UM MUNDO (MUITO) MULTIPOLAR NO SÉCULO 21.

 

*Ivan Santiago

A crise do sub prime americano de 2008 impactou fortemente o capitalismo neoliberal e na sequência a própria democracia liberal, duas bandeiras do Mundo Multipolar após 1991. Já em 2009, desenhava-se uma nova conjuntura, um “Mundo Pluripolar para o século 21”, onde as grandes potências regionais emergiam como figuras importantes para ajudar o capitalismo a se reerguer.

                Em suma, a regionalização do Mundo Multipolar era marcada pelos três centros econômicos, a saber: Estados Unidos, Alemanha e Japão. Com a pane no capitalismo mundial, os BRICS (Brasil, Rússia, China e Índia e África do Sul) ganharam uma representatividade maior no cenário internacional. O que chamava a atenção é que estes países possuíam um maior grau de intervenção na economia, o oposto da proposta neoliberal dos países centrais.

                No decorrer da década de 10 e início desta de 20 do século XXI, foi observado que alguns problemas domésticos ou mesmo regionais, limitam a expressão destes países a novos polos de poder, ao mesmo tempo que os antigos países centrais altamente industrializados perderam influência, pois também tiveram alguns cenários ou turbulentos ou incertos.

                Em 2016 a saída dos britânicos da União Europeia ganhou o nome de Brexit, e enfraqueceu o velho continente e sua líder, a Alemanha; o Maga, movimento liderado por Donald Trump com o seu America First, fez os Estados Unidos se retraírem; e o Japão, a potência altamente endividada e sem recursos naturais, já não é tão bem vista como foi no século XX. A chocante retirada das tropas do presidente Biden do Afeganistão, com pessoas do lado de fora do avião a despencar após a decolagem, foi uma espécie de despedida dos Estados Unidos como chefes do mundo.

                Some-se a isto a busca das grandes corporações por novos mercados, pela China, pelos Tigres Asiáticos e temos um cenário não favorável aos países centrais. E o que aconteceu com os novos polos de poder?

                A China conquistou mercados e se transformou em praticamente a primeira parceira comercial com todos os países do mundo, mas seu crescimento econômico já é mais fraco, o mercado imobiliário local se transformou em um problema ao passo que grandes cidades foram criadas, mas plasmem, a economia planificada não planejou estes novos espaços urbanos. Temos reportagens de chineses que possuem um imóvel a 200 km do trabalho e o governo chinês esperava um deslocamento seria diário da casa para o trabalho. Tal imprudência, demonstra que o dragão chinês talvez seja também, em partes, mal gerido

                Outro problema chinês é a limitação geopolítica imposta pelos Estados Unidos, onde o país asiático está tecnicamente cercado militarmente de aliados estadunidenses. Taiwan, a província rebelde para a China e país livre para os Estados Unidos, pode vir a ser o estopim de um conflito. A China invade o espaço aéreo de Taiwan regularmente. A navegação do Mar da China, também é um ponto sensível.

                A Índia possui uma função interessante onde limita o poder da China e também é limitado pelo poder dos chineses, o que causa um balanço de poder interessante. A questão de possuir fronteiras indefinidas como os países vizinhos é um entrave para os indianos. Potência nuclear, deficiências na matriz energética, população rural, faz da Índia um país que poderia ter se inserido de uma forma mais enérgica no cenário internacional, o que não o fez. Hoje é a quinta maior economia do mundo.

                O Brasil continuou sendo o Brasil. Algumas coisas não mudam no mundo e o Brasil é uma delas. A desindustrialização brasileira potencializou a classe política do agronegócio e o Brasil retroagiu. Velhas práticas voltaram à tona, como voto de cabresto e cerceamento de liberdade de expressão. Assim a extrema direita ganhou corpo, as instituições fracassaram e o que se viu foi um imenso retrocesso em processos de integração da América Latina (leia-se o sub imperialismo brasileiro sobre o Cone Sul). Longe dos vizinhos, com um estadista longe do ideal o Brasil foi de liderança a uma espécie de preocupação para a Comunidade Internacional.

                A Rússia aproveitou-se do cenário como boa aproveitadora que é. Roubar mais algum pedaço de terra de algum vizinho e colocar seus soldados para abusar sexualmente soldados capturados é, digamos, o negócio da Rússia. Putin, invadiu a Ucrânia duas vezes (2014 na Criméia e 2022 em Donbass) e na sequência sequestrou em torno de 200.000 (duzentas mil) crianças, além de destruir o país vizinho, de mesma matriz cultural e que era parte integrante da União Soviética. Sim, existe uma guerra na Europa. Caso exista dúvida sobre a capacidade russa de promover o terror, pesquise o Holomodor dos anos de Stalin, também promovido na Ucrânia. Sofreu um embargo grande em 2022, mas como potência que sempre foi, continua como a décima maior do planeta, a frente inclusive do Brasil.

                O mundo em 2023 é Pluripolar. O poderosa Rússia volta a intimidar militarmente a Europa e o mundo. A China, é uma incontestável potência econômica, militar e cultural na Ásia e no mundo. A Índia possui capacidade de liderança em função do seu imenso mercado interno. E o Brasil em um golpe ou de sorte ou de azar, tem novamente o presidente que deu o protagonismo ao país: Luís Inácio Lula da Silva. São outros tempos, Lula passou por julgamentos e uma prisão controversa, questionada pela ONU, mas não possui uma coesão para governar o Brasil. O sonho de um Brasil potência, ficou no passado, apesar de em 100 dias de governo já ter se movimentado para retomar o protagonismo no Cone Sul, com a Argentina, Uruguai e Paraguai a apoiá-lo no plano internacional.

                A conjuntura internacional tem sido mantida precariamente pela OTAN, que foi evocada em 2022 diante de uma guerra na Europa. Agora a Finlândia finalmente aderiu a mais esta organização, com mais de 1300km de fronteiras com a Rússia. O poder econômico se esvai dos países da OTAN para a Ásia, e lá está a China, grande parceira dos russos desde os tempos soviéticos. Em 2025, um general estadunidense disse que existirá um conflito militar entre Estados Unidos e China. Podemos inclusive chama-lo de uma guerra mundial. Mas sabemos que guerras são caras e em um mundo onde todos os atores parecem vulneráveis, talvez só Vladimir Putin realmente deseje um confronto em escala global.  

 

*Ivan Santiago – graduado em geografia e profissional do mercado imobiliário no interior paulista.