Autores:
Silfarney Gomes da Silva, Maryssol Christyne Gomes Bueno, Solange Maria Seixas Martins, Mirene Pereira Salgado, Juliana Pereira da Silva.                                         

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, de evolução lenta, que se manifesta principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés; causada pelo Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen) de alta infectividade e baixa patogenicidade(1). A transmissão é direta do paciente bacilífero não tratado, que elimina os bacilos pelas vias aéreas superiores durante a convivência domiciliar íntima e prolongada. Também são contaminantes os hansenomas ou qualquer lesão erosada da pele de paciente bacilífero(2).

A hanseníase é mundialmente conhecida como lepra, os relatos mais antigos datam de 4266 a.C. no Egito, 500 a 2000 a.C. nos Livros Sagrados da Índia e 1100 a.C. na China. Nessas antigas civilizações os hansenianos eram segregados da sociedade. As mutilações que a doença provocava geraram o preconceito e a discriminação que ainda persiste até os dias de hoje(2). A mais antiga descrição dermatoneurológica característica da hanseníase foi escrita na Índia em 1400 a.C., Mitsuda (1919) desenvolveu o antígeno que foi aprimorado por Hayshi (1923). Em 1941, Faged (EUA) descobre o primeiro tratamento específico e eficaz com o uso da sulfona(3).

A hanseníase ocorre em todas as idades, atingindo ambos os sexos, entretanto, os homens são acometidos em maior número do que mulheres (2:1)(4). A intensidade da exposição favorece a infecção pelo M. leprae; dessa forma, os contatos domiciliares de pacientes multibacilares apresentam de 4 a 5 vezes maior risco de adoecer. Os fatores socioeconômicos também são importantes na prevalência da hanseníase(4). Entre as premissas sociais associadas à distribuição geográfica da doença, reafirmam-se a pobreza, a desnutrição, condições higiênicas desfavoráveis e movimentos migratórios. A doença, com freqüência relaciona-se a indicadores como baixa renda familiar, baixa escolaridade e falta de condições básicas de saúde(5).

A maioria dos hansenianos sobrevivem dos subempregos, estão na malha periférica da produção capitalista, pulverizados em trabalhos precários e desqualificados, o que favorece um maior acometimento da doença(6). As condições individuais e socioeconômicas como estado nutricional, situação de higiene e, principalmente, as de moradia da população parecem influenciar a transmissão, o que dificulta o controle da endemia. A problemática da hanseníase não se limita apenas ao número de casos, devendo ser considerado também o seu alto potencial incapacitante, que pode interferir no trabalho e na vida social do paciente, além de perdas econômicas e traumas psicológicos(7).

O Brasil mantém, nas últimas décadas, a situação mais desfavorável na América e o diagnóstico da segunda maior quantidade de casos do mundo, depois da Índia. A hanseníase entre os brasileiros é um grande problema de Saúde Pública cujo programa de eliminação está entre as ações prioritárias do Ministério da Saúde(5).

No ano de 2002, o coeficiente de detecção e prevalência nacional foi de 2,69 e 4,42/10.000 habitantes, e na região Centro-Oeste 6,61 e 11,77/10.000 hab., respectivamente. O estado de Goiás, juntamente com outros sete estados brasileiros apresentam situação desfavorável em relação ao coeficiente de prevalência. Entretanto, o coeficiente sofre influência da não-atualização do banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e reflete não apenas a gravidade da endemia como, também, problemas operacionais do sistema de informação(5).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs uma classificação com fins operacionais para a utilização dos esquemas multiterápicos no tratamento da hanseníase. Nessa classificação, os pacientes são divididos em paucibacilares (PB) nos quais estão incluídos aqueles com baciloscopia negativa, com até 5 lesões de pele e/ou só um tronco nervoso acometido, abrangendo assim todos os tuberculóides e indeterminado; e os multibacilares (MB) com baciloscopia positiva, com mais de 5 lesões de pele e/ou mais de um tronco nervoso acometido, dos quais fazem parte todos os virchovianos e dimorfos(8,4).

O tratamento específico da hanseníase é a poliquimioterapia (PQT) padronizada pela OMS, sendo utilizadas as seguintes drogas associadas: rifampicina, dapsona e clofazimina(4). O esquema recomendado para pacientes paucibacilar é uma dose mensal supervisionada de duas cápsulas de 300 mg de rifampicina e a dapsona em dose mensal supervisionada e diária auto-administrada de 100 mg, durante 6 meses. O esquema para pacientes multibacilar é uma combinação de rifampicina administrada em uma dose mensal supervisionada de duas cápsulas de 300 mg, a clofazimina em dose mensal supervisionada de três cápsulas de 100 mg e dose diária de 50 mg e a dapsona em dose mensal supervisionada e diária auto-administrada de 100 mg, durante 12 meses(1).

Tendo em vista o alto índice de prevalência da hanseníase no Brasil, e considerando que mais da metade dos doentes são multibacilares (contagiantes)(3), e ainda que, o estado de Goiás apresenta situação desfavorável em relação à prevalência(5), torna-se necessário uma investigação do perfil socioeconômico e demográfico dos doentes, relacionando o mesmo as condições predisponentes ao contágio e desenvolvimento da doença de Hansen, subsidiando ações voltadas para educação em saúde dos profissionais que lidam com o tratamento desta enfermidade, e também dos portadores e população em geral.

O objetivo do estudo foi conhecer o perfil socioeconômico e demográfico de hansenianos atendidos no CIAMS Jardim América de Goiânia-GO, relacionando o mesmo as condições predisponentes ao contágio e desenvolvimento da hanseníase.

MÉTODOS

O presente estudo tratou-se de uma pesquisa de campo descritiva, com abordagem quantitativa, desenvolvida no CIAMS Jardim América de Goiânia-GO.

O programa é desenvolvido por uma equipe multiprofissional que atua no diagnóstico, tratamento, acompanhamento e vigilância de comunicantes. No período de setembro a novembro de 2008, 15 hansenianos cadastrados no programa de Hanseníase local fizeram parte do estudo, de ambos os sexos, entre 18 e 60 anos de idade, que aceitaram participar da pesquisa assinando o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os dados foram obtidos através da seleção e coleta de dados por meio de roteiro para entrevista semi-estruturado, com perguntas fechadas, e respostas pré-determinadas visando alcançar a subjetividade dos sujeitos.

Este trabalho foi conduzido dentro dos padrões exigidos pela resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde(9). O projeto foi submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Urgência de Goiânia de Goiânia-GO (HUGO), por meio do parecer número 039/08.

Na análise das variáveis demográficas e socioeconômicas foram utilizados procedimentos de estatística descritiva, ou seja, os resultados foram organizados e apresentados na forma de tabelas com freqüência e percentual. Essas análises foram processadas com o auxílio dos softwares Word e Excel.

RESULTADOS

Foram avaliados 15 pacientes portadores de Hanseníase, sendo 4(26,7%) da forma paucibacilar e 11(73,3%) da forma multibacilar. (Tabela 1).

Tabela 1 - Casos de hanseníase por classificação operacional atendidos no CIAMS Jardim América, Goiânia-Go, Brasil, 2008.

 
 

Classificação operacional

Freqüência

 

%

 

Paucibacilar

4

26,7

 

Multibacilar

11

73,3

 

Total

15

100

 

N= número de observações

 

As características socioeconômicas evidenciaram predomínio de pessoas casadas (73,3%), com escolaridade de nível fundamental incompleto (46,6%). No tocante a ocupação as mais freqüentes foram doméstica/ do lar (33,2%), comerciante (26,7%) e motorista (20%). A média da renda familiar foi de 2,4 salários mínimos. Assistir televisão foi o lazer a que mais frequentemente se dedicavam (66,7%). 73,3% dos pacientes residem em casa própria. (Tabela 2) e (tabela 3).

Tabela 2 - Características sociais de hanseniános atendidos no CIAMS Jardim América. Goiânia-GO, Brasil, 2008.

Características

Frequência

%

Situação conjugal

Solterio

2

13,3

Casado

11

73,3

Estável

1

6,7

Separado

1

6,7

Viúvo

0

0

Escolaridade

Analfabeto

1

6,7

Fundamental Incompleto

7

46,6

Fundamental Completo

2

13,3

Médio Incompleto

0

0

Médio Completo

1

6,7

Superior Incompleto

1

6,7

Superior Completo

3

20

Ocupação

Motorista

3

20

Comerciante

4

26,7

Doméstica/Do lar

5

33,2

Bordadeira

1

6,7

Porteiro

1

6,7

Operador de Máquinas

1

6,7

nº= número de observações

Tabela 3 - Características econômicas de hanseniános atendidos no CIAMS Jardim América. Goiânia-GO, Brasil, 2008.

Características

Frequência

%

Renda Familiar

< 1

0

0

1 2

3

20

2 3

7

46,6

3 4

1

6,7

> 4

4

26,7

Situação da Habitação

Casa Própria

11

73,3

Casa Alugada

3

20

Casa Cedida para Habitação

1

6,7

Acesso ao lazer entre os membros da família

Assistir à Televisão

10

66,7

Viajar

2

13,3

Hábito de Leitura

1

6,7

Praticar Esportes

2

13,3

nº= número de observações

Notou-se predominância do gênero masculino (60%), idade de 39 a 48 anos (40%), cor parda (46,6%) número de filhos de 1 a 2 (53,3%), quantidade de pessoas que integram a família de 4 a 5(26,7%). Com relação à naturalidade 26,7% são de Goiânia, 60% de outros municípios do estado de Goiás e 13,3% de outros estados, mais especificamente da Bahia e do Maranhão. Quanto ao setor de residência 20% dos pacientes portadores de Hanseníase mora no setor Jardim América; 73,3% em outros setores e 6,7% de outra cidade. (Tabela 4).

Tabela 4 - Características demográficas de hansenianos atendidos no CIAMS Jardim América. Goiânia-GO, Brasil, 2008.

Características

Freqüência

%

Gênero

Masculino

9

60

Feminio

6

40

Idade

18 - 28

0

0

29 - 38

4

26,7

39 - 48

6

40

49 - 60

5

33,2

Raça/Cor

Branca

6

40

Amarela

0

0

Preta

2

13,3

Parda

7

46,6

Indígena

0

0

Número de filhos

0

1

6,7

1 2

8

53,3

3 4

6

40

≥ 5

0

0

Naturalidade

Goiânia

4

26,7

Outros Municípios de Goiás

9

60

Outros Estados

2

13,3

Nº de Integrantes da Família

1 ― 2

2

13,2

3 ― 4

9

60

4 ― 5

4

26,7

≥ 6

0

0

Setor de Residência

St. Jardim América

3

20

Outro Setor de Goiânia

11

73,3

Outra Cidade

1

6,7

nº= número de observações

Ao mencionar as características ambientais, 100% dos entrevistados residiam em casa de tijolo; 60% têm acesso à rede de esgoto, sendo que 40% utilizam a fossa negra; 100% beneficiam da coleta do lixo. Ao indagarmos sobre a água utilizada para o consumo, 86,7% usufruem de rede de água e 93,3% utilizam a água com algum método de tratamento (filtração, fervura ou cloração). Quanto ao número de cômodos do domicílio a maior parte dos sujeitos da pesquisa informaram possuir de 4 a 6 cômodos, 93,3% moram em setor de pavimentação asfáltica. Apenas 13,3% dos portadores de Hanseníase trabalham em ambiente fechado com aglomeração de pessoas há mais de 2 anos. (Tabela 5).

Tabela 5 - Características Ambientais de hansenianos atendidos no CIAMS Jardim América. Goiânia-GO, Brasil, 2008.

Características

Frequência

%

Moradia

taipa

0

0

tijolo

15

100

madeira

0

0

Nº de cômodos onde reside

1 ― 3

5

33,2

4 ― 6

7

46,6

7 ― 9

2

13,3

≥ 10

1

6,7

Pavimentação do setor onde reside

pavimentado

14

93,3

não pavimentado

1

6,7

Destino dos Dejetos

fossa negra

6

40

rede de esgoto

9

60

céu aberto

0

0

Destino do Lixo

coletado

15

100

enterrado

0

0

queimado

0

0

jogado no solo ou rio

0

0

Abastecimento de Água

poço

2

13,3

rede de água

13

86,7

Tratamento da Água

não tratada (nenhum método ou coada)

1

6,7

tratada (filtração, fervura ou cloração)

14

93,3

Ambiente de Trabalho

fechado com aglomeração de pessoas há mais de 2 anos

2

13,3

ventilado

13

86,7

nº= número de observações

DISCUSSÃO

O estudo revelou que em relação à classificação operacional, os resultados apontaram para um predomínio das formas multibacilares (73,3%), acompanhando o panorama nacional, em que há predomínio de doentes multibacilares (contagiantes). Portanto, trata-se de uma moléstia de muita importância em nosso meio, constituindo grande problema de Saúde Pública(3).

O predomínio da forma multibacilar aponta para o diagnóstico mais tardio e implica na possibilidade do aparecimento de incapacidades físicas, limitando o indivíduo de exercer atividades sociais e laborais, levando a condições precárias de vida.

Faz-se necessário, portanto, maior investimento dos serviços de saúde na divulgação e orientação sobre essa doença para que os indivíduos tenham a oportunidade de detecção precoce, diminuindo as possibilidades da instalação de incapacidades(10).

Em relação à situação conjugal, mostrou-se maior freqüência de pessoas casadas (73,3%). Esta constatação assemelha-se a de Oliveira & Romanelli(11), ao estudar portadores de Hanseníase, observou que 67,82% eram casados.

Quanto à escolaridade, 6,7% dos pacientes são analfabetos, sendo que a taxa de analfabetismo estadual em 2005 é de 10,2%; e 20% possuem ensino superior completo. Entretanto, a maior parte dos sujeitos da pesquisa (46,6%) possuía ensino fundamental incompleto, fortalecendo a afirmação de Magalhães & Rojas(5), onde a baixa escolaridade está frequentemente associada à doença.

A atividade ocupacional mais observada foi a de doméstica/ do lar, assemenhando-se ao estudo de Aquino, et al(7), em que essa ocupação foi a segunda mais presente. O predomínio de serviços domésticos e gerais no estudo reporta a tarefas que não exigem qualificação e tendem a precariedade das relações de trabalho, coerente com a baixa escolaridade observada na maioria dos entrevistados(10).

Os dados relativos a renda familiar mensal mostraram uma média total de 2,4 salários mínimos, muito abaixo da média nacional que é de 4,2(12). Cerca de 46,6% das famílias tem rendimento mensal de 2 salários mínimos, o que relacionado ao tamanho médio familiar encontrado infere uma renda familiar per capita menor que um salário mínimo, situação análoga a descrita por Duarte, et al(10), em seu estudo sobre o perfil socioeconômico e demográfico de portadores de Hanseníase atendidos em consulta de enfermagem em Botucatu-SP, onde 22 à 59 % da população estudada possuía renda familiar per capita menor que um salário mínimo, estando abaixo da linha da pobreza. O que reforça a afirmação Magalhães & Rojas(5), de que a doença com freqüência relaciona-se a indicadores como baixa renda familiar ou per capita.

Quanto à situação da habitação 73,3% dos entrevistados possuíam casa própria, entretanto 20% residiam em casa alugada e 6,7% em casa cedida. Isso mostra que 1/5 desta população compromete seus rendimentos com o pagamento de aluguel, agravando ainda mais o estado econômico e evidenciando a situação de desfavorecimento da mesma, fato que coincide com fatores influentes na transmissão da hanseníase(2).

Constatou-se que assistir televisão era o lazer a que mais freqüentemente se dedicavam os sujeitos da pesquisa e seus familiares (66,7%), fato semelhante foi encontrado por Helene & Salum(6), em seu estudo sobre a reprodução social da hanseníase no município de São Paulo.

O gênero masculino foi o mais observado (60%), numa proporção de 1,5/1 em relação ao feminino, reforçando a afirmação de que a doença continua a incidir em maiores proporções entre homens, embora nos últimos anos a diferença entre os sexos tenha diminuído, possivelmente em decorrência de fatores culturais ou ambientais(13), como demonstrado por Figueiredo & Silva(14), ao estudar a expansão da hanseníase em São Luís-MA, constatou um aumento do número de casos no sexo feminino. O predomínio do gênero masculino também foi observado em outros estudos nas várias regiões do Brasil.

Outra observação é que os homens são mais freqüentemente acometidos de hanseníase, talvez por sua maior mobilidade social, mas em situações em que as mulheres vêm apresentando mobilidade social progressiva em decorrência de maior inserção no mercado de trabalho, têm-se encontrado taxa de detecção semelhante, ou mesmo mais elevadas em mulheres(15,16).

Com relação à idade, predominou-se a faixa etária entre 39 e 48 anos, uma faixa economicamente produtiva, fato considerável diante do potencial incapacitante da doença, o que interfere diretamente no trabalho e na vida social do sujeito, acarretando perdas econômicas e traumas psicológicos(7). Resultado semelhante foi encontrado por Saho(17), em Salvador-Bahia, nordeste brasileiro. Por outro lado, segundo Borges, et al(4), a taxa de incidência relacionada à idade em áreas onde a doença está desaparecendo apresenta pico de acometimento somente em adultos de idade mais avançada, ponto positivo em relação ao predomínio da faixa etária do presente estudo.

Cerca de 60% dos sujeitos são naturais de municípios de Goiás, 26,7% eram de Goiânia e 13,3% eram naturais de outros estados brasileiros, mais particularmente, estados da região nordeste que apresenta a terceira maior prevalência do país(5).

Quanto à raça/cor houve predomínio da parda 46,6%, devendo se considerar a forte miscigenação local e a constituição racial brasileira que apresenta 39,1% de pardos(18). Outro trabalho observou predomínio considerável da cor parda entre os portadores de hanseníase, no entanto, neste estudo, não houve diferença estatisticamente significativa nessa variável(7).

No estudo de Duarte, et al(10), em São Paulo 92% dos hansenianos eram brancos, e diante de tais fatos, pressupõe-se não haver relação contundente da raça/cor com a susceptibilidade a doença(8).

Na população estudada 53,3% tinham de 1 a 2 filhos e o número de integrantes da família mais observado foi de 3 a 4 pessoas (60%), dado similar ao tamanho médio familiar nacional que foi de 3,64 pessoas em 2000(19).

Com relação ao setor de residência, 73,3% moravam em setores distintos do local onde eram atendidos e 6,7% residiam em outra cidade, o que reflete em parte a preocupação dos portadores com a estigmatização, isolamento e exclusão à que estão sujeitos onde residem.

Dados relativos à moradia mostraram que 100% das casas são construídas de tijolos, o que reflete melhorias das condições de habitação da população, contudo, entre 33,2% dos entrevistados o número de cômodos da residência encontrado varia de 1 a 3, o que relacionado ao número encontrado de pessoas por domicílio, e deduzindo que 1/3 destes cômodos é usado como dormitório, cria-se um ambiente de aglomeração familiar e promiscuidade predisponente a transmissão da moléstia(2).

E diante do fato que o ambiente familiar promiscuo, produz um risco de contágio de 1 para 3 contatos(8), exige-se grande empenho dos profissionais de saúde na busca e exame rigoroso dos contatos domiciliares.

A verificação de sujeitos que trabalham em locais fechados com aglomeração de pessoas a mais de 2 anos foi de 13,3%, o que somada a sugestão de que a transmissão esteja ocorrendo em maior parte fora do domicílio(15), reforça a necessidade de uma investigação mais ampla de contatos, e aponta para exigência de se repensar as estratégias de controle de hanseníase.

Os resultados da pesquisa mostraram ainda que 100% dos entrevistados tem acesso à coleta de lixo, e cerca de 93,3% possuem pavimentação asfáltica no setor onde residem. Todavia 13,3% dos entrevistados não têm acesso à rede de água tratada, sendo abastecidos por meio de poços, e destes, 6,7% não desenvolvem nenhum método de tratamento da água consumida, situação lamentável, visto que se considera a água como possível reservatório e fonte de infecção da hanseníase e a transmissão da doença através da água contaminada foi fortemente sugerida por análise epidemiológica(20).

A interpretação dos dados relativos ao saneamento básico encontrados na pesquisa deve ser feita de forma criteriosa, visto que a mesma foi desenvolvida em uma região constituída em sua maior parte por população de classe média e alta, amplamente privilegiada por tais serviços.

CONCLUSÃO

Reafirma-se a relação direta da ocorrência da Hanseníase com condições socioeconômicas desfavoráveis, evidenciadas pela renda familiar per capita mensal menor que um salário mínimo, baixa escolaridade e precariedade das relações de trabalho, em concordância com o perfil descrito na literatura.

O acentuado predomínio de formas multibacilares conseqüente do diagnóstico tardio, do deficiente acesso a informações sobre os sinais e sintomas e forma de tratamento da doença, tem levado a perpetuação da cadeia de transmissão e o aparecimento de incapacidades físicas que levam a diminuição da capacidade de trabalho e impõe limitações à vida social do portador de Hanseníase.

O preconceito e o isolamento social decorrente da doença são vivenciados mesmo em dias atuais, motivando os hansenianos a buscarem tratamento em unidades de saúde distintas do local onde residem.

A aglomeração e promiscuidade observadas refletem o fortalecimento à transmissão da moléstia e a necessidade da busca ativa dos contatos domiciliares pelos profissionais da saúde. A impossibilidade de vinculação da transmissão no ambiente familiar remete à extra-domiciliar, que provavelmente esteja associada ao ambiente de trabalho.

Compreendendo a saúde como o bem estar bio-psico-social, os profissionais da saúde, em especial o enfermeiro, devem ter uma visão holística do paciente, estabelecendo relações entre as condições de vida e os problemas de saúde identificados, instituindo estratégias para prevenção das incapacidades físicas e melhoria da qualidade de vida, lançando mão se necessário de ações intersetorias.

Portanto, através da investigação do perfil socioeconômico e demográfico dos portadores de Hanseníase procurou-se subsidiar intervenções que atinjam as origens da disseminação e evolução da doença, além de tecer considerações relevantes para educação em saúde.

REFERÊNCIAS

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3- MARGARIDO, LDC; RIVITTI, EA. Hanseníase. In: VERONESI, R. Tratado de infectologia, 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2005. cap. 54, p.939-972.

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10- DUARTE, MTC; AYRES, JA; SIMONETTI, JP. Socioeconomic and demographic profile of leprosy carriers attended in nursing consultations.Rev. Latino-Am. Enfermagem. [Internet]. 2007 [cited 2008 mai 26]; 15(spe);774-779. Available from:http://www.scielo.br/pdf/rlae/v15nspe/09.pdf

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12- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [Internet]. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA [cited 2008 nov 18]. Tabela 751 - Rendimento médio mensal familiar total e Número de famílias por classes de rendimento monetário e não-monetário mensal familiar e sexo da pessoa de referência da família, Brasil -2003. Available from:http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=751.

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1Pesquisa extraída do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem pela Faculdade Padrão de Goiânia-Go.