Em uma de suas epístolas, São Paulo define a condição humana: Sic transit gloria mundi (a glória do mundo é transitória). E, mesmo assim, o homem continua buscando a glória na terra.  E, mesmo assim, sempre parte em busca do reconhecimento pelo seu labor.

            Mesmo sabendo que a glória do mundo é transitória, qual seria a “mola mestra” que nos impulsiona para longe do conforto daquilo que é familiar e costumeiro, e nos faz enfrentar desafios?

            Creio que essa mola se chama: a busca do sentido da vida.

            Por muitos anos procurei nos livros secretos, nas artes, nas ciências ocultas e dos homens, nos largos e nos estreitos caminhos que percorri, uma resposta definitiva para essa pergunta. Deparei-me com muitas, é verdade, algumas que me convenceram por anos, outras que não resistiram a um só minuto de reflexão; entretanto, nenhuma delas foi suficientemente forte para que agora eu pudesse dizer: o sentido da vida é este ...

            Atualmente estou convencido que tal resposta jamais nos será confiada nesta existência, embora, no final, no momento em que estivermos de novo diante do Criador, compreenderemos cada oportunidade que nos foi oferecida, as  aceitas e as rejeitadas.

            O pastor Henry Drummond, em um de seus sermões, em 1890, tenta ilustrar o encontro do homem com o Criador. Diz ele:

            “Neste momento, a grande pergunta do ser humano não será: “Como eu vivi?”

            Será, isto sim: “Como amei?”.

            O teste final de toda busca é a dimensão de nosso Amor. Não será levado em conta o que fizemos, em que acreditamos ou o que conseguimos.

            Nada disso nos será cobrado, mas sim nossa maneira de amar o próximo. Os erros que cometemos nem sequer serão lembrados. Não seremos julgados pelo mal que fizemos, mas pelo bem que deixamos de fazer. Pois manter o Amor trancado dentro de si é ir contra o espírito de Deus, é a prova de que nunca O conhecemos, de que Ele nos amou em vão.”

            A glória do mundo é transitória, e não é ela que nos dará a dimensão de nossa vida mas sim a escolha que fazemos, de seguir nossa lenda pessoal, acreditar em nossas utopias, e lutar por elas. Somos todos protagonistas de nossas existências, e mesmo assim, muitas vezes, são os heróis anônimos que deixam as marcas mais duradouras.

            Segundo uma lenda japonesa certo monge, entusiasmado pela beleza do livro chinês Tao Te King, resolveu levantar fundos para traduzir e publicar aqueles versos em sua língua pátria. Demorou dez anos até conseguir o suficiente.

            Entretanto, uma peste assolou seu país, e o monge resolveu usar o dinheiro para aliviar o sofrimento dos doentes. Mas assim que a situação se normalizou, de novo partiu para arrecadar a quantia necessária à publicação do Tao; mais dez anos se passaram, e quando já se preparava para imprimir o livro, um maremoto deixou centenas de pessoas desabrigadas. O monge de novo gastou o dinheiro na reconstrução de casas para os que tinham perdido tudo. Outros dez anos correram, ele tornou a arrecadar o dinheiro, e finalmente o povo japonês pôde ler o Tao Te King.

            Dizem os sábios que, na verdade, esse monge fez três edições do Tao: duas invisíveis, e uma impressa. Ele acreditou na sua utopia, combateu o bom combate, manteve a fé em seu objetivo, mas não deixou de prestar atenção ao seu semelhante.

Que seja assim com todos nós: às vezes os livros invisíveis, nascidos da generosidade para com o próximo, são tão importantes quanto aqueles que ocupam nossas estantes.