O BODE EXPIATÓRIO E O CORDEIRO DE DEUS

Geraldo Barboza de Carvalho

Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, para ter na criação seres com os quais pudesse falar "face a face como um homem fala com outro". Por isso, fez o ser humano com características compatíveis com as de Deus: capaz de amar, pensar, gerar filhos, ser ético, trabalhar, ter vida gregária, criar história. Grande era o privilégio de Adão e Eva. Mas, achando pouco tanta dignidade, arvoraram-se do direito de ser iguais a Deus; de aliados tornaram-se concorrentes do Criador: no lugar da história da aliança com Deus, começaram a fazer a história sem Deus, usando critérios egoístas, sem espírito de partilha com o Criador. Assim começa a história da perdição humana: ódio, desavenças, agressões, sofrimento, domínio do pecado. Parecia que a maldade, a falta respeito e solidariedade iria desfazer o sonho de Deus de viver em harmonia com o ser humano e a criação. Ora, como tudo que Deus faz "é bom e ele ama o que cria, não aborrece nada do que faz; se tivesse odiado alguma coisa, não a teria feito", mesmo o homem tendo rompido a parceria com Deus, este não o abandona, mas enche-se de compaixão ante a desgraça que o ser humano mesmo criou. Ao vê-los despidos, escondendo-se com medo, "Javé Deus fez pra o homem

e a mulher túnicas de pele e os vestiu", e prometeu restaurar a dignidade de toda a criação. A promessa se cumpriu além das expectativas: "onde o pecado e a morte pareciam vencer,

abundância da vida sobejou. Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus seu Filho

único numa carne semelhante à do pecado, nascido de uma mulher, condenou o pecado na carne, para que recebêssemos a adoção filial. E porque somos filhos, enviou aos corações nossos o Espírito do seu Filho que clama: Abba, Pai"! Mais que restaurar nossa condição de criaturas, o Criador deu-nos a dignidade filial. Ao criar o ser humano "com a argila do solo, Deus insuflou em suas narinas um hálito de vida e eles se tornaram seres viventes". Ao recriar-nos em Jesus Cristo, o Pai fez mais que insuflar em nossas narinas o hálito da vida: verteu Ruah nos nossos corações e fez-nos "partícipes da natureza divina do Filho", vivendo a mesma vida de Deus Trino em, com, por Jesus Cristo. O Espírito nos faz um só com Jesus: Ele é a Cabeça, nós membros do seu Corpo e da Família de Deus, concidadãos dos santos. Assim, o desejo arrogante do homem de ser como Deus, se tornou realidade por obra do incomensurável amor com que o Pai nos amou no Filho Jesus. Enxertando-nos nele, Jesus comunicou-nos seu Espírito de santidade, deificou-nos, fez-nos filhos de Deus, quase deuses. A conseqüência de Jesus ter-se feito humano como nós é ter-nos agraciado com a filiação teândrica, capazes de praticar atos como ele. "Somos criaturas suas, criados no Cristo Jesus para as boas obras que o Pai já tinha preparado antes para que andássemos nelas. Aquele que crê em mim, fará as obras que faço, até mais, porque vou para o Pai". Tudo isto foi possível pelo "grande amor com que Deus nos amou" no Filho. Deus criou o ser humano semelhante a Si; na encarnação, o Filho inverteu o papel: se fez semelhante a nós, pra deificar-nos, nos fazer semelhantes a Deus. "Ele tinha a condição divina, mas não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de servo tomando a semelhança humana em Maria, assumiu carne semelhante à do pecado, em tudo semelhante a nós, menos no pecado, mesmo Deus fazendo-o pecado por nós, humilhou-se e foi obediente até a morte de cruz". A kénosis do Unigênito, que se faz homem pra nos divinizar, começa, pois, na encarnação. A Páscoa encarnatória consistiu na solidariedade de Deus Trino com nossa fraqueza. Solidariedade vista nas condições precárias do parto de Jesus: numa manjedoura na periferia de Belém, "porque não havia lugar pra eles na sala" da casa onde se hospedaram pro recenseamento. Jesus viveu anônimo até os 30 anos, quando apareceu no Rio Jordão pra receber o batismo de penitência pelas mãos de João Batista. Ele fez-se batizar como representante,redentor dos pecadores, cujas dívidas assumiu. Optando por fazer-se maldito em favor dos malditos de fato, Jesus procurou João como penitente vicário, em nome de todos os necessitados de penitência, cujos pecados assumiu desde a encarnação. Fez isto, não pra fazer média com os pecadores, mas em solidariedade com eles: fez-se pecador sendo inocente, pra nos resgatar do pecado, não ficar definitivamente nele. Ao se fazer batizar por João, "não quer a Si mesmo lavar/O Filho da Virgem pura/Mas quer nas águas lavar/A culpa da criatura". A solidariedade humana é belo gesto por alguém em necessidade. Mas a solidariedade de Jesus é para sempre, para todos tempos e lugares. Ela consiste em justificar nossas dívidas com Deus, pagando-as por nós e dando-nos condição de viver vida de novas criaturas, sem ter de morrer na cruz como ele, pagando nossos pecados uma vez por todas. Mas, mais do que pagar pecados pessoais, Jesus tirou o pecado do mundo, que são as estruturas sociais e religiosas de poder opressor, que gera multidões de marginalizados sociais e religiosos,perpetua o sofrimento, e é configurado na baixa auto-estima, na culpa patológica, paralisia da vontade e da decisão livre. Eram estas estruturas opressoras que Jesus combatia, não os pecados pessoais. Curava no Sábado, o dia sagrado dos judeus, que proibia toda atividade. Furiosos, os fariseus lhe indagavam: "Que autoridade tens pra infringir o Sábado"? Jesus respondia sem hesitação: "O Filho do Homem também é Senhor do Sábado. O Sábado foi feito para o homem, não homem para o Sábado". Jesus andava com os excluídos da vida social de Israel e do templo, considerados pecadores pela Lei. Quem os tocasse, tornava-se impuro, pecador também. Jesus sentava-se à mesa e comia com pecadores. Os doutores da Lei e sacerdotes diziam: "Se ele fosse santo não se misturava com os pecadores, mas se afastava deles". Os fariseus (rafisim) eram santos porque viviam afastados da massa dos excluídos e oprimidos pelo sistema de leis humanas derivadas do Decálogo: cerca de 625 normas. Só era santo quem as cumprisse todas. Jesus não só não as cumpria, mas infringia até a Lei. Justificava sua aproximação dos excluídos, dizendo: "Os doentes, não os sadios, precisam de remédio. Os pecadores, não os santos (rafisim), precisam de perdão". Era uma catarse da patologia social, uma revolução antropológica jamais vista na cultura social e religião judaicas. Não faria sentido Jesus passar pela kenosis encarnatória e a cruz se não fosse pra fazer mudanças sócio-culturais radicais. Sem isto, ele não seria o Salvador.

O problema maior que Jesus enfrentou não foram, pois, os pecados pessoais: ele convivia bem com prostitutas, publicanos, cegos, paralíticos. Jesus era ético, mas não era moralista. Nos evangelhos, não o vemos em contenda, mas defendendo os pecadores do moralismo e legalismo dos fariseus. Para a fúria destes, Jesus dizia na lata: "Não vim buscar os justos, mas os pecadores". Mas o vemos em contenda cerrada com os mantenedores das estruturas sociais e religiosas de pecado, os reais responsáveis pelo pecado do mundo. João Batista entendeu isto, ao avistar Jesus na véspera do seu batismo: "Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo", destrói as estruturas sócio-religiosas de opressão, do pecado social, impessoal, gerador de baixa auto-estima, culpa patológica e paralisia da liberdade de escolha. O poder que destruirá o pecado do mundo é a imolação do Cordeiro de Deus na cruz. Duas acusações contra Jesus o condenaram à morte: uma política e uma religiosa. Política: a multidão o aclama rei na entrada de Jerusalém, na véspera da paixão e morte: "Bendito aquele que vem, o Rei, em nome do Senhor". Jesus confirma sua realeza diante de Pôncio Pilatos, preposto do Imperador Romano: "Tu és rei"?, pergunta Pilatos. "Sim, tu o dizes. Mas, meu reino não deste mundo", respondeu-lhe Jesus. Religiosa: Ele ameaçou destruir o Templo: "Destruí este templo e em 3 dia eu o reconstruirei. Mas ele falava do templo do seu corpo", que carregava o pecado do mundo, configurado no legalismo sócio- religioso, gerador pecadores rituais, enchia o povo de culpa patológica e o discriminava. É esta patologia pecaminosa sem nome que Jesus destruirá na cruz, restituindo aos pecadores a liberdade de decidir o próprio destino. A imolação do Cordeiro de Deus corresponde ao Dia de Javé. Para o povo judeu, este Dia seria de glória, pois Javé expulsaria inimigos do povo e restabeleceria a realeza davídica. O profeta Amós discordava. "O Dia de Javé será trevas, não luz". Para espanto geral, Dia de Javé veio na encarnação do Verbo, na doçura da noite de Natal, no abandono do Primogênito na tortura extrema da cruz. Não veio como castigo para o povo rebelde, mas como perdão absoluto do pecado. O castigo que o povo merecia foi assumido por Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira, perdoa o pecado do mundo.

Na antiga aliança, o bode expiatório, bode de Azazel era a figura do Cordeiro de Deus. Por meio dele, os pecados do povo eram perdoados. Todo ano, o povo celebrava o Yom-Kipur,

o dia do perdão, sacrificando animais no Templo. Um touro era oferecido pelos pecados do sumo sacerdote e sua família, e dois bodes, pelos pecados do povo. Um bode destinava-se ao sacrifício no templo, o outro, a expiação dos pecados do povo. Fazia-se um sorteio para saber qual dos 2 seria o bode expiatório e qual, o bode da propiciação. O propiciatório era formado pelo Santo, onde ficava o altar do sacrifício dos animais, e pelo Santíssimo, o Santo dos Santos, onde ficava a Arca da Aliança, o tesouro sem preço do povo judeu. Um véu separava o Santo do Santíssimo. O touro e o bode da propiciação eram sacrificados no altar e esquartejados, o sangue de cada animal, recolhido em vasos diferentes e as carnes, divididas com a família do sumo sacerdote e o povo. Depois, o sumo sacerdote entrava no Santíssimo com os vasos de sangue. Com as pontas dos dedos, aspergia a Arca da Aliança, que guardava as tábuas da Lei. A seguir, o suma sacerdote fazia sobre o bode expiatório a cerimônia da expiação pelos pecados do povo. Impondo as mãos sobre o bode, o sacerdote descarregava nele todos os pecados do povo, que ficava ritualmente puro dos pecados, por um ano. A seguir, o bode era conduzido ao deserto da Judéia, entregue ao demônio Azazel e morria de fome e sede, matando consigo os pecados do povo. Os pecados do sacerdote e família, e os do povo eram perdoados por um ano. No ano seguinte, repetia-se o ritual. Até que o Unigênito toma corpo humano, assume e supera a função do bode expiatório, com o nome de "Cordeiro de Deus" da nova aliança, que não tirará só os pecados do povo judeu, mas, sobretudo, o pecado do mundo, que oprime a humanidade. A novidade é que Jesus morrerá uma só vez e pagará o pecado do mundo e nossos uma vez por todas. "Possuindo só a sombra dos bens futuros, não expressão das realidades, apesar dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim ano a ano, a Lei é incapaz de perdoar os que deles participam. Não fosse assim, não se teria deixado de oferecê-los, se os que prestam culto, purificados uma vez por todas, já não tivessem consciência alguma dos pecados? Mas, é através destes sacrifícios, que anualmente se renova a lembrança dos pecados. Ademais, é impossível que o sangue de touros e bodes elimine os pecados". Por isto, ao entrar no mundo, Jesus disse ao Pai e Ruah: Não quisestes sacrifício e oferenda. Mas, formastes-me um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado (do mundo) não te foram agradáveis. Por isto, eu digo: Eis-me aqui: eu vim, ó Deus, para fazer tua vontade. E graças a esta vontade, somos santificados pela oferenda do corpo de Cristo, uma vez por todas". O Cordeiro de Deus é nova e única oferenda pascal, feita uma vez por todas. Por Deus ele é feito pecado, maldição, vítima expiatória, que leva sobre si o pecado do mundo e os nossos e, como o bode expiatório, morre fora de Jerusalém para nos libertar do pecado. "Javé fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Eram nossas enfermidades e dores que levava sobre si. Nós o tínhamos como vítima do castigo, humilhado e ferido por Deus. Mas foi trespassado e esmagado por nossas transgressões e iniqüidades. Maltratado, mas livremente se humilhou e não abriu a boca, como um cordeiro levado ao matadouro; como ovelha que permanece muda na presença dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca". Já foi como portador do pecado do mundo e nossos que Jesus se fez batizar, embora João não o quisesse aceitar. "João, deixa por agora, entenderás depois. Convém cumprir a Lei", diz Jesus. Carregando o pecado do mundo e os nossos desde a encarnação e os mergulhando, nos batizando no seu sangue, Jesus nos justificou diante de Deus Trino. O batismo-fato cruento do Cordeiro de Deus mergulhou toda humanidade no seu sangue, e é atualizado de geração em geração no Batismo-rito (sacramento): tornamo-nos vítima com Cristo no batismo-fato da cruz e novas criaturas resgatadas na morte junto com o Primogênito da nova criação: "morremos com ele e com ele ressuscitamos". Sendo vicária, a morte de Jesus nos inclui: "Se um morreu por todos, todos morreram com ele". Por ter sido imolado na condição de pecador vicário, o Cordeiro Pascal nos inclui na sua morte cruenta, sem termos morrido de fato. Nossa morte ao pecado configura-se na renúncia livre aos pecados perdoados por Jesus na cruz por nós. Daí, toda pessoa em qualquer tempo e lugar, pela adesão de fé ao sacrifício do Cordeiro de Deus, tem acesso ao perdão dos pecados merecido por ele e se torna vítima com ele. Pela fé no Filho que se imolou por nós, vivemos a vida na carne como hóstias vivas, vítimas entregues pela salvação dos irmãos no nome de Jesus. Incorporamos pela fé os efeitos da morte vicária de Jesus, vivendo como novas criaturas. Nosso sacrifício não é cruento como o de Jesus, mas obediência da fé, operante no amor fraterno, configurado na prática dos valores éticos, na solidariedade e o serviço aos irmãos. Jesus rasgou a sentença que nos condenava à morte. Resta-nos sair da prisão e viverem liberdade, renunciando aos pecados perdoados por Jesus, praticando os valores éticos, condizentes com a condição de nova criatura, filhos de Deus.

A imolação do Cordeiro de Deus sintetiza o Dia de Javé e ao Dia do perdão. O povo que perdeu a Terra, o Templo, o País e foi exilado, esperava ansiosamente reconquistar a Terra e a realeza davídica. A realização desta esperança era o Dia de Javé; glorioso, esperava o povo. Mas, como o povo permanecia nos pecados que causaram sua desgraça, os profetas o advertiam: "O Dia de Javé será trevas, não luz". Mas, pra surpresa de todos, ele chegou na suavidade da noite do Natal, na Pessoa do Menino Jesus. Mas, como os profetas são os porta-vozes de Deus, "o Dia de ira e trevas" também chegou; não pra o povo pecador, mas abateu-se sobre o Primogênito, que tomou corpo semelhante ao nosso corpo de pecado, foi feito maldição por Deus, torturado, crucificado pra pagar o pecado do mundo e os pecados pessoais dos filhos de Deus. "O castigo que havia de nos trazer a paz caiu sobre ele. Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões. Javé fez cair sobre ele a iniqüidade de todos". Jesusé a personificação do perdão de Deus, o redentor dos devedores insolúveis, do povo pecador. A figura do Goel parte da cultura judaica. Quando um marido morre sem deixar filhos, o irmão dele é obrigado por lei a casar com a viúva do irmão para lhe dar descendência, dar nome à viúva e tirar dela o ultraje de não ser mãe. Dando nome à viúva e descendência ao irmão, o marido da viúva torna-se o redentor (goel) dela. Viuvez sem filhos, virgindade e esterilidade são maldições para o povo hebreu. A mãe de Samuel era estéril e chorava dia e noite suplicando a Javé por um filho. Assumindo esse esquema, Jesus tornou-se o realizador do perdão de Deus para a humanidade devedora insolúvel, pecadora, virgem estéril, viúva ultrajada e sem nome. Ele é o redentor, enquanto assume e paga as dívidas dos pecadores com a Trindade; é o goel, pois tira o ultraje da viúva infeliz, casa-se com ela (encarnação, paixão, morte de cruz, ressurreição configuram as núpcias do Cordeiro com a humanidade pecadora), limpa seu nome, dá-lhe numerosa descendência. O Dia do perdão (YomKipur) tem origem agrária em Israel. Quando o membro de uma tribo tinha dívida com outro e não a podia pagar, dava sua terra em pagamento da dívida. Mas,após 49 anos (7 x 7 semanas de anos) a terra lhe era devolvida. Completava-se o tempo da espera do perdão quando a dívida completava 49 anos. O qüinquagésimo ano, Pentecostes (49+) o Dia do transbordamento da graça. Além de ser agraciado pelo credor com o perdão das dívidas e a devolução da terra, o devedor ainda se alegrava com as primeiras colheitas da terra. O dia do perdão das dívidas materiais evoluiu para o Dia do Perdão das dívidas espirituais, os pecados.

Jesus realizou o Dia do perdão inaugurando em sua Pessoa a última série de 7 semanas de anos que, somadas às 42 semanas de anos de Abraão até Jesus, totalizam 49 semanas de anos, que correspondem, a um só tempo, à plenitude do tempo do pecado e do perdão das dívidas, coroado com o Dia de Pentecostes, que é à superabundância da graça derramada nos corações de cada ser humano. A encarnação do Verbo se dá, portanto, na continuidade das 42 semanas de gerações de Abraão a Jesus. "Portanto as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze. De Davi até o cativeiro da Babilônia, quatorze gerações. E, depois do cativeiro da Babilônia até Cristo, 14 gerações". A última, definitiva série de 7 semanas de anos corresponde à nova geração dos filhos de Deus, nascidos da água e do Espírito, foi inaugurada na Encarnação do Verbo e cumprida plenamente na Ressurreição de Jesus e o Pentecostes, e se estenderá até o fim do mundo. Fim do mundo que já ocorreu na Pessoa do Verbo encarnado, mas falta acontecer na vida de cada pessoa, pela conversão e a fé no sacrifício do Cordeiro de Deus. Jesus assumiu os pecados de todas as gerações passadas e futuras (plenitude do pecado é 7), assumindo vicariamente a maldição do pecado, fazen o papel do bode, cordeiro expiatório, goel, redentor, para destruir em sua Pessoa império do pecado. "Eis o Cordeiro de Deus, que carrega sobre si e tira o pecado do mundo e nossas impiedades". As 3 séries de 14 gerações de Abraão até Cristo correspondem a 6 séries de 7 gerações. Uma geração corresponde ao tempo total de vida de alguém. A base do tempo completo é a semana (7 dias): tempo suficiente para alguém exercer todas as atividades: trabalhar, plantar, colher, vender, comprar, amar, sofrer, pecar, pedir perdão, louvar Deus. Por extensão toda série temporal de 7 é também semana: uma semana de meses é 1 série seguida de 7 meses; semanas de anos são séries de 7 anos; 7 gerações seguidas é 1 semana de gerações; 7x7 semanas de gerações são 7 séries de 7 gerações cada(49). A plenitude é 7, 6 é o homem e a mulher, imagem e semelhança (3+3) de Deus (3), 7x6 = 42. O número 6 é a síntese da criação (4) mais a especificidade sexual do homem (l) e da mulher (1). As 42 semanas de gerações de Abraão a Jesus são o tempo da caminhada da humanidade no pecado até a plenitude da iniqüidade (49), interrompida pela entrada do Verbo na história, pondo termo ao império do mal e dando início à 50.a semana (7x7+1) da geração dos filhos de Deus, que durará até o fim do mundo. A Ressurreição e Pentecostes coroam o Yomkipur, o primeiro dia da semana do Kairós, Dia do Senhor (Dominus Dies, Domingo), Dia do dom da vida em abundância: além de perdoar nossos pecados, Jesus nos agraciou com a filiação divina: fomos gerados filhos e filhas de Deus pela infusão do Espírito filial em nossos corações: 7 +1. 7 é a plenitude da graça do perdão; 1 é o transbordamento do dom gratuito de Deus Mãe. A 49a semana vai até o Shabat judaico: o Dia do Perdão geral, quando Jesus desce à casa dos mortos, provando a escuridão do túmulo. A Ressurreição e Pentecostes (50) é o tempo do Espírito Santo, da misericórdia, do consolo de Deus Mãe, da graça, pela fé. "De sua plenitude recebemos graça sobre graça". Pentecostes é a Festa da colheita dos frutos da semeadura do Filho. "Os que semeiam com lágrimas, ceifarão com alegria". 49+ 1=50: início da nova caminha do novo povo de Deus (12), povo da nova aliança com Jesus Cristo no Poder gerador do Altíssimo e na fecundidade da Mãe Ruah.