EU TENHO UMA AMIGA!

Maria Eunice Gennari Silva

Por um longo tempo deixamos de nos encontrar. Mas, mesmo assim eu tenho uma amiga. É a Rute. A Rute é aquela pessoa que, quando estou à procura de algo, de repente entre achados e perdidos, tudo de bom que eu encontro traz à minha memória a pessoa dela. Logo, perto ou longe, a sua alegria sempre está ao meu lado.

A Rute é lugar de aprendizado. A gente aprende e não esquece, porque fica registrado na mente e no coração, e confirmado pela vida afora. A Rute é assim. Ela tem como característica um dom que faz bem até para a saúde da gente, porque só de pensar nela, naturalmente, sorrio.

E vamos combinar, há coisa melhor do que ter uma amiga que até quando você chega chorando, acaba indo embora sorrindo? Há coisa melhor do que ter uma amiga que te diz com toda segurança: “Ora que Melhora!”?

A alegria, em todo tempo, é um privilégio dos que conhecem o caminho de Deus e prosseguem nele sem vacilar. Nada os atrapalham, nada os fazem desviar do propósito estabelecido por Ele, para que suas vidas sejam a de levar alegria onde a tristeza, na companhia delas, passa a ser lugar só de travessia.

Esta competência e habilidade faz parte da identidade dos filhos de Deus. Portanto, a natureza destes filhos é a de receber do Filho, o que foi ensinado pelo Pai, para comunicar, o mesmo, aos que estão à sua volta. É a vontade de transmitir o que aprendeu para os que se achegam a eles no caminho.

A Rute me ensinou esta aprendizagem espiritual todas as vezes em que acheguei-me a ela. A certeza de que as coisas naturais estavam muito próximas do meu cotidiano profissional, fazia com ela se empenhasse mais ainda em me orientar.

Enquanto caminhei pela Educação, a Rute, como amiga e personagem coadjuvante, marcou sua presença em momentos significativos no meu trabalho. De forma afetiva e carinhosa, ela participou e alegrou a vida de muitos educadores – a maioria, com certeza, ela nem conheceu. Tudo isso, porque ela tinha uma livraria. Mas... uma livraria muito especial.

É isso mesmo, a Rute tinha uma livraria. Lá, eu passeava entre livros e os mais variados souvenirs. Era um passeio sem hora marcada para terminar, mesmo porque, eu já saía de casa sabendo onde ia e para que ia lá. Havia um propósito definido de, junto com a Rute, escolher naquele lugar o melhor para abençoar colegas e amigas com as quais eu me relacionava na Educação.

Ir até lá era a certeza de não sair de mãos vazias, porque, sem dúvida, a Rute, como referência do amor de Cristo na sua vida, era também uma boa comerciante das coisas de Deus. Da mesma forma, era altruísta, solidária e completamente desprendida, porque foram muitas as vezes em que ela ofertou, espontaneamente, mimos significativos às minhas compras.

Pelo simples desejo de acrescentar algo mais, ela se tornou uma coparticipante das lembranças que eu levava para presentear em datas comemorativas na escola - aniversários, Dia do Professor, festas de encerramento do ano, amigo invisível e por aí afora.

Entende, então, por que eu tenho uma amiga?

Porque é aquela amiga que, quando bate no coração “o programa da saudade", me certifico de que é impossível esquecer dela. É impossível apagar da memória detalhes que deram a Rute o privilégio de ser quem ela é.

Imagine uma livraria comprometida com a leitura sobre as coisas de Deus, para te revelar o caminho em que deve andar. Nesse caminho, andando pela livraria, eu chegava em uma sala conjugada a uma pequena cozinha. Ali, sobre a mesa, sempre havia fartura de alimento para encerrar o dia com um dedo de prosa. E sentadas à mesa, nós compartilhávamos a respeito do projeto de Deus em nossas vidas. Que maravilha viver tanta alegria!

Enfim, nessa perspectiva, eu sempre aguardava a próxima visita na livraria da Rute. E foram muitas as minhas idas àquele lugar, onde, primeiro, ouvia suas histórias de vida que aquietava o meu coração.

Até que o tempo de Deus assim o permitiu.