O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES

“Patients with special skills”

Lucimara de Sousa Lima1

 

Resumo: Apesar do tema Portador de Habilidades Especiais ser relativamente novo no Brasil, é interessante lembrar que algumas mudanças se fizeram notar nas últimas décadas, uma delas diz respeito a uma visão multidimensional da inteligência, em que ela não  se restringe a um aspecto unitário, mas vista como um todo, englobando várias habilidades, dentre as quais se destacaram as habilidades corporal, musical, lógica, espacial dentre outras. Daí surgiu o interesse em pesquisar o tema “ Portador de Habilidades Especiais” para conhecer melhor o assunto. Para isto pesquisou-se o conceito do termo, os fatores que o estimulam e o papel da família e da escola no desenvolvimento destas habilidades. Para o desenvolvimento do artigo fez-se uma pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória sobre o tema.

Palavras-chave: Superdotados. Altas habilidades. Habilidades superiores. Potencial superior.

Abstract: Althougt the subject matter “Patients with special skills” to be relatively new in Brazil, is interesting remember that some changes  in the last decades, one rapports a multidimensional view of intelligence , not restricted  to a humanitarian aspect, but is seen as a whole , encopassing various skills, like corporal, musical, logic, spatial inter alia. So emerged  the interest in researching the subject matter this article for know the matter funther. For it  was searched  the concept for word the stimulating factors the role of family, of school in developing these skills. To development these skills was made a bibliographic research. Descriptive, and exploratory on the subject.     

Keywords: gifted ; special skills; potential higher.

 

 

 

________________________

1 Discente do curso de Psicologia do 5º semestre da Universidade da Amazônia Belém

 

INTRODUÇÃO

 

O senso comum associa indivíduos superdotados à imagem de alguém que se sai bem nos testes de inteligência ou que apresentam um desempenho intelectual superior. Nada mais falso. Os portadores de habilidades especiais não precisam necessariamente serem bem-sucedidos em todas as suas atividades.

            De acordo com  Alencar & Fleith (2007), durante muitos anos alunos superdotados foram ignorados pelas instituições educacionais brasileiras. Mas o advento de uma literatura especializada sobre o tema, filmes sobre o assunto ou mesmo a ascensão de personalidades como Bill Gattes ou Mark Zuckerberg têm contribuído para que organizações educacionais dediquem uma certa atenção a estes alunos nos últimos anos, temendo ver seus talentos desperdiçados. Apesar de tudo nota-se que o material bibliográfico que versa sobre o tema ainda é escasso e que a maioria dos profissionais da educação não estão preparados para lidar com este tipo de educando. Será que os professores conseguem identificar um aluno superdotado? Saberiam aproveitar suas potencialidades? Estes são alguns dos questionamentos que serão respondidos ao longo do trabalho.

            Para isso será feita uma pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva, para a qual consultou-se os livros: Superdotados: Determinantes, Educação e Ajustamento, Criatividade e Educação de Superdotados e Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades além de vários artigos e sites, com o objetivo de identificar as características dos portadores de habilidades especiais, conhecer mais a respeito de alunos superdotados e contribuir para a inclusão de alunos superdotados em sala de aula.

 

 

 

 

3.  O PORTADOS DE ALTAS HABILIDADES

3.1 A Identificação do Superdotado

Quando as pessoas pensam em superdotados é comum se  remeterem a figura de grandes gênios como: Albert  Einstein, William Shakespeare, Wolfgang Amadeus Mozart, Pablo Picasso, Isaac  Newton, Leonard da Vinci ou Charles Darwin, homens que quebraram paradigmas através de suas ideias relativamente novas. De fato todos esses homens têm algo em comum: todos se destacaram em virtude de suas realizações criativas, contribuindo para construção de conhecimentos, elevando o conhecimento humano das ciências, tecnologia, cultura e artes a patamares inusitados. (VIRGOLIM, 2007, p. 9).

            A mídia muitas vezes nos dá ideias estereotipadas de que uma pessoa com grande potencial de aprendizagem é capaz de feitos maravilhosos mas é importante atentar que as pessoas com altas habilidades/ superdotação, como as demais, não nascem inteiramente prontas.

            Historicamente, até meados do século XX, a questão da inteligência era um traço único, nessa época ela era vista como um traço inato, global e que pouco mudava no transcorrer do desenvolvimento. Logo, seria algo intrínseco à natureza humana, sendo todo indivíduo dotado de uma habilidade geral conhecida como “fator g” que se encontraria presente em todas as atividades intelectuais realizadas pelos indivíduos (VIGOLIM, 2007, p. 53).

            Essa “inteligência geral” seria a responsável pela capacidade do sujeito em perceber e aplicar a lógica nos mais diversos campos do conhecimento, assim o indivíduo rotulado como inteligente deveria ter bom desempenho em todas as tarefas intelectuais de um teste; por exemplo, na escola ela deveria se sair bem nos testes de matemática quanto no de português ou de ciências.

            Atualmente os estudiosos fazem uma diferença entre superdotado e precocidade, e alguns órgãos como a Secretaria de Educação Especial prefere a expressão portador de altas habilidades em detrimento de “superdotado” para designar comportamentos que denotem um desempenho consistentemente superior em qualquer campo do saber. “A ênfase é no indivíduo como portador de uma característica que o diferencia de outros enquanto comportamento, mas não como pessoa” (ARANHA, 2002).

            Segundo essas diretrizes são consideradas crianças portadoras de altas habilidades as que apresentam notável desempenho ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual; aptidão acadêmica ou específica; pensamento criador ou produtivo; capacidade de liderança; talento especial para artes visuais, artes dramáticas ou musica, e capacidade psicomotora.

            De acordo com ConBras apud  Aspat (2005), a  criança precoce seria aquela que apresenta alguma habilidade específica que se desenvolve prematuramente, independentemente da área desenvolvida, podendo ser na música, na matemática na linguagem ou na leitura.

 “...No entanto, chama-se atenção para o fato de que nos dias atuais essas mentes extraordinárias, a despeito de suas potencialidades genéticas, não nasceram inteiramente prontas. Pesquisas chamam a atenção para o fato de que todos temos aspectos comuns no nosso desenvolvimento e, embora nem todos nós um dia sejamos reconhecidos torna-se reconfortante pensar que poderíamos encorajá-los e desenvolvê-las para pelo menos levarmos vidas mais produtivas e satisfatórias”. (VIRGOLIM apud ALENCAR & FLEITH, 2007, p. 19).

            Observa-se hoje que a inteligência é composta de muitos fatores e habilidades, o que faz com que uma criança possa ter um excelente desempenho em uma área e quase nenhum rendimento em outra. Em geral, pais e professores nutrem grandes expectativas de que a criança dotada de altas habilidades se sai bem em todas as atividades e áreas além de um bom rendimento escolar, o que nem sempre acontece. Percebendo a inteligência como multifacetada e composta por vários fatores, compreende-se que o superdotado pode muitas vezes demonstrar domínio e conhecimento em uma área chamada de “área forte”, e ter dificuldade em outras áreas denominadas de” áreas fracas”.

3.2 Desenvolvimento Sócio-emocional do Superdotado

    Alencar & Fleith (2001) afirmam que por mais que nas últimas décadas, tenham sido implementadas práticas pedagógicas que atendam às necessidades cognitivas e acadêmicas de alunos com altas habilidades, visando aprimorar habilidades intelectuais desses indivíduos, entretanto pouco se tem dado atenção para o desenvolvimento sócio-emocional de alunos superdotados no contexto educacional.

     Nesse sentido, é importante que os profissionais trabalhem como uma equipe multidisciplinar. É importante que psicólogos e educadores estejam atentos não só às necessidades acadêmicas e intelectuais desses indivíduos, bem como suas necessidades emocionais e sociais.

3.3 Dificuldades Emocionais e Sociais do Superdotado

 Alencar & Fleith (2001) postulam que o perfeccionismo, a autocrítica excessiva, supersensibilidade, sub-rendimento acadêmico, isolamento social, bem como a multipotencialidade podem vir a serem aventos vivenciados pelos superdotados, que podem se constituir em fontes de estresse.

 “... O indivíduo perfeccionista, por estabelecer um padrão de desempenho alto, rígido e muitas vezes, irrealista. Em consequência disso o sujeito está sempre insatisfeito e infeliz, pois é comum que o indivíduo perfeccionista apresente características como procrastinação, dificuldade com relação à organização do tempo, medo do fracasso, ansiedade, preocupação excessiva em não errar. Esses eventos acrescidos de expectativas parentais e da sociedade, podem gerar ainda sentimentos de inferioridade, fracasso e culpa.”( BLATT apud ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 108).

     Supersensibilidade aliada ao senso de justiça são características do superdotado que podem também gerar frustrações, uma vez que ao mesmo tempo em que a criança superdotada tem consciência de problemas que assolam a sociedade, ela não tem acesso a recursos para solucioná-los (DAVIS & RIMM apud ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 108).

            O sub-rendimento escolar é compreendido como a discrepância entre o desempenho escolar do superdotado e manifestações de seu alto potencial, sendo este mais um dos problemas vivenciados pelo aluno superdotado, o sub-rendimento escolar por ser o resultado de um ambiente escolar pouco desafiador, que não leva em consideração os interesses, habilidades e estilos de aprendizagem do aluno, e que enfatiza excessivamente recompensas extrínsecas.

    Segundo Colangelo apud Alencar & Fleith (2001) a criança superdotada também se encontra em risco de fracasso escolar, uma vez que suas ideias divergentes e atitudes não conformistas podem não encontrar na escola um ambiente receptivo.

“...Pesquisas sobre baixo rendimento acadêmico de alunos superdotados indicam que: (a) o início de um desempenho aquém do potencial do aluno começa nas séries iniciais do ensino fundamental, (b) uma relação direta parece existir entre conteúdo muito fácil ou inadequado e baixo rendimento escolar na segunda etapa do ensino fundamental e ensino médio, (c) o auxilio de colegas próximos pode ajudar na prevenção e reversão desse tipo de desempenho, adolescentes que estão envolvidos em atividades extracurriculares são menos propensos a apresentar baixo rendimento escolar, e (d) alunos podem apresentar baixo desempenho acadêmico em função de um currículo escolar inapropriado ou desmotivador” (REIS apud ALENCAR & FLEITH, 2001, p.108).

     Colangelo apud Alencar & Fleith (2001) apontam que embora alunos superdotados apresentem um autoconceito acadêmico elevado, entretanto, psicólogos e educadores têm que estar conscientes de que o aluno superdotado pode se sentir anormal ou diferente, pode apresentar problemas de isolamento social e autoconceito negativo, que podem, por sua vez, levá-lo a experienciar problemas sérios de identidade.

    Para Shute apud Alencar & Fleith (2001 a habilidade de obter sucesso em uma diversidade de áreas (multipotencialidade) pode ser um problema para alunos superdotados, uma vez que os indivíduos que apresentam multipotencialidades, em virtude de suas habilidades e interesses diversos, têm muita dificuldade em definir uma carreira profissional a ser seguida. Além do mais, esses alunos podem vir a ser pressionados pela família ou escola a seguir uma carreira que lhe dá status econômico e social, tendo como consequências para esses indivíduos experiências como confusão, frustração e ansiedade, por medo de negligenciar outras alternativas ou de fazer escolhas erradas.

       Embora indivíduos superdotados apresentem um autoconceito geral positivo, em diferentes níveis educacionais e dimensões de autoconceito, a percepção de si mesmo varia muito. Em uma investigação feita com alunos superdotados e de ensino fundamental e médio foram observados que: (a) o auto conceito de alunos do ensino fundamental e médio era alto, porém os estudantes do ensino médio, especialmente os do sexo feminino, apresentam os escores mais baixos; (b) à medida que os alunos superdotados avançam na sua vida escolar, eles se tornam mais ansiosos e se sentem mais isolados; (c) os escores mais baixos obtidos pelos alunos foram na área de relações interpessoais; e (d) os escores mais altos foram obtidos na dimensão intelectual. (COLANGE; ASSOULINE apud  ALENCAR; FLEITH, 2001, p.109).

     Colange & Gaeth apud Alencar & Fleith (2001) informam que os adolescentes superdotados têm uma percepção positiva acerca de seu crescimento acadêmico, porém em termos de relacionamento social com seus pares, eles apresentam uma visão negativa.. Alunos superdotados apresentam necessidades sociais e emocionais especiais que precisam de atenção. Nesse sentido o autor ressalta a importância do aconselhamento psicológico como uma ferramenta essencial para o processo de desenvolvimento de talentos. Conforme os autores, os jovens superdotados vivem em um contexto de ambiguidade acerca deles mesmos e acerca da percepção dos outros.

 

3.4 Fatores Culturais e Familiares relacionados às altas Habilidades

3.4.1 Família

    Solow apud Alencar & Fleith (2007) aponta outros fatores que exercem influência sobre os tipos de superdotação, como a história familiar, percepção, crenças e valores parentais. Segundo o autor esses fatores poderiam explicar, por exemplo, o fato de o gênero masculino, na área de ciências exatas, serem quatro vezes mais identificados e encaminhados para programas de atendimento a essa habilidade específica do que as do gênero feminino. Outro fator importante seria o de que geralmente, os  superdotados são filhos únicos ou primogênitos ou ocupam funcionalmente essa posição; porém, a posição especial na família é considerada uma vantagem ambiental, motivacional e não genética para superdotação.

      Os filhos primogênitos e únicos despendem mais tempo em companhia de adultos, sendo expostos à linguagem adulta por mais tempo, o que pode acarretar maturidade mental precoce, pois os autores pontuam que os filhos mais velhos por terem preferência de liderança sobre os demais irmãos  exercem muitas vezes o papel de tutor, gozando inclusive de supremacia legal, em assuntos de sucessão familiar e, portanto, recebem mais responsabilidade e são alvos de mais altas expectativas que os demais filhos.

      Vygotsk apud Alencar &  Fleith (2007, p. 131)  afirma que quando uma criança nasce, além de esperança e grandes expectativas, ela traz consigo todo um histórico filogenético e ontogenético da própria espécie. Para o autor toda criança possui potencialidades, capacidades e talentos inscritos nas expectativas nas experiências humanas, que são desenvolvidas à medida que o repertório social vai aumentando, essa responsabilidade passa a ser compartilhada com a escola e, mais tarde, com a sociedade.

   Embora a hereditariedade seja importante fator para constituição biológica e psicológica do ser humano, é na família que acontecerão as primeiras relações que darão início à construção da personalidade.

     Segundo Alencar & Fleith (2007) a construção de conhecimento, acerca de crianças superdotadas nos apresenta que, grande parte das crianças que desenvolveram alguma habilidade foram estimuladas ao longo de sua vida, mais especificamente na infância.

   “...A escuta sobre a história de crianças talentosas mostra que existem famílias que estimulam a psicomotricidade desde cedo a psicomotricidade desde cedo, às vezes até sem saber, um exemplo e quando a mãe bota o bebê de bruços logo após a chegada do hospital. Nessa posição, o bebê é obrigado a fazer esforços, inicialmente de modo fortuito, para se mexer e, à medida que vai crescendo, seus esforços são mais intencionais, ensejo de alcançar o que deseja” ( ALECAR & FLEITH, 2007, p. 132).

            Além disso, os recursos parentais são finitos e o tamanho da família traz implicações diretas sobre os indivíduos, afetando as decisões dos pais em relação ao tipo de provimento obrigatório para os filhos. Apesar dos recursos interpessoais serem menos reduzidos que os financeiros e materiais, eles também são divididos entre os membros da família, sendo assim esses fatores afetam a trajetória complexa do desenvolvimento individual, as interações, a estrutura e a qualidade do ambiente familiar (DOWNEY; RODGERS; ZAJONC apud ALENCAR & FLEITH, 2001, p. 20).

            Para Solow apud Alencar & Fleith ( 2007, p. 19) a percepção parental sobre superdotação seria construída e afetada pela experiência prévia dos pais com outros membros da família, comunidade ou através da mídia, pois os valores e crenças dessa família sobre o tema poderiam levá-los a reconhecer e estimular algumas habilidades em detrimento de outras, o que influenciaria negativamente na identificação - seja por medo de rotulação ou de discriminação - pode fazer com que os pais não aceitem ou não desejem que seus filhos sejam identificados como superdotados.

            Quando falamos em crianças superdotadas, parece fácil de identificar, o que não acontece muitas vezes. Algumas famílias apresentam dificuldades em identificar características de altas habilidades em seus filhos, por que quando se fala em superdotado, grande parte das pessoas associa à algo que se restringe ao âmbito intelectual.

      Alguns pais não entendem e não associam as características emocionais e sociais do filho, como traços característicos de crianças superdotadas, outras vezes complementem  os autores, esses pais não entendem a motivação intrínseca da criança e seu intenso desejo por aprofundar seu conhecimento, reagindo de forma  recriminatória, proibindo a criança de continuar envolvida nos projetos de sua área de interesse ou de explorar  outros domínios, resultando em efeitos negativos  como fracasso, desequilíbrio emocional e negação de talento por parte do superdotado devido à manipulação, ao exibicionismo, à superestimação e à exigência em demasia por parte dos pais ou da competição entre os irmãos.

  “...Sendo assim a maioria dos problemas do superdotado surge na relação familiar, autores apontam alguns riscos que esses indivíduos estariam sujeitos, como: ( a) serem punidos a esperar pelos seus pares, o que pode inibir ou retardar o desenvolvimento de suas habilidades; (b) serem demasiadamente exigidos no cumprimento de uma missão, privados de ter infância ou adolescência normal; (c) serem alvos de expectativas parentais irrealistas em detrimento da liberdade, da criatividade, de motivação, do estilo e dos interesses próprios do superdotado e (d) apresentam danos psicológicos causados pelo exibicionismo sua habilidade na tentativa de isolar ou difundir seu talento como um prodígio raro, digno de admiração e aplausos, podendo com isso, impossibilitar uma vida  adulta produtiva (FREEMAN; GUENTER; WINNER apud ALENCAR & FLEITH, 2007, p. 19). 

            Freeman apud Alencar & Fleith (2007) apontam que a criança superdotada apresenta uma personalidade complexa, associada a uma excepcional sensibilidade e excitabilidade que causam impacto na família, essas características demandam um ajustamento na dinâmica familiar e nas interações entre pais e filhos.

     Estudos realizados com superdotados e pessoas eminentes indicaram que esses indivíduos vivem em  um ambiente familiar enriquecido, interessante e estimulador, mesmo em famílias provenientes de ambientes socioeconômico desfavorecidos. Pois as expectativas parentais extrapolam o nível socioeconômico e exercem forte influência causal no alto desempenho do superdotado, pais costumam reagir à identificação do filho superdotado aumentando o nível de enriquecimento ambiental e centralizando a atenção no desenvolvimento da criança com altas habilidades, sendo tal influência maior em níveis socioeconômicos favorecidos por disponibilizarem de meios para tornarem o ambiente mais enriquecido e por depositarem expectativas mais altas em relação ao desempenho dos filhos.

     Havendo ou não excepcionalidade, cabe aos pais o dever de amar e ajudar os filhos a se sentirem especiais, desenvolverem seus talentos e promoverem segurança e estabilidade emocional (SOLOW apud ALENCAR & FLEITH, 2007, p. 22).

    São famílias que, desde os primeiros meses de vida da criança, conversam com ela por que é de índole o diálogo, ou cantam para ela músicas no cotidiano do lar, valorizando todas as tentativas de comunicação da criança, além de interagirem ludicamente com seus esforços para comunicar-se desde cedo. Tudo é importante: o sorriso, os sons guturais, a lalação, o balbucio, as primeiras palavras, fases, músicas, teatralização dos eventos corriqueiros.

      Segundo Alencar & Fleith (2007) Piaget reconhece que o desenvolvimento da cognição humana, embora se dê em uma sequência de comportamentos inalteráveis, não se dá de modo único e em ritmo igual para todos. Podendo existir comportamentos que surgem antes do tempo esperado, como é comum em muitas crianças.

    Crianças precoces que apresentam capacidades superiores ao das demais crianças da mesma idade, em geral suas famílias são surpreendidas pela precocidade da expressão e do domínio de habilidade de leitura, escrita, cálculo matemático ou competências diversas. Essas crianças realizam atividades distintas como ler, desenhar sem grande esforço, mostrando prazer e satisfação nas atividades de seu interesse particular (ALENCAR & FLEITH, 2007, p.132).

        Famílias de crianças superdotadas costumam ser mais coesas e harmoniosas em seus relacionamentos do que em outras famílias, o que  permite aos filhos incorporarem seus valores de modo mais eficaz. Nesses lares os pais dão mais liberdade e estimulam seus filhos a serem felizes sem, no entanto deixarem de direcioná-los ao cumprimento de metas, ao engajamento em atividades desafiadoras e de estudo, com a finalidade de que atinjam níveis mais altos de concentração, originalidade, independência e desempenho (WINNER apud  ALENCAR & FLEITH, 2007, p. 21).

       O papel dos pais no desenvolvimento do seu filho superdotado inclui apoiar os seus interesses, valorizar seus esforços criativos, ouvi-lo, discutir com ele estratégias de resolução de problemas, estar atento a suas necessidades, apoiar as suas aspirações profissionais e monitorar seu progresso na escola e no programa de atendimento ao superdotado (SILVERMAN apud ALENCAR & FLEITH, 2001, p.114-115).

       O apoio emocional entre os integrantes da família bem como a parceria com a escola é de suma importância para o desenvolvimento das potencialidades de uma criança com altas habilidades.

       Alencar & Fleith (2001) informam que uma parceria cooperativa entre família e escola é essencial, nesse sentido, destacam os autores, é importante que a escolar estabeleça uma relação positiva com a família do aluno superdotado.

 

3.4.2. A Escola

            Conforme Alencar & Fleith (2001) as práticas pedagógicas a serem implementadas na escola devem levar em consideração estratégias de diferenciação e modificação do currículo regular com vistas a adequar o processo de aprendizagem às necessidades e características dos alunos, em especial superdotados e talentosos.

          Para Renzulli & Reis apud Alencar & Fleith (2001) ressaltam que os estilos de aprendizagem, áreas de interesse e pontos fortes de todos os alunos são palavras de ordem nesse processo. Uma avaliação de interesse de todos os alunos no início do ano letivo pode orientar no planejamento de estratégias educacionais dos mesmos. Atividades de enriquecimento e procedimentos de aceleração são opções disponíveis na educação do aluno superdotado.

            O processo de aceleração possibilita ao aluno mover-se através do currículo em áreas que o aluno domina, no ritmo dele. Neste sentido, o aluno poderia “pular” séries, participar de classes especiais e assistir aulas de determinadas disciplinas em séries mais avançadas (aceleração parcial).

            O objetivo dessas estratégias de modificação e diferenciação tem por finalidade, motivar intrinsecamente o aluno superdotado a participar ativamente do processo de ensino-aprendizagem, criando situações de aprendizagem desafiadora para esse aluno e, consequentemente, reduzir o risco de sub-realização acadêmica (ALENCAR & FLEITH, 2001, p.11).

            Cabe ao psicólogo participar tanto do processo de elaboração de estratégias educacionais que visam atender às necessidades de alunos com alto potencial quanto da identificação de situações escolares que podem esta interferindo negativamente no desempenho acadêmico de alunos com altas habilidades.

            A atuação do psicólogo é no sentido de contribuir para o estabelecimento de um ambiente escolar responsivo às necessidades cognitivas e afetivas de alunos superdotados. Essa abordagem inclui um trabalho não apenas com os profissionais que atuam na escola, mas também com a família e comunidade.

3.5 Ideias Errôneas sobre o superdotado

    O número de pesquisas científicas sobre os portadores de alto potencial aqui no Brasil, ainda é visto como um fenômeno raro, a prova disso é o espanto  e curiosidade diante de qualquer indivíduo que se diz superdotado.

     Para Alencar (2001) muitas são as ideias errôneas a seu respeito, enraizadas no pensamento popular. Ignorância, preconceito e tradição mantém vivas uma série de ideias que interferem e dificultam a implementação de programas direcionados a esses sujeitos no sistema público e particular de ensino.

       De acordo com Rutter apud  Alencar (2001, p. 125) muitas são as ideias errôneas que imperam entre nós sobre os superdotados, que necessitam ser esclarecidas, dentre elas têm-se visto com mais frequência, uma confusão que muitos fazem entre os superdotados e o gênio, sendo assim  é comum acreditar que para ser considerado superdotado o individuo deverá apresentar um desempenho surpreendentemente significativo e superior desde a mais tenra idade, sendo, por exemplo capaz de ler aos três anos, ter dado uma contribuição original ainda nos primeiros anos da juventude e continuar a se destacar cada vez mais. O exemplo muitas vezes lembrado é o de Mozart, que aos três anos já tocava um instrumento musical, aos quatro compunha e aos seis anos fazia  frequentes apresentações públicas.

   O que é necessário salientar é, que embora os primeiros estudos na área da inteligência superior tenham sido direcionadas para investigações das características  dos gênios e seus antecedentes, tem sido sugerido que o termo gênio seja reservado para descrever apenas indivíduos que já deram contribuições originais de grande valor.

     De acordo com Alencar (2001), uma outra ideia errônea que impera em nossa  sociedade, é a de que o sujeito com alto potencial, teria recursos para crescer sozinho, que nada necessita ser feito no sentido de oferecer-lhe um ambiente especial, dadas as suas condições privilegiadas em nível da inteligência e criatividade.

    Entretanto o que se observa é que nem todos que se caracterizam por alta habilidade intelectual tornam-se adultos produtivos. Muitos desses indivíduos em função do seu ambiente familiar, educacional e social apresentam apenas um desempenho medíocre e, abaixo da média. Nesse sentido, é necessário salientar a importância de se propiciar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, a fim de atender suas necessidades educacionais. Especialmente relevante é a promoção de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem o seu desenvolvimento e favoreçam a realização plena de seu potencial.

            Outra ideia distorcida que se tem a respeito dos superdotados é a de que o superdotado apresentará necessariamente um bom rendimento escolar, contudo observa-se muitas vezes uma discrepância entre potencial ( aquilo que a pessoa é capaz de realizar e aprender) e o desempenho real ( entre aquilo que o individuo demonstra conhecer). Muitos são os fatores aos quais se pode  atribuir o  desempenho inferior, tanto uma atitude negativa em relação à escola, como as características do currículo e métodos utilizados (especialmente a excessiva repetição de conteúdos, aulas monótonas e pouco estimuladoras, ritmo mais lento da classe), além de baixas expectativas por parte do professor, paralelamente a pressões exercidas pelo grupo de colegas em relação ao aluno que se destaca por suas ideias ou habilidades marcantes, são alguns dos fatores responsáveis ( Alencar, 2001, p. 126).

   Outra noção difundida é a de que o encaminhamento a programas especiais geraria na criança ou no jovem um comportamento soberbo e pretensioso. O que não está em consenso com a prática, que tem mostrado que a educação especial para o superdotado, quando de boa qualidade, produz estudantes satisfeitos, com o programa desenvolvido, entusiasmados com as propostas curriculares. Uma vez livres das pressões exercidas pelo grupo de colegas que tendem a criticar e a punir o aluno que se destaca por um desempenho e interesses marcantes, em um ambiente estimulador, eles crescem em competência e em habilidade (Alencar, 2001, p. 127).

   Outra noção também emitida é a de que seria absurdo investigar nesta área quando existem tantos superdotados e com deficiências físicas, sem um atendimento especializado. Para o autor não há dúvida quanto a necessidade de programas para deficientes no país, entretanto, não podemos esquecer que a ideia aplicada é a de uma boa educação para todos, o que não significa uma educação idêntica para todos, assim esta deve atender de forma diferenciada, tanto os alunos mais competentes e capazes como aqueles que apresentam dificuldades e deficiências (ALENCAR, 2001, p. 127).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

  Pelo exposto ao longo do artigo conclui-se que no Brasil a atenção dada aos portadores de habilidades especiais ainda é nova, a literatura sobre o assunto escassa e o desconhecimento acerca do tema grande. Daí a importância da abordagem do tema nas faculdades do país, para esclarecer os futuros profissionais acerca do assunto, preparando – os para a sua atuação ética e profissional quando diante de um caso como este, sabendo identificar estes alunos e pensando políticas educativas adequadas para atendê-los. Bem como evitar que ocorram erros induzidos pela mídia como o de acreditar que todo superdotado é gênio ou que são habilidosos em tudo. A abordagem do tema também foi importante para pensar em políticas públicas endereçadas para estes alunos para que suas potencialidades sejam aproveitadas e desenvolvidas. E o psicólogo, como membro integrante da equipe multiprofissional, deve participar deste processo auxiliando a equipe e fornecendo apoio psicoemocional para estes estudantes.

 

 

REFERÊNCIAS

ALENCAR, E. S. Criatividade de educação de superdotados. São Paulo: Vozes, 2001.

ALENCAR. E. S.; FLEITH, D. S.. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo: EPU, 2001.

__________________. Desenvolvimento de talentos e altas habilidades. Porto Alegre: Artmed, 2007.

ARANHA, M. S. F. Alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC, 2002. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000452.pdf. Acesso em: 01 nov. 2012.

Associação de pais e amigos para apoio ao talento. Internet. Disponível em

< http://www.aspat.kit.net/superdotaçao >  Acesso em 27  Nov. 2011.

.