CONSTRUÇÃO DA LIDERANÇA EM ENFERMAGEM: CARACTERÍSTICAS E DESENVOLVIMENTO DO ENFERMEIRO-LÍDER

 

João Cristovão de Melo Neto1

José Edson da Silva2

Talita Jussara Conceição de Moura3

RESUMO

Objetivo: Investigar na literatura os atributos que influenciam a formação de enfermeiros-líderes. Métodos: Esta pesquisa adota uma abordagem de revisão de literatura para explorar a construção do enfermeiro-líder no ambiente de trabalho, analisando características moldadoras. Foram selecionados 18 artigos de periódicos científicos revisados por pares, após buscas em bases de dados como LILACS, BVS e PUBMED, abordando o tema da liderança em enfermagem e no ambiente de trabalho. Resultados: Os estudos destacaram que a capacidade de liderança é adquirida ao longo do tempo, e houve concordância quanto à necessidade dos enfermeiros desenvolverem certos traços para fomentar o crescimento dessa habilidade. Conclusão: Emergiram atributos essenciais para serem cultivados no processo de formação do enfermeiro-líder, incluindo proficiência em comunicação, domínio de conhecimento, senso de responsabilidade, discernimento ético e autoconsciência. Além disso, o estudo promoveu uma reflexão profunda, sensibilizando enfermeiros para a relevância da liderança no âmbito da prática de enfermagem.

Descritores: Enfermagem; Liderança; Ambiente de trabalho.

____________________________________________________

1Enfermeiro pela UNIFAVIP WYDEN, Mestre em Educação pelo PROFEI, Docente da FAST. Mestrando em Gestão de Cuidados da Saúde pela MUST University - MUST University Florida. Especialização em Saúde Mental Álcool e outras Drogas pela Faculdade Novo Horizonte - FNH. Pós-graduado em Estomoterapia pela FACUMINAS. Cursando Metodologia Ativa pela UNIVAFS. Cursando Formação Pedagógica de Professores para Educação Profissional pelo IFFar. Cursando Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar e Domiciliar pela - UFMS. Cursando Especialização em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de Outras Doenças Virais - VIGIEPIDEMIA - Fiocruz Mato Grosso do Sul. Técnico em Monitoramento do Programa Mãe Coruja Pernambuco.

2Enfermeiro pela UNIVERSO, Mestre em Educação pela FICS, Pós Graduando em Urgência e Emergência com Ênfase em UTI pela Faculdade Metropolitana.

3Enfermeira pela UNIVISA. Especialista em Saúde Pública pela UNIFACOL.

 

INTRODUÇÃO

 

Navegamos por um período de metamorfoses históricas, frutos de transformações contínuas nos âmbitos político, econômico, filosófico e tecnológico. Contudo, a estrela mais cintilante entre essas mudanças é, indubitavelmente, a globalização, cujas correntes perpassam diretamente as fibras das organizações, obrigando-as a se moldar a um compasso cada vez mais ágil e competitivo. (LOURENÇO; TREVIZAN, 2001, 2002).

Nesse quadro, as instituições hospitalares, outras vislumbradas como meros estabelecimentos, agora ascenderam ao status das empresas. Essa metamorfose desenvolveu um processo de assimilação de uma cultura organizacional inovadora, abraçando a flexibilidade, ancorada na negociação, na contenção de despesas, na busca incessante pela qualidade e no cultivo do desenvolvimento profissional de seus membros. Um panorama que reverbera nos corredores da enfermagem, que também sofre mutações sob essa influência, instilando uma nova roupagem no perfil do enfermeiro. O mercado de trabalho agora clama por profissionais que personifiquem a liderança: líderes que sejam, acima de tudo, pensadores críticos, agentes reflexivos e tomadores de decisão intrépidos. (AMESTOY, 2008).

Nesse mosaico intrincado, a liderança assume uma aura estratégica, um farol orientador na luta pela sobrevivência e triunfo das organizações. (LOURENÇO, 2004). A habilidade de um líder transcende uma simples influência; é a capacidade de incutir um código ético-profissional, construindo pontes de confiança que sustentam um trabalho conjunto em busca de objetivos comuns. (GAUDENCIO, 2007).

Além disso, registramos que a maestria da liderança não é um adereço opcional no arsenal de um enfermeiro, mas sim uma ferramenta essencial no campo de batalha do seu trabalho. Ela não apenas auxilia na orquestração das práticas de enfermagem, mas também age como a argamassa que une uma equipe em torno de um propósito comum. (AMESTOY, 2008).

Ao entrar no domínio da liderança, nos deparamos com uma questão irrevogável: Será que os líderes já nascerão prontos ou é sua construção uma possibilidade concreta? Vale ressaltar que a humanidade não emerge completa; é forjada ao longo da sua jornada. Desde o alvorecer, as pessoas clamam por orientação, e é o tecer das relações familiares e sociais que moldam seus caracteres e personalidades. Essa dança com a coletividade forja a evolução humana, um resultado da intersecção entre transformações comportamentais e as matizes de implicações, valores e influências do ambiente. Logo, as portas da mudança estão sempre abertas, permitindo o florescimento de novos comportamentos e perspectivas. (FULLMANN, 2007).

Quanto à arte de forjar líderes, é inequívoco que até mesmo os destituídos de dons inatos possam ascender a esse papel. Contudo, para esta jornada, é imperativo que as entidades educacionais e instituições de saúde reconheçam a importância de inculcar, de forma perene, os princípios da liderança. Dessa forma, podemos fornecer ao mercado uma linhagem de profissionais preparada para abraçar o manto de líderes na equipe de enfermagem, voltada para propagar atitudes conscientes e se tornarem comportamentais de mudança. (SILVA, 2005).

Nesse tabuleiro de ideias, uma multidão de estudiosos se lança na busca por decifrar o perfil do líder. No entanto, à medida que o cenário laboral se metamorfoseia, tais traços de liderança se tornam fluidos, mutáveis. O que hoje traça o caminho para o líder pode se transmutar no amanhã próximo. Contudo, essa constatação não nos absolve da responsabilidade de sondar as estratégias de liderança que reverberam com pertinência no contexto contemporâneo da enfermagem. Com essa verdade, formulamos a seguinte indagação central: Quais são as características que dão forma à edificação do enfermeiro-líder?

E, assim, nosso desígnio neste estudo toma forma: desvelar as características que tecem o enigma da construção do enfermeiro-líder.

Metodologia 

A presente pesquisa adota uma abordagem de revisão de literatura para investigar a construção do enfermeiro-líder no ambiente de trabalho, analisando as características que a moldam. Os critérios de inclusão abrangem estudos publicados em periódicos científicos revisados por pares, focados na temática da liderança em enfermagem e no ambiente de trabalho, disponíveis em inglês, português ou espanhol, e que contêm os descritores "Enfermagem", "Liderança" e "Ambiente". de trabalho". Fontes de dados incluem LILACS, BVS e PUBMED. Após buscas utilizando termos-chave relacionados aos descritores referenciados, 18 artigos foram selecionados, visando uma avaliação de relevância por meio de resumos.

RESULTADOS E DISCURSÕES 

Uma harmoniosa sinfonia de vozes emerge ao constatar uma notável correspondência entre as características desveladas durante buscar de dados nas referenciadas na literatura. Nas entrelinhas das páginas acadêmicas, ressoam vozes que proclamam a essência do líder através de atributos como comprometimento, comunicação, competência, sabedoria para ouvir, responsabilidade, visão e externar para já relacionamentos saudáveis. (MAXWELL, 2008; GÓMEZ, 2005). Diante deste panorama, as características que ecoaram na percepção dos participantes desfilam a seguir.

A eloquência da comunicação se alça como uma das virtudes primordiais, pois, sem ela, as cordas que unem o líder a seus colaboradores perderiam a harmonia. A linguagem humana, em sua profundidade, transcende a mera transmissão de necessidades básicas como fome e sede; através dela, os atos humanos ganham, transformando-nos em seres políticos. (ARENDT, 2007). Nesse vértice, a comunicação é erige como uma ferramenta primordial, que tece laços e permite intercâmbio de opiniões, informações e sentimentos. (GÓMEZ, 2005).

A comunicação, entretanto, não reside somente no que se diz, mas na cadência como as palavras são proferidas. Em contraste com as tentativas do rebuscado, a eficácia comunicativa reside na simplicidade, o poder de alcançar reside na capacidade de simplificar. (SIMÕES; FÁVERO, 2003). Neste contexto, nos corredores das instituições de saúde, a comunicação surge como uma estratégia vital, um portal para relações horizontais e diálogo franco que entrelaça cuidado e intercâmbio. (GÓMEZ, 2005).

Na trama do cotidiano da enfermagem, a busca constante pelo conhecimento se projeta como um pilar incontornável. O enfermeiro, na posição de guia e gerente, não se satisfaz com os conhecimentos universitários, mas prossegue na jornada de aprendizagem contínua. (MAXWELL, 2008). A busca pelo conhecimento é uma característica inerente ao profissionalismo, um eterno aprendizado. (SIMÕES; FÁVERO, 2003).

A perspicácia do discernimento ocupa lugar de destaque, conferindo equilíbrio às decisões e à condução das ações. A responsabilidade, associada ao exemplo que o líder oferece, impregna-se na condução dos grupos, forçando respeito e orientando condutas. (SIMÕES; FÁVERO, 2003). Em meio às complexidades da prática, a liderança responsável emerge como farol, orientando a navegação da equipe em direção ao cuidado humano. (MAXWELL, 2008)

O bom senso, entre as habilidades cultivadas, desponta como guia nas encruzilhadas decisórias. A sensação na tomada de decisões, a capacidade de fazer o certo e evitar precipitações, surge como um farol que ilumina o caminho. (SIMÕES; FÁVERO, 2003). A habilidade de avaliar os outros com classificação e discernimento, independentemente das opiniões pessoais ou alheias, fundamenta a liderança consistente. (MAXWELL, 2008)

No tecido das relações humanas, o autoconhecimento e a maturidade emocional tecem fios essenciais. O primeiro passo rumo à liderança é uma exploração do eu, uma autodescoberta que lança as bases para a autotransformação. (MAXWELL, 2008). Uma liderança madura, que transcende as próprias barreiras emocionais, pavimenta o caminho para relações humanas apreciadas e para o alcance de cuidados compassivos. (THOFEHRN, 2005).

A jornada continua revelando características a serem refinadas e evitadas no contexto de trabalho. A negatividade, esse eco de sombras, manifesta-se como um conjunto de fatores, objetivos e subjetivos, que atravancam o desenvolvimento e comprometem as ações individuais e coletivas. (MAXWELL, 2008).  A individualidade, fruto das pressões socioeconômicas, emerge como uma entrada que gera rendimento e relações, instantaneamente à promoção do trabalho conjunto. (SIMÕES; FÁVERO, 2003).

Na cadência dos tempos, as lideranças situacionais emergem como uma nota dominante. Flexibilidade, capacidade de adaptação e justiça moldam o perfil de liderança que se ajusta às exigências cambiantes, ao invés de limitar-se a moldes fixos. (BLANCHARD, 2007). Entre as conversas desta sinfonia de liderança, a harmonia do humor se faz ouvir, abraçando a saúde mental e irradiando motivação. (HOUEL; GODEFROY, 2005).

No seio da enfermagem, o respeito se alça como a pedra angular das relações. Um olhar renovador, uma perspectiva que transcende o indivíduo, é a essência do respeito. (ZIMERMAN, DE; OSÓRIO, 1997). Como base sólida, esta virtude fomenta relacionamentos profundos, motivados pela flexibilidade, comprometimento e humanidade. (THOFEHRN, 2005).

O estigma do autoritarismo cede espaço a uma dança de liderança, moldada pela justiça e coerência. Nas notas da liderança situacional, o tom da empatia reforça a sinfonia, oferecendo uma melodia certa para cada contexto. (BLANCHARD, 2007).  O bom humor, como tempero da alma, transforma o ambiente, trazendo luz ao penumbroso cenário hospitalar. (HOUEL; GODEFROY, 2005).

E assim, as páginas se desdobram, destacando a necessidade de autoconhecimento e da destilação do negativismo. A liderança, como uma melodia que se modifica, exige flexibilidade e maturidade emocional. E neste palco de cuidado, a educação permanente ergue-se como farol, projetando um ambiente não apenas de crescimento, mas de satisfação e qualidade de vida. (BRASIL, 2007).

A lei determina que a enfermagem adote responsabilidades profundas, tecendo um cuidado sustentado pela fundamentação teórica e gestão exemplar. (THOFEHRN, 2005). Na essência, a responsabilidade do líder se estende como farol, orientando com seu próprio exemplo, moldando um caminho de virtude e desenvolvimento. (SIMÕES; FÁVERO, 2003).

Nesta dança de líderes, o autoconhecimento brilha como a estrela guia. O entendimento íntimo de si mesmo gera a compreensão e compreensão do outro, tecendo relações óbvias e equipes coesas, em busca de cuidados compassivos. (MAXWELL, 2008; THOFEHRN, 2005). E assim, as vozes se entrelaçam, revelando uma coreografia de liderança que se deseja com características intrínsecas, destiladas na jornada de cuidado e crescimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O percurso do estudo, meticulosamente delineado, aspirou a sondar as características que se interpõem na trilha de construção do enfermeiro-líder. Ao desvendar este capítulo, o desdobramento oferece um presente de reflexões edificantes para o panorama do trabalho em enfermagem. Em suas vozes, os enfermeiros elevam a liderança de um pódio inacessível e ancoram no reino do possível, como uma força acessível, a ser moldada ao longo da jornada profissional e humana. Como um canteiro de crescimento, a jornada do líder emerge através de atributos que resplandecem: compromisso inquebrantável, diferenciação sólida, comunicação nítida, responsabilidade plena, o bom senso como bússola, o autoconhecimento como chave e o bom humor como trilha sonora.

Desse clareio, também emerge uma visão enriquecida das enfermeiras que compartilham suas vozes, uma visão que tece a liderança como fio de Ariadne, que desvela o labirinto das responsabilidades e ilumina o caminho do enfermeiro. Todavia, como um amanhecer tímido, observe-se que o instrumental necessário para a orquestração da liderança ainda carece de afinação. Diante dessa ressonância, surge uma sugestão revigorante: a inserção da educação permanente no caldeirão do ambiente de trabalho. Esta estratégia, como um fio de luz, promete contribuir para o aperfeiçoamento profissional, harmonizando-o com as nuances da liderança.

Na tessitura desta jornada, vislumbra-se o cumprimento do objetivo traçado. O estudo, como um farol de inquisição, descreve as características que entrelaçam o perfil do enfermeiro-líder, gerando uma partilha de reflexões e sensibilização entre as enfermeiras. Nesse diálogo eloquente, a liderança, antes de um mistério velado, assume um protagonismo palpável no caleidoscópio da equipe de enfermagem. Assim, as páginas desta investigação se fecham, mas suas reverberações continuam a ecoar nas paredes das instituições de saúde, na consciência dos profissionais e na melodia do cuidado.

REFERENCIAIS 

AMESTOY, S.C. Liderança como instrumento no processo de trabalho da enfermagem. Dissertação de mestrado. Rio Grande: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande, 2008.

ARENDT, H. Ação. In: ARENDT, H. A condição humana. 10a ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2007. p. 188-255.

ASQUIDAMINI, I.M; SAUPE, R. Grupo focal: estratégia metodológica qualitativa: um ensaio teórico. Cogitare Enfermagem, v. 1, pág. 9-14, 2004.

BLANCHARD, K. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Porto Alegre: Bookman, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde: polos de educação permanente em saúde. Brasília; Ministério da Saúde, 2007. (Cadernos Projetos, Programas e Relatórios)

CAREGNATO, R.C.A; MUTTI, R. Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus análise de conteúdo. Texto & Contexto Enfermagem, v. 4, pág. 679-84, 2006.

FULLMANN, L. A alquimia de um líder. In: CANDELORO, R. Gigantes da liderança. São Paulo: Editora Resultado, 2007. p. 79-82.

GAUDENCIO, P. Superdicas para se tornar um verdadeiro líder. São Paulo: Saraiva, 2007.

GÓMEZ, E. Liderança ética: um desafio do nosso tempo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2005.

HOUEL, A.; GODEFROY, C. Como lidar com pessoas difíceis: guia prático para melhorar seus relacionamentos. São Paulo: Madras, 2005.

LOURENÇO, M.R. Desenvolvimento da competência em liderança na efetividade de organizações de saúde dirigidas por enfermeiros-gerentes. Tese de doutorado. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2004.

LOURENÇO, M.R; TREVIZAN, M.A. Liderança situacional: análise do estilo de enfermeiros-líderes. Acta Paulista de Enfermagem, v. 1, pág. 48-52, 2002.

LOURENÇO, M.R; TREVIZAN, M.A. Líderes de enfermagem brasileiros: sua visão sobre a temática da liderança e sua percepção a respeito da relação liderança e enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 3, pág. 14-9, 2001.

MAXWELL, J.C. O livro de ouro da liderança. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.

SILVA, M.A. Aplicação de liderança situacional em enfermagem de centro cirúrgico. Dissertação de mestrado. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2005.

SIMÕES, ALA; FÁVERO, N. O desafio da liderança para o enfermeiro. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 5, pág. 567-73, 2003.

THOFEHRN, M.B. Vínculos profissionais: uma proposta para o trabalho em equipe de enfermagem. Tese de doutorado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2005.

ZIMERMAN, D.E; OSÓRIO, L.C. Como venceu com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.