Um Banco Central independente, em um país profundamente patrimonialista e corporativista como o nosso, é uma das poucas esperanças para que o pior não piore mais ainda.

Há tempos remotos, Hobbes e Maquiavel desconfiaram das intenções altruístas dos homens públicos, especialmente do ser político. Nunca espere que a sinceridade conviva com a oportunidade de crescimento sem esforços, pois ao invés de, “dê-me o poder que preciso para melhorar a vida do povo”, nunca ouvirás “dê-me o poder, e se preciso, talvez ceda alguma melhora ao povo”. Interesses pessoais sempre foram bem sucedidos ao se esconderem por trás de pautas socialmente interessantes. Se precisar ser benevolente, que o seja, recomendaria Maquiavel, desde que alcance o que pretendes; mas, antes de tudo, te certificas de que assim o conseguirás invariavelmente; pois não conseguindo, falhastes em tudo.

Grandes pautas sociais necessárias ao desenvolvimento econômico e social do país fracassam, em menor parte, por falta de conhecimento técnico (e muitas mentiras têm sido propagadas), em grande parte, porque se viu, ao longo, que não se alcançaria efetivamente o interesse principal.

Um estudante de economia, obrigatoriamente, deve ter em mente a importância das expectativas dos agentes econômicos (que são todos nós que consumimos e oferecemos bens e serviços na economia) na determinação das próprias condições econômicas.

Um investidor que espera um cenário inflacionário, e, portanto, de queda do poder de compra de seu dinheiro e valores, por mais equivocadas que estejam suas expectativas, tomará decisões de modo a salvaguardar o seu capital. Nesse cenário, agentes se desfazem de seus ativos e investimentos, resultando em queda da bolsa. Capitais se exilam, resultando em desvalorizações cambiais e alta de juros; este leva ao encarecimento do crédito e de financiamentos, e do custo da dívida pública; aquelas, à inflação dos produtos importados e todos os bens e serviços do mercado doméstico dependentes deles. Moral da história: expectativas de mais inflação, mesmo que equivocadas, levam à inflação efetiva!

Expectativas importam. E a cada palavra irresponsável solta pelas autoridades políticas, quanto aos rumos da política econômica, o mercado precifica seus riscos. Não é birra de meninos mimados atrás de uma tela de computador, nem arbítrio do presidente do BC, mas um jogo descoordenado de indivíduos e firmas protegendo racionalmente seus interesses, que se constitui em reajuste das variáveis macroeconômicas.

Modelos com bases teóricas e empíricas sólidas, formalizados matematicamente – pois, diferente do marketing eleitoral e do discurso político, não tem dubiedades, não tergiversa; cinco mais cinco é dez, sempre e em todo lugar -, que são apresentados aos alunos na disciplina de Macroeconomia I, como o IS-LM-PC, mostra que, partindo do pressuposto de que os indivíduos não levam apenas em conta a inflação passada na formação de suas expectativas, somente uma meta de inflação fixada por um BC crível, pode salvar a economia do caos a que caminharia.

E, podemos resumir a credibilidade de um banco central à sua intenção de controlar a inflação em níveis saudáveis, à sua capacidade de análise e de estimação desta meta de inflação, e à sua competência para fazer a inflação convergir para ela. Logo, um BC sujeito ao arbítrio de autoridades com interesses dúbios, e que, então, representa mais risco para os agentes, é desacreditado quanto às suas projeções de conjuntura macroeconômica. Confiados no BC, às expectativas se ancoram na meta de inflação, e nos cenários futuros sinalizados nas atas técnicas.

A não ser assim, ficamos a mercê de atrocidades técnicas que levam à tragédias econômicas como a do período Dilma. E novamente reajustes dos agentes como meios de proteção de seu patrimônio, são interpretados como golpes elitistas (e até preconceituosos) contra a população mais pobre, que seriam salvos por tais “cagadas econômicas”.

Os grandes intelectuais de tais desastres continuam dando as cartas. O grande problema é que, no campo econômico, um ser dizer que cinco mais cinco é diferente de dez, é apenas encarado como um intelectual original, com um ponto de vista diferente; e não como pessoas profundamente equivocas, e que não devem, como geralmente acontece, participar dos ambientes de decisão.