ALAN ROCHA DOS SANTOS

A pessoa na sua totalidade:

Neoliberalismo versus Igreja Católica

Centro Universitário Claretiano

Licenciatura em Filosofia

Antropologia Teológica


São Paulo-SP

Novembro de 2009

RESUMO

Resenha sobre o ser humano na sua totalidade, um paralelo entre o Neoliberalismo e a Igreja Católica, apresentada para o curso de Licenciatura em Filosofia, disciplina de Antropologia Teológica. A busca pela definição do homem é algo presente em varias ideologias, o neoliberalismo e as propostas do Vaticano II, representam aspectos importantes para compreensão desse tema.

Sumário

  • Resumo:............................................................................................. ......2
  • Sumário:............................................................................................ .......3
  • A República:...........................................................................................4-7
  • Bibliografia:............................................................................................. .8

A pessoa na sua totalidade:Neoliberalismo versus Igreja Católica

Ao estudarmos sobre as varias concepções de homem, nos deparamos com duas propostas que apresentam visões bem diferentes daquilo que se espera de um conceito sobre o homem. De um lado o sistema Neoliberal, e do outro, a Igreja Católica Apostólica Romana, tendo como norteador o Concilio Vaticano II.

Todas as reflexões a seguir visam a uma tentativa de comparar dois modelos ideológicos que propõe a visão de homem, no entanto, não se pretende aqui resumir a complexidade envolvida nesta questão. Ambas buscam responder à pergunta fundamental: Seria o ser humano nada mais que um ponto de interrogação? O ser humano precisa ser definido, ainda que de forma imperfeita, provisória, aproximativa.

Além disso, a sociedade tem necessidade de uma visão do que seja o ser humano para poder definir-lhe os direitos e os deveres.Diante dessa questão, todo relacionamento humano está implícita uma antropologia. Para bem entender a linha de pensamento de cada proposta, em primeiro momento, um breve resumo sobre o homem na visão Neoliberal e posteriormente uma apresentação da visão de homem dentro da Igreja Católicasegundo os documentos do Concilio Vaticano II.

Quanto ao Neoliberalismo, faz-se necessário compreender o que seja, segundo Moraes (2001.p.27 ) "(...)Aquilo que se tem chamado de neoliberalismo, como dissemos, constitui em primeiro lugar uma ideologia, uma forma de ver o mundo social, uma corrente de pensamento".Assim, a pratica neoliberal está fundamentada em pressupostos teóricos que vamos estudar. O neoliberalismo não é uma doutrina imutável, pelo contrario, vem passando, ao longo de usa existência, por um processo de mutação permanente. E por se constituir num fenômeno histórico e atual, a sua exata definição se tornou uma tarefa complicada.Como bem observou Holanda :

Como expressão de uma visão de mundo, está alicerçada no principio de liberdade individual e fundamentado na racionalidade iluminista que representa o rompimento com a idéia de revelação e providência divina. E parte do pressuposto de que o homem é totalmente livre para se objetivar por si só. Como modo de vida e como teoria do Estado, estabelece normas de proteção aos cidadãos (proprietários) contra perturbações alheias ao cumprimento da lei (2001, p.16).

É possível perceber a preocupação da ideologia neoliberal com a garantia da propriedade privada e das leis que regem a economia, ou seja, há fortemente presente um visão de homem oeconomicus. Para entender melhor segue outro comentário de Holanda:

A tese de que o agir humano, em última instância, motivado pelos interesses individuais e egoístas é deduzida da idéia de homo oeconomicus, ou seja, da idéia de que os fundamentos econômicos não se encontram nas coisas e nem na providência divina, mas no próprio homem. O homo oeconomicus é um ser que se constrói num movimento dialético que vai da negatividade ( o homem como ser de carências e desejos) à positividade do trabalho (o homem criativo que inventa os meios materiais necessários a superação de suas necessidades (2001, p. 19).

A concepção de homem no mecanismo neoliberal está portanto, vinculada a uma noção social que implicitamente posiciona uma atuação social. O homem em vista de suas inúmeras necessidades, se constrói a partir de seus desejos e necessidades.Ainda segundo Holanda (2001.p.52): "Para o neoliberalismo o homem é um ser de necessidades e desejos. As necessidades do homem se manifestam através dos desconfortos e os desejos através das escolhas". Assim, a concepção de mundo do neoliberalismo implica na visão de homem que age na sociedade. No entanto seu agir está voltado para a realização do trabalho capitalista e da utilização dos meios econômicos, deixando pouco espaço para realizações mais altruístas.

O aspecto individual e egoísta é exaltado, pouco ou nada há para uma construção solidária entre os seres. Quanto ao lado espiritual do homem, não importa ao sistema esse aspecto, pois para o neoliberalismo questões religiosas está fora de sua alçada e pouco importante para as transações capitalistas de consumo e produção.

Em quase explicita oposição ao modelo neoliberal (apesar de distancias históricas), a Igreja Católica Apostólica Romana, em seu Concilio Vaticano II, aponta concepções diferentes daquilo que afirma ser a realização ou essência do homem no mundo.

O Concilio Vaticano II, foi convoco pelo então papa João XXIII, que em 25 de Janeiro de 1959anunciava sua decisão para toda a Igreja. Segundo o professor das Faculdades Claretianas Estevão Raschietti:

Os desafios dos novos tempos, perspicazmente percebidos pelopapa Roncalli, foram determinantes em sua inspiração. Na mesma alocução de janeiro de 1959, João XXIII já se referia a "época de renovação". Segundo ele, a Igreja estava "no limiar de uma nova época", "numa época que se poderia chamar missão universal", na qual "é preciso acolher a recomendação de Jesus para saber distinguir os "sinais dos tempos" (...) O papa não desgrudava seu olhar da situação mundial da humanidade que já traçava os distintos perfis do que hoje chamamos de globalização". (2002.p.28-29).

Assim, mesmo tendo o conceito de neoliberalismo ter surgido somente tempos depois, a preocupação da Igreja já reestruturava um conceito de homem que se tornava cada vez mais presente na sociedade constituída. O Concilio Vaticano II, apresenta uma visão de homem que procura liga-loa seu aspecto transcendente, ou seja a busca do divino. Na defesa de um cristocentrismo, a união Deus- homem é um dos pontos fortes do documento.Para tanto, em um de seus documentos ( Gaudium et Spes), encontramos explicitamente a preocupação com o homem moderno:

3. Nos nossos dias, a humanidade, cheia de admiração ante as próprias descobertas e poder, debate, porém, muitas vezes, com angustia, as questões relativas à evolução actual do mundo, ao lugar e missão do homem no universo, ao significado do seu esforço individual e coletiva, enfim, ao último destino das criaturas e do homem. Por isso, o Concilio, testemunhando e expondo a fé do Povo de Deus por Cristo congregado, não pode manifestar mais eloquentemente a sua solidariedade, respeito e amor para com a inteira família humana, na qual está inserido, do que estabelecendo com ela diálogo sobre esses vários problemas, apontanto a luz do Evangelho e pondo à disposição do gênero humano as energias salvadoras que a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, recebe do seu Fundador. (Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vatii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html> Acesso em 01 nov. 2009)

Esta preocupação da Igreja a faz definir e enumerar os vários dilemas que a sociedade apresenta após o domínio de formas mais avançadas de conhecimento e produção.Logo, aquilo que para o Liberalismo era tido como importante e fundamental do homem moderno, para a Igreja está agregado a grandes problemas existenciais e sociais. Para compreender esse posicionamento conciliar o documento prossegue:

Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem é capas de o pôr a seu serviço. (..) Nunca o gênero humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio econômico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é tomada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão sociais e psicológicas. (...) Difunde-se progressivamente a sociedade de tipo industrial, levando algumas nações à opulência econômica e transformando radicalmente as concepções e a as condições de vida social vigentes desde há séculos. (Disponível em <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vatii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html> Acesso em 01 nov. 2009)

Aqui, é possível perceber um distanciamento gigantesco da ótica neoliberal e o Concilio, apesar de falar dos avanços sociais modernos, o concilio denuncia que tais avanços ao invés de trazer um bem estar sociais, trouxe também um inquietude e injustiça social, bem como, a destruição de certos modos de vida históricos. Diante desta desvalorização do gênero humano, por uma cultura da indústria e do capital, a Igreja se impõe como defensora da dignidade da pessoa humana, que para ser plena necessita da volta ao seu aspecto transcendente, nessa busca pelo divino, como bem salientou Líbano:

O Concilio optou pela linha oposta de considerar como o mistério de Cristo "afeta dota a historia do gênero humano, influi continuamente na Igreja", como "todas as realidade que constituem a ordem temporal (...) não são apenas auxilio para fim ultimo do homem, mas têm também um valor próprio que foi posto nelas por Deus, quer consideradas em si mesmas, quer como parte de toda a ordem temporal".

A Igreja vê o mundo numa perspectiva cristotógica ao acreditar que "a chave, o centro e o fim de toda historia humana se encontra no seu Senhor e Mestre." ( 2005.p.134):

O Concilio, portanto, procurou interpretar os sinais do tempos e encontrar respostas paras as perguntas que surgem nesta identificação do homem moderno. Dentre estas, a questão de Deus ocupa lugar especial pois como vimos, ao denunciar um mundo secularizado e auto-suficiente, a Igreja procura apontarum projeto de realização do homem através da união Deus/homem. Mas toda esta atitude está fundamenta em uma visão de homem, como ser criado por Deus para amá-lo e conviverem como irmãos filhos de um mesmo Pai, afim de encontrarem a convivência social equilibrada. O papa João XXIIIpara Doig :

Finalmente, João XXIII observaria que o fundamento da vida social é o reconhecimento da condição de "pessoa", a qual desfruta todo ser humano. Pelo conceito de "pessoa", o Papa entendia "uma natureza dotada de inteligência e de vontade livre, de maneira que, portanto dessa mesma natureza nascem de modo direto e ao mesmo tempo os direitos e deveres que, sendo universais e involutarios, são também absolutamente inalienáveis. ( 1994.p.150):

Doig descreve a visão do Papa João XXIII, mas não somente a visão de um papa mas sim, toda a visão do Concilio ao descrever quem é o ser humano. Poderíamos dizer então: o homem é um ser inteligente, que busca sua realização plena em seu fim ultimo, mas que em sua vida terrena necessita através de usa vontade direitos plenos garantidos.

Aqui se encontra o contra pontoentre o neoliberalismo e a concepção conciliar: na estrutura neoliberal nem todos participam dos direitos universais, mas para a Igreja esses direitos são inalienáveis. Para a Igreja, através da Revelação, o homem encontra o caminho da sua realização, e voltando-se para Deus, fazendo-se verdadeiramente filho de Deus, encontrará a realização de sua natureza que é transcendente, como afirma o documento Conciliar Dignitatis Humanae: "Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concilio que o próprio Deus deu a conhecer ao gênero humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e alcançar a felicidade em Cristo". (Disponível em:<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html> Acesso em 01 nov.2009)

Apesar do estranhamento quanto a esta visão, a Igreja encontra-se coerente em seu projeto para o homem, pois para ela, a antropologia somente tem significado ao ligar-se a uma teologia que encontre em Cristo o modelo de homem para toda a sociedade, como bem observou o moralista Demmer:

Pode-se considerar como decisiva e orientadora para o futuro a ligação entre a cristologia e a antropologia, delineada na constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo, Gaudium et spes 22: Jesus Cristo é definido como o homem perfeito em que o mistério do homem se revela para o homem. (2007.p.16.)

Em suma, ao comparar as duas vertentes ideológicas: neoliberalismo e Igreja Católica, nos deparamos com concepções diferentes de homem e seu futuro no mundo. Ambos propõe ao homem uma identificação que direciona o agir humano através dos objetivos que quer alcançar.

Bibliografia:

-Demmer, Klaus. Introdução à teologia moral. Edições Loyola: São Paulo. 2007.

-Holanda, Francisco Uribam Xavier de. Do liberalismo ao neoliberalismo: o itinerário de uma cosmovisão impenitente. 2.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,2001.

-Líbano, João Batista. Concilio Vaticano II: Em busca de uma primeira compreensão. Edições Loyola, São Paulo, 2005

-Reginaldo Moraes, Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo, Editora Senac, 2001.

- Revista Uniclar. Faculdades Integradas Claretianas- São Paulo. Impres. Ed. Ave Maria. Novembro de 2002.

Site pesquisados:

-<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html>. Acesso em 01 nov. 2009.

-<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html> Acesso me 01 nov. 2009