PREPARADOS PARA OLHAR PARA CIMA?

Maria Eunice Gennari Silva

 

Na última semana de 2021 assisti o filme “Não olhe para cima”. No início, tive um pouco de resistência, porque havia lido algumas críticas bem debochadas, sarcásticas.

Para falar a verdade, foi o deboche e o sarcasmo desnecessários que me levaram a certificar a veracidade, ou não, destas críticas. Aliás, diga-se de passagem que críticas e comentários a respeito de alguém ou de assuntos diversos e adversos, sempre precisam ser verificados pelos envolvidos direta e/ou indiretamente. É assim que são esclarecidas as dúvidas, ou seja, para que não haja apenas uma versão conveniente aos interesses individuais.

Quanto ao filme, quero apenas abordar alguns aspectos interessantes, relevantes e oportunos para uma reflexão a respeito de relacionamentos entre os definidos como “seres humanos”. Só isso. Afinal não sou especialista em crítica de cinema, mas gosto de fazer as minhas observações e compartilhar. Ao mesmo tempo, quero te sugerir que assista o filme. É bom e necessário para quem gosta de perguntas. Ele conduziu-me a buscar respostas na Verdade!

Então, vamos lá. Logo no início do filme chamou-me atenção o visual estiloso da estudante de astronomia - a que descobre, e confirma com outro astrônomo, um cometa vindo em direção à Terra. A comunicação, através do seu estilo, mostrou que o preconceito, a discriminação, a falta de respeito, a ignorância social, o negacionismo e a influência excessiva das redes sociais, certamente, seriam temas abordados no filme. E todos eles mostrados no desenrolar da história, em relação ao tamanho do problema vindo de cima para baixo logo que avisado à toda humanidade.

Antes porém, chamo atenção para os personagens principais que foram chamados em alguns artigos sobre crítica de cinema, como dois medíocres astrônomos - outro comentário que me fez ver o filme até o final. Mesmo porque, acho improvável alguém que se interessa e estuda a ciência de todos os corpos celeste e suas possibilidades de fenômenos que provocam grandes acontecimentos no espaço, ser chamado de medíocre.

É claro que erros de cálculos existem, mas não é motivo para rotular ninguém de medíocre. Medíocre, infelizmente, são as “fake news” presentes nas contações das histórias da humanidade desde a sua formação, e que agora virou uma forma de comunicação natural. A tal ponto que, os que permitem ser dominado por elas, passam a conviver com a mentira sem o menor pudor. Portanto, denominar como medíocres dois astrônomos que, na história do filme, compartilham uma verdade, me parece mais crítica de quem gosta de criticar por criticar. Infelizmente, fato é que o filme oferece uma sátira sobre o descaso das autoridades que acabam influenciando as pessoas ao desprezo para com a ciência.

Seguindo em frente, o filme traz à tona a triste realidade embutida em muitas pessoas quanto ao enfrentamento da verdade. Nesta direção, torna-se evidente, no filme, o despreparo delas acrescidos da arrogância em negar o óbvio. É por isto que assusta e coloca em dúvidas se, de fato, estamos preparados para mudar a direção dos cometas que se aproximam de nós. Ou... se estamos dispostos a ser transformados de tal forma, que olhar para cima significa ver, sensatamente, no céu, os desafios a serem vencidos todos os dias... e as vitórias recebidas.

Numa mistura entre engraçado e assustador, me peguei, na maior parte do filme, torcendo para que o cometa destruísse a Terra. Ora, segundo a minha visão de justiça, para o enredo do filme, ninguém merecia conviver com tanta gente má, egoísta e ignorante das coisas que possibilitariam impedir uma calamidade para salvar vidas.

A certa altura do filme, não conseguia imaginar nada melhor do que aquele cometa destruindo tudo e todos. Os do bem e os do mal. Era um favor bem-merecido para todos. E eu explico. Das pessoas do mal, que fosse cumprido o “livrai-nos de todo mal”. Para as pessoas do bem, que elas conseguissem responder a si mesmas, antes de serem exterminadas, onde, por que e para que elas também não foram poupadas. Com certeza, ambos, os do bem e os do mal, trariam à memória, tardiamente, os seus verdadeiros propósitos para viver a vida coletivamente.

Neste raciocínio, o meu imaginário se limitou a um final da espécie em definitivo. Foi aí, que fiquei assustada comigo. E me perguntei onde eu me encontrava na divisão entre os do bem e os do mal. Cruzes - me dei mal achando que era 100%, do bem.

Mas é isto mesmo. É quando começamos a julgar, apontar o dedo e tirar conclusões, principalmente, frente às situações que jamais pensamos em passar por elas. E é isto mesmo também quando as pessoas não têm como esconder suas reações que revelam quem elas de fato são, frente às situações que pensavam não existir no seu mundinho particular.

Concentrada no despreparo da humanidade que foge da verdade que incomoda, o filme me fez compreender o quanto nós (sem exceção) precisamos começar tudo de novo e novo. Não se trata de inovar, de reinventar ou de dar um jeitinho. Trata-se de morrer a velha cultura do “tô nem aí”, e, então, criar a cultura do “estamos aí com tudo e com todos”.

Sem sombra de dúvida, e consciente desta verdade, eu creio que Deus é Amor. Ao buscar conhecê-Lo – e o faço por meio do conhecimento que é o movimento da ciência - o Seu mover, em nós, revela a compreensão do amor para com todos em todo tempo e espaço.

Se a ciência, hoje, confirma que nenhum cometa atingirá a Terra, mesmo assim a nossa responsabilidade é a de nos preparar para o que vier lá de cima, porque, o que vem de lá, está além do que possa ser, ou não, a nossa vontade. Mas, não está aquém do que podemos ser, juntos e em Amor, para enfrentar situações inesperadas.

Sem muita especulação, quero encerrar este texto trazendo mais um comentário sobre o final fantástico do filme – uma família e seus amigos que servem a ceia, sentados à mesa. E no meu livre entendimento, juntos e unidos eles esperam as consequências explícitas da vontade do Pai sobre tudo e todos.

E que fique claro, independentemente da vontade dos que tentaram preparar os despreparados.