Carnaval – Banda Mole

Quem, como eu, teve a felicidade de acompanhar a Banda do Bororó, nos desfiles da Banda Mole em Belo Horizonte, não poderá se esquivar de um sorriso de felicidade que apenas essas boas memórias são capazes de nos legar.

Em Belo Horizonte haviam os desfiles de Escolas de Samba, na Afonso Pena, aos moldes dos que ocorriam em outras grandes cidades do País. E neles, eram muito raras as participações de PcD. Os eventos, incluindo ensaios e treinos constantes, mais a concentração antes dos desfiles, entre outras condições extenuantes, afastavam esse recorte social da festa, por desestímulo da própria pessoa ou desacreditados por terceiros. Assim, se lhes permitia apenas a condição de plateia e não a de protagonistas. Para muitos de nós, no entanto, estar ali, integrar a festa, ser embalado pelos tamborins e taróis, ter o coração massageado pelo baque dos surdos de marcação e compassado pelo ritmo do samba, transformaria a condição de excluído em vida realizada, em plenitude.

Os grandes desfiles das Escolas de Samba, notadamente no Rio, ganharam, na década de 70, o status de ópera popular magistral. Especialmente quando os desfiles foram transferidos para a Marques de Sapucaí, em 78, mesmo antes da construção do Sambódromo, inaugurado em 84. De certa forma, esta grande expansão do evento, no Rio, num primeiro momento esvaziou outras festas. Em 90, por exemplo, vários fatores contribuíram para que este fosse o último desfile em BH. Um dos muitos motivos, talvez tenha sido a denúncia de que algumas PcD, alimentando o sonho de participar, se dispuseram a fazê-lo na condição de “merendas”, ou seja, aquelas pessoas escondidas pelas grandes alegorias, que empurravam anonimamente os carros. À época, esses enormes carros eram proibidos de ser motorizados. Alguns jornalistas se escandalizaram com o fato e, reportaram. Nos anos seguintes, não houve desfile. Em 2.001, voltam os cortejos, porém sem o enfoque competitivo. Seriam apenas de apresentação.

Promover esta grande festa demanda recursos financeiros, portanto, patrocínios. E para sua evolução, naturalmente, prêmios que são a remuneração pelo bom trabalho artístico e cultural.  Como, com propriedade, o grande Adoniran Barbosa tratou do tema em 1.975, meu primeiro ano de BH: “Tocar na banda, pra ganhar o quê? Duas mariolas, e um cigarro Yolanda.”. A referência a esse cigarro, um descrédito aos músicos, se confirma pela baixíssima qualidade do produto que estampava uma loura na embalagem e um cão fumante na propaganda.   

O nome da marca daquele cigarro não era, ainda bem, uma homenagem à minha querida e bela amiga, Iolanda, entusiasta do carnaval, cadeirante, atleta e foliã de corpo e alma. Um exemplo maior de enfrentamento e vitórias sobre as adversidades, que, inclusive já desfilou em grandes Escolas do Rio, como a Grande Rio, com grande sucesso.

Nos desfiles, sempre fui plateia.

Em blocos de rua, no entanto, sempre busquei ser folião, como nos memoráveis Blocos do Sujo de Nova Lima e Sabará; de Pirapora e do bairro D. Bosco, região Noroeste de BH.

Ainda falta muito, mas já se percebe a participação das PcD nos diversos momentos de cultura e da vida. Estamos decididamente a caminho de um tempo de maior inclusão e participação.