O significado do termo tratamento para os indivíduos que têm transtorno mental e a representação que eles têm da equipe multiprofissional.


Bruna Emanuelle1
Cacileiane Dórea2
Camila Carvalho3
Raquel Cristina4
Renata Canário5
Renata Lago6
Rita Aline7
Suelen Luz8
Thaís Matos9


RESUMO

Este estudo teve como objetivo compreender o significado do termo tratamento para os indivíduos que possuem o transtorno mental e a representação que os mesmos fazem da equipe multiprofissional. Para um bom desempenho desse estudo, realizamos entrevistas semi- estruturadas através de gravadores e MP3, com um grupo de sujeitos de ambos os sexos que freqüentam o CAPS do bairro de Brotas da cidade do Salvador, porém especificando a pesquisa em relação a três indivíduos do sexo masculino e assim compreendendo que estes se sentem bem com o seu tratamento e estão satisfeitos com o trabalho multidisciplinar tendo a ajuda psicológica como grande mediadora desse processo e entendendo o tratamento médico e psicológico de acordo com a sua utilização e do momento pessoal de cada um.

Palavras-chave:
CAPS, pacientes, Transtornos Mentais, tratamento, equipe multiprofissional, atendimento psicológico.


Graduando em Psicologia1
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia2
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia3
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia4
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia5
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia6
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia7
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia8
Centro Universitário Jorge Amado
Graduando em Psicologia9

1 INTRODUÇÃO

Não existe uma causa que realmente explique o transtorno mental, pois há várias possibilidades que levam o indivíduo a vim sofrer com o transtorno mental e isto pode resultar com que o doente perca a sua cidadania, sofra preconceitos e seja excluído da sociedade. No entanto, o adoecer psíquico é facilmente percebido, pois em geral, são apresentados pelos indivíduos que adoecem comportamentos fora daqueles normalmente aceitos pela sociedade. Assim, não sendo entendido pela comunidade, existindo então, o paradigma da exclusão social que se resume em isolamento dos doentes que não são aceitos dentro dos padrões habituais.
Hoje se entende que a doença mental (assim caracterizada pela medicina), explicada por causas biológicas, psicológicas e sociais, necessita de assistência adequada, com a finalidade de ressocialização do doente e de apoio adequado para este e para a família. A ressocialização ainda é difícil, pois a doença mental em alguns casos, ainda é vista como transgressões de normas sociais, considerada uma desordem, não é tolerada e, portanto, segregada.
Na perspectiva de contemplar a construção do objeto deste estudo, torna-se relevante fazer algumas reflexões sobre os transtornos mentais, o que parece coincidir com a própria história da loucura. Faz-se necessário, no entanto, recorrer às idéias dos autores para obtenção de maior consistência teórica.
Considerados como um fenômeno social, os transtornos mentais foram vistos de formas diversas de acordo com a cultura de cada época. Segundo Serrano, na Antigüidade, caracterizavam-se como de ordem sobrenatural. Os loucos eram concebidos como "mensageiros dos deuses", portanto, imprescindíveis para decifrar as mensagens divinas, situando o homem, enfim, na condição de mais próximo do desconhecido, ficando, assim, mais próximos de Deus e de Suas aspirações para a Terra. Porém, de acordo com estudos já realizados por diversos autores (ARIÉS, 1981; BERENSTEIN, 1988; MELMAN, 2001), os conceitos de doença, cura e loucura se modificaram com o transcorrer dos anos, com isto a presença da família passa a ser mais solicitada nos períodos de tratamento.
A rotina intensa e estressante a que grande parte da população está submetida, abre caminho para oscilações de sentimentos, que ora são de grande euforia e ora de grande tristeza. Esses motivos são os que mais levam indivíduos a sofrerem com transtornos mentais e pode ser causado em qualquer idade, sexo ou classe social.
Os usuários entrevistados na nossa pesquisa sabem o porquê e estão no CAPS - centros de atenção psicossocial, recebendo os devidos tratamentos e principalmente a importância do tratamento em sua vida. Alguns informam que estão recebendo tratamento mesmo sabendo que o problema não é da mente e sim espiritual, outros dizem que o tratamento está sendo muito importante para a sua melhoria, pois parou de sofrer com delírios, alucinações e encontram-se lúcidos. E para continuarem assim nunca deixarão de usar os medicamentos. Os transtornos mentais são tratados, de uma maneira geral, como uma associação de meios psicológicos e medicamentos (psicofármacos). Algumas condições não requerem o uso de medicamentos e são tratados apenas por meios psicológicos. Caberá ao profissional que faz o diagnóstico ao ter o primeiro contato com o paciente, fazer a indicação de que recursos serão necessários para a recuperação da saúde mental do paciente. Os tratamentos para os transtornos mentais são efetivos, dão muito bons resultados na maioria dos casos, mas requerem um esforço sustentado por períodos prolongados, dedicação e paciência. Os benefícios não surgem no curto prazo.
Contudo, é de muita importância a relação profissional-paciente. No paradigma de atendimento preconizado pela recente reforma psiquiátrica brasileira, procura-se a reintegração social do portador de transtornos mentais, por meio de serviços abertos, assim, como o CAPS Centros de Apoio Psicossocial, nos quais se estabelece uma interação com a família do paciente. Esta tem o objetivo de estabelecer um processo comunicativo, que permita ao profissional da área psiquiátrica compreender o contexto no qual se insere a história de vida do paciente e, a partir daí, desenvolver esforços educativos junto a esse grupo, facilitando a reintegração do paciente na rede de relações sociais onde foi estigmatizado ou excluído.
Como se sabe, grande parte da clientela que freqüenta o CAPS advém de famílias de baixa renda, e um tratamento/ acompanhamento particular seria inviável para tais pacientes. No CAPS eles possuem diversos tipos de atendimentos, pois há profissionais das diversas áreas o que facilita o trabalho.
Portanto, a pesquisa que foi realizada no CAPS de Brotas com três indivíduos que estão contentes com o resultado que vem obtendo no tratamento e a relação que vem tendo com os profissionais e principalmente com os psicólogos que lhe vem dando o devido apoio à reinserção na sociedade, a compreender o tratamento, a ajudar a família com o acompanhamento e principalmente o apoio que esta tem que dar ao usuário.
Justifica-se que esta abordagem teve um valor pela questão dessas pessoas virem a sofrer com a exclusão e pelo fato de muitos não aceitarem que estão passando por um devido transtorno, ás vezes, acompanhando-os desde a infância e por vezes não responderem ao tratamento e acompanhamento profissional. Principalmente quando estes profissionais não colaboram com a melhora do paciente, por exemplo, muitas vezes maltratam ou não dão a devida atenção a esses pacientes.


2 MÉTODO


2.1 Sujeitos

Foram feitas entrevistas semi-estruturadas sendo mais específicas a um grupo de três indivíduos do sexo masculino, visto que no primeiro momento de contato com os pacientes estes se encontravam todos reunidos no espaço do CAPS e tentando ser o mais objetivo no processo foi pedida a colaboração desses três para estarem respondendo as perguntas do questionário, onde permanecem a maior parte do dia na instituição para serem medicados e durante esse período eles participam de algumas atividades.
2.2 Instrumentos

Foram utilizados para a coleta de dados dois gravadores, um MP3 e questionários.


2.3 Procedimentos

Os dados foram coletados no CAPS, mantendo a ética que é exigida. As entrevistas foram feitas em grupo, mas as perguntas eram direcionadas para cada um deles e todos esperaram pelo seu momento de falar, posteriormente essas entrevistas foram transcritas. Após a transcrição essas foram divididas em categorias para a construção do artigo.
As entrevistas ocorreram tranqüilamente, apesar de haver uma certa confusão em algumas respostas, a partir disso foi possível que eles respondessem todas as perguntas da nossa entrevista.


3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa diante da coleta de dados referente à situação do indivíduo com determinada doença mental e que se encontra em tratamento no CAPS localizado no bairro de Brotas da cidade do Salvador teve como interesse a observação desse paciente mediante a sua real percepção do que vem a ser o seu tratamento e a maneira com que lida com os profissionais da equipe. Sendo assim, a análise que se manteve num grupo de pacientes no momento das entrevistas veio a se detalhar ao final mais especificamente com três indivíduos que autorizaram a publicação dos seus nomes. No entanto iremos classificá-los como paciente 1, 2 e 3 para um melhor desenvolvimento dos seus resultados.
No primeiro momento procurou-se saber de que maneira os indivíduos teriam chegado ao CAPS e dos três em questão, dois foram levados pela família (1) e (3) e o outro (2) teria chegado até o centro em função de estar tendo alucinações e já ter passado por outros hospitais psiquiátricos. Em função disso, também foi relatada a maneira com que os profissionais os tratam e todos categoricamente demonstraram um grande afeto pelas pessoas que os assistem ficando aparentemente evidente que eles se sentem bem ao estar fazendo o tratamento com essa equipe de profissionais, com isso através das intervenções das pesquisadoras para o campo da Psicologia vieram a pontuar a relação que tem com a profissional de Psicologia e dois (1) e (3) falaram sentir-se muito bem nas conversas que tem com a mesma se comparado ao tratamento medicamentoso, em contrapartida o indivíduo número (2) diz ter certa resistência ao trabalho da psicóloga e assim prefere fazer o uso dos remédios que citados por ele os deixam lúcido e caso não os tome vem a apresentar alucinações, como já aconteceu dele ter parado de tomar às escondidas do seu médico.
O tratamento que é baseado numa equipe multiprofissional direcionado a esses indivíduos tem a possibilidade de estar observando diferentes concepções do que os pacientes compreendem do seu tratamento e se acham que estão tendo alguma melhoria diante da sociedade. Em função dessa realidade é colocada em foco a questão do entender o tratamento e do querer mudar algo relacionado ao mesmo para que assim possam vir a se sentir melhor. Contudo, nesse momento os indivíduos pesquisados perdem um pouco o direcionamento do processo e passam a relatar outros acontecimentos, embora, afirmem junto a essas outras colocações que se sentem muito bem e que gostam da maneira que lhe tratam dentro do CAPS e que mantém as suas idas diárias até o mesmo.
O trabalho com esse tipo de indivíduo que tem determinado transtorno mental para uma coleta de dados mais precisa foi certamente bastante complicado, visto que a observação só pôde ser feita num único momento devido à necessidade de autorização do próprio CAPS de Brotas junto a outros órgãos públicos, e com isso só se obteve a autorização para uma única visita. Diante disso, o material mesmo que limitado dispôs de uma vasta gama de informações se compreendidas ao olhar de todo o preconceito que essas pessoas sofrem e fazendo referência ao trabalho da equipe multiprofissional que é de grande valia por ter o seu direcionamento baseado em diferentes áreas e assim podendo ser mais rico nas suas avaliações por ter o posicionamento de distintos profissionais em todas as áreas, seja a da Psicologia, da Fisioterapia, da Fonoaudiologia, da Psiquiatria, da Enfermagem, da Assistência Social, da Medicina, enfim dos profissionais participantes da equipe em questão.
Segundo SILVA e FONSECA (1993), repensar a interdisciplinaridade na assistência à saúde mental não se limita a repensar a forma com que isto tem se dado, mas, além disto, analisar a sua essência, ou seja, as bases conceituais sobre as quais tem sido construído o conhecimento que embasa a prática interdisciplinar, e que, em última instância, traduz a visão de mundo que permeia o modelo de atenção instituído.
Através disso, CAMPOS (1990) afirma que, "não há dúvida que, especificamente na área de Saúde Mental, sobretudo nos serviços públicos, não existem reais equipes de trabalho interdisciplinar e sim profissionais de diversas áreas de conhecimento, desenvolvendo suas atividades numa instituição sem que haja por parte desta, definição de uma proposta de trabalho voltada para um objetivo comum. As ações desenvolvidas, que têm como alvo o paciente, com freqüência carecem de articulações e se perdem ou se diluem por se somarem, justaporem ou mesmo se contraporem."
A mesma autora afirma que o trabalho interdisciplinar não é estático, nem compartimentado. Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade devem caminhar juntas. Refere, ainda, que muitas vezes chama-se de equipe interdisciplinar, o que na realidade é um agrupamento de profissionais de áreas diferentes. Um grupo de profissionais só configura uma equipe interdisciplinar quando opera de modo cooperativo, convergindo seus objetivos para uma dada situação, de forma a haver complementariedade e não soma ou superposição.
Diante dessa perspectiva, os profissionais que trabalham no CAPS devem demonstrar interesse e também buscarem estender seus conhecimentos a todos àqueles que são atendidos pelo serviço, propondo soluções para problemas, orientando os cuidadores para uma melhor qualidade de vida, construindo representações sociais, contribuindo para a promoção da saúde desta população e criando multiplicadores da ação. E assim, disponibilizando a conquista da autonomia e da socialização colocando em evidência as pontecialidades e habilidades do indivíduo para melhor serem administradas e trabalhadas no convívio social e para o próprio bem-estar individual de cada um.



5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Segundo Rodrigues; Figueiredo, 2003, durante séculos indivíduos portadores de transtornos mentais vêem sendo afastado da sociedade, assim sendo trancafiados em manicômios, sem condições saudáveis e o principal sem direito a opinar sobre sua vida; O transtorno pode ser considerado como efeito de fatores que podem ser biológicos (orgânicos), ora é um período oriundo da desestruturação das relações familiares, ou mesmo, dificuldades da própria pessoa em lidar com sua subjetividade e os relacionamentos.
Com base no significado, os indivíduos com transtornos (PADRÃO, 1992) não devem ser tratados como indigentes, pois são seres humanos como todos que fazem parte dessa mesma sociedade, os usuários devem ser reconhecidos, em qualquer lugar, como pessoa perante a lei; privacidade; liberdade de comunicação, que inclui liberdade de comunicar-se com outras pessoas do estabelecimento; liberdade de enviar ou receber comunicação privada não censurada; liberdade de receber, privadamente visitas de um advogado ou representante pessoal e, a todo o momento razoável, outros visitantes; e liberdade de acesso aos serviços postais e telefônicos, e aos jornais, rádio e televisão; liberdade de religião ou crença. O ambiente e as condições de vida nos estabelecimentos de saúde mental deverão aproximar-se, tanto quanto possível, das condições de vida normal de pessoas de idade semelhante.
Para o tratamento desses usuários devem ser usados medicamentos e outros tratamentos físicos, psicoterapias, aconselhamento e apoio no dia a dia da vida em diferentes formas. O tratamento do indivíduo com transtorno deve ser acompanhado por uma equipe multiprofissional como clínicos gerais, psiquiatras, psicoterapeutas, conselheiros, assistentes sociais e grupos de apoio voluntários, o psiquiatra em especial é que detecta o diagnóstico do paciente para saber o curso e o tratamento adequado.
A doença mental é algo que pode ser tratado e controlado e a partir disso e de outros fatores já citados acima que resolvemos trabalhar em cima do que o indivíduo com transtornos acha e como podem mudar seu tratamento, nossos resultados foram bastante satisfatórios, pois foi possível constatar que eles realmente se importam com o que acontecem em torno deles, sabem o que realmente querem e o que cada funcionário e cada medicamento significam em seus tratamentos, apesar até dos estigmas que observamos durante nosso estudo. Um fator que não poderíamos deixar de fora é que apesar dessa consciência do tratamento e das melhoras, os pacientes que tivemos contato não estavam totalmente compensados, mas mesmo assim puderam responder a nossas perguntas com precisão e satisfação.
Os indivíduos com transtornos necessitam de amizade, compreensão e acima de tudo a consciência do outro, que a doença mental pode ser encarada como se fosse uma doença física que precisa de tratamento, de respeito e solidariedade, pois para que seu tratamento seja eficaz os mesmos têm que se sentirem aceitos e não excluídos do mundo.
Esperamos que no próximo trabalho possamos aprofundar mais sobre a questão do olhar dos usuários em relação ao tratamento, em virtude da deficiência de dados coletados mediante a limitação de autorização da instituição em que se encontravam os pesquisados. Diante disso, se tem o interesse de focar mais detalhadamente o trabalho dos profissionais que estão a serviço dessa causa e aprofundando a relação do profissional de Psicologia dentro desses centros de atendimentos psicossociais, para que assim a ressocialização desses indivíduos seja dada de maneira real e que venha a lhe proporcionar um bem estar social e uma boa qualidade de vida.


















REFERÊNCIAS

ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981.


Berenstein, I. Família e doença mental. São Paulo: Escuta; 1988.


CAMPOS, MA. O trabalho em equipe multiprofissional: uma reflexão crítica. Ribeirao Preto, 1990.


Melman, J. (2001). Família e doença mental: repensando a relação entre profissionais
de saúde mental e familiares. São Paulo: Escrituras.


Padrão, M. L. (1992). O estatuto do doente mental. Saúde em Debate


RODRIGUES, Cássia Regina; FIGUEIREDO, Marco Antonio de Castro. Concepções sobre a doença mental em profissionais, usuários e seus familiares. Estud. psicol. (Natal), Natal, v.8, n. 1, 2003.


SILVA, ALA; FONSECA, RMG. Repensando o trabalho em saúde mental: a questão da interdisciplinaridade. Recife: 1993.


Serrano AI. O que é Psiquiatria alternativa. São Paulo: Brasiliense; 1982.