A imagem do menino e o abutre representa o egocentrismo generalizado vivenciado nos dias de hoje. Há relatos que o fotógrafo responsável pela imagem apenas espantou momentaneamente o abutre e nada fez para ajudar a criança e as outras pessoas daquela região que se encontravam em mesmas condições de fome e miséria. 

Relacionando ao existencialismo sartreano, evidencia-se na fotografia a presença do ser-em-si como aquele que é ele próprio, idêntico a si mesmo e que nem conhecendo, aprendendo, deixa de ser quem é. O menino presente na imagem, e também o fotógrafo que tem presença implícita, ambos possuem o ser-em-si na medida em que “sua existência precede a essência”, pois é posteriormente, num processo gradativo, que sua essência é moldada e constituída.

A partir do momento que esses seres tomam consciência de si e passam a se modificar e modificar também o que lhe é externo, aí se constitui o ser-para-si. Portanto, este é o contrário do primeiro, posto que o primeiro seja incriado e atemporal enquanto este autocria-se continuamente no tempo. Enquanto o primeiro é sempre idêntico a si, este não pode coincidir consigo. Na configuração da imagem, encontram-se o menino e o fotógrafo, seres dotados de consciência e que não coincidem consigo. Essas duas personagens têm consciência de si e agem por si mesmas, de forma independente. Isso constitui o ser-para-si. O garoto estava ciente, ainda que debilitado, da situação de risco pela qual estava passando, tanto que a sua reação instintiva foi a tentativa de fuga. O fotógrafo, por sua vez, tinha consciência da gravidade da cena a qual estava presenciando de um predador diante de uma presa e sendo esta um ser humano debilitado, ainda por cima. Mas nada fez no sentido de ofertar ajuda, pois sabia quão valiosa e lucrativa podia ser tal imagem.

O ser para todos advém da ideia que toda escolha é um bem e que por mais que esse bem seja individual, seus reflexos perpetuam na coletividade. Então, a escolha do abutre de devorar o menino é vista como algo normal e até mesmo “bom”, haja vista que este fato faz parte da realidade natural daquela espécie. Para o fotógrafo, esse acontecimento também fora um ponto positivo, visto que esta é uma cena rara e poderia render grandiosos lucros (e rendeu) levando tal fato a conhecimento da sociedade e possibilitando um bem coletivo. Vale frisar que este é um exemplo meramente didático, posto que o conceito de ser para todos tenha aplicabilidade apenas para seres dotados de consciência, ou seja, em humanos, e o abutre não se enquadra nesta categoria.