SUICÍDIO ESPIRITUAL: É POSSÍVEL?

 

Óbvio que, quando uma pessoa qualquer: seja uma criança, adolescente ou adulto, se mata pelo suicídio, tal pessoa se elimina tão só do campo sensorial, físico e biológico; mas não se elimina de sua Consciência, respondendo, alhures, pelo infeliz ato diante da vida, se acovardando das provas que resultariam no seu evolver espiritual; mas quando, além do suicídio do corpo, poderia cogitar-se do suicídio do Espírito, do Ser imortal?

 

Inspirando-me na obra ditada por ‘Sua Voz’, bem como por ‘Emmanuel’, vejamos alguns tópicos da construção do Espírito e de uma sua possível destruição, pois que, do ponto de vista teórico, tal poderia se dar, conquanto reações da Amorosa Lei que, a nosso ver, não permitiria o suicídio do Espírito, criado para gozar de intraduzível felicidade ao seio do Eterno, do ‘Sistema’ em Deus-Pai, nosso Criador.

 

Situemos-nos, primeiramente, no referido ‘Sistema’, Criação Primeira, e, como se sabe: Espiritual. Ora, se Deus é Perfeito, não poderia sair de Suas Mãos: filhos imperfeitos: Simples e Ignorantes (ESI); mas sim, filhos dotados de alguma perfeição, não tão perfeitos quanto o próprio Criador, é óbvio, mas de uma perfeição relativa, e, portanto, do que se entende como Espíritos Puros e Conscientes (EPC), dotados de inteligência, cultos de certos valores, e, por conseguinte, dotados de liberdade, pois Deus não criaria autômatos e escravos de Sua Lei.

 

Todavia, onde existe a liberdade, mesmo com limites demarcados, óbvio que também existe, na contrapartida, a possibilidade de uma sua infração, pois o Ser criado é livre, e, portanto, a possibilidade do erro está incluso na lógica mesma do ‘Sistema’; mas, pior, obviamente, seria se a Lei eliminasse a liberdade, o que implicaria num ‘Sistema’ mecânico, onde os filhos, de modo robotizado, estariam aprisionados para sempre na Liberdade Divina que, por sua vez, criara autômatos e não filhos dotados de Consciência, de Liberdade, mesmo que houvessem de responder por suas infrações à Justa e Correta Lei.

 

Façamos uma comparação do Espírito então criado, com o nosso mundo biológico. A presença do espírito satânico (no ‘Sistema’) comparar-se-ia com a presença dos micróbios patogênicos em nosso organismo. Quando ele está são, os micróbios não o perturbam; mas quando as portas estão abertas, eles penetram o organismo no seu ponto vulnerável, porque débil.

 

E também, o mal só houve de penetrar no ‘Sistema’ divino da criação primeira por ter encontrado no filho uma porta vulnerável em seu Ser, porta que o envolvera na queda de Si mesmo, debilitado por sua culpa e rebeldia. Assim, se formos fortes no campo orgânico, ou no espiritual, poderemos nos mover sem perigo entre os micróbios patogênicos ou entre as forças do mal.

 

Assim, pois, verificou-se a Queda do Espírito que, segundo ‘Emmanuel’, ratificando ‘Sua Voz’, ministra:

 

“Colocada por Deus no caminho da vida, como discípulo que termina os estudos básicos, a Alma nem sempre sabe agir em correlação com os bens recebidos do Criador, caindo pelo orgulho e pela vaidade, pela ambição ou pelo egoísmo, quebrando a harmonia divina pela primeira vez e penetrando em experiências penosas, a fim de restabelecer o equilíbrio de sua existência”. (Vide: “O Consolador” – Emmanuel – médium FCX – Feb).

 

E, portanto, verificara-se a Involução, o que se conhece, mais vulgarmente, como Queda espiritual, termo pouco equivalente ao fenômeno em si, pois que no ‘Sistema’ divino, e, infinito, as coisas não caem, mas se movimentam na dinâmica mesma de sua construção metafísica, e, portanto, o que se verificara fora um movimento de desconstrução psíquica e não de Queda propriamente falando.

 

E, com a referida desconstrução, tal só se verificara para uma sua posterior reconstrução, ou, salvação do filho do erro e da perdição. Este, pois, o mecanismo mesmo do Fenômeno Involutivo-Evolutivo: após a Involução no infinito espiritual, dos Espíritos Puros e Conscientes (EPC), surge o ‘Anti-Sistema’, o Universo físico e astronômico das partículas atômicas (ESI) que se juntam para a construção sólida e biológica das coisas; e, com tais, verifica-se um fenômeno inverso ao da Involução: o que se conhece, e todos nós o vivemos: da Evolução, que ocorre para salvar, impelindo com suas ações e reações o indivíduo ao progresso, à evolução espiritual.

 

E, no campo das humanidades, sobretudo, é óbvio que, ao invés de tão só Determinismo, a Lei age e reage com o devido respeito à Liberdade do Ser decaído. Mas quando, apesar de tudo, o Espírito não quer (caso do suicídio) de forma alguma salvar-se, o que implica numa violação da Lei, que é inviolável, o referido Ser poderia, então, pela mesma Lei, ser eliminado?

 

Muito embora a destruição de um Espírito seja possível, queremos crer que tal possibilidade inexiste, se nos mostrando, apenas, como probabilidade teórica. Ora, o ‘Sistema’ fora construído de modo a que não se possa chegar a tal ponto: de anulação ou destruição do Ser. E isto porque tal ponto é contra o interesse e a felicidade do Espírito; é contra o Princípio Fundamental de Deus: que o mantém em Vida, em Consciência, Ato de Sua Criação.

 

É verdade que o Ser rebelde, tendo-se colocado no negativo, Ele, automaticamente propende para essa anulação de Si, se destruindo por sua inversão à Lei, de Amor e de Felicidade do Ser imortal.

 

Mas o fenômeno deverá atingir, no infinito da Queda Espiritual, um ponto de saturação; um ponto onde a Vontade da Lei prevalece, e, por Determinismo, o Espírito avança, progride, sobe dolorosamente os degraus de sua evolução, quando, por estacionar-se, a dor se intensifica nas entranhas de sua Consciência, supera-lhe os limites da tolerância forçando-lhe uma inversão de rumos, ou seja: da nadificação (destruição do Ser) à espiritualização (salvação do Ser), sede de sua paz, de sua ordem, de sua felicidade.

 

É então que o Ser, forçado pela Lei, se põe no caminho de sua reconstrução, e a dor se vai permutando pela paz, pela harmonia, razões de sua felicidade. Ora, a Lei, que expressa a presença de Deus em nossa salvação, é uma força tão só benéfica, construtiva, de auxílios e esclarecimentos vários durante nossa jornada salvífica, contida na Evolução. E, nos grandes períodos de tempo, pela convergência de tantos impulsos positivos, é impossível que o Ser não compreenda o absurdo de laborar em seu próprio dano, que ninguém, por pior que seja, ousa desejar.

 

Do exposto, pode-se concluir que todos deverão, mais cedo ou mais tarde: retornar, tal como filho pródigo, ao Amplexo Amoroso do Criador. Os mais rebeldes haverão de sofrer mais, mas também se alçarão aos mais altos planos divinos, porquanto, se um só não se salvasse, a obra de Deus seria imperfeita e não ouso crer que isto seja possível de conceber-se.

 

Assim, pois, o mal e a dor são realidades indiscutíveis do nosso Mundo e sua causa não pode estar em Deus.

 

Sua causa, por conseguinte, só pode estar no filho que, de tanta dor, acabará por fazer a melhor escolha: a de salvar-se pelo Amor, pela Misericórdia de um Pai Justo: nosso Criador.

 

Fernando Rosemberg Patrocínio: Articulista, Coordenador de Estudos Doutrinários, Palestrante e Escritor.

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