A PSICOPEDAGOGIA FRENTE AO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, NO ÂMBITO DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA, PSICANÁLISE E DA NEUROPSICOLOGIA

ANDRÉIA FÉLIX AZARIAS


INTRODUÇÃO
Para compreender o processo de desenvolvimento das crianças no que diz respeito à aprendizagem, é preciso buscar recursos que possam auxiliar e contribuir. E é por meio desta busca de subsídios às necessidades diárias de sala de aula que se justifica a necessidade dos estudos da psicopedagogia que é a área de estudos de caráter teórico-prático e interdisciplinar que instrumentaliza o profissional nas tarefas de educar ou de ensinar. Na área da psicopedagogia, os trabalhos sobre as dificuldades de aprendizagem têm procurado chegar a diagnósticos precisos das causas e deficiências apresentadas pelas crianças.

DESENVOLVIMENTO
Analisar as dificuldades de aprendizagem não é uma questão fácil. Exige uma análise ampla, minuciosa e consciente do educador/professor/pedagogo. Os problemas escolares podem surgir de diferentes situações para cada aluno. Muitos estudantes, em determinados momentos das suas vidas sofrem muito na escola. Outros iniciam bem e depois passam a ter problemas. Esses em sua maioria sentem que não são compreendidas pelo professor ou não compreendem o que é transmitido dentro da sala, pois se dispersam com facilidade. Em função desses problemas muitas coisas ruins podem acontecer na vida do aluno e prejudicar seu desenvolvimento integral. Busca-se a compreensão do processo de aprendizagem que ajudarão não apenas os estudantes com dificuldades na aprendizagem, mas todos.
Os estudos das obras de autores como Vygotsky e Piaget, elucida o que é aprendizagem. Aprendizagem é o processo pelo qual o ser humano se apropria do conhecimento produzido pela sociedade. Em qualquer ambiente, a aprendizagem é um processo ativo que conduz a transformações no homem.
O que caracteriza a aprendizagem, para Piaget (1999), é o movimento de um saber fazer a um saber, o que não ocorre naturalmente, mas por uma abstração reflexiva, processo pelo qual o indivíduo pensa o processo que executa e constrói algum tipo de teoria que justifique os resultados obtidos.. Em relação as capacidades de aprendizagem, Piaget elucida que elas dependem do nível de desenvolvimento da criança, ou seja, é o desenvolvimento cognitivo que condiciona as capacidades de aprendizagem. A criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida. De acordo com PIAGET citado por BOCK (1999 P.127). "O homem, dotado de estruturas biológicas, herda uma forma de funcionamento intelectual, ou seja, uma maneira de interagir com o ambiente que o leva a construção de um conjunto de significados. A inteiração deste sujeito com o ambiente que o leva à construção de um conjunto de significados: a interação deste sujeito com o ambiente permitirá a organização desses significados em estrutura cognitiva que permitirá formas diferentes de interação com o meio".
Para Piaget os estágios e períodos do desenvolvimento caracterizam as diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, ou seja, de organizar seus conhecimentos visando sua adaptação, constituindo-se na modificação progressiva dos esquemas de assimilação. Os estágios evoluem como uma espiral, de modo que cada estágio engloba o anterior e o amplia. Piaget não define idades rígidas para os estágios, mas sim que estes se apresentam em uma seqüência constante.
Piaget (1985), numa perspectiva interacionista, interessou-se pelo processo e pelas estruturas lógicas que estão na base da aprendizagem. Segundo ele, o desenvolvimento cognitivo passa por alguns estágios: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e o das operações formais.
O estágio sensório-motor vai do nascimento até um ano e meio ou dois anos de idade. Segundo Piaget, nessa fase, a criança aprende por meio de suas ações, que são controladas por informações sensoriais imediatas. É aí que ela constrói sua noção do eu e passa a distinguir os abjetos que a cercam. Gradualmente ela vai adquirindo comportamentos que a permite conhecer a realidade ao seu redor, adaptando-se a ela e organizando-a num espaço.
No pré-operacional, de dois até sete ou oito, o universo da criança é manipulado de forma simbólica, por meio de representações internas ou pensamentos sobre tudo que a cerca. Os objetos já passam a ser identificados por meio de palavras, sendo que as mesmas também são manipuladas mentalmente pela criança. Piaget ressalta que o pensamento adquire uma tendência lúdica, numa mistura de realidade e fantasia, em que a realidade è "distorcida", pois ainda não vê a presença de esquemas conceituais. O desenvolvimento parte, então, do interior para o social.
No operacional concreto, dos sete aos 11 ou 12 anos, já são utilizadas operações lógicas pela criança, ela também já tem noção dos conceitos de numero e de tempo. Nele, a criança utiliza a razão para estruturar a realidade em sua volta, substitui a tendência lúdica por uma postura critica. Nessa realidade, há o uso mais correto de objetos e situações da realidade externa (esquemas conceituais). A linguagem da criança não é mais egocêntrica, sua socialização estará maior. Ela perceberá que as pessoas são diferentes dela, podem sentir, pensar e ter outras necessidades.
De acordo com Piaget (1985), no estágio das operações formais, que começa a partir dos 12 anos e vai até a vida adulta, o individuo pensa com mais ordem nesse estagio, tem domino do pensamento lógico, havendo uma espécie de experimentação mental mais flexível. Ele aprende a manipular idéias abstratas, a formular hipóteses e a entender as implicações de sua maneira de pensar e da maneira de pensar dos outros. Sua autonomia pessoal é acentuada.
Para o referido autor, cada um desses estágios é caracterizado por um tipo de estrutura que define as possibilidades de aprendizagem da criança. As estruturas lógicas que definem o que uma criança pode ou não aprender em cada período tem em sua base, o próprio amadurecimento biológico da criança.
Com isso a Neuropsicólogia atua no diagnóstico,no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza a avaliação das funções neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção, percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem, habilidades acadêmicas, processamento da informação, afeto e funções motoras e com isso, relacionar as funções preservadas e as prejudicadas, na tentativa de compreender como a lesão cerebral afeta a realização das atividades de vida diária e o desempenho escolar e vocacional. Na escola deve ser feita Anamnese, que é uma entrevista realizada por um profissional da área da saúde ou pedagogo da escola com a mãe do estudante que tem a intenção de conhecer um pouco da história do desenvolvimento dessa criança e se teve algum problema de saúde, doença ou outros até essa idade que possa estar interferindo ou ter prejudicado o desenvolvimento dessa criança.
Hoje a neuropsicologia busca investigar as funções cerebrais superiores a partir do comportamento cognitivo, sensorial, motor, emocional e social do sujeito. Ela também pode ser descrita como a análise sistemática dos distúrbios de comportamento, que se seguem a alterações da atividade cerebral normal, causadas por doenças, lesões ou malformações do desenvolvimento e funcionamento normal do cérebro que se pode compreender alterações cerebrais, como no caso de disfunções cognitivas e do comportamento resultante de lesões, doenças ou desenvolvimento anormal do cérebro. Dessa forma busca localizar as lesões cerebrais, responsáveis pelos distúrbios específicos de comportamento e permitir uma melhor compreensão das funções psicológicas e as interações ( cérebro-comportamentais).
De acordo com a teoria de Vygotsky (1999), aprendizagem e desenvolvimento estão intimamente ligados, pois aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação com o mundo está sempre mediada pelo outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o mundo a nossa volta. De acordo com BOCK (1999, p.122)
"Vygotsky defende a idéia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de nós que vai se atualizando conforme o tempo passa ou recebe influencia externa. O desenvolvimento não é pensado como algo natural nem mesmo como produto exclusivo da maturação do organismo, mas como um processo em que estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem".
Nessa abordagem a relação com a humanidade é essencial, pois esta relação é que nos orienta no processo de apropriação da cultura. Para Vygotsky(1999), o desenvolvimento é um ação que se dá de fora para dentro. É no processo de ensino aprendizagem que ocorre a apropriação da cultura e conseqüentemente desenvolvimento da pessoa. Vygotsky (1999) destaca em sua obra que a aprendizagem da criança se dá muito antes da sua entrada na escola, isto por que desde o primeiro dia de vida, ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do outro, que se torna o mediador entre ela e a cultura. Segundo BOCK (1999, p. 122)
"A criança vai aprendendo a falar e a gesticular, a nomear objetos, adquirir informações a respeito do mudo que a rodeia, a manusear objetos da cultura; ela vai se comportando de acordo com as necessidades e as possibilidades. Em todas essas atividades está o outro. Parceiro de todas as horas é ele quem lhe diz o nome das coisas, a forma certa de se comportar; é ele que lhe explica o mundo, que lhe responde os "porquês", enfim é o seu grande interprete do mundo".
São esses elementos apropriados do mundo exterior que possibilitam o desenvolvimento do organismo. A partir destas concepções Vygotsky (1997) construiu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, referindo-se as potencialidades da criança, nesta zona, existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa. A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.
Conhecer e entender o processo da aprendizagem tornou-se um grande desafio para os educadores.
A aprendizagem é uma função integrativa , onde se relacionam o corpo, a psique e a mente para que o indivíduo possa apropiar-se da realidade de uma forma particular. Levando em consideração este fato, entendemos que o ser humano faz, sente e pensa. Por isso, é importante não somente focalizarmos as funções cerebrais e sua relação com os processos cognitivos, mas também entender que cada indivíduo terá sua forma particular de processamento de informações, que não depende somente do cerebral, mas também do psíquico
( aquilo que chamamos de afetividade).
Na área escolar a crença de que o aprendizado ocorre na mente e esta não tem nada a ver com o corpo levou muito educadores a acreditar que o estudo do corpo cabia apenas ao profissional da área de saúde ou de Educação Física. Atualmente os estudos nos mostram que tanto os fatores biológicos, ambientais e comportamentais são indissociáveis.
Então o estudo da Psicanálise que é um método de tratamento psíquico e de investigação do inconsciente desenvolvido por Sigmund Freud (1896).
Conhecimentos que a psicanálise nos traz é a de que o afeto determina a prendizagem, pois ele é o gerador do desejo de saber; a necessidade de conhecermos melhor para com ele nos relacionarmos de forma benéfica ao seu desenvolvimento e aprendizagem; a importância de nos conhecermos melhor para depois conhecermos melhor o aluno para nos relacionarmos com ele de acordo com as características e os desejos presentes em cada uma dessas fases.
Depois de Freud, a infância não pode mais ser tomada como uma simples passagem de crescimento orgânicopara a fase adulta. As fases infantis passam a ser vistas em toda sua magnetude e importância. Foi com base em suas observações clínicas que ele constatou que o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente ocorre devido às pulsões sexuais e, ainda, que estas, pelo fato mesmo de a criança estar em fase de desenvolvimento, são parciais. Temos assim as seguintes pulsões parciais: oral, anal, fálica, de latência e genital. Na fase oral o desejo e o prazer localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer; na fase anal o desejo e o prazer localizam-se primordialmente nas excreções e fezes. Brincar com massas e com tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer; na fase fálica se caracteriza por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos genitais, a criança de sexo masculino ou feminino, só conhece nesta fase um único órgão genital, o órgão masculino, e a oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico-castrado e corresponde ao momento do complexo de Édipo; fase de latência este período tem por característica principal um deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e escolares; fase genital, a sexualidade toma um colorido adulto, permeando todo corpo, com predominância dos órgãos genitais.
Freud formulou a teoria topológica da estrutura da mente inconsciente e mente consciente.
Na mente inconsciente teríamos guardado os conteúdos dos quais não conseguimos lembrar em condições normais, por mais que nos esforcemos como: emoções, sentimentos que nos possa trazer dor, vergonha, sentimento de culpa . tem assim seu acesso negado na mente consciente . na mente consciente só consegue acessar os conteúdos inconsciente por meio da hipnose, dos sonhos, dos atos falhos e da associação livre.
De acordo com a teoria dinâmica da personalidade, a mente funciona com a troca estabelecidas entre o ego, superego e o id. A palavra ego refere-se ao nosso eu,identidade e autopercepção ? o que pensamos e sentimos a nosso próprio respeito e como nos situamos na sociedade; o id denota nossas pulsões, ou seja, os impulsos especificamente humanos, desejos e impulsos primitivos que nos direciona para a satisfação imediata e egoísta; o superego é a forma de funcionar da nossa mente responsável pela moralidade, pelos sentimentos de dever e de cupla. É formado a partir do egodevido a necessidade de respeito ao próximo , indispensável à vida em grupo e em sociedade.
Na prática educativa o conhecimento dessas causas que originam as inter-relações, as atitudes e as ações do aluno pode ser utilizada pelo professor para compreensão desse aluno e para um melhor relacionamento com ele e que traz benefícios ao desenvolvimento e à aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para compreender o processo de desenvolvimento das crianças no que diz respeito à aprendizagem, é preciso buscar recursos que possam auxiliar contribuir no nosso trabalho. E é por meio desta busca de subsídios às necessidades diárias de sala de aula que ao conhecermos esse processo de desenvolvimento na criança, em alguns aspectos físicos, sociais, mentais e comportamentais, pode ser utilizada pelo professor para compreensão desse aluno e para um melhor relacionamento com ele e que traz benefícios ao desenvolvimento e à aprendizagem.
Ensinar crianças com dificuldades de aprendizado não é uma tarefa fácil, requer do professor uma investigação minuciosa de como cada criança aprende. O professor deve estar a par das habilidades e dificuldades de cada criança em todos os aspectos, como: leitura, escrita, percepção, audição, visão e memória. Uma vez entendido como cada criança aprende, todos os tipos de atividades podem ser desenvolvidos de forma a ajudar a criança que possui dificuldades de aprendizado.
Dessa maneira, o presente trabalho justifica-se por fazer-se necessário a realização de uma prática pedagógica pautada na elaboração de atividades pedagógicas que valorizem o estudante integralmente como parte fundamental no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

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