Tratamento de Feridas em Paciente sob Cuidados Paliativos

-1 Valéria de Almeida Vieira, -2 Fabíola Fidelis dos Santos Rodrigues

 

Introdução

O paciente fora de possibilidades terapêuticas normalmente é rotulado como “terminal”. Isso traz a falsa ideia de que nada mais pode ser feito. Entretanto, o paciente em fase terminal está vivo e tem necessidades especiais que o profissional de saúde deve estar envolvido.1-2

            A integralidade do profissional com o paciente é primordial, tendo em vista a dimensão dos sentimentos envolvidos na situação de cuidados paliativos, considerando assim, o paciente como um todo e sobretudo as emoções envolvidas neste momento.

Segundo Perssini e Bertachine 2004,

Muito existe a fazer na linha do cuidado da dimensão da mortalidade e da finitude humanas, expressa nas necessidades humanas físicas, sociais e espirituais, com especial atenção à qualidade de vida e ao controle dos sintomas como prioridades fundamentais.

Ainda de acordo com os autores, cuidados paliativos não apressam a morte, apenas a aceitam como parte inexorável do processo. Cuidar paliativamente requer, muitas vezes, um tratamento mais ativo, mais abrangente e mais complexo. Não no sentido de sofisticação tecnológica, mas sim no sentido de integração multidisciplinar.

Portanto, a equipe multidisciplinar deve construir um cuidado holístico e integral, a fim de promover conforto e qualidade de vida ao paciente.

            "Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais" 3

                Neste sentido, o trabalho desenvolvido junto a este paciente vai além do cuidar de sua patologia inicial e quando o tratamento envolve lesões cutâneas o envolvimento da equipe é maior devido a sensação de baixa estima.

                Destacamos que o principal objetivo do tratamento de feridas é a cicatrização sem complicações, com a restauração das funções e prevenção das sequelas, porém nem sempre isso é possível, então o tratamento adquire a característica de paliativo onde a meta é melhorar a condição do tecido lesionado.

O tratamento de feridas deve levar em conta os fatores locais sistêmicos ou externos que interferem no processo de recuperação, a partir deste diagnóstico elaborar o plano de cuidados conforme a realidade apresentada.

O paciente fora de possibilidades terapêuticas portador de lesão cutânea enfrenta não somente o diagnóstico difícil da doença, mas também a dor e constrangimento devido às lesões. Deste modo, a conduta de tratamento visa à melhora das lesões que consequentemente, resultam no bem estar geral do paciente.

 

Objetivo:

Destacar a importância tratamento de feridas em pacientes sob os cuidados paliativos e promover a reflexão dos profissionais a respeito desta temática, contribuindo para melhoria dos cuidados e maior aproximação da equipe com os pacientes.

Metodologia:

Trata-se de um estudo descritivo baseado em um relato de experiência da Comissão Terapêutica de feridas (CTF), envolvida no tratamento e cuidados paliativos de uma paciente com patologia oncológica internada na unidade da Cirurgia Geral no período de 28/03/2011 a 25/05/2011 no qual foram realizados 07 avaliações a partir da resposta de parecer no dia 07/04/2011, registradas no prontuário e na ficha de acompanhamento da Comissão. A equipe do setor era orientada de forma verbal e por meio de um instrumento impresso no momento também foram disponibilizadas as coberturas específicas ao tratamento.

Destacamos que a utilização das imagens foi previamente autorizada pela paciente.

Desenvolvimento:

Relato de experiência dos cuidados prestados a paciente L.S.N. de 45 anos com diagnóstico de neoplasia de cólon avançado, apresentando fístula enterocutânea e lesão em toda região periestomal e perilesional por extravazamento de efluentes; alimentava-se por via oral, porém com perda ponderal observada no momento da avaliação. Sua eliminação vesical espontânea era em fralda e intestinal por estomia. Apresentava relato de dor contínua, embora fazendo uso de Nubain e morfina.   

As percepções da equipe de enfermagem em relação à perda ponderal da paciente, foram importantes para promoção de mudanças em sua abordagem nutricional. A equipe médica modificou a prescrição da dieta enteral que vinha recebendo para parenteral, fator este que contribuiu de forma significativa para a melhora do leito da ferida e de sua dermatite.

Para o tratamento da lesão foram utilizadas as seguintes coberturas:

1º momento – Hidrocolóide em pó; Placa protetora para ostomia; Pasta protetora para ostomia; Membrana polimérica e Bolsa coletora de colostomia;

            2º momento – Kit fístula;

            3º momento – Placa protetora; Pasta protetora; Alginato de cálcio em fita; Bolsa coletora de colostomia.

 

07/ 04/2011

 

 

16/ 05/2011

   

18/ 05/2011

20/ 05/2011

         

 

23/ 05/2011

Resultado:

O paciente fora de possibilidade terapêutica enfrenta um processo natural composto de cinco fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Neste sentido, faz-se necessário a compreensão por parte da equipe multidisciplinar a fim de auxiliar em todos os estágios e assim enfrentar melhor a doença.

Neste contexto, com o tratamento da lesão mesmo que em caráter paliativo houve recuperação da pele lesionada, ganho ponderal e diminuição da dor o que resultou na melhora do humor proporcionando um melhor relacionamento da paciente com as equipes.

É importante ressaltar que o resultado da conduta terapêutica adotada favoreceu também ao equilíbrio emocional da cliente assistida de forma a possibilitar condições psicológicas à despedida digna junto aos seus entes queridos.

Conclusão :

O tratamento paliativo é imprescindível para proporcionar qualidade e dignidade de vida ao paciente com prognóstico reservado.

A interação da equipe multidisciplinar com o paciente é primordial, tendo em vista que o processo de finitude que envolve as diversas fases da doença é muitas vezes longo.

           A compreensão dos sentimentos deste perfil de paciente proporcionam segurança e confiança, permitindo que o mesmo cumpra vivencie as da patologia com maior aceitação. Neste sentido, observamos que a abordagem terapêutica influenciaram os aspectos emocionais da paciente de forma positiva resultando em melhora física e emocional dentro da situação apresentada.

É importante considerar a confiança desenvolvida pela paciente junto à equipe de Comissão Terapêutica de Feridas para adesão ao tratamento e alcance dos resultados obtidos.

 

 

Referências Bibliográficas

 

-1 Valéria de Almeida Vieira, Enfermeira Residente – NERJ-Ministério da Saúde/UNIRIO – Hospital Federal Servidores do Estado; graduada na FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS DE SÃO JOÃO DEL REI – FUPAC; Pós-graduação em Enfermagem do Trabalho; email: <[email protected]>.

-2 Fabíola Fidélis dos Santos Rodrigues, Enfermeira servidora do Hospital Federal dos Servidores do Estado; graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 1986, Pós-graduação em: Obstetrícia; Saúde da Mulher e da Criança e Saúde Pública.

1  Kübler-Ross E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 1985.  

2. Kóvacs MJ. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.

3 Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em 2002, retirado do site http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474 - Inca 25/04/2013 22:15

4 Mccoughlan M. A necessidade de cuidados paliativos. O mundo da saúde 2003; 27 (1): 6-14.

5 Perssini L; Bertachini L. Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: Edições Loyola, 2004.