Quero percorrer um dado caminho, muito próprio

Por Jacot Werner Stein | 23/03/2022 | Crescimento

QUERO PERCORRER UM DADO CAMINHO, MUITO PRÓPRIO 

1. Quero percorrer um dado caminho, muito próprio - já a alguns anos sei disso, mas ainda falta-me a clareza ou a clareira fundamental possível. Aqui não evoco Heidegger ou mesmo Nietzsche ou ainda Kierkegaard, mas talvez seria o meu hiato, ou seja, essa clareza ou certeza de impossibilidade de tais autores que acorri-me a Foucault. Uma arqueologia do eu está descartada, mas uma genealogia do eu a cada momento é-nos sempre possível. Não tenho sonhos gigantesco, aliás não sei se tenho sonhos ou um sonho primordial. Mas possuo um conjunto de intencionalidade que pretendo colocá-las todas em andamento, em funcionamento ou mesmo em execução. Ainda não sei como, mas ao menos iniciei-me nessa empreitada. Contudo, apareceram dificuldades que eu não havia antecipado, aliás não antecipei nenhuma das dificuldades que apareceram - aliás esta é uma de minhas características, não antecipo dificuldades, eu escrevo o projeto no calor das emoções, somente faço aquilo pelo qual estou apaixonado, falta-me disciplina. Pois na falta da inspiração, somente a disciplina pode resolver esse dilema: ter que escrever e não ter... seja o conteúdo ou mesmo a forma. 

2. A muito escrever algo, não que revolucione o mundo, mas que ao menos seja algo considerável do ponto de vista não literário ou do romance, mas que seja algo que contribua do ponto de vista acadêmico. Neste ponto, então comecei a juntar minhas anotações e foi então que percebi ou constatei que tudo que escrevi até hoje eu tratei somente de Platão, Aristóteles, Sto. Agostinho, S. Tomás, Descartes, Hume, Kant, Hegel, Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, Gadamer, Hannah Arendt e Foucault. Esses pensadores constituem-se por si só a dedicação de uma vida, a dedicação de outras vidas, talvez muitas vidas, pois seus pensamentos modificaram o modo como compreendemos o mundo, modificaram o próprio mundo. O mundo deixou de ser o que era antes e passou a ser em algo diferente, melhor orientado, suas perspectivas foram alargadas significativamente, seu horizonte tornou-se o totalmente outro. Portanto, é quase uma contradição percorrer uma análise que passe por tantos pensamentos e por tão distintos pensamentos, mas foi isto que se resumiram minhas anotações... Elas, no todo, não são contraditórias, são complementares, elas demarcam deslocamentos. Da justiça à metafísica, da patrística à escolástica, da escolástica ao racionalismo, da razão à experiência e da experiência à coisa em si, da coisa em si ao fenômeno ou mais precisamente da fenomenologia do espírito ao conceito de angústia e de ironia com uma preocupação fundamental com a existência autêntica, da fenomenologia à existência enquanto mundo, seja ele como vontade ou como representação, da vontade à vontade de poder e de potência, da vontade ao sentido do ser ou à necessidade de uma repetição explícita da pergunta pelo sentido do ser ao se constituir uma ontologia fundamental, desse movimento da ontologia decorre-se ou gera-se ou procede-se uma relação entre verdade e método ou mais precisamente entre o entendimento e a compreensão, destas aos princípios de imprevisibilidade, destes à arqueologia e à genealogia. 

3. Compreendemos que não é algo fácil ou simples de se justificar o que pretendo ao fim desse caminho. Mas não pretendemos nada, senão esboçar esse caminho como uma possibilidade possível, como uma possibilidade efetível. Pois, o caminho se faz caminhando, então caminhemos. E é o que pretendemos: caminhar ou percorrer trieiros com essas obras fundamentais para o sentido do mundo humano, e, aliás, fora do humano, fora do humano, demasiado humano, não há mundo... Mas neste ínterim ocorreram coisas, ocorreram e estão ocorrendo coisas que inviabiliza o livre pensar, como ter que, diariamente, submeter-me a uma jornada extenuante de 13h30min para trabalhar outras 9h30min. Então, no fim, não faço outra coisa senão trabalhar ou simplesmente indicar e operacionalizar procedimentos simples, nada processual. Pois, aqueles que querem algo processual, são raríssimos, são quase ou nada próximos. Mas, são possíveis. Por isso, ainda há um certo incentivo em permanecer nesta vida tão maldita, tão atordoada, tão medonha. Não sei se esperei pouco de mais da vida, ou se esperei além de minhas expectativas, além de minhas possibilidades. Tanto que, por vezes, meditamos ponderar sobre a morte voluntária como uma benção possível. 

4. Não sou sempre tão melancólico assim, aliás outras duas pessoas me acham até bem atirado, sem falsa modéstia. Contudo, tem-me ocorrido alguns medos; sim, alguns medos que sempre retornam, que a cada momento eles estão aí bem próximos, intimamente ligados a um conjunto de coisas ou a um conjunto de estado de coisas.

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