Os organismos vivem em nichos e estabelecem uma teia de relações entre si para sua sobrevivência.  Devido à necessidade de se obter sucessos nessas relações, foi necessário que esses organismos desenvolvessem maneiras de enviar mensagens a fim de transmitir informações. Sendo assim, a comunicação é um processo social básico que torna possível a vida em grupo e pode ser definida como a transferência de informações entre indivíduos, sendo que essa transferência se torna efetiva quando o comportamento de um indivíduo altera a probabilidade da ocorrência de um comportamento em outros seres vivos. A informação é transmitida por sinais específicos que evoluíram para este fim.

Alguns animais são extremamente sociáveis, ao viver em grandes grupos e interagindo a tempo todo com seus membros, ao tornar a comunicação um mecanismo essencial para formação, organização e manutenção do grupo, ao estabelecer hierarquia e coesão. Até animais de comportamento solitário estabelecem meios de comunicação com outros indivíduos, como por exemplo, durante a busca por parceiros para o acasalamento ou para fugir de predadores.  A comunicação pode ocorrer entre membros da mesma espécie ou entre indivíduos de espécie diferente, como por exemplo, o miado de um gatinho chamando atenção de seu dono avisando-o que está na hora de alimentá-lo.

 Ao se comunicar, o emissor envia uma mensagem que pode ser recebida por um organismo alvo e assim atenderá suas expectativas ou ainda, ser recebida por um destinatário não intencional, que pode ser um predador que encontre sua presa interceptando essas mensagens.

A diferença da comunicação entre seres humanos e outros animais é a capacidade do homem utilizar os códigos de linguagens graças ao desenvolvimento de seu cérebro, em especial a área de broca, responsável pela motricidade da fala e  área de wernick responsável pela compreensão verbal. Mas isso não quer dizer que os outros animais não consigam desenvolver ou aprender mecanismos próximos a signos, como é o caso dos primatas que apresentam um elaborado conjunto de sinais em sua comunicação.Há experimento que comprova a capacidade desses primatas de comunicar se com seres humanos, como são os famosos casos do chimpanzé Nim Chimpsky e do gorila Koko3. Esses animais aprenderam a linguagens de sinais sendo que a gorila conseguia se comunicar utilizando mais de 1000 gestos.

A comunicação é um processo psicológico e resumidamente envolve três estruturas Emissor/Mensagem/Receptor. Nesse processo o emissor é quem elabora a mensagem e o receptor é que recebe e interpreta a mensagem. A mensagem é transmitida por sinais que podem ser acústicos, visuais, químicos, tácteis e elétricos.

SINAIS ACÚSTICOS

Os animais podem produzir diferentes sons para se comunicar. O coaxar de um sapo ou o grito de um morcego podem ser entendidos como uma troca de sinais que resulta em uma “conversa”.

O som pode ser descrito como ondas mecânicas que se propagam na matéria (ar e água) e podem ser descritos por três variáveis, como frequência (oscilações), amplitude (altura) e ritmo (padrão temporal). Nós seres humanos captamos apenas uma faixa de som audível entre 20 a 20.000Hz, abaixo dessa faixa, a frequência é classificada como infrassom e acima de 20.000 Hz classificamos como ultrassom. Os animais possuem um aparato físico responsável por produzir, captar e interpretar essas vibrações. Os morcegos e cetáceos são capazes de comunicar- se através da produção de ultrassons, já os pombos e elefantes podem produzir os infrassons. O ultrassom é produzido por uma alta frequência que consome mais energia em sua produção. Devido as suas propriedades o ultrassom pode ser refletido pelo ambiente, como folhas, árvores e outros seres vivos, sendo assim utilizado para a eco localização. Pesquisas mostram que um morcego é capaz de desviar de objetos quase invisíveis aos olhos, como pequenos fios. Já o infrassom não consome muita energia devido à baixa frequência e podem percorrer distancias mais longas e ultrapassar mais obstáculos que o ultrassom. Os elefantes utilizam dessa forma de comunicação.

Os animais produzem sons de formas diferenciadas, os mamíferos produzem sons quando o ar expelido pelos pulmões produz vibrações pela laringe; as aves o ar passa pelas seringes que são conectadas aos brônquios; os insetos produzem sons por estridulação onde atritam partes do corpo, como as cigarras. Há ainda a propagação de sons causadas pelo impacto de partes do corpo com o substrato, como fazem algumas serpentes. Os sinais acústicos não dependem de luminosidade podendo ocorrer no período noturno embora o som possui a desvantagem de sofrer interferência ambiental, como a temperatura que influencia na dissipação sonora, a geografia do local pode dificultar na percepção, são muitas as utilidades da comunicação sonora, aviso, atenção, agressividade entre tantos.

Alguns primatas possuem um repertório de vocalização altamente sofisticado, revelando diferentes tipos de avisos como predadores terrestre, predadores aéreos e serpentes arborícolas. Mas a falta de sons também revela um tipo de comunicação silenciosa, por exemplo, na Amazônia mico leõezinhos  na hora de descanso, se agrupam e deixam uma animal separado do grupo que fica emitindo um sinal constante, caso esse sinal seja interrompido  os micos percebem que algum predador pode ter aparecido na região e ficam em estado de alerta.

SINAIS VISUAIS

São de maneira geral mais complexos que os acústicos e envolvem a produção de luz própria (bioluminescência) por reações químicas como nos vagalumes e invertebrados aquáticos, ou refletindo a luz. Os sinais visuais são produzidos por postura e coloração corporal, expressão facial, movimentos coordenados do corpo. Um sinal visual pode ser percebido por um receptor específico, o fotorreceptor, que está inserido em algum órgão da visão. O sinal pode ser facilmente percebido quando o receptor está direcionado ao emissor, caso isso não aconteça a mensagem não obtém sucesso, sendo essa atenção se tornando um grande dificultador. O ambiente pode atrapalhar a transferência da mensagem, assim como a longa distância.

Existe uma grande diversidade e utilidade nessa maneira de se comunicar emitindo alertas como as cores aposemáticas, que são vivas e marcantes e advertem os predadores sobre o risco do emissor, como acontece com os sapinhos Dendrobatideos, ainda em se tratando de defesa, os animais podem imitar as cores de uma animal peçonhento fazendo seu predador pensar duas vezes antes de atacar, como a lagarta Eumorpha labruscae que mimetiza as cores de uma cascavel.

A coloração também é utilizada no processo de acasalamento, onde o macho exibe suas cores para atrair a fêmea, um grande exemplo é o pavão que exibe suas penas altamente coloridas. Os animais muito coloridos podem ser presos fáceis como os micos-leões que possuem uma pelagem altamente contrastante com o ambiente, fazendo com que ele vire um alvo perceptível.

SINAIS TÁCTEIS

A comunicação por sinais tácteis ocorre de maneira simples e direta envolvendo o contato entre emissor e receptor (curta distância) ou através de vibrações no substrato (longa distância).

É conhecido vários toques como golpes, tapas e mordidas (agressão) ou caricias e catação (grooming) que representam carinho. Aliás o grooming é um sinal complexo que pode ser utilizado para remover parasitas ou ser uma ferramenta importante para promover a interação social, a catação pode atuar como liberador de endorfina e até ocitocina, tidos como hormônios da felicidade e prazer. Em alguns macacos prego a catação está é um importante mecanismo para o acasalamento, estando envolvidas também com recompensas fisiológicas que fortalecem o vínculo do casal.

As vibrações são outro mecanismo de comunicação táctil realizada pelos animais, as aranhas quando constroem sua teia, agem agressivamente a qualquer vibração que chame sua atenção. As rãs coquis, Eleutherodactylus coqui, de Porto Ricos batem os membros no solo para atrair a fêmea.   

SINAIS QUÍMICOS

Para a efetivação da comunicação química é necessário um aparato fisiológico para a produção de mensageiros e receptores específicos para eles. Esses sinais são percebidos principalmente pelo órgão vomeronasal, presente nos Tetrápodes, localizado no teto da boca. Sabe se que os seres humanos não percebem e nem tem ideia de como os mensageiros químicos são importantes para a comunicação, no entanto, estudos começam a elucidar como esses sinais interferem no comportamento humano. Em um teste realizado por pesquisadores, constatou que homens, ao cheirar camisetas femininas usadas, preferiam as peças que pertenciam a mulheres em período fértil. É constatado também que mulheres alinham seus ciclos menstruais quando convivem, devido a liberação de mensageiros químicos.

Os sinais químicos podem ter várias funções como indicar o sexo, a espécie, estágio reprodutivo, demarcação territorial, alarme e trilhas, geralmente, um sinal químico pode possuir um tempo de permanência maior no ambiente, permitindo que a informação fique exposta mesmo quando o animal não está no local, mas isso também pode ser um problema já que devido ao tempo de duração impede a mudança da informação. Os sinais podem ser dispersos a longa distancia ou por contato mais direto, muitas vezes ocorrendo a combinação de dois sinais fazendo com que a informação se mais efetiva. O grau de complexidade do sinal químico pode ser uma vantagem contra predadores já que eles podem não possuir um aparato para perceber o estímulo. O sinal químico é produzido por várias glândulas do corpo e expelido de várias maneiras, por exemplo os felinos marcam seu território pelas suas comissuras labiais, bochechas, almofadas plantares e pela urina.

SINAIS ELÉTRICOS

Ocorrem em espécies de peixes produzidas por órgãos elétricos que são derivados de sua musculatura e esta ligada em serie auxiliando na sua amplificação e são percebidos por órgãos eletrorreceptores. Peixes elétricos, como o Poraquê, vivem em águas barrentas que dificulta a comunicação visual e utilizam do sinal elétrico para realizar a comunicação. Este sinal se torna extremamente eficiente já que a água é um ótimo condutor.  O sinal elétrico dificilmente é percebido por outros peixes, pois para isso há a necessidade de um receptor específico. Em tubarões as ampolas de Lorenzini são órgão capazes de perceber formas leves e fracas de bioeletricidade produzido pelos órgãos dos animais, essa capacidade de eletro recepção torna os tubarões predadores extremamente eficiente.

Os animais podem se comunicar utilizando vários sinais que são emitidos para transmitir a mesma mensagem, chamados comunicação multimodal redundante ou várias mensagens transmitindo diferentes sinais, chamados de multimodal não redundante. Ambas possuem suas vantagens, a comunicação multimodal redundante possibilita ao receptor uma maior chance de entendimento da mensagem, já a multimodal não redundante possibilita um maior número de mensagens enviadas. Esses dois tipos de comunicação demandam de um gasto energético alto e, também aumentam a chance de predação pois a quantidade de sinal pode aumentar a chance do emissor ser descoberto por um predador. Um bom exemplo de uma comunicação multimodal redundante é quando você avista seu amigo e grita e acena ao mesmo tempo utilizando sinais sonoros e visuais. Concluindo, os sistemas de comunicação evoluíram juntamente com os seres vivos, promovendo a coesão de grupos sociais, garantindo a sua sobrevivência.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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