Em relação aos dados coletados para esta pesquisa, o processo da fabricação do ferro gusa consiste basicamente na redução do minério de ferro a uma liga denominada gusa, cuja maior concentração é de ferro (Fe), mais ou menos 95%. O ferro-gusa é produzido através do minério de ferro, do carvão vegetal, do calcário, seixo e manganês de carga metálica, misturados no alto forno.

As atividades das empresas guseiras em Marabá tiveram início no ano de 1986, com a implantação e início do funcionamento da SIMARA (Siderúrgica de Marabá S. A), esta empresa funcionava com dois alto-fornos e com uma produção média anual de 216 mil toneladas. Hoje a SIMARA chama-se SINOBRAS (Siderúrgica Norte Brasil S. A) que é uma das maiores empresas privadas instaladas em Marabá, produzindo 300 mil toneladas de aço por ano no Distrito Industrial.

Em 1988 foi inaugurada a que é hoje a maior siderúrgica do país em produção: a companhia Siderúrgica do Pará (COSIPAR), com produção média anual de 558 mil toneladas, e conta com cinco alto-fornos.

Por sua vez, para a implantação dessas siderúrgicas e de outras que foram implantadas posteriormente, foi instalado através da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Pará (CDI), no final da década de 1980, em uma área de 1.300 hectares, o Distrito Industrial de Marabá, localizado nas proximidades da cidade nas margens da rodovia PA-150.

Ademais, esse empreendimento faria parte do parque industrial que se instalaria nesta região da Amazônia Oriental, diversificado e integrado, o mesmo teria base na exportação, não somente de bens de baixo valor agregado, mas seria composto por três grandes complexos industriais; o minero-metalúrgico, o florestal e o complexo da construção civil.

Com certeza toda essa iniciativa traria para o município muitos retornos e um deles seria a geração de postos de empregos diretos, é importante observar que até 2010 está estimado algo em torno de 44.000 postos somente do setor siderúrgico[1], um dado bastante valorizado pelas siderúrgicas.

Nesse sentido, é importante destacar os aspectos positivos e negativos da mineração na região, sendo esse o propósito de nossa pesquisa é o de tentarmos fazer uma análise no decorrer desse trabalho.

Com base nesses números de empregos estimados, é possível observar que por causa das crises enfrentadas pelo setor nos últimos meses, e, ainda, diante das tentativas de realizar adequações por parte dos empreendimentos às cobranças formuladas pela sociedade civil. Está complicado manter o mesmo nível de lucro e atender às exigências dos órgãos governamentais e não governamentais (ONG) com relação aos problemas ambientais e sociais, está ficando muito mais difícil para algumas empresas alcançarem as estimativas previstas nos planejamentos[2].

No que tange á geração de emprego na atividade siderúrgica de Marabá, constata-se que o número de empregos diretos é pequeno se comparado à população do município, não sendo capaz de impulsionar significativas alterações na conformação do mercado de trabalho regional (JUNIOR & AMARAL, 1994, p. 84).

Quanto às duas siderúrgicas citadas, que primeiramente se instalaram no Distrito Industrial de Marabá (DIM), pertenciam a grupos predominantemente de outra região do país. A SIMARA, por exemplo, pertencia ao extinto grupo Belauto, formado por dois empresários, um mineiro do setor siderúrgico de Minas Gerais e outro do Pará. Esta siderúrgica parou suas atividades por um tempo, e em 1994 um grupo de Minas Gerais adquiriu o controle da mesma dando prosseguimento às atividades.

Em novembro de 2008 o controle acionário da SIMARA foi assumido pelo grupo Aço Cearense de Fortaleza-CE, passando a se chamar SINOBRAS (Siderúrgica Norte Brasil S. A) que é uma das maiores empresas privadas instaladas em Marabá, produzindo 300 mil toneladas de aço por ano no Distrito Industrial.

Por sua vez, a COSIPAR pertencia ao grupo TAMINAS, apesar de ter sido fundada por vários empreendedores. A produção de ferro iniciou-se em 1988 com um alto forno com capacidade de produção de 84.000 toneladas por ano.

Nessa direção, no ano seguinte mais precisamente em agosto o segundo alto forno com capacidade de 116.000 ton./ano. Em 1991 o Grupo Costa Monteiro adquiriu 100% das ações da empresa[3].

Essas siderúrgicas tiveram grandes incentivos para sua implantação, em média só usaram 25% do capital próprio. Esses incentivos foram aprovados, mais uma vez, por decreto lei de nº 1376/74 através da SUDAM por meio do Fundo de Investimentos da Amazônia (FINAM) e Fundos de Investimentos do Nordeste (FINOR), que liberaram até 75% do total do valor necessário indicado para a implantação do parque siderúrgico.

Essa situação leva-nos a refletir sobre os reais investimentos que tem sido feito no município de Marabá e nos provoca ainda mais a realizar o propósito do projeto de pesquisa, no qual buscamos refletir como as siderúrgicas se posicionam diante de situações de insegurança do trabalhador; desastres sociais e ambientais, poluição do meio ambiente, exploração das florestas para extração do carvão vegetal e o que os mesmos estão fazendo para melhorar o que temos de positivo e reduzir os impactos negativos.

Segundo dados do IBAMA (CORREIO DO TOCANTINS, 18 a 21, maio/07, p. 3 e 4) para gerar o volume de carvão consumido pelas siderúrgicas seriam necessários 550.000 hectares de floresta. Com toda essa necessidade a floresta ainda continua sendo devastada, isso é fato e o governo propõe medidas para se amenizar ou pelo menos diminuir a exploração; a proposta mais recente por parte de políticos e que está em processo de aprovação pelo Presidente da República é o Distrito Florestal de Carajás, com uma área de um raio de 200 km, a partir de Marabá.

Irrefutavelmente, o objetivo é dar sustentabilidade às guseiras, a fim de se adequarem a exigências internacionais, pois a questão ambiental está em foco das atenções da comunidade internacional em decorrência do aquecimento global bem como por outras conseqüências advindas.

De um modo geral, os impactos não se limitam ao meio ambiente: os próprios trabalhadores dessas siderúrgicas são profundamente prejudicados com as condições de trabalho. É de se perceber que as siderúrgicas foram planejadas e instaladas com a finalidade de produzir, contando com uma tecnologia simples, uma mão-de-obra farta. E, por estarem localizadas nas proximidades das jazidas de minério de ferro, tem a possibilidade de obterem carvão vegetal em grande quantidade a preço baixo e com facilidade de exportar para o exterior devido à existência da ferrovia.

Nesse sentido, não houve qualquer preocupação com o homem que iria trabalhar na usina. Basta citar como exemplos os baixos salários, a precariedade das condições de trabalho, o gerenciamento autoritário, e as poucas instalações existentes para o uso dos empregados que são totalmente deficientes, precárias e em alguns lugares inexistentes. As greves dos metalúrgicos, além de reivindicar aumento salarial, tiveram que exigir bebedouros, vestiários, equipamento de segurança, melhoria na alimentação, eleição da CIPA, entre outros pontos apresentados (COELHO & COTA, 1997, p. 90).

É preocupante às condições de trabalho tanto dos empregados das beneficiadoras do ferro gusa quanto dos trabalhadores que vivem muitas vezes num regime de escravidão e desassistência e informalidade nos fornos espalhados por toda a região que produzem carvão vegetal. Assim “os locais de trabalho são bem piores do que os dos metalúrgicos. As empresas que compram carvão vegetal dizem não ter qualquer compromisso com essa mão-de-obra, já que são ‘prestadores de serviço’, trabalhadores autônomos, sem vinculo de trabalho com o empreendimento siderúrgico” (COELHO & COTA, 1997, p. 91).

Pode-se dizer que esses problemas se agravam na medida em que cresce o número de siderúrgicas e também cresce a produção de ferro gusa das mesmas, atualmente são oito atuando com um total de dezessete alto-fornos, sendo que mais três estão em processo de instalação em Marabá.

[1]  MONTEIRO, Maurílio de Abreu. Siderurgia e Carvoejamento na Amazônia. Belém: CFCH/NAEA/UFPA, 1996.

[2]  Os empregos diretos e indiretos atualmente gerados em Marabá estão na ordem de 26.000 postos. Publicado no Jornal Correio do Tocantins, Caderno 2 p. 3. Marabá, 15 a 18 de Jul. de 2007.

[3] Disponível em: [3] Disponível em: www.cosipar.com.br/ histórico. Acesso em 20 abr. 2009.

REFERÊNCIAS

COELHO, Maria Célia Nunes; COTA, Raymundo Garcia (Org.). Dez anos da estrada de Ferro Carajás. Belém: UFPA/NAEA, 1997.

 ______. CVRD e a reestruturação do espaço geográfico na área de Carajás (PARÁ). In. CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo César da Costa; CORREA, Roberto Lobato (Orgs.).

COSIPAR <http://www.cosipar.com.br>. Acesso em 12 de nov de 2008.

Correio do Tocantins.Jornal, Caderno 2, p. 3 e 4. Marabá, 18 a 21 de maio de 2007.

Correio do Tocantins.Jornal, Caderno 2, p. 3. Marabá, 15 a 18 de Julho de 2007.

JUNIOR, Lucélio Gomes; AMARAL, Rômulo Lima do. Aspecto econômicos e tecnológicos da indústria de produção de ferro-gusa no município de Marabá. Marabá-PA: UFPA, 1994.