O CUIDADO RELACIONADO À SAÚDE MENTAL: UMA ANALISE DO CENTRO DE ATENÇAO PSICOSSOCIAL (CAPS) DE PARIPIRANGA-BA.

                                                                

                                                                                           Francielly Vieira Fraga1

                                                                                               

RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar a relação cuidado-saúde mental nos pacientes do CAPS localizado na cidade de Paripiranga-Ba, com foco nas atividades realizadas, na importância do cuidado com esses pacientes e com sua família, além dos impactos na vida tanto dos profissionais como do publico nesse contexto. Observaram-se os distúrbios mais frequentes e como as atividades desenvolvidas ajudaram na evolução dos pacientes, na unidade recém- implantada no município.

PALAVRAS-CHAVE: cuidado; saúde mental; paciente; inserção social.

1  INTRODUÇÃO

A partir da construção e validação do sistema único de saúde (SUS) no Brasil, o conceito de saúde sofreu uma reformulação, e passa a ser entendido como a promoção de bem estar bio psico social, fazendo com que os profissionais de saúde necessitem do conhecimento técnico e humano, e com isso, o cliente passa a ser assistido por diversos aspectos que contribuem ou não para a existência de bem estar bio psico social. 

De acordo as leis vigentes de saúde no país, a saúde é direito de todos e dever do estado, e por isso deve ser oferecido à prevenção, promoção e reabilitação de saúde. Para cada nível de assistência existem ações a serem executadas pelos trabalhadores, essas ações correspondem à realidade dos indivíduos e estão descritas nas politicas do SUS, que preconiza o atendimento integral ao sujeito, ou seja, o cliente deve ser visto como um todo, portanto os diversos ambientes em que está presente, como trabalho e moradia, precisam ser valorizados na assistência prestada.

1Acadêmica do V período, do curso de Enfermagem na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais AGES.

Podemos considerar que o elo da promoção de saúde é o cuidado. O cuidado é uma característica própria do ser humano, perpetuada desde o aparecimento da espécie, segundo BOFF,

A palavra cuidado tem duas derivações: uma do latim advindo de cura-que expressa  atitude de cuidado, desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação; outra derivada cogitare-cogitatus e de sua corruptela: coyedar, ciodar, cuidar, que tem o mesmo significado de cogitar, pensar, colocar atenção, mostrar interesse, revelar atitude de desvelo, preocupação. Cuidado significa, então, desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato. Na perspectiva, cuidar é mais que um ato é uma atitude. (2003)

          Assim, partindo do conceito acima, o cuidar é visto como capacidade de envolver-se com o próximo, e é gerado desde o nascimento, é uma necessidade humana, isso por que somos dotados de sentimentos universais que nos fazem capazes de ver o outro como a nos mesmos. Dessa forma, quem mais precisa e necessita de cuidado, senão os considerados doentes mentais? Desde que as pessoas se reconhecem enquanto pessoas, existe a percepção de comportamento normal, padrão e comportamento desviante. Em diferentes momentos da história, esses comportamentos desviantes receberam vários nomes e classificações. Segundo ASSIS,

Se aceita o uso da expressão “transtornos” ou “distúrbios mentais” para se referir aos problemas psicopatológicos. Eles são diagnosticados pela presença de sintomas, que são manifestações únicas e desviantes do comportamento dito normal. Um grupo de sintomas pode ser classificado como uma síndrome. Uma determinada síndrome psicológica classificada, então, pode receber o nome de transtorno mental. (2008, p.20).

 Para levar essa forma humanizada de agir, expressa em cuidado a essas pessoas, surgiram os CAPS ou Centros de Atenção Psicossocial. Segundo o MS,

Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica.

A saúde mental esta relacionada como o paciente se sente consigo mesmo, é um autoconceito. Assim proporcionar um atendimento integral a pacientes usuários da centros de atenção psicossocial é essencial, devido a importância da atenção integral na busca pelo bem estar do paciente, visando acompanha-lo de forma a ensina-lo a expor suas potencialidades, medos, na forma verbal ou artisticamente, essa troca mutua ocorre entre profissional, paciente e família desse paciente, todos com crucial importância no processo de estadia do doente mental no CAPS. Nessa perspectiva, decidimos analisar a utilização do cuidado nos pacientes do CAPS de Paripiranga-Ba, analisando métodos, opiniões e resultados.

2  MÉTODO

 

            Trata-se de uma pesquisa etnográfica, baseada em observação, levantamento, coleta e analise de dados no âmbito da pesquisa de campo. Foram realizadas 3 visitas oficiais, nos dias 21, 22 e 25 de Abril de 2011, cada uma por cerca de 2 horas. Durante esse tempo realizaram-se cinco entrevistas, uma com o psiquiatra, duas com pacientes, uma com a coordenadora e uma com o professor de artes. Para NAKAMURA,

Essa aproximação do pesquisador com o campo, “o objeto” e os temas de reflexão fazem da etnografia um método privilegiado para compreender os significados ou os sentidos das experiências de doença, aflição, ou sofrimento para aqueles que as vivenciam, colocando ao mesmo tempo, alguns elementos para se pensar o potencial do método no estudo de temas tradicionalmente analisados por áreas da biomedicina e que geralmente solicitam uma aplicação do conhecimento , ou intervenção , mais imediata. (2009, p. 39).

3   RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto da sociedade, algumas vezes encarcerados, em condições precárias, sem direito a se manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes negativas os afastam da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma efetividade. Transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, mau uso de drogas e álcool, demência e esquizofrenia, pode afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida. Na realidade, elas podem causar mais sofrimento e incapacidade que qualquer outro tipo de problema de saúde. Apesar disso, pessoas  com essas condições, muitas vezes atraem medo, hostilidade e desaprovação em vez de compaixão, apoio e compreensão.  Tais reações não somente influem para que se sintam isolados e infelizes, como são impedimentos para que busquem ajuda efetiva e tratamento.

                Em Paripiranga essa realidade de exclusão social era nítida, com a criação do CAPS em 2010, sendo atendidas mais de 100 pessoas por semana. Nesse contexto a saúde mental foi direcionada a um conceito amplo, que possibilita aos pacientes inserção em coisas uteis, com foco em trabalhos artísticos, participação em Carnavais e oficinas, “... que possibilitem que eles possam cada vez mais precisar cada vez menos desses serviços” (SILVA). Dando assim a esses pacientes possibilidades além dos psicofarmácos, do isolamento e da inutilidade.  Segundo a classificação da OMS, podemos observar os seguintes transtornos entre os pacientes do CAPS em estudo:

1) Transtornos usualmente diagnosticados na lactância, infância e adolescência, como os retardos mentais e distúrbios de aprendizagem;

2) Delirium, Demência, Transtornos Amnésicos e Outros Transtornos Cognitivos;

3) Transtornos Mentais devido à Condição Clínica Geral, como transtornos catatônicos e desvios de personalidade;

4)  Transtornos Relacionados a Substâncias, como abuso de álcool ou dependência de drogas, ou ainda transtornos induzidos por uso de substância como abstinência de nicotina ou demência alcoólica;

5)  Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos, como paranoia (esquizofrenia do tipo paranoide) ou transtorno delirante;

6) Transtornos do Humor, como depressão ou transtorno bipolar;

7) Transtornos de ansiedade, como fobias ou pânico;

8) Transtornos do sono, como insônia ou terror noturno;

9) Transtornos de controle de impulso, como cleptomania ou piromania;

10)  Transtornos de personalidade, como personalidade paranoica ou personalidade

obsessivo-compulsiva.

11) Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos, como Alzheimer, demência vascular ou transtornos mentais devido a lesão cerebral ou doença física;

            Em algumas narrativas podem-se notar certas magoas por pessoas com transtornos do item sete, a não confiabilidade e credito por parte da sociedade dado a esses transtornos ainda incomoda as pessoas portadoras, por exemplo, de uma depressão, que em certos contextos e entendida como mania, e “coisa da cabeça”. Nesse contexto o cuidado para com a família d cada paciente é essencial, as entrevistas com os pacientes mostram a satisfação dos mesmos com a aprovação dos seus familiares diante da aprovação familiar, isso é essencial no processo de bem estar tanto do paciente como da família, para COLVERO,

Diante das marcas de uma cultura globalizada inscrita no campo simbólico e na construção dos saberes sociais, identificamos a família enquanto um grupo que constitui um campo de relações entre pessoas que compartilham significados de suas experiências existenciais. Este grupo atravessa os tempos passando por inúmeras transformações e críticas, sem afastar-se, ao menos em tese, da responsabilidade e das exigências dos papéis socialmente atribuídos a ela de procriar e criar filhos saudáveis e preparados para assumir o mercado profissional e a vida em coletividade. (2004, p.9)

            Um fator levado em consideração nas respostas do psiquiatra e do profissional de arte é a cultura do paciente, principalmente a religiosidade, segundo eles adaptar as atividades e conversas a vida de cada paciente é essencial para aceitação do tratamento, e consequente melhora, ainda segundo eles valorizar o que cada um tem, esclarecendo suas reais possiblidades para realizar as tarefas causa um estimulo maior, o que direciona os pacientes para uma aceitação social que acaba por torná-los mais confiantes aptos a conviver em sociedade. Para NAKAMURA,

                                     A experiência do adoecimento e as formas de lidar com ele também variam entre as sociedades, revelando como a cultura se insere nesse domínio. Embora todos os seres humanos estejam sujeitos ao adoecimento, há uma imensa gama de possibilidades de encará-lo[...] a experiência de doença extrapola o individuo e remete a varias outras dimensões, do diagnostico á cura. (2009, p.7)

            Outro fator essencial observado foi quanto ao atendimento das Zonas rurais do município, visto que ate então, tais pessoas ficavam isoladas em suas comunidades sem perspectivas, um caso interessante é de um jovem, que espera ansiosamente pelo dia da vinda ao CAPS, arruma-se inteiro, e odeia quando vai embora. O cuidado observado nesse quesito, na proximidade afetuosa entre profissionais e pacientes, sempre tratados pelo nome, Para Ayres (2001), a atitude de cuidar não pode ser apenas uma pequena e subordinada tarefa parcelar das práticas de saúde,

                                     Cuidar da saúde de alguém é mais que construir um objeto e intervir sobre ele. Para cuidar, há que se considerar e construir projetos; há que se sustentar, ao longo do tempo, uma certa relação entre a matéria e o espírito, o corpo e a mente, moldados a partir de uma forma que o sujeito quer opor à dissolução, inerte e amorfa, de sua presença no mundo” (p.71).

4  CONCLUSÃO

            Diante da observação como estudante de enfermagem, pude perceber como o cuidado é essencial em todos os âmbitos da vida, mas na saúde mental, esse ato torna-se fundamental, as pessoas com transtornos, necessitam de atenção, de zelo, solicitude, de, mas acima de tudo de um impulso para sentirem-se uteis, como são. Cabe aos profissionais serem capazes de reconstruir a história de vida dos usuários para além do diagnóstico e do sintoma, trabalhadores ativos no processo de reelaboração do sofrimento e reinvenção da vida. O operador, nessa perspectiva, volta-se para a qualidade do cuidado, que envolve acolhida e responsabilidade pela atenção integral da saúde e para a criação de estratégias de modificação da realidade dos usuários. Esses sujeitos são capazes de investir na produção de modos amplos de cuidado, bem como na extensão da atenção, respeitando a diversidade cultural e subjetiva dos usuários, criando vínculos e responsabilidade para com a saúde do público.

                                 “Acreditar no mundo é o que mais nos falta; nós perdemos completamente o mundo, nos desapossamos dele. Acreditar no mundo significa principalmente suscitar acontecimentos, mesmo pequenos, que escapem ao controle, ou engendrar novos espaços-tempos, mesmo de superfície ou volume reduzidos. (...) É em nível de cada tentativa que se avalia a capacidade de resistência ou, ao contrário, a submissão a um controle. Necessita-se, ao mesmo tempo, de criação e povo” (Deleuze, 1992, p.218).

5  REFERÊNCIAS

 

ASSIS, Pablo de. Um breve manual de transtornos mentais: Um guia introdutório à psicopatologia e os sistemas diagnósticos de classificação. São Paulo: 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA. Diretrizes para um modelo de assistência integral em saúde mental no Brasil. 2006.

COLVERO, Luciana Almeida. Et.al. Família e doença mental: a difícil convivência com a diferença. Revista Esc. Enfermagem USP. São Paulo: 2004; 38(2):197-205.

DIEMENSTEIN, Magda. Et.al . Demanda em Saúde Mental em Unidades de saúde da família. Mental - ano III - n. 5 - Barbacena - nov. 3005 - p. 33-42.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. Brasília: 2004.

NAKAMURA, Eunice. Et.al. Antropologia para Enfermagem. São Paulo: Manole, 2009.

.OLIVEIRA, Alice G. Bottaro; ALESSY,  Neiry Primo de. O trabalho de enfermagem em saúde mental: contradições e potencialidades atuais. Revista Latino-americana Enfermagem 2003 maio-junho; 11(3):333-40.