Assim como em qualquer aspecto da sociedade estão embutidos valores pré-estabelecidos – os “paradigmas” – difíceis de serem alterados, na construção civil também não é diferente.

No Brasil, o sistema construtivo mais conhecido é o de alvenaria, com uso de pilares e vigas. Os pilares são as colunas verticais que dão apoio para as vigas, horizontais. E as paredes são normalmente feitas com tijolo cerâmico, cobertas com argamassa para regularizar e por fim recebem os revestimentos dos mais diversos tipos. Esse método, tido como tradicional por ser o mais utilizado, é erroneamente considerado como o mais eficiente e resistente, mas possui diversos inconvenientes:

- Desperdício de material nos escoramentos e fôrmas para pilares e vigas, feitos de madeira posteriormente descartada;

- Necessidade de retrabalho para passagem de encanamentos e tubulações, já que é necessário quebrar as paredes para inserir qualquer mecanismo de infra-estrutura;

- Demora no tempo de construção, já que o sistema é manual, as peças são pesadas e o trabalho não é otimizado;

- Grande impacto ambiental gerado pelo gasto de energia, pelo desperdício de material e pela utilização de materiais pouco sustentáveis, como o cimento e o tijolo cerâmico;

- Diminuição da estabilidade devido à concentração de carga em alguns pontos específicos, que são os pilares e as vigas.

Já é conhecido também o bloco estrutural de concreto, utilizado antigamente para obras com poucos pavimentos e atualmente largamente aplicado a prédios e outras construções devido ao seu baixo custo. Porém, embora ele possua alguns benefícios, como o baixo custo e a distribuição uniforme da carga, além da redução do desperdício, já estão disponíveis no mercado outras alternativas com vantagens marcantes sobre esses métodos, tais como a construção com EPS, paredes estruturais de tijolo ecológico ou sistemas pré-moldados de montagem rápida.

Porém a dificuldade de adentrar uma cultura com conceitos e hábitos pré-estabelecidos faz com que esses recursos sejam pouco utilizados, e comecem a ser reconhecidos somente depois de muitos anos. Isso se dá devido ao medo do novo e também a preconceitos adquiridos com obras mal feitas e sistemas ultrapassados. Para se ter uma idéia, as casas de madeira pré-fabricadas, tidas aqui como de má qualidade, são muito utilizadas na Europa e nos Estados Unidos devido à sua resistência a terremotos e movimentações de terra. Se fosse utilizada alvenaria, qualquer abalo seria uma catástrofe, devido à sua rigidez. O que normalmente vemos como sinal de robustez e força de uma obra pode ser, portanto, seu maior problema. Da mesma forma, o conforto térmico e acústico gerado pelas paredes de EPS ou pela madeira de qualidade são maiores do que os garantidos pela alvenaria. O importante, no final das contas, é a qualidade da execução, que pode ser boa ou ruim em qualquer caso.

É preciso então abrir mão da nossa ilusória zona de conforto, e abrir a mente para mudanças necessárias e positivas, não só para nós como para todo o mundo. Na construção civil e em qualquer outro campo da vida.

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