O Amor Transcendente do Ser

À

Magda Nascimento

O amor em seu senso comum desaba ao nada enquanto aos seus “princípios” pré-estabelecidos. Nesta condição, é a ausência deliberada do sentimento conhecido do que se quer amar e ser amado: entre o Eu e o Outro. Com efeito, se instaura a irresponsabilidade de que se assume gratuitamente o compromisso com as “leis” de possuir o amado almejando em discurso a desculpa de liberdade oferecida com gentileza. Não há conceito prévio sobre o amor e, tampouco, uma formula pré-estabelecida.

O amor não existe a priori!

O amor só existe na medida do momento que damos significado para tal sentimento descontrolado e que te deslocou das suas emoções no momento exato – dar conteúdo de significação e representação de sua existência mediante ao Outro. Portanto, não se pode provar que o Amor existe a priori ao o Eu existente. Quando se tenta tal esforço deliberado, em desespero do ego ao sentimento sufocante e juvenil, e chegamos ao auge dos nossos sentimentos pelo Outro amado, fazemos a simples afirmação gratuita: “o Amor é inexplicável”, “ninguém pode explicar o Amor”. Sendo assim, não há conceito prévio se nos lançarmos ao desespero do peito do Outro amado.

Podemos já dizer e cair no senso comum que o Amor é inexplicável? O Amor é inexplicável em sua historicidade, ou seja, aquele que já acabou, que me fez sofrer, que ora, me fez sorrir, que me trouxe a esperança em dias difíceis. A história ainda tem muita a nos “ensinar” sobre a complexidade do Amor, mas nos enfraguesse na medida de sua mentira e hipocrisia histórica. O conceito inimaginável do Amor só pode estar sob julgamento a partir do que você achava e o que era o Amor, o que era determinado, ou seja, o que era Amar... Assim lhes falavam: quem ama não mente, quem ama cuida, o amor é incondicional, amar-te até a morte.

Amamos por otimismo do Amor – supracitados –, e assim confiamos em seus significados cegamente. O Outro se torna a fonte de esperança e pura e o Eu em comprometimento livre prometendo o meu Amor em detrimento a uma felicidade cega e infinita: “se existe Amor de verdade entre nós dois, ele será eterno e sem mágoas”. Esta solidariedade reciproca é uma armadilha (uma ideia falsa). “Ás vezes construímos grandes sonhos em cima de algumas pessoas e depois descobrimos que grande mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais”. E assim Marley, rompe com a pureza e a cortina por traz entre o Eu e o Outro, 

digo, as pessoas procuram o Amor como se busca um tesouro perdido, único e valioso – a ser descoberto – mas que no fundo se torna amaldiçoado, pois não se soube utilizá-lo como riqueza, e que no seu fim trágico evidência sua profunda pobreza. O Espírito padece.

A experiência da história do Amor e seu prévio consenso é um erro. O homem em existência e na sua permanente relação de cumplicidade com a Terra nos revela ensinamentos: o homem que reconhece o seu Amor pelas plantas visualizando seu desabrochar na primavera, demasiadamente coloridas; o beija-flor que visita seu jardim periodicamente juntamente com o cantar dos pássaros; com a chuva que molha seu quintal e lhe traz um ar de pureza e calmaria. Assim os significados e as representações vividas lhe atribuem uma construção entre o Eu e o Outro pela vivência. Ninguém falou para este homem o quando são lindas essas experiências e seu valor de significado sem que ele mesmo tenha experienciado em ato (apenas estaria na ideia). Este significado é único, e alguém poderia dar valor para o que isso representa a este homem?

 A partir do momento que se estabelece entre Eu e o Outro um grau de significado sobre a gratuidade deliberada de outrora – sobre o que o Outro representa para mim –, agora sim, poderás a partir de sua significação ulterior (a posteriori) dar valor e princípios nos seus sentidos que outrora puros e ingênuos. Podemos agora chamar estes sentimos de Amor após de sua significação transcendente do Ser? Desvendamos até aqui apenas os pressupostos iniciais de uma ontologia transcendental e que a tarefa árdua se dá na descoberta das faculdades do conhecimento intersubjetivo do Eu para chegar a tais valores puros. Porém, como posso eu chegar a uma construção rigorosa e genuína dos meus sentimos pelo o amado sem me deixar cair na escuridão da paixão cega?

Em grande parte dos homens o projeto de vida e sua existência estão subordinados a valores determinados, a liberdade, com efeito, é condicionada a uma liberdade ilusória. Hoje temos uma felicidade não porque a buscamos em seu sentido absoluto existencial – como minha condição de ser –, mas porque ela é nos oferecida e dada em seu plano estabelecido. Jean-Paul Sartre  quando anuncia que estamos condenados à liberdade é porque ela não pode ser nos dada no ontem, no hoje e nem no amanhã, ou seja, a liberdade não pode ser uma escolha, uma vez, que o homem-no-mundo é sempre um projeto de vida livre, dono do seu destino.

Saindo da escuridão e da minoridade dos meus entendimentos e engajando-me a vir-a-ser sob á luz dos esclarecimentos  em busca de uma genuína liberdade existencial, encontro-me, com efeito, como um projeto humanístico no mundo. Sendo assim, revelarás para si mesmo e aos outros que “os bons homens de espírito são capazes das maiores virtudes” . Portanto, a possibilidade de escolha do meu projeto de vida é a condição de escolha para o outrem, pois quando me escolho, escolho o Outro (Sartre) e, assim, não posso pensar ao contrário. Neste meu engajamento solitário e, só assim é possível, a minha condição de esclarecimento traz à luz e a clareza dos meus sentidos a minha total liberdade, portanto, o que eu não quero para mim Eu não quero para o Outro, ou melhor, o que desejo para mim agora se revela reciprocamente para o Outro amado. 

Quando argumento “o que eu não quero para mim, eu não quero para o outro” revela um sentido de negação a priori, ou seja: construo o meu projeto de vida e você deverá de ter um também; busco o meu esclarecimento e você deve fazer igualmente, etc., assim quando escolho-me, escolho o Outro. Sartre nos mostra esta ponte de interface subjetiva entre sujeitos, uma vez, que “reconheço o que sou a partir de como o Outro me ver”. Neste princípio estreitamos laços na busca da construção de significados e representações do Amor entre o Eu e o Outro como anunciamos no início deste ensaio.

Encerrando este pequeno esbouço – por enquanto –, voltamos a algumas questões: o que faz de nossas emoções se tornarem, muita das vezes, inexplicáveis? O que torna a minha condição de Amar, uma determinação do meu sentimento? Talvez Eu esteja entrando em contradições ao generalizar sobre o argumento de que “Tudo é intencionalidade”. Será que tenho que rever as minhas sensações e percepções sobre o Amor? Será que o mais correto é cair na gratuidade cegamento ao o que é consenso sobre o Amor: ele é inexplicável. Posso estar enganado e incorreto nas minhas inquietações, porém posso concluir algo: amar – te é condicionar – me e determinar a minha felicidade e existência ao seu lado.

Não posso, portanto, renunciar o chamado da vida, não posso destruir as forças que agem sobre mim e que vem de encontro como um furacão revolto.