MINHAS EXPERIÊNCIAS EM UMA  PENITENCIÁRIA

 

         Antes de contar um pouquinho de minhas experiências refleti bastante, sobre o que falar. Durante estes quase dois anos como Pedagoga da Unidade. Encontrei muitos prós e contras, não foi nada fácil, perdi a conta de quantos “nãos” recebi, por se tratando de Penitenciária, a própria sociedade os fazem reincidentes devido ao preconceito.

         Na nossa Unidade as aulas nunca pararam, pois de uma forma ou de outra dei um jeito e cumprir com minhas obrigações e responsabilidades, afinal ganho para isto não é? Vesti a camisa literalmente e fui a luta, não pensem que foi fácil, afinal não tinha uma receita por onde começar, eu tive que elabora-la da melhor forma possível. Sabia que tinha que cumprir minha função, não queria brincar de ser pedagoga e sim mostrar do era capaz, ajudando, orientando e aconselhando minhas professoras, afinal, para todas nós tudo era a “primeira vez”. Dávamos aulas aos reeducandos numa Penitenciária tinhamos que  nos apoiar umas às outras, pois o que não faltavam eram pessoas apontando apenas as dificuldades.

Além de acompanhar as aulas de perto sentia e sinto-me até hoje responsável por elas e enquanto não saem dos raios (celas) confesso ficar preocupada e procurando saber o que está acontecendo. No ano de 2006 as aulas não pararam, devido a perseverança e o apoio da Direção. Elas continuam conosco também neste ano de 2007, agora já mais experientes na lida com nossos alunos, elas como todos que trabalham na Unidade são meus tentáculos, afinal é uma corrente que não pode se quebrar de maneira alguma.

         Neste final de ano faremos dois anos de aula na EJA, vamos desde alfabetização, primeira a quarta série, um convênio que consegui com a Secretaria de Educação do Município e já assinado para o ano que vem. Em 2006 começamos com 83 alunos, todos aprovados e sempre todos levando a sério. Hoje contamos um pouco mais de 180 alunos todos já aprovados e alfabetizados, escrevendo seus bilhetes, que chamam de “bereus” sinto muito orgulho deles, conhecemos todos pelo nome, não aceito apelidos porque todos precisam pensar que tem um nome.

         Há projetos caminhando já para o ano de 2008 para os reeducandos de quinta ao segundo grau, que seriam os projetos “Beija-flor” e “Aprendimagem”, estes em parceria com a SEDUC, e negociando com a Assessoria Pedagógica do Município. Mais ainda, planos para cursos na Unidade, cursos estes que quando os reeducandos saírem poderão trabalhar como autônomos se quiserem.

         Com o apoio da OAB e LIONS CLUB, hoje contamos com mais de 3.500 livros em nossa biblioteca. É, temos uma biblioteca e olha os livros não ficam só como enfeite nas prateleiras como alguns colegas me sugeriram e sim vão a todo vapor para os raios, todos estão lendo. Há um reeducando que entrega e recupera os livros nas celas e mais, estão estudando para valer em função do “Provão” que teremos nos dias 10 e 11 de dezembro, o que me deixa orgulhosa de todos eles. “Brinco que vou puxar a orelha de quem reprovar e só se ouve risos”.

         Jamais tivemos problemas com alguns dos alunos/reeducandos, sempre nos respeitaram mais do que algumas pessoas que estão fora. No ano de 2006 as professoras trabalharam com eles nos “encontros” ponto onde se encontram com suas famílias aos domingos, o que acho a solução perfeita, tanto pelo espaço como pelo local, claro, grande o que ajuda muito, eles se sentiam mais livres e o mais importante: é grande o respeito mútuo entre professora e aluno.

         Já para este ano devido a falta de agentes e o risco de perder a parceria com a Secretaria de Educação, sentamos, conversamos e resolvemos que iríamos até eles ou seja damos aulas nas celas, assim fazemos um trabalho envolvendo alunos e não alunos já que nas celas na se faz separações e os que podem ajudam os outros uma ação mútua. Gostaria de salientar que jamais quebramos as regras de segurança e os procedimentos devidos.

Assim funciona um dia as professoras: num dia entregam os cadernos passando as atividades e no outro dia os recolhem, não pensem que é fácil. Dificuldades existem de todas as ordens mas este não é o momento para estes comentários. Pensem apenas em quatro pessoas passando atividades todos os dias, de forma manuscrita, caderno por caderno, para mais de 180 alunos e todos em fases diferentes e atividades também diferentes.     

         Termino resumindo assim: Quando aceita - se um trabalho, vista a camisa e não desista no primeiro não, pois haverão muitos, quando se tratar de penitenciária. Devagar você vai conseguindo o teu espaço e as pessoas acabam até te admirando, mais como disse a caminhada é longa, não é fácil e precisa de muita persistência senão jamais conseguirá atingir o seu objetivo.

Leila Aparecida dos Santos: Coordenadora Pedagógica na penitenciária Drº Osvaldo Florentino Leite Ferreira (ferrugem)