DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

                                  CURSO DE NUTRIÇÃO

            PRODUTOS ALIMENTÍCIOS INFANTIS: RÓTULOS E                                     COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL

                 

                                               Projeto de Pesquisa apresentado à                                                   Universidade Nove de Julho referente                                               ao Trabalho de ConclusãO de Curso I                                              para obtenção do título de Nutricionista

                                             São Paulo      

                                                2016

  1. INTRODUÇÃO 

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como hipertensão, diabetes, dislipidemias e obesidade, antigamente encontradas predominantemente na fase adulta, mostram-se cada vez mais prevalentes em crianças e adolescentes.1,2

A Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-2009 apresenta dados  sobre o aumento do excesso de peso e obesidade em crianças e adolescentes entre os 5 aos 19  anos de idade em todas as regiões do país e em todas as classes sociais  sendo maiores em áreas urbanas que nas áreas rurais.1O estudo ERICA realizado no Brasil em 73.399 estudantes com idades entre os 12 a 17 anos de representatividade nacional e regional estima que 24% dos adolescentes apresentam pressão arterial elevada e 25% excesso de peso.3 O sobrepeso e a obesidade são associados diretamente como causas da presença de pré-hipertensão e hipertensão em pesquisa realizada em crianças e adolescentes de escolas públicas de Salvador (Bahia), com uma prevalência de hipertensão de 4,8% e de  pré-hipertensão de 9,3% sendo maior no sexo feminino em ambos os casos e entre aqueles com idades entre 10 e 14 anos.4Em Cuba um estudo com 152 crianças com obesidade e hipertensão confirmou a presença de  síndrome metabólica em 54 delas representando um 35,5% de prevalência.2

O aumento crescente das DCNT está diretamente relacionado com a transição nutricional vivida no Brasil e no Mundo, caracteriza pela preferência ao consumo de alimentos processados e prontos deixando de lado alimentos frescos como frutas, verduras e legumes além da presença do sedentarismo.5

 A Pesquisa Nacional de Saúde – PNS de 2013 constatou que somente 37,3% das pessoas de 18 anos ou mais consomem cinco porções diárias de frutas e hortaliças, o consumo regular de feijão foi referido por 71,9% das pessoas enquanto que 23,4% consomem regularmente refrigerantes e 21,7% afirmam consumir doces, bolos, tortas, chocolates, balas, biscoitos e bolachas doces em cinco ou mais dias na semana; quanto à prática de atividade física, a média brasileira é de 22,5% com tendência a diminuir com o aumento da idade chegando a um percentual de 18,3%.5

O consumo de alimentos industrializados como refrigerantes, biscoitos, carnes embutidos teve um aumento de 400% de acordo com pesquisa realizada pela UNICAMP e está relacionado à maior frequência das refeições realizadas fora de casa. Esses alimentos contêm quantidades excessivas de açúcares, gorduras, aditivos como corantes e alto valor energético e são pobres em fibras, vitaminas e minerais, podendo levar ao excesso de peso, DCNT e alergias.6,7 Um estudo mostrou que os adolescentes consomem mais alimentos fora de casa do que os adultos, tendo preferência por alimentos industrializados, sendo os mais consumidos, refrigerantes, pizza, salgadinhos fritos e assados como coxinha, empada e pastel, por terem baixo custo, comparados com refeições e fast-foods.8Em outro estudo com crianças de escolas particulares e estaduais, verificou-se que existe um consumo significativo desses alimentos tanto nos domicílios, quanto nas escolas, entre os mais consumidos foram refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos recheados, salgadinhos, queijo Petit Suise, chocolate e achocolatado em pó, principalmente por crianças apresentando excesso de peso e obesidade.9

A alimentação é essencial no crescimento e desenvolvimento do ser humano e ainda é mais importante na infância, visto que é nessa fase que os hábitos alimentares serão adotados ou influenciados, podendo ou não contribuir para prevenção de doenças crônicas na fase adulta. A alimentação deve ser balanceada e entre os nutrientes indispensáveis na alimentação, encontra-se a fibra, pois auxilia na redução da pressão arterial, melhora o perfil lipídico, e fortalece a imunidade.10,11 Pesquisa comprova que a constipação intestinal vem acontecendo com muita frequência na infância por conta do seu baixo consumo, havendo a necessidade de se tomar medidas preventivas.12A ingestão inadequada  pode desregular o trato gastrointestinal, inativando a absorção de gordura e diminuindo assim o poder de saciedade.13Seu baixo consumo é característico de patologias como diabetes, hipertensão e dislipidemias.14

Outro micronutriente em destaque é o sódio, consumido in natura no sal de cozinha no preparo dos alimentos, no saleiro á mesa e também em grandes quantidades nos produtos industrializados. O consumo em de sódio em excesso é considerado um importante fator de risco para várias doenças crônicas como doenças renais, câncer de estômago, doença cardiovascular (DCV), dentre outras. A redução do consumo de sódio é uma ferramenta importante, pois influencia favoravelmente o controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS).15,16 De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-2009, a média de ingestão diária de sódio da população brasileira é de 4.700 mg, que equivale a 12g/dia de sal.1 A recomendação de sódio para crianças maiores de 2 anos é de 2g de sódio (ou 5g de sal) e para adultos deve ser menos de 2d/dia (ou 5g de sal). 17

O marketing voltado ao público infantil tem atrativos na sedução do consumidor infantil, com poder de persuasão através de brinquedos e personagens infantis para aumentar a venda de alimentos com alto teor de sódio, açúcar, gordura e com baixos teores de fibras, vitaminas e minerais. Essas publicidades são abusivas e estimulam o consumo excessivo e podem ser responsáveis pelo aumento da obesidade em crianças. Estudos apontam que a exposição da criança por apenas 30 segundos a esses comerciais é capaz de influenciar suas escolhas e incentivar a formação de maus hábitos alimentares e consequentemente a morbidade na vida adulta.18,19 As crianças estão participando cada vez mais nas decisões de compra da família, participação que chega a 70% das decisões e representa para as empresas a fidelização, tornando-as dependentes desses produtos.18,20

  1. JUSTIFICATIVA

Pesquisas do IBGE indicam que a alimentação da população está em constante transformação. As pessoas têm cada vez mais dado preferência ao consumo dos alimentos processados e prontos, em detrimento aos produtos “in natura”, devido a inúmeros motivos, tais como: a influência de campanhas publicitárias, correria do dia a dia, praticidade entre outros. A partir da mudança na prática alimentar, a proposta deste trabalho é identificar e analisar as quantidades de sódio e fibras presentes nos alimentos industrializados, e assim identificar e contribuir como um alerta para consumo mínimo ou moderado de alimentos com excesso de sódio e/ou com baixos teores de fibra, os quais podem desencadear complicações para a saúde, e doenças como a diabetes, a hipertensão, obesidade.

  1. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Verificar a presença de figuras ou personagens do universo infantil nas embalagens de doces em geral, balas e chocolates. Identificar e comparar as quantidades de sódio e fibras por porção entre todos os doces em geral, balas e chocolates acima citadas para o público infantil e não infantil.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Reconhecer os produtos alimentícios de características industriais, oferecidos nos hipermercados constados nesta pesquisa, segundo grupo alimentar: doces em geral, balas e chocolates.
  • Definir todos os produtos encontrados em produtos infantis e não infantis.
  • Indicar a quantidade de sódio e fibras, por porção e por grupo de alimentos, dos produtos de características industriais estudados;
  • Comparar a quantidade de sódio e fibras, por porção e por grupo de alimentos, dos produtos infantis e não infantis.
  1. METODOLOGIA

O estudo transversal de caráter, observacional será realizado em três hipermercados (Extra, Carrefour e Pão de Açúcar), localizados na grande São Paulo e em lojas virtuais do hipermercado Extra e Pão de Açúcar, com propósito de constatar os alimentos segundo o grupo, doces em geral, balas e chocolates que são oferecidos ao público consumidor.

Os dados serão coletados nos meses de maio (05) e junho (06) de 2016. Serão coletadas informações sobre marca, produto, presença de personagem, tamanho do pacote, tamanho da porção, quantidade de sódio e fibra.

Os produtos serão analisados e classificados de acordo com cada categoria: infantis e não infantis, será utilizado como critério presença de personagens, desenhos e figuras para produtos infantis. Com base nos dados coletados será feita uma tabela contendo os grupos de alimentos que irão constituir uma determinada frequência na utilização destas estratégias de marketing.

Os produtos pesquisados serão analisados quanto à quantidade de fibra e sódio por porção e por grupo de alimentos, comparando produtos infantis e não infantis.

Os dados serão tabulados em planilha Excel Office. Por fim, se fará uma análise da qualidade nutricional dos produtos infantis e não infantis, através da comparação da quantidade de sódio e fibras, por porção e por grupos de alimentos. Estes dados serão coletados diretamente da tabela nutricional contida no rótulo de cada produto estudado. Para esta comparação se utilizará o teste T de Student.

 

 

 

  1. REFERÊNCIAS
  1. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos Familiares 2008-2009.  [Internet] [Acesso em 2016 maio16]. Disponível em http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45419.pdf 
  2. Oquendo YC, Piñeiro LR, Duarte MC, Guillen DA. Síndrome metabólicoenniños y adolescentes hipertensos obesos. Revista Cubana de Pediatria 2010; 82 (4): 31-40.
  3. Bloch KV, Klein CH, Szklo M, Kuschnir MCC, Abreu GA, Barufaldi LA et al. ERICA: prevalências de hipertensão arterial e obesidade em adolescentes brasileiros RevSaude Publica. 2016; 50(supl1): 9s
  4. Pinto SL, Silva RCR, Priore SE, Pinto EJ. Prevalência de pré-hipertensão e de hipertensão arterial e avaliação de fatores associados em crianças e adolescentes de escolas públicas de Salvador, Bahia, Brasil. Cad. Saúde Pública vol 27(6) Rio de Janeiro Junho de 2011.
  5. IBGE.  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  Pesquisa Nacional de saúde 2013. [Internet]. [Acesso 2016 maio 16 ]. Disponível emftp://ftp.ibge.gov.br/PNS/2013/pns2013.pdf   
  6. Bruschi A. Consumo de alimentos industrializados aumenta 400%, indica estudo. [Internet]. 2015 [acesso em 2016 maio 26]. Disponível em:https://digitaispuccampinas.wordpress.com/2015/05/19/consumo-de-alimentos-industrializados-aumenta-400-indica-estudo/.
  7. Villagelim ASB, Prado SD. Algumas reflexões sobre marketing televisivo: O olhar de nutricionistas sobre um filme de alimento industrializado. Ceres: Nutr e saúde[Internet]. 2008 [acesso em 2016 maio 18]; 3(1):29-41. Disponível em: file:///C:/Users/CEDI/Downloads/1858-7064-1-PB%20(2).pdf
  8. Bezerra IN, Souza AM, Pereira RA, Sichieri R. Consumo de alimentos fora do domicílio no Brasil. Rev. Saúde Pública  [Internet]. Fev 2013 [acesso em  2016  maio  26]; 47(Suppl1):200s-211s. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102013000700006.
  9. Aires APP, de Souza CL, Benedetti FJ, Blasi TC, Kirsten VR. Consumo de alimentos industrializados em pré-escolares. Rev AMRIGS, Porto Alegre. 2011 out-dez; 55(4): 350-355.
  10. Kamil JM. Hábito e comportamento alimentar de escolares do 5º ano do ensino fundamental residentes em juiz de fora – MG. [Internet]. 2013 [acesso em 2016 maio 17]; 1-96. Disponível em:http://www.ufjf.br/labesc/files/2010/06/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Joana-Kamil.pdf
  11. Bernaud FSR, Rodrigues TC.Fibra alimentar – Ingestão adequada e efeitos sobre a saúde do metabolismo.ArqBrasEndocrinolMetab [Internet].  2013 [acesso em 2016 maio 17]; 57(6): 397-405. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abem/v57n6/01.pdf
  12. Ferreira JS, da Silva DCG, Nassif CAM, Vilar JS.Hábitos alimentares e ocorrência de constipação intestinal em crianças de 3 a 6 anos de uma escola pública do município de Itaperuna. Rev. Cien da Faminas [Internet].  Maio-ago 2013 [acesso em 2016 maio 30]; 9(2): 70-84. Disponível em: file:///C:/Users/CEDI/Downloads/cincias-biolgicas-e-da-sade%20(4).pdf
  13. Lima SCVC, Arrais FA, Pedrosa LFC. Avaliação da dieta habitual de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. Rev. Nutr, Campinas[Internet]. Out/dez 2004 [acesso em 2016 junho 01]; 17(4):469-477. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732004000400007
  14. Souza AM, Pereira RA, Yokoo EM, Levy RB, Sichieri R. Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009.Rev. Saúde Pública[Internet]. Fev 2013 [acesso em 2016 maio 16]; 47(1):190S-9S. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v47s1/05.pdf
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  17. World Health Organization. WHO issues new guidanceondietarysaltandpotassium. [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2013 [acesso em  2016 junho 20]. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/news/notes/2013/salt_potassium_20130131/en/
  18. Cazzaroli AR. Publicidade Infantil: o estímulo ao consumo excessivo de alimentos. In:Âmbito Jurídico, Rio Grande [Internet]. Set 2011 [acesso em 2016 maio 26]; XIV, n. 92. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link =revista_artigos_leitura&artigo_id=10235.
  19. Heitor SFD, Rodrigues LR, Santiago LB.Introdução de alimentos supérfluos no primeiro ano de vida e as repercussões nutricionais. CiencCuidSaude [Internet]. Jul-set 2011 [acesso em 2016 maio 15]; 10(3):430-436. Disponível em:file:///C:/Users/CEDI/Downloads/Consumo%20de%20alimentos%20sup%C3%A9rfluos%20no%201o%20ano%20de%20vida.pdf
  20. Souza ARL, Révillion JPP. Novas estratégias de posicionamento na fidelização do consumo infantil de alimentos processados. Ciência Rural. 2012 mar; 42(3): 573-580.


AUTORA: MARIA DAS DORES DO NASCIMENTO MATIAS

Cursando o cusro de Nutrição 7º semestre na Universidade Nove de Julho.