento, Fonseca et al. (2012) abrangem essa prática em cinco categorias, sendo a física, sexual, patrimonial, moral e psicológica. Dentre estas classes, as mais cometidas são as físicas e psicológicas, geralmente cometidas pelo companheiro da relação.

Ainda referenciando os autores acima, vale ressaltar os danos causados pelas duas principais categorias no quesito de violência em um relacionamento abusivo citadas acima, danos estes sendo a baixa autoestima, humilhação, sequelas físicas de agressão, inferioridade, além de impor terror e medo sobre a vítima, que por sua vez, na maioria dos casos, acaba se submetendo e evitando enfrentar os agressores. (FONSECA et al. 2012).

Dentro do contexto de fatores que constituem a ocorrência de atos abusivos em uma relação, é válido pontuar a violência transgeracional, que é caracterizada geralmente por um indivíduo presenciar estes atos em referências adultas, comumente sendo os pais do mesmo e caracterizar tais comportamentos como normais em uma relação. (LEITE et al., 2017).

Há inúmeros casos de violência dentro de relacionamentos, que pode-se considerar um relacionamento abusivo, que, segundo Souza (2018) se trata do excesso de controle, onde o parceiro tenta aplicar sobre o outro fazendo com que um se torne refém pelas supervisões e manipulações, com a justificativa de que há um cuidado e amor por trás de todos estes comportamentos. O mesmo autor ressalta que o abuso se resume em uma pessoa que tenta permitir ou proibir os atos de sua (seu) companheira (o), ditando as vestimentas apropriadas de acordo com sua vontade e se tratando da atualidade tecnológica o mesmo vigia mensagens recebidas no celular ou nas redes sociais.

Dados estatísticos foram apresentados pelo Data Senado no ano de 2017, apontando que o índice de violência contra a mulher em uma relação com seu parceiro aumentou em 11% desde 2015, nos parâmetros apresentados foram evidenciados que as vítimas sofreram mais violência física do que psicológica e, devido as consequências geradas por estes comportamentos agressivos, as mesmas, em sua maior parte, continuaram a se relacionar com seu parceiro. (DATASENADO, 2017).

Ainda sobre Data Senado (2017), são apresentadas mais algumas estatísticas, relatando que mulheres que possuem filhos tendem a sofrer mais violência doméstica do que mulheres que não possuem filhos, sendo violência física, psicológica e/ou sexual. Porém, as mães são submetidas a sofrerem mais com a violência física, onde 70% relataram terem sido vítimas desse crime, já as mulheres que não possuem filhos o percentual foi de 38%. Foi detectado também, que mulheres negras sofrem mais violência física e sexual, com um percentual de 74% a mais do que mulheres brancas, com 57%.

 

2.2. Motivações e sentimentos que fazem o indivíduo ser refém do relacionamento

As vítimas geralmente, ao observarem seu próprio relacionamento, conseguem ver pontos negativos e positivos, como se a relação fosse equilibrada, sendo capazes de destacar a parte boa entre ela e o parceiro, e a ruim, como se fosse apenas um detalhe. Segundo Pereira et al. (2018), com base em entrevistas realizadas com três mulheres, relataram que essas vítimas diziam que conviviam bem e que os parceiros as ajudavam muito, mas que às vezes se mostravam muito estressados e agressivos, e somente isto era a parte ruim. Elas mencionaram fatos como o companheiro não deixar irem embora ou proibir a realização de uma tarefa essencial, como trabalhar, como se fossem coisas simples e normais, mas que na verdade constituíam atos inaceitáveis. Essas vítimas foram submetidas à violência psicológica, pois há indícios de humilhação e manipulação, e sequer percebem.

Mulheres que permanecem em relacionamentos abusivos, segundo Forti et al. (2018), possuem a dependência emocional vinculada ao motivo de se manterem com seus parceiros, que na maioria das vezes ainda não se vê como detentora de recursos psíquicos e subjetivos que viabilizem que ela seja agente de mudança em sua própria história e tenha capacidade de escrever novas perspectivas para si, para a partir disso ter condição de elaborar e usar de todo respaldo que lhe é concebido pelas políticas públicas.

De acordo com Gomes (2018), atitudes e crenças de mulheres concernentes à permanência em relacionamentos abusivos são identificadas e compreendidas enquanto desamparo, tipificação de violência e aprisionamento, enquanto forma de controle e indução à culpa, como também violências física, psicológica, sexual e patrimonial como formas possíveis de violência dentro destes relacionamentos. Também se notou a liberdade comprometida e a crença de que a mulher é propriedade masculina. Variáveis sociodemográficas como religião, filhos e ter experienciado um relacionamento abusivo tem papel significativo frente a intenção comportamental.

Pereira et al. (2018) ressaltam que a permanência da vítima em relações abusivas se dá por uma série de variáveis, fazendo com que haja resistência à extinção e contribuindo para que o ciclo de abuso e violência seja mantido, utilizando-se da esperança como justificativa. As principais motivações para o não término do relacionamento são a dependência financeira, dependência emocional, regra da “figura paterna” na criação dos filhos, uma crença religiosa, e a falta de rede de apoio. Em alguns momentos de raiva, após algum tipo de agressão, pode se dar a denúncia por parte da violentada, que, por sua vez, se sente culpada e fica com medo de o companheiro ser preso.

Outra dificuldade encontrada, segundo Barretto (2018) está no rompimento emocional por parte de quem sofre o abuso. Geralmente, os abusadores prometem que irão mudar de comportamento, abandonando a posse, agressão, impulsividade e os ciúmes, e fazer com que o relacionamento melhore, e o abusado muitas vezes acredita nesta mudança. Diante disto, o abusador alterna seu comportamento entre romântico e abusivo, mantendo sempre um jogo emocional.

Os sentimentos presentes nas vítimas nos momentos de violência dentro da relação, sendo os principais a baixa autoestima e o medo de fazer uma denúncia e se arrepender em seguida. Essas mulheres relataram que sentiam como se fossem lixo, perdendo o ânimo de se arrumar, pois têm a sensação de que são péssimas e que não prestam para nada. Assim, a vítima acaba deixando de lado suas próprias vontades, desenvolvendo sentimentos de inutilidade e perca de sua própria valorização e amor. (PEREIRA et al., 2018)

Ainda de acordo com o autor, existem outras atitudes abusivas que são naturalizadas socialmente, contribuindo para que passem despercebidas. Essa normatização de abuso pode ser percebida em casos de ciúme, que foi associado pela cultura como expressão de amor, mas que causa uma privação de liberdade para a vítima, como em casos que o parceiro interfere nas roupas utilizadas pelo abusado. (BARRETTO, 2018)

 

2.3. Motivos que levam a vítima de um relacionamento abusivo a não terminar a relação

Um dos principais aspetos que fazem um indivíduo a não sair do ciclo de abuso vivido dentro do relacionamento é justamente a dificuldade de perceberem que estão em um relacionamento abusivo. Obviamente, há a presença de sinais de alertas, que, no início podem ser mais sutis, como alguns comportamentos e ações, mas que, com o tempo, vão se agravando e as vítimas percebem o abuso em momentos em que a violência está mais nítida. (BARRETTO, 2018)

Os motivos que levam as vítimas de relacionamentos opressores a permaneceram são diversos, como dependência financeira, submissão, a questão dos filhos, preservação da moradia e da família, o tempo vivido com o parceiro, o estado de fragilidade do agressor para conter a violência quando alcoolizado ou sob efeitos de drogas e também sentimento de pena por ele. (BARBOSA et al., 2014)

O isolamento social pode ser uma dificuldade encontrada para não pôr um fim no relacionamento. Isso pode se dar pelo fato dos ciúmes, por parte do abusador, de determinadas pessoas, fazendo que, com o tempo, a rede social e o contato da vítima com outras pessoas, que eram consideradas importantes para a mesma, diminua. Como consequência disto, ao ter a ideia de abandonar o relacionamento, o abusado se vê sem uma rede de apoio sólida, tendo falta de confiança em si mesmo e possui medo de as pessoas não valorizarem seu pedido de ajuda. (BARRETTO, 2018)

Segundo Barretto (2018), cada indivíduo tem consciência dos atos e comportamentos que são aceitáveis dentro de um relacionamento e como se constitui uma relação saudável. Porém, posto também como um entrave para a saída de um relacionamento abusivo, tem-se a naturalização de comportamentos abusivos e violentos, que pode ser percebida em casos que há a imposição do abusador, logo, contrariando a vontade da vítima, mas que, para a pessoa abusada, não se configura como um abuso, devido à criação em uma sociedade patriarcal, com discursos machistas de que as mulheres devem agradar aos homens.

 

 

 

 

 

 

 

3. METODOLOGIA

 

A pesquisa foi realizada de forma bibliográfica, enquanto o procedimento escolhido para a análise de dados foi a pesquisa exploratória, para assim, reunir e analisar os dados bibliográficos obtidos com exatidão acerca do tema “Relacionamento abusivo”, baseando-se principalmente em publicações relevantes referentes ao curso de psicologia.

Para a composição da amostra, foram utilizados 7 artigos e 4 trabalhos de conclusão de curso (TCC) que abordaram especificamente o tema. Estes foram encontrados no Google acadêmico e no Scielo, os quais condiziam com as palavras-chaves, além de abranger os objetivos geral e específicos.

Como critérios de inclusão foram empregados materiais que tivessem sido escritos nos últimos 10 anos, assim proporcionando a exposição do tema de modo atual, e citações originais, evitando paráfrases de outros autores. Para a seleção dos materiais, também foram utilizadas as palavras chaves, de maneira que acrescente e dê fundamentação ao tema, excluindo qualquer material que não se adeque ao tema proposto.

No que se refere ao material coletado, utilizou-se o Google Acadêmico, que é uma ferramenta do Google que permite pesquisar em trabalhos acadêmicos, revistas e artigos variados; e no site da Scielo. Quanto ao período das publicações pesquisadas, consideraram-se as publicações do ano de 2010 a 2020.

Na análise de dados teve-se uma leitura minuciosa realizada após a separação dos artigos, que foi feita segundo o processo exposto na coleta de dados, em que foram analisados materiais que abrangessem publicações de fontes conceituadas e relevantes para o curso de psicologia. Esta análise foi baseada na pesquisa exploratória, onde foram utilizados dados bibliográficos relevantes e se verificar se os materiais escolhidos estavam de acordo com os objetivos.

 

 

 

 

 

 

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Com base no problema desta pesquisa, foram identificados alguns dos principais fatores que fazem com que a vítima permaneça no relacionamento abusivo. A partir disto, foram analisados artigos que corresponderam à busca pelas palavras-chave e os mesmos foram lidos na íntegra visando atender a cada um dos objetivos específicos da pesquisa.

Tendo como foco a conceituação de relacionamento abusivo. Fonseca et al. (2012) destacou as cinco principais formas de violência, sendo elas a física, psicológica, sexual, patrimonial e moral; e disserta sobre as consequências causadas pelos tipos mais comuns de violência dentro do relacionamento. Em complemento a esta ideia, Souza (2018) reforça os diversos tipos de violência e salienta exemplos de como são algumas delas, destacando as áreas psicológicas, morais e patrimoniais. o autor também menciona o caso de um marido que estabelece um controle excessivo sobre a vida de sua esposa, a manipulando para que a mesma realize as coisas que mais condizem com sua vontade, além de tomar posse de sua vida pessoal verificando e restringindo  regularmente as redes sociais ou vida pessoal da vítima, alegando que somente realiza isto devido à preocupação, o que se mostra uma chantagem e controle psicológico.

Assim como Leite et al. (2017) citou, a construção histórica social do machismo está impregnada dentro da sociedade, de maneira que, mesmo com todas as conquistas do feminismo, não é possível desconstruir totalmente esta ideia de que a mulher é uma posse e seu parceiro tem direitos sobre ela, e este fato está diretamente ligado a grande parte das ocorrências de violência. Barreto (2018) compartilha do mesmo pensamento, reforçando o pensamento de que os homens inseridos nesse excesso de orgulho discriminatório consideram, em muitos casos, suas conjugues como objetos, acreditando ter controle sobre a mesma, o que gera uma série de atitudes opressoras e até violentas.

Segundo Fonseca et al. (2012), existem cinco categorias de violência doméstica, sendo a física, sexual, patrimonial, moral e psicológica, sendo que duas categorias que ficam em destaque são a física e a psicológica. Nesta mesma linha, Data Senado (2017) destacou que do ano de 2015 a 2017 houve um aumento de 11% no índice de violência contra as mulheres e foi salientado que as vítimas sofrem mais violência da categoria física, por terem parceiros agressivos, além de que mulheres que são mães demonstraram sofrer mais violência física do que mulheres que não possuem filhos.

A fim de entender quais são as motivações para a permanência das vítimas em relacionamentos abusivos, foram citados alguns autores que discorreram sobre o assunto. Forti et al. (2018) salientam a dependência da vítima, na maioria dos casos mulheres, ao seu abusador e/ou agressor a partir de aspectos afetivos, psíquicos e subjetivos, e desconhece seus direitos e políticas públicas que lhe amparam. Em concordância a esta ideia, Gomes (2018) acrescenta outros motivos também de ordem afetiva e acrescenta alguns de ordem física, sexual e patrimonial, sendo os principais relacionados a sentimentos de posse, sociais e crenças religiosas.

Além de crenças e aspectos emocionais, Barbosa et al. (2014) acrescenta situações opostas às citadas pelos demais autores, ressaltando os casos de dependência material e auto repreensão. Foi destacado pelo autor o perfil da vítima abusada com incapacidades de mudança de postura no seu relacionamento por conta de dependências de cunho financeiro, incapacidade de cuidado com os filhos, manutenção da família unida, de sua moradia e a consideração pelo cônjuge em estado de vulnerabilidade devido ao uso de álcool e drogas.

Sobre os principais motivos da permanência em relacionamentos abusivos, houveram diversas justificativas, que levantaram vários pontos relevantes. Barretto (2018) apresenta que a posição superior determinada pelo agressor acerca da vítima vem através da constante ameaça de qualquer tipo de violência, seja ela emocional, física ou psicológica. Em acréscimo a isto, o mesmo autor relata um outro fator que pode ser determinante no relacionamento abusivo, a não percepção da existência de atitudes abusivas. Mesmo que sinais que contrariem o ideal de relacionamento buscado, o mesmo medo de atitudes agressivas, como ditado na primeira visão, acaba por anular a capacidade de discernimento e percepção de uma relação abusiva vivida pela vítima. Mesmo que o autor indique dois lados que justifiquem a permanência, nota-se uma interconexão entre os dois pontos, pois mesmo que percebida tal atitude agressiva, o medo impediria a vítima de se livrar do relacionamento, correlacionados com o fato de que não percebida tais atitudes agressivas, a vítima encontraria uma falsa aceitação e até mesmo uma adequação ao relacionamento, mesmo que esse não corresponda às suas expectativas.

Sobre o mesmo tópico, Barbosa et al. (2014) indica uma visão mais pautada em um âmbito social, mostrando como outros aspectos podem impedir a saída de um relacionamento abusivo. Hora dando ênfase aos aspectos familiares, como a crença em um conceito de família em que os filhos, por exemplo, devem estar amparados pelo relacionamento criado entre pai e mãe. Partindo deste ponto, observa -se a relação entre ideal de família perfeita para a criação dos filhos, na qual mesmo que tais abusos aconteçam, a vítima teoricamente teria a obrigatoriedade de uma permanência para que sua prole possa ser criada de uma maneira tida como adequada.

 Socialmente falando, Barreto (2018) também apresenta um fator indispensável para a continuidade em uma vida pautada no abuso, a sociedade patriarcal. A ideia de que não seria correto uma mulher criar os filhos sem a presença de uma figura masculina, está intrincada na sociedade, desmotivando ou até impedindo que a vítima saia da linha de controle do abusador.

Tal apresentação se relaciona intimamente com os aspectos indicados por Barbosa et al. (2014), já que em possíveis situações, a vítima pode ter sido moldada em um ambiente familiar em que a superioridade masculina fosse nitidamente presente e, consequentemente, a submissão das mulheres em situações abusivas. Por fim, os dogmas religiosos podem vir com uma unificação de ambas ilustrações apresentadas pelos autores, pois elas englobam tanto as possíveis formações dos indivíduos que passam ou passaram por situações abusivas, como se colocam como um ideal a serem seguidos quando se indagar a respeito da criação dos filhos, ideal de relacionamento amoroso, comportamento da mulher frente à figura do homem dentro do casamento, e até mesmo na sociedade.

Com base na pesquisa bibliográfica realizada e na análise da maneira como as ideias dos autores se conectam, pode-se inferir que, em grande parte dos casos, a permanência da vítima no relacionamento, em companhia a seu agressor, sempre parte do mesmo ponto, a figura da mulher em uma sociedade patriarcal. A partir disto, geram-se motivos diferentes parte estarem no relacionamento, mas todos eles possuem a mesma base. Em casos de a vítima sequer perceber o abuso, as crenças estão internalizadas a ponto de o quadro ser considerado normal; e, até em caso em que há insatisfação e a percepção do abuso, tem-se a ideia de que existe a necessidade de permanência, seja pela ideia de que uma mulher não consegue viver e se sustentar sozinha, seja pelo medo de ser repreendida e julgada pela própria sociedade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O trabalho, em que foi abordado o conceito de relacionamento abusivo, apresentou-se as motivações mais recorrentes para que a vítima permaneça no relacionamento. Assim, pode-se concluir que vários fatores estão inclusos, desde pensamentos machistas que estão inseridos dentro da sociedade, fazendo com que a própria vítima tenha isso internalizado e acredite que é normal o que está vivendo, até por fatores externos, como achar que a sociedade irá julgá-la por estar desintegrando uma família, ou por não se achar capaz de se sustentar sozinha.

O intuito do trabalho baseava-se em compreender e apresentar os principais fatores que fazem com que o sujeito permaneça no relacionamento abusivo, e a partir disto a hipótese foi elaborada descrevendo que fatores como autoestima, medo da solidão e os valores que foram passados para a vítima podem contribuir para o quadro de abuso.  Sendo possível conceituar e elencar as motivações e sentimentos que fazem o indivíduo refém do relacionamento e, também, analisar os principais motivos que faz a vítima não por fim à relação.

Tendo a possibilidade de obter resultados através da experiência e análise que os autores citados obtiveram. A partir disto notou-se que este problema está altamente inserido na sociedade, já que muitos fatores contribuem para que estes casos de abuso dentro de relacionamentos amorosos continuem acontecendo.

O desenvolvimento do trabalho se mostrou de suma importância para as pesquisas no âmbito de abusos dentro de relacionamento e, também, da violência doméstica, tendo potencial para servir de base teórica para outras pesquisas serem realizados. Estudos posteriores poderiam realizar uma pesquisa qualitativa, questionando indivíduos que já vivenciaram situações assim, os questionando o motivo de terem permanecido, e também uma pesquisa quantitativa, pegando-se amostras e analisando o processo antecessor e sucessor do relacionamento abusivo.

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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FORTI, B., MARTINO, M. F., POSSOBON, R. F. S., Dependência Emocional de Mulheres e a Permanência em Relacionamentos Abusivos Americana – SP - 2018. Acesso em 25 de março.

 

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