Osteomielite Aguda

Introdução

É a infecção bacteriana aguda do osso. Em crianças, geralmente, origina-se de foco hematogênico, mas pode ocorrer após trauma penetrante, cirurgia ou infecção contígua. É comum antecedente de traumatismo contuso em caso de osteomielite de origem hematogênica.

Visao microscopica de uma bacteria.

Epidemiologia

A incidência maior é no sexo masculino, talvez pelo risco maior de traumas.

Quanto à idade, afeta mais pré-escolares.

Etiologia

A principal bactéria a causar osteomielite é o Staphylococcus Aureus. Em seguida, Streptococcus pyogenes e, em menor proporção, Streptococcus pneumoniae.

Em RN, a infecção pode ser causada por Streptococcus do grupo B e bacilos Gram negativos.

Pseudomonas aeruginosa é a etiologia em casos de feridas penetrantes no pé.

Portadores de anemia falciforme ou outras hemoglobinopatias, frequentemente têm a osteomielite causada por Salmonella.

A bactéria Gram negativa Kingella kingae tem sido identificada com frequência em crianças menores de 2 anos, após infecção respiratória.

 Fisiopatologia

Como os ossos em crescimento têm abundante vascularização, a bactéria circulante atinge a metáfise, local de circulação lenta do sangue, onde inicia o foco de infecção. A infecção, ao progredir, atinge o espaço sub-periostal e o córtex.

Quadro clínico

            - Febre;

            - Dor local;

            - Edema e eritema locais;

            - Claudicação;

            - Incapacidade do local afetado em suportar peso.

Em RN, o quadro é de irritabilidade e limitação de movimentos.

 Os ossos mais acometidos são úmero, fêmur e tíbia.

Laboratório

Hemograma – leucocitose.

VHS e PCR – elevados.

Cultura – material obtido por aspiração óssea ou da articulação, quando há comprometimento articular.

Hemocultura

Imagem

RX – inicialmente normal, ou aumento de partes moles; mostra alterações após 10 a 15 dias do início do quadro: destruição óssea e elevação do periósteo.

Ressonância magnética – o principal exame. Realizado com contraste, mostra a lesão óssea.

Cintilografia – utilizando tecnécio, distingue osteomielite de celulite. Mostra hipercaptação na região afetada.

US – depende do executor. Não diferencia o derrame articular, se traumático ou infeccioso. Mostra uma sequência de alterações com o decorrer do quadro: inflamação das partes moles, elevação do periósteo e erosão do córtex.

Diagnóstico diferencial

Deve ser feito com outras patologias que causam dor óssea:

            - Traumatismos;

            - Neoplasias;

            - Colagenoses;

            - Anemia falciforme

Tratamento

Iniciar com antibioticoterapia empírica:

RN – Oxacilina + Cefotaxime.

< 5 anos – Oxacilina + Cefotaxima ou Ceftriaxona.

> 5 anos – Oxacilina ou Cefazolina.

Portadores de anemia falciforme – Cefotaxima +Vancomicina ou Clindamicina;

Em lesões perfurantes de pé, considerar tratamento contra Pseudomonas – Oxacilina + Ceftazidima

Em caso de resistência conhecida à oxacilina, utilizar:

            - Clindamicina, Vancomicina ou Linezolid

Em caso de alergia à betalactâmicos, utilizar Clindamicina ou Cefalexina.

Iniciar medicação após coleta de material para cultura e modificar o tratamento em função de seu resultado.

Doses

  •   Oxacilina – 150 a 200 mg/kg/dia – 6/6 horas;
  •   Cefotaxima -  200 mg/kg/dia – 6/6 ou 8/8 horas;
  •   Ceftriaxona – 100 mg/kg/dia – 24/24 horas;
  •   Cefazolina – 100 mg/kg/dia – 8/8 horas;
  •   Ceftazidima – 150 mg/kg/dia – 8/8 horas;
  •   Clindamicina – 40 mg/kg/dia – 8/8 horas;
  •   Vancomicina – 60 mg/kg/dia – 6/6 horas;
  •   Linezolid – 10 mg/kg/dose – 8/8 ou 12/12/horas.

O antibiótico inicialmente deve ser de uso IV. Com a melhora do quadro clínico e queda da PCR e VHS, o antibiótico poderá ser administrado por via oral. Os antibióticos indicados são:

- Cefuroxima  axetil – 60 mg/kg/dia – 8/8 horas;

            - Cefadroxil – 60 mg/kg/dia – 8/8/horas;

            - Cefalexina – 100 mg/kg/dia – 6/6/horas;

            - Clindamicina – 40 mg/kg/dia – 8/8 horas.

A duração total do tratamento é de 4 a 6 semanas

Cirurgia

Além da necessidade de punção para cultura, pode ser necessário debridamento e limpeza do local, estando indicado o parecer do ortopedista.

Complicações

A osteomielite pode evoluir com quadro recorrente e mesmo, tornar-se crônica.

Referências:

1)    Sabah K, Steele  RW. Pediatrics Osteomyelitis. In: e.medicine.com/spelciaties;

2)    Sampelayo Matos TH, Zarzoso Fernández S, Navarro Gómez ML, Santos Sebástian MM, González Martínez F, Saavedra Lozano J. Osteomielitis y Artritis Séptica. In: AEPD. Consenso;

3)    Iazetti AV. Osteomielite e Artrite Séptica.In: Infectologia pediátrica/Coordenadores: Calil Kairalla Farhat, Luiza Helena Falleiros Rodrigues Carvalho, Regina Célia de Menezes Succi. – São Paulo: Atheneu; 2007. p. 149 – 152;

4)    Kaplan LS. Osteomielite. In: Nelson, tratado de pediatria/Robert Kliegman... [et al.]; [tradução de Silvia Mariângela Spada]. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.p.12392 – 2396;

5)    Martinelli FLB, Barra LAC, Tranchitella FB. Osteomielite. In: Condutas em Infectologia/editores: Sergio Cimerman, Benjamin Cimerman. – 2 ed., - São

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