Tarcísio Viana de Lima[1]

RESUMO

Apesar de ser considerada recente, a Ecologia, antes compreendida como ciência dos devaneios, vem se destacando profundamente desde o século passado por razões óbvias: as profundas mudanças ambientais estabelecidas por várias atividades antrópicas que subjugaram as estruturas bióticas e abióticas dos mais diversos ecossistemas ao longo de vários anos. Apesar dessas alterações ambientais serem ainda intensas, o patamar atingido pela Ecologia vem alertando e conscientizando a sociedade de que os recursos naturais precisam ser conservados para a manutenção do equilíbrio da biosfera. Portanto, o objetivo desse manuscrito é expandir e consolidar ainda mais determinados conceitos ecológicos que precisam ser disseminados para melhor entendimento da importância dessa ciência para todos os segmentos sociais.

Palavras-chave: Ecologia Moderna; Coorte; Metapopulação; Alelobiose; Ecobiose.

1.INTRODUÇÃO 

Desde os primórdios, no período em que o homem mantinha uma vida itinerante sobre a Terra em busca da alimentação oriunda da caça, da coleta de frutos e ervas que supriam suas necessidades; dos locais como cavernas para se proteger das tempestades e dos ataques dos animais [...], a prática ecológica já existia nessas atividades. No entanto, na concepção teórica, havia um desconhecimento total das noções ecológicas, uma vez que o homem não tinha ainda o mínimo conhecimento lógico sobre o processo interativo dos seres vivos entre si e desses com o ambiente. Por muito tempo perduraram tais comportamentos.

No Século IV a.C., Theophrastus fez a primeira descrição sobre as interações ocorrentes entre os organismos e desses com o meio. Por esse motivo ficou conhecido como o primeiro ecologista.

O desenvolvimento da ecologia ao longo dos anos vem mostrando um progresso gradual que busca cada vez mais atingir um objetivo bem definido que possa caracterizá-la como uma ciência de aspecto puramente interdisciplinar para a qual várias outras ciências, por meio de informações particulares, contribuem na sua estruturação.

Os trabalhos de Zoologia, Botânica e de estudos demográficos, essencialmente qualitativos, a partir do instante que interagiram com os conhecimentos oriundos da Física, Química e Fisiologia; possibilitaram responder tanto a determinadas questões elementares sobre o ambiente quanto a quantificar essas interações.

Foram nas regiões temperadas que se originou a conceituação ecológica mais abrangente em decorrência de problemas ligados à ecologia aquática que, por sua vez, forjaram o conceito mais dinâmico de relações entre seres vivos - ambiente, produção e biomassa. Entre os vários trabalhos que demonstraram claramente essa dinâmica interativa verificada numa comunidade foi o do naturalista Sthepen Alfred Forbes, intitulado de The lake as a microcosm, publicado em 1887.

A evolução e introdução de técnicas de análise automatizada, o aumento substancial de informações relacionadas aos tipos e formas de interação dentro da biocenose, bem como sobre o ambiente, fazem da área ecológica um campo de extrema complexidade.

Nas regiões tropicais, apesar da sistematização dos estudos visando eliminar problemas práticos vinculados às áreas agrárias e de saúde, as informações ecológicas ainda são por demais escassas, isso, obviamente, exige uma urgência em se desenvolver trabalhos básicos que favoreçam o acasalamento entre conceitos bem delineados e conhecimentos, permitindo desse modo, à formação de fundamentos teóricos mais consistentes para o avanço da Ecologia nessas regiões.

 

2.DESENVOLVIMENTO

A origem da Ecologia Moderna

Embora a ecologia enquanto ciência seja considerada bastante recente, conforme ver-se-á mais adiante, todo o seu processo evolutivo se iniciou no Século IV antes de Cristo, como já citado, pois vários registros históricos elaborados e atestados por expressivos vultos, que se destacaram principalmente no contexto filosófico e do naturalismo, constatam que Aristóteles juntamente com o seu discípulo Theophrastus expuseram seus ensaios sobre a organização do conhecimento relacionado aos animais existentes da época e a primeira descrição da inter-relação de seres vivos versus ambiente, respectivamente.

Evidentemente que esses dois grandes pensadores da humanidade precursores das incipientes, mas não menos importantes análises diretamente relacionadas as interações dos seres vivos, foram seguidos por tantos outros que dedicaram a sua vida a compreender e transmitir continuadamente, a cada descoberta, não só os intricados e relevantes processos que determinam a funcionalidade dos seres vivos, mas a sua sutileza na estrutura ambiental.

Entretanto, o conceito moderno da ecologia passou a ser adotado, efetivamente, em 1838, a partir dos estudos relacionados ao processo da interação ocorrente entre as comunidades de plantas e animais, baseados nas pesquisas do botânico alemão August Grisebach.

Já, em 1887, a ecologia moderna ascendeu com Sthepen Alfred Forbes, pesquisador americano fundador da ciência do ecossistema aquático, ao descrever a comunidade dos lagos como microcosmo.

Em 1895, Eugenius Warmin, botânico dinamarquês, realizou importantes estudos ligados à unidade de comunidades vegetais. Inúmeros outros pesquisadores deram prosseguimento e desenvolveram trabalhos de extrema relevância vinculados às questões ecológicas envolvendo comunidades e meios. Entre esses, podemos citar o de Victor Ernest Shelford, que tornou público o seu estudo sobre animais de zona temperada da América, em 1913, e Charles Elton que, em 1927, divulgou o seu importante estudo sobre a dinâmica comunitária.

Apesar dos primeiros estudiosos deixarem evidenciados de que a comunidade total é uma unidade biótica e não duas - uma da flora e outra da fauna - como podemos deduzir, tal fato foi modernamente bem enfocado nos trabalhos de Frederic Edward Clements, com a obra Research Methods in Ecology, de 1905; e Victor Ernest Shelford, sobretudo na sua clássica obra Bio-Ecology, publicada em 1939.

Portanto, a comunidade ecológica, de uma forma geral, ao considerar as participações e as irrefutáveis contribuições desses estudiosos, bem como de outros não mencionados, mas indubitavelmente relevantes colaboradores; admite que a consolidação da Ecologia Moderna remonta a 1930, quando se formou o consenso da definitiva importância dessa ciência para a sociedade mundial.

No caso específico do Brasil, A Ecologia, inicialmente, desenvolveu-se visando atender às necessidades das áreas agrícolas e de saúde, no sentido de se resolver os problemas que afligiam esses dois segmentos.

Sob o ponto de vista de estudos aplicados, inúmeros trabalhos foram feitos procurando descrever à respeito da biologia de espécies e ciclos de vida e suas inter-relações com o meio. Já na área básica, pesquisas de natureza fisiológica, mas realizadas com o apoio de dados ambientais, foram feitas durante a década de 1940, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Também vários estudos sobre o cerrado se desenvolveram com a forte participação de informações ecológicas, que permitiram caracterizar as comunidades vegetais bem como o seu funcionamento nesse domínio morfoclimático. Por outro lado, vários núcleos de pesquisas foram desenvolvidos no sentido de se dar maior enfoque às questões ecológicas nas áreas oceanográficas, geográficas, geomorfológicas e na ordenação paisagística.

Atualmente no Brasil, a Ecologia encontra-se enquadrada em três núcleos de desenvolvimento que estão intimamente ligados:

  1. Ecologia de Ecossistemas: preocupa-se em desenvolver estudos integrados de sistemas terrestres e hídricos (marítimos e lacustres).
  2. Ecologia Teórica: tem por preocupação englobar inúmeros aspectos da Ecologia Evolutiva, Ecologia Geográfica e Ecologia Quantitativa e Funcional.
  3. Ecologia Aplicada: nessa modalidade procura-se desenvolver estudos ligados às questões da poluição e saneamento, planejamento ambiental, ordenação paisagística e, por fim, conservação de recursos naturais.

 

Conceitos de Ecologia

 

Considerando-se os pormenores ligados à história do desenvolvimento da Ecologia, é fácil perceber que há uma abundância de conceitos e de definições que procuram situá-la cada vez mais como uma ciência bem discernida. No entanto, nunca é demais lembrar que, na realidade, a Ecologia é uma ciência de interface, conforme será evidenciado.

Todo o processo evolutivo da Ecologia ocorreu em função da multiplicidade de métodos de abordagem resultante da necessidade premente de descrever a paisagem, quantificar tanto os seres vivos quanto as associações bióticas, bem como de tentar resolver problemas de natureza prática ligados à Agricultura e a Epidemiologia. Acrescente-se a essa necessidade os inúmeros estudos evolutivos que, por outro lado, permitiram gerar questões como: Por que determinadas espécies são encontradas em certas regiões e em outras não? - e a busca de respostas que relacionam a evolução dos seres vivos com as pressões ambientais e bióticas, tais como: a coevolução, relações entre predadores e presas, entre parasitas e hospedeiros.

A palavra ecologia foi proposta em 1855, pelo zoólogo alemão Reiter, e deriva-se do grego Oikos que significa casa ou habitação, meio, ambiente, biótopo; e logos, que significa estudo. Portanto, literalmente a Ecologia significa o estudo da casa, ou seja, do meio onde os seres vivos habitam.

Agora, a Ecologia como ciência foi definida pela primeira vez pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1866, com sendo o “conhecimento da soma das relações dos seres vivos com o mundo ao seu redor, incluindo todas as condições orgânicas e inorgânicas da existência”. Tomando-se por base essa definição, é fácil perceber que essa ciência tem por finalidade averiguar o grau de relacionamento tanto no nível de organismos como entre esses componentes e o seu biótopo. [...]