Huizinga (1999) argumenta que o jogo é uma categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio (Homo Sapiens) e a fabricação de objetos (Homo Faber), então a denominação Homo Ludens, quer dizer que o elemento lúdico está na base do surgimento e desenvolvimento da civilização, o que implica portanto em dizer que o elemento lúdico está na base do surgimento e no desenvolvimento da civilização. Huizinga define jogo como: "...uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana."
Para Piaget (1978), o brincar consiste no primado da assimilação sobre a acomodação, do relaxamento sobre a tensão, do prazer sobre o desprazer, sendo que as atividades lúdicas atingem um caráter educativo, tanto na formação psicomotora como também na formação da personalidade das crianças. Assim, são adquiridos valores morais como honestidade, fidelidade, perseverança, hombridade, respeito ao social e aos outros. Os jogos com regras são considerados como uma ferramenta indispensável para este processo. Através do contato com o outro a criança vai internalizar conceitos básicos de convivência.
Vygotsky (1987, p.117) afirma que na brincadeira "a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na realidade". Em sua visão, a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal favorecendo e permitindo que as ações da criança ultrapassem o desenvolvimento real já alcançado permitindo-lhe novas possibilidades de ação sobre o mundo.
O fator afetivo inclui os relacionamentos intra e interpessoais; ao brincar, a criança vai experimentar diversas situações, tanto positivas (quando vence uma brincadeira, alcança um objetivo, entra em acordo com os colegas etc.) quanto negativas (perde alguma atividade, não consegue realizar o esperado, entra em conflitos com os colegas, etc.) e é através destas situações que a criança aprenderá a conviver com os outros. Por fim, o aspecto cognitivo se refere ao desenvolvimento do intelecto durante as atividades lúdicas.
Por outro lado, Piaget (1975) destacou também a importância dos movimentos como um meio de possibilitar ao indivíduo as interações com o ambiente, ressaltando a importância do esquema sensório-motor para o desenvolvimento. Segundo Diem (1979), a pobreza nos movimentos e a falta de movimento, não só representam um prejuízo físico, como também impedem a livre evolução psíquica.
Diversas outras correntes psicológicas apontam para a importância do brincar. Para Vygotski (1998), há dois elementos importantes na atividade lúdica das crianças no que se refere aos jogos com regras: o jogo com regra explícita e o jogo com regra implícita. O primeiro destes fatores são as regras pré-estabelecidas pelas crianças e cujo não cumprimento é considerado uma falta grave; por exemplo, em um jogo de pega-pega quem for tocado pelo pegador passa a ser o perseguidor. Este fator direciona a criança a seguir regras sociais já estabelecidas pelo mundo dos adultos. O outro segmento são regras que não estão propriamente ditadas, mas que são entendidas como necessárias para o seguimento do jogo; no exemplo citado acima, não se coloca que as crianças não podem sair do local da brincadeira (como exemplo, uma quadra). Portanto, as regras implícitas oferecem à criança uma noção de entendimento das regras ocultas, mas necessárias.
Também a partir da leitura comportamental tem-se que a brincadeira e os jogos permitem uma flexibilidade de conduta e conduzem a um comportamento exploratório até a consecução do modelo ideal de se portar com o próximo, resultado de experiências, conflitos e resoluções destes (BRUNER, 1968).
Como o corpo precisa de exercícios para deixar os músculos mais fortes e ágeis, o cérebro também necessita de ginástica para estimular suas células, favorecendo desta maneira, não só a memória, mas a capacidade intelectual como um todo, explica o pesquisador. Portanto, a melhor forma de estimular o cérebro, independentemente da idade, é colocar a cabeça para funcionar: ler, resolver palavras cruzadas, enigmas, jogar xadrez, decorar textos etc. Essa ginástica mental serve tanto para manter a memória em dia quanto para estimular os neurônios que estão desativados, ressalta o pesquisador, acrescentando que esses exercícios ajudam até os idosos que apresentam diminuição de memória causada por problemas no sistema circulatório, por algum tipo de disfunção neurológica ou até por doenças genéticas.
Em meados do século XX verificou-se um grande crescimento por parte dos estudiosos pelo brincar, sendo uma das expressões da criança como fonte de seu desenvolvimento. A atividade de brincar para a criança é duplamente motivada, ao mesmo tempo em que se desenvolve brincando, também gosta de brincar (VIEIRA, 2006).
Para Piaget (1978) se em uma adaptação inteligente, assimilação e a acomodação se equilibram, no ato de brincar, esse mesmo equilíbrio é desfeito. Predomina nesse caso a assimilação sobre a acomodação, o que explicaria o ato da criança enquanto está brincando, alterar simbolicamente a realidade em vez de a ela se submeter. Na visão piagetiana, considera-se que durante a construção das imagens mentais, inclusive as de evocação, a estruturação mental obedece a uma curva evolutiva que se inicia via corpo, por meio do esquema sensório-motor. É a ação do bebê sobre os objetos de seu ambiente, com seus movimentos e percepções sensoriais, que vai interiorizar do vivenciado, por meio de imagens mentais. Essas imagens mentais serão à base de sua consciência corporal (OLIVEIRA, 2008).
A curva evolutiva do brincar mostra as manifestações da função simbólica, como a brincadeira do faz-de-conta, com o aparecimento da linguagem e da memória. A consciência simbólica evolui do campo perceptivo e passa a agir também em relação aos objetos, tempos e espaços pensados, quer lembrados ou imaginados. Contudo, a construção das imagens mentais relativas ao contexto vivido espaço-temporal depende da ação anterior, prática e corporal do bebê sobre este mesmo meio. É a ação do corpo que possibilita a interiorização das imagens dos objetos, das pessoas e dos lugares, captando suas formas, cores e movimentos (OLIVEIRA, 1998).
Ainda segundo a autora, durante todo o ciclo da vida, o corpo vem a ser à base de formação das imagens mentais, que continuam a se processar de forma associada às emoções e sentimentos e relacionadas à história de vida da pessoa. Em situações críticas do ciclo vital como épocas de grandes mudanças e transformações pessoais, educacionais, familiares ou profissionais, como na infância ou na velhice, o sistema mental corre o risco de se fechar ao meio, em um movimento de defesa, que pode se manifestar por meio de um quadro de depressão e/ou de ansiedade. O brincar, por suas características de descontração e prazer, pode ser considerado como um excelente instrumento de reequilíbrio a ser utilizado no dia a dia, ou mesmo em situações de avaliação ou intervenção.
O brincar oferece uma gama imensa de possibilidades que combinam as mais variadas formas de brincadeiras corporais, simbólicas ou de regras.
Continuando a autora, através dos jogos e brincadeiras, se criam condições favoráveis ao envolvimento em grupo, social, mais motivado. O corpo adquire mais vida, mais saúde, os movimentos mais coordenação e precisão, a respiração e a ansiedade tendem a se normalizar. Os processos cognitivos se fortalecem. A memória se exercita e atenção individual se amplia, as pessoas se comunicam de forma dinâmica e motivada.
Segundo Macedo (2003; 1994) a diferença entre brincar e jogar, é que o brincar é o ato de jogar com as idéias, com as situações, com emoções, com sentimentos, com pessoas, com objetos etc., e que os objetivos e o regulamento, não são pré-determinados necessariamente e o jogar é brincar com regras e objetivos pré-definidos. No jogo se ganha ou se perde e na brincadeira, se diverte, se passa o tempo, se faz de conta. O jogar é uma brincadeira organizada, com funções, papéis e posições, demarcadas. O jogo é uma brincadeira que evoluiu. A brincadeira é uma necessidade da criança e o jogo é uma de suas possibilidades.
O brincar, que inclui os jogos, oferece uma gama imensa de possibilidades que combinam as mais variadas formas de brincadeiras corporais, simbólicas ou de regras e se caracterizam pelo prazer e criatividade. Todas as modalidades lúdicas, sejam elas individuais ou grupais, realizam uma integração entre o corpo e mente, o que as torna excelentes estratégias para a saúde mental em relação à adaptação ao meio (OLIVEIRA, 1998).
A importância dos jogos também pode ser vista por meio da abordagem da Neuropsicologia, que afirma que sentir prazer em fazer algo aumenta a autoconfiança e a criatividade, diminui a ansiedade e a impulsividade. As atividades lúdicas criam normalmente o prazer e podem ser consideradas como tendo um papel fundamental na formação, preservação e reabilitação das redes neurais durante todo o ciclo vital (ANTUNHA, 2006).
Segundo ainda a autora, as crianças através dos jogos, exibem a funcionabilidade desses centros de prazer, principalmente pelo nucleus accumbens, que contem uma das maiores reservas de dopamina, primordial para a sensação de alegria. O septo, hipotálamo e nucleus accumbens também liberam neurotransmissores como a encefalina, endorfina, ativando assim, as substancias mais básicas das funções da subcorticalidade atingindo e ativando as funções corticais e do neocórtex.