Ivone Cortina

Licenciatura em Filosofia

Faculdade de Ciências Humanas – FACH

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1 Introdução

O presente trabalho tem o objetivo de relacionar o sublime em Kant, a tragédia em Schiller e a dialética em Schelling. O sublime Kantiano volta-se para um sentimento inicial de desprazer a partir da discordância da faculdade da imaginação no ajuizamento da estética de grandeza, e ao mesmo tempo será prazer à medida que  a razão encontre conceitos racionais, em um movimento entre a atração e desprezo do ânimo.

Quanto à tragédia, essa é o ponto culminante da obra Schilleriana, pois essa seria capaz de suscitar no homem percepções que excedem a sensibilidade atingindo a razão e desenvolvendo a potencia humana livre da repressão da natureza. Em relação à Schelling esse busca transpor os limites impostos por Kant em consideração ao uso da razão especulativa e se impõe pela dialética do Absoluto.

2 Sublime na crítica de juízos de Kant

Na Crítica da faculdade de julgar de Kant, tem-se que a manifestação do prazer é o que reflete a experiência estética. Através dos sentimentos que se emitem os juízos e se afirma o belo. Desse modo, o valor estético do juízo depende do sentimento do sujeito que o gera.

A descrição fenomenológica do belo e do sublime do sujeito em Kant se assemelha ao sentimento de prazer e desprazer em Nietzsche. Segundo Vieira (2011), Nietzsche desenvolve seus argumentos através das estratégias originalmente de Kant:                    

Em Kant a descrição fenomenológica dos estados do sujeito é o dado primário que serve de ponto de partida para a investigação filosófica. É um fato observado empiricamente que o individuo emite juízos estéticos, juízos que têm certas propriedades que os tornam constitutivamente distintos daqueles ligados ao conhecimento e à moral.

É necessário verificar a necessidade de explicar as relações entre as faculdades transcendentais e a emissão do juízo.  Para Kant na crítica da faculdade de juízos, as sensações são provocadas no sujeito e correspondem ao fenômeno estético, enquanto que em Nietzsche supõe que existam seres metafísicos que originem a estética e seus efeitos.

Segundo Kant, o sentimento de prazer é o resultado dos estados da estética, e a representação do objeto se da por meio da compreensão que determina o juízo do gosto. Quanto ao gosto esse está definido pela faculdade de ajuizamento de um objeto ou de uma representação, e esse objeto é o belo. Não existem gostos iguais, idênticos, mas sim um gosto ajuizado.

Para Nietzsche o Uno Primordial que nada mais é que a realidade apreendida pela intuição tem na tragédia seu apoio para favorecer seus propósitos. Para Kant é pela faculdade da imaginação que é possível o julgamento do belo, o que agrada universalmente. O comprazimento e a perfeição observada em um objeto são essenciais para o juízo de belo. Dessa forma o gosto tem seu juízo estético sob a forma do objeto, juízo esse que se baseia no sentimento e não em conceitos.

...belo é utilizável como instrumento da intenção com respeito ao bom, para submeter aquela disposição da mente - que se mantém a si própria e é de validade universal subjetiva - àquela maneira de pensar que somente pode ser mantida através de penoso esforço, mas é válida universal – objetivamente (KANT, 1790)

Desse modo tem-se no belo o gosto com a razão, pois a sensação de agrado não é propriamente fator de beleza. O belo e o sublime não necessitam de nenhum juízo dos sentidos, mas sim do juízo da reflexão. O belo confere a forma ao objeto em questão, enquanto que no sublime ele pode ser pensado ilimitadamente, precisamente em concordância com a natureza.

Para Kant, a representação que ultrapassa a capacidade de imaginação, de poder pensá-la, porém não traduzi-la em coisa pensada, que se apresenta no sentimento ambíguo, de prazer e desprazer se refere ao sublime.

Quanto à tábua do juízo empregada por Kant, as mesmas categorias empregadas ao belo são concernentes a analítica do sublime sendo elas: qualidade (sem interesse), quantidade (de modo universalmente válido), relação (conformidade a fins subjetivos) e modalidade (como necessária).

Kant argumenta que o sublime visto quanto ao ajuizamento do objeto é referenciado pela imaginação, ora pelo conhecimento, ora pela apetição, dificultando sua representação, seja por ser absolutamente grande e ou potente demais. Desse modo, o sublime pode ser definido como algo perfeito no ponto de vista metafísico. Kant diz que o “sublime é aquilo em comparação com o qual tudo mais é pequeno” (p 96). Desse modo o sublime não seria o objeto propriamente em si, mas a capacidade de superar as limitações da imaginação em direção a compreensão e ajuizamento do objeto, ou seja, associa-se a razão.